Culpa, Confissões...
N.A.: *muito emocionada* Gente, mais de 60 comentários. E mais de 500 views. *do nada, começa a dar pulinhos frenéticos* Valeu, galera, valeu por tudo! Aqui vai indo o 6!
Flavinha Snape Kal: Viu, não demorei quase nada! Eu também tenho inveja da Lily... Mas acho que ela não gosta tanto da situação! Quando você puder ler, o capítulo vai estar à sua espera! Beijos!
Ninee Black: Que bom que você gostou! Às vezes dá pra fazer um pouco de humor mesmo... A voz da consciência não ajuda muito esse povo mesmo, eles não escutam... E se a Lily fosse aceitar o Six agora, não ia ter mais história, daí perdia a graça, os outros ainda tem que se declarar antes de ela escolher. Obrigada pelo elogio! Continue lendo a Perfume!
Dark Princess: Não é pra tanto... Acho que o que salvou o capítulo foi a música. O Remus sofre nas minhas fics, eu sou muito má com ele... Acho que é porque ele é um dos meus preferidos (eu sei que parece estranho, mas...). Valeu pelo comment!
Gabriela Twilight: Eu sou cruel, né? *risada maligna* Eu escrevo cada coisa triste, que não me surpreende quando meus amigos me chamam de doida varrida. Concordo com eles... Isso de ficar cobrando pro autor atualizar é maior chatice! Tipo, pedir para que atualize, delicadamente, vai lá, mas tem gente que engrossa! Venturas e desventuras da vida de um autor de fics... O que o Sirius sente pela Lily... Nem eu sei! Parece uma mistura de paixão com amor, mas quem sabe se ele está se confundindo ou coisa assim? O importante é que alguma coisa ele sente... sabe se lá o quê. Capítulo saindo do forno! Obrigada por gostar tanto da fic!
Lady Tromevold: O Remus ainda vai demorar um pouco (na verdade, pra caramba) pra se declarar, porque ele é o mais tímido de todos... E ele vai perceber que o James, o Sirius e o Severus gostam dela, e vai se inibir muito. Mas ele vai se declarar, pode ter certeza! *anotando suas sugestões no bloquinho* Valeu pela sugestões! E eu não tô usando a mesma jaqueta há três semanas, é só há três dias... Se bem que eu uso a minha única jaqueta do colégio por três semanas, às vezes... (Curitiba + sair cedo de manhã + inverno = frio de rachar). Tá aqui o capítulo, e a sua fic tá muito legal!!! Valeu!
Danny Evans: A consciência do Sirius é meio marota, um pouco moralista, mas meio marota. Achei que a cena do beijo ficou boa mesmo, ficou com um clima perfeito! Eu coloquei o Remus lá porque o Remus é o primeiro a se tocar que os três mais o Severus gostam da Lily. E o Remie sofre nas minhas fics... Tadinho, eu não consigo escrever nada do Remus que não seja triste. Obrigada pelo comment e beijos!
Thássia: A relação Sirius/Lily tem muito mais a ver com desejo do que com amor carinhoso e romântico, porque eu nunca imaginei que o Sirius consiga ter um amor romântico com nenhuma mulher. Mas às vezes, esse tipo de desejo é mais forte do que amor... Fique de olho! Beijos!
Gaby Evans Potter: Escrevi a cena J/L desse capítulo pra você! É muito engraçado, eu também tô torcendo por todo mundo, eu nem imagino no que vai dar, só vou escrevendo as idéias insanas que saem dessa cabeça... A cena do Sirius tava engraçada, né? E o Sevie é o paranóico da fic. Afinal, todo triângulo amoroso tem que ter um paranóico... E mesmo que não seja um triângulo amoroso, e sim um pentagrama, não podia deixar de ter o paranóico, e o Sevie era o candidato perfeito pro papel... Que bom que gostou! A prévia desse capítulo vai estar ainda melhor... Adorei o cap. 13 de Férias Trocadas, você como sempre é genial! Obrigada e beijinhos!
Laisolala: Valeu pelo comment! Já tá aqui o capítulo, espero que goste! Beijinhos!
Bruh ternicelli: Pode deixar que o capítulo vai ficar esperando pelo seu comment! Vou tentar atualizar o mais rápido possível! Valeu!
Ana Bolena Black: Eu pensei que você não tinha gostado do capítulo, por isso não comentou, e nem falei nada, porque o capítulo 5 não ficou muito bom mesmo... Que bom que não era nada disso! (Não sei se dá pra perceber que eu sou tão paranóica quanto o Snape). Daí você aproveita e comenta os dois! Valeu!
N.A.: Eu queria falar um pouquinho sobre esse capítulo. No projeto original que eu tracei da fic (que não tinha nem 18 capítulos, eram 15 mesmo), ele não estava incluído, e quando eu revisei o projeto, resolvi colocá-lo. Quarta-feira, quando terminei de escrever, cheguei à conclusão que eu tinha feito um bom trabalho. Espero que gostem tanto de Culpas, confissões, marotices e duelos como eu gostei!
— E então, Frankie, o Faunt confirmou a história do Ranhoso?
— Confirmou. Eu fiquei besta. Falou que não tinha sido voluntário, livrou o cara de uma boa, ele só pegou uma semana de detenção…
— Caramba… Nunca esperei isso, pensei que o Faunt quando se recuperasse ia partir pra cima do Seboso.
— Sei lá… Vai ver o cara tá só tentando ser justo.
— Faunt, justo? Você não viu ele descontar cinqüenta pontos do Sirius por ele ter se defendido de uma horda de quatro sextanistas da Sonserina!
— Longbottom e Potter! Querem prestar atenção na explicação, por favor?
Silenciando imediatamente, Frank e James se voltaram para a Profª Sprout, protegendo os olhos do sol forte dos jardins.
Haviam se passado cerca de cinco dias desde o fatídico dia em que Sirius se declarara a Lily, mas a única pessoa que tinha conhecimento dos fatos além dos dois (que se evitavam desde então), era um abatido Remus, que não comia direito, não falava muito e ficava horas fitando a parede tristemente.
Naquela aula, a professora de Herbologia havia levado-os para estudarem nada mais nada menos que o Salgueiro Lutador. Parados a uma distância segura da árvore ameaçadora, os alunos tomavam nota sobre as falas da professora. Davy Gudgeon estava bem afastado da árvore.
— O Salgueiro Lutador é uma árvore muito viva. Ele sente seriamente. O Salgueiro pode desenvolver uma relação de fidelidade com um ser humano incrível, chegando a protegê-lo, embora isso seja raro.
Isso Remus sabia. Sabia porque o “seu” Salgueiro, como ele o chamava, era seu amigo. Ele podia até tocar o Salgueiro, se quisesse, sem que a árvore revidasse. Ele imaginava que, como protegia seu segredo, a árvore e ele haviam criado uma amizade. As pessoas, especialmente James, Sirius e Peter, ficavam espantados em ver como ele se entendia com aquele ser ameaçador.
— Alguém mais pode me citar alguma característica especial do Salgueiro Lutador? — perguntou a Profª Sprout.
Remus levantou imediatamente a mão, olhando com carinho para a árvore.
— Sim, Sr. Lupin?
— O Salgueiro Lutador possui um grande senso de justiça. Ele tem uma especial raiva contra homicidas. Tem um caso famoso em 1694, de uma vila totalmente mágica que possuía um Salgueiro Lutador protegendo a entrada. Um bruxo assassinou sua mulher com um Avada Kedavra e tentou fugir da vila. Quando passou pelo Salgueiro, porém… ficou reduzido a uma massa moída de ossos.
Todos fizeram uma careta. Davy Gudgeon se afastou ainda mais da árvore.
— Correto, Sr. Lupin. Quinze pontos para a Grifinória. Como o Sr. Lupin disse, o Salgueiro Lutador tem reações especialmente violentas na presença de homicidas. Se um dia matarem alguém, nunca passem por perto de um Salgueiro Lutador. Vão se arrepender.
Os alunos ficaram meio apreensivos, olhando para a árvore que agitava seus galhos contra o vento.
Ao longe, a sineta tocou.
— Trabalho para segunda-feira! Trinta centímetros sobre casos de pessoas atacadas por Salgueiros Lutadores!
James, Frank, Sirius e Peter foram andando, em meio às reclamações dos alunos. James, Peter e Frank conversavam animados:
— Nossa, engraçado esse bagulho do Salgueiro, né? — disse Peter.
— É mesmo. Esquisito. Eu é que não chego perto dessa coisa ali — disse Frank.
— Trinta centímetros… — suspirou James. — Vocês tem consciência de que temos um trabalho de quarenta centímetros sobre os usos da urtiga em poções para Slughorn, mais os exercícios da McGonagall, mais trinta e cinco centímetros sobre definição de contra-azarações e casos para Faunt… Isso sem falar no meu gigantesco trabalho de Adivinhação sobre quiromancia…
— Será que no trabalho de Herbologia podemos citar Davy Gudgeon? — perguntou Peter.
As risadas altas dos três ecoaram pelo jardim. Mas logo James percebeu que alguém não ria.
— Ei, Six! Que foi?
— O quê? — perguntou Sirius avoado, olhando para James. No fundo de seus olhos grafite, um brilho estranho.
— Você não falou nada desde que deixamos o Salgueiro, não riu, não disse nenhuma besteira… Que é que você tem?
— Nada — disse Sirius evasivo.
— É por causa do Salgueiro? — perguntou James, se referindo ao lamentável episódio que envolvera Sirius, Severus e Remus.
— É, é isso.
— Ah — compreenderam Frank e Peter.
— Falando nisso, cadê o Remie? — perguntou Frank, olhando para os lados.
Os Marauders olharam para trás. Remus vinha caminhando afastado, a cabeça baixa.
— Ei, Moony! — chamou James.
Remus ergueu a cabeça. Apertou um pouco o passo e logo se juntava a eles, estranhamente entristecido.
— O que você tem, Moony? — perguntou Frank. — Está triste.
— Eu? Triste? — repetiu Remus, um pouco distante. — Impressão sua, Frankie.
— Não é impressão minha — disse Frank reprovador. — Faz dias que você tá assim.
— Desculpa, Frank, mas não quero ter essa conversa agora. Vou… vou para o castelo, tenho que terminar aquele trabalho de Aritmancia.
E saiu antes que alguém pudesse falar alguma coisa.
— Primeiro o Sirius, com esse período de depressão, agora o Remie… — disse James.
— Eu não estou em período de depressão — reclamou Sirius.
— Então como é que se chama o que você tem? TPM, mesmo? — zombou James.
— Não enche, veado.
— É cervo.
— Parem de brigar — disse Frank severo.
James e Sirius suspiraram, para logo em seguida o segundo dizer:
— Desculpa, Prongs. Eu tô meio nervoso. É um pouco de desânimo, e… — ele lembrou de uma coruja que tinha recebido no café —, e tio Cygnus entrou na Suprema Corte dos Bruxos para disputar a herança que o tio Alphard me deixou.
Frank, James e Peter abriram a boca com espanto.
— O Cygnus? Aquele que é pai das suas primas? — perguntou James, o primeiro a sair do torpor.
— É — disse Sirius, tirando do bolso a amassada intimação para que comparecesse a uma audiência no dia dezesseis de dezembro ao Décimo Tribunal.
Juntando as cabeças, os três garotos leram, enquanto Sirius mantinha a cabeça baixa e pensava em como Cygnus Black, que marginalizara seu irmão Alphard durante toda a vida dele, chamando-o de amante de trouxas, entre outros apelidos piores, podia querer tomar a herança que Alphard deixara para ele, no seu primeiro e último gesto de rebeldia contra a Toujours Pur. Não era nem indignação por ter a possibilidade de perder a fortuna; era indignação por ele ter a cara-de-pau de fazer aquilo.
Quando terminou de ler, James deixava transparecer no rosto a mesma indignação.
— Como é que o seu tio pode ser tão cínico?
— Uma das qualidades especiais da família. E ser cínico é um dos ensinamentos da doutrina Black, a Toujours Pur — disse Sirius com escárnio.
— E ele já é rico — resmungou Peter. — A Narcissa vive por aí com roupas de grife.
— Me impressiona como ele começou a gostar do tio Alphie quando ele morreu deixando a sua enorme fortuna para mim — disse Sirius.
Nesse instante, eles foram interrompidos por um trio de garotas que corria para alcançá-los.
— Frankie! — chamou Alice.
— Oi! — disse Frank sorrindo, dando um abraço na loirinha.
— Sobre o que estavam falando? — perguntou Daisy, dando uma sacudida nos cabelos negros que caíam por cima de seu rosto.
James olhou para Sirius, que fez uma expressão de “não conta”, olhando fixamente para a cabeça ruiva e baixa de Lily.
— Sobre nada, não… E aí, Lily, quer sair comigo?
— Não, tô a fim não — disse Lily com a voz desanimada. Nem havia a mesma agressividade de sempre. Aliás, ela nem pedira para chamá-la de Evans.
Ela corou ao sentir todos os olhares sobre ela.
— Aconteceu alguma coisa, Lily? — perguntou Frank.
— Não, imagine. Eu… eu vou indo, tenho uma tradução de Runas Antigas pra fazer.
Corada sobre o olhar implacável de Sirius, ela apertou o passo até chegar aos portões do castelo.
— Que caralho, será que é doença? — questionou James abrindo os braços com impaciência. — Primeiro o Sirius, depois o Remus, agora a Lily… Daqui a pouco você vai estar assim, Pete!
— Ei, por que eu?
— Porque você é muito cabeça-oca.
— Há, há, há, gracinha.
Os risos do grupo encheram o ar. Mas Sirius ainda não sorria.
Severus Snape também estava espantado com o fato do Prof. Faunt ter confirmado sua história sobre tê-lo atacado sem querer. Imaginou que ele seria o primeiro a querer acusá-lo, pelo que tinha feito.
Porém, até tinha uma explicação. Se Severus contasse a história detalhadamente, Dumbledore e McGonagall ficariam sabendo que Faunt o chamara de “filho de trouxa” com sentido depreciativo. E Faunt estaria com problemas. Não tantos quanto ele, lógico, mas estaria com problemas. Sim, era essa a explicação.
Por isso não se comoveu quando, após a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, no anoitecer de uma quinta-feira fria, ele o parou depois que os últimos alunos saíram.
— Severus, eu queria conversar com você.
— Não temos nada para conversar.
— Temos, e você sabe.
— Conversaremos sobre o quê? — perguntou Severus, cheio de sarcasmo. — Sobre você ter me chamado de “filho de trouxa” ou sobre eu tê-lo azarado até ir parar na ala hospitalar?
Os cantos da boca de Faunt tremeram por um momento, mas depois seu semblante se tornou sério.
— Peço perdão por ter falado aquilo. Me descontrolei.
— E por que deveria pedir perdão? — perguntou Severus. — Disse alguma mentira?
— Não, mas te desprezei. E a culpa disso não é sua. Nem da Eileen.
— Não fale da minha mãe, seu nojento — disse Severus começando a se descontrolar.
Ninguém além dele sabia por tudo o que Eileen Prince tinha passado nas mãos daquele trouxa nojento que se dizia seu pai. Todo o sofrimento e toda a dor. Por isso era chamado de “Príncipe Mestiço” nos dormitórios da Sonserina; por isso morria de raiva ao ouvir chamarem-no de “Snape”. Por isso ficara com tanta raiva de Faunt, e ainda tinha.
— Não é ofensa nem mentira — disse Faunt.
— Pare de me amolar — disse Severus incisivamente. — Por Slytherin, me deixe em paz!
Se desvencilhando do professor, Severus avançou e abriu a porta da sala com um tranco, sumindo em seguida no corredor. Faunt largou-se numa cadeira, na sala.
— Eu jurei sobre o túmulo dela que iria ajudá-lo. Eu não vou parar agora. Ah, Severus… Uma hora eu vou conseguir conquistar sua confiança.
Dia seguinte. Meio-dia. Lily se refugiou no dormitório. Almoçar. Uma idéia distante e vaga, sem real importância. Não mais importante do que ficar ali, abraçada com seu travesseiro, tentando ordenar as coisas viradas na sua cabeça.
Escondida debaixo do edredom, pode ouvir os passos de duas garotas entrando no dormitório, e, no instante seguinte, seu edredom era arrancado de sua cabeça, descobrindo seu rosto pálido para Daisy e Alice.
— Alice, você não devia estar aqui — foi a única coisa que lhe ocorreu para dizer. — Você é da Lufa-Lufa.
— Eu sei — disse Alice. — Mas me importo com você. Isso me faz esquecer as regras de vez em quando.
— Vamos almoçar — disse Daisy.
Como resposta, Lily tornou a cobrir a cabeça com o edredom. Que novamente foi arrancado de suas mãos.
— O que vocês querem?
— Explicações — disse Alice.
— Sobre o quê?
— Sobre você. O que é que você tem?
— Nada — disse Lily, pegando o travesseiro numa tentativa inútil de evitar a situação.
Alice agarrou o travesseiro e atirou-o do outro lado do quarto.
— Não adianta mais se esconder, Lily Evans — disse, furiosa. — Chega de ficar nos evitando! Já caímos muito nessa história de NIEMs, mas até pra você é exagero! O que é que tá acontecendo?!
— É! — exclamou Daisy. — Você está diferente, está mais triste, parou de falar com a gente direito, fica em silêncio, não come! Parou até de encher o saco do James! Não há NIEMs que façam isso tudo com uma pessoa!
— Parem de me encher, estou com enxaqueca! — exclamou Lily, se encolhendo num canto do beliche e tampando os ouvidos.
— O que aconteceu no baile?!
Lily abriu os olhos.
— Como assim? Você… sabe?
— Pura dedução, Lily — disse Daisy, colocando as madeixas de seus cabelos negros atrás da orelha. — Você está assim desde aquele dia. E Cherry me contou o mau-humor com que você chegou no dormitório naquela noite. O que aconteceu lá?
— Nada — mentiu a ruivinha.
— Lily, pensei que confiasse na gente — disse Alice magoada. — E pensei que amigas ajudassem umas às outras quando preciso.
— Mas não precisa…
— Claro que precisa! Lily, veja o seu estado! — vociferou Daisy, puxando Lily e a arrastando até o espelho.
Lily olhou surpresa para a imagem no espelho. E se espantou com o quanto emagrecera naqueles dias. Parecia um palito vestido com uniformes de Hogwarts. Os cabelos ruivos em desalinho caíam de qualquer jeito sobre seus ombros, a pele estava pálida e quase macilenta; os olhos verdes estavam envoltos por manchas roxas de olheiras, de noites passadas sem dormir, lembrando do fogo que queimara seu coração naquele corredor a alguns metros dali. Da indecisão. Do sorriso de James, indo mexer com ela, e da tristeza de Remus, quando ela o magoara.
Olhou para Daisy. Ela a olhava com compaixão. O mesmo brilho que havia nos olhos de Alice. Incapaz de segurar-se mais, começou a soluçar. Com pena, as duas amigas levaram Lily até a cama, enquanto ela soluçava de se acabar, as mesmas lágrimas que não havia derramado naquele dia em que Sirius a encurralara contra seus sentimentos.
James Potter passeava pelos corredores de Hogwarts. Sentia o instinto de Marauder formigando dentro de si. Viu a prostração dos dois companheiros de travessuras, associando a tristeza de Remus com a proximidade da lua cheia, e sabendo que Sirius só se animaria se pudesse dar umas boas risadas com ele. Especialmente se fosse de algum sonserino.
OK, OK, ele precisava arranjar uma vítima para abrir um daqueles sorrisos na cara do seu amigo. Quem? Evan Rosier, que tinha atirado um Densaugeo em Remus? Ou aquele sextanista idiota chamado Gibbon, que fora o culpado por ele ter conseguido aquela feliz detenção na segunda-feira, só porque o tinha azarado?
Ou ainda melhor, para fazer Sirius rir mais, porque não Rabastan Lestrange, o verdadeiro culpado pela detenção que ele tivera na terça-feira?
— Ótima idéia, James Potter — disse sorrindo para si mesmo. — Francamente, você está cada vez mais genial.
E foi andando pelo corredor, cantarolando uma musiquinha qualquer. Só não pôde perceber que era seguido por alguém.
— Então, você tá indecisa — concluiu Daisy.
Refugiada no colo de Alice, Lily fez que sim, os olhos inchados e vermelhos.
— E você tá assim por causa disso? — perguntou Alice incrédula. — Se eu não amasse tanto o Frankie, estaria feliz, não assim.
— Você não sabe como é! — exclamou Lily. — Você não sabe o que eu senti… Quando beijei Sirius… foi como se o mundo todo estivesse queimando, mas eu estava fria como um cadáver!
— Dizem que o beijo dele dá frio na barriga, mas não tanto — riu Daisy.
— Parem de rir! — gritou Lily, furiosa.
As duas se entreolharam culpadas.
— Tá certo — disse Daisy. — Desculpa. Mas é que… o seu problema…
— Vocês não sabem como é — repetiu Lily. — Toda hora, parece que tem alguém te cobrando o que está sentindo. Eu tento desesperadamente me decidir, mas não dá. Eu sei que o que eu sinto pelos três é forte, não é admiração como por qualquer menino, mas não consigo perceber qual dos três eu gosto mais! São muitas emoções diferentes, vem todas ao mesmo tempo, tô confusa, tô estressada, estou à beira de um colapso!
— Como é que foi o beijo com Sirius? — perguntou Alice.
Lily ficou em silêncio por um momento.
— Foi… muito estranho. A língua dele é maravilhosa, como todas dizem. A pele dele estava muito, muito quente… E foi me dando um frio… Um frio invadindo meu coração, como se eu estivesse fazendo algo muito errado, e as mãos dele ficaram frias também…
Ela piscou e emudeceu.
— Nossa — disse Daisy. — Que… estranho.
— Eu sei. E depois apareceu o Remus, para complicar as coisas… Embora eu ache que não teria saído de lá tão cedo se ele não tivesse me ajudado. Mas ele… tava tão parecido com o Sirius, falando que minha mala estava pesada… Meu Deus, eu vou endoidar.
E afundou a cabeça no travesseiro.
— Você só tem que pensar, Lily. Ninguém está te cobrando uma decisão.
— Sirius já está.
— Ele não falou mais com você depois do que aconteceu! — disse Alice.
— Ele cobra com os olhos. Fica olhando fixamente para mim… O olhar dele me persegue…
— Quer que a gente peça pra ele não fazer mais isso?
— Não! — exclamou a ruivinha. — James pode ficar sabendo. E eu nem imagino o que ele vai fazer se souber que Sirius me beijou. É o melhor amigo dele. Por favor, jurem que não vão contar pra ninguém. Nem pro Frankie e pro Kingsley.
— Claro — disseram as duas.
Lily respirou. Agora, percebia que a confissão a fizera se sentir bem melhor; não ter que guardar toda aquela confusão para si mesma, ter alguém para dividir, era bem mais reconfortante. E, antes que percebesse, já estava abraçando as amigas.
— Eu gosto muito de vocês, sabiam?
— Também gostamos de você — sorriu Alice.
— Muito — acrescentou Daisy. — Promete que nunca mais vai deixar de contar as coisas pra gente?
— Prometo — disse Lily sorrindo.
Enquanto isso, James saía pelos corredores procurando o sonserino escolhido.
— Se eu fosse o idiota do Rabastan Lestrange, onde eu iria estar? — questionou-se. — Numa sala de transplante de cérebro — concluiu. — Sério, James. Onde eu estaria?…
Que tal do lado da sala de aula de Feitiços, esperando a sineta bater, onde você coincidentemente deveria estar?
“Ótima idéia!… Ei!… Isso é alguma alusão a mim, é?”
…
“Ah, agora fica quieta, não é? Só fala quando te interessa.”
Ah, James, cala a boca e vai logo procurar o Lestrange.
— OK — disse o rapaz para si mesmo, partindo para a aula de Feitiços.
Logo atrás dele, a capa de Severus Snape farfalhava enquanto o garoto andava rápido.
— Período livre agora, Alice? — perguntou Frank, ao ver a namorada se juntar a ele no salão.
— É — disse Alice. — Depois Trato das Criaturas Mágicas.
— Temos horários parecidos — comentou o rapaz, feliz, beijando Alice docemente.
Alice se sentiu nas nuvens. Já fazia mais de um mês que ela e Frank estavam namorando, e a coisa continuava com o mesmo sabor do primeiro dia; todos os beijos tinham o sabor de descoberta, Frank continuava romântico como no começo, e ela se sentia tão feliz, tão contente, que sabia que tinha encontrado o homem da sua vida.
— Frankie, eu te amo.
— Também te amo, meu anjinho loiro — sorriu Frank, beijando a testa de Alice.
— Eu gosto tanto de você…
— Eu também — disse Frank. — Eu quero me casar com você e ter uma porção de filhinhos. E virar auror, e daí nós dois vamos lutar contra bruxos das trevas. Quero amar você a vida inteira, estar com você a vida inteira, envelhecer com você, vendo os nossos filhos crescerem… Eu te amo.
Em resposta, ela simplesmente beijou-o, profundamente, sentindo aquela língua fantástica massagear a sua própria, e aqueles lábios tão ternos e macios acariciando os seus. Até serem interrompidos por um grito alto vindo do corredor de Feitiços.
Várias cabeças se viraram para a porta do Salão Principal, surpresas.
— Veio de lá! — exclamou Alice.
— Vamos lá ver?
— Vam’bora!
— AAAAAAAAAH!!!
Rabastan Lestrange nem viu de onde veio o feitiço que o pôs prostrado no ar, soltando bolhinhas de sabão cor-de-rosa em forma de coração pela boca.
Risadas dos outros alunos ecoaram pelos corredores, e entre essas estava a risada de James, que ninguém sabia ser o autor do feitiço; fizera tudo muito discretamente, pois não estava a fim de tomar outra detenção, visto o monte de lição que se acumulava na sua mesa.
Chegaram Alice e Frank, e só puderam rir baixinho vendo Lestrange pendurado no teto.
— Quem foi? — perguntou Frank a James.
— Eu — disse James em voz baixa. — Só não contem.
— Como se fôssemos fazer isso.
— Muito bem, muito bem, o que é que está acontecendo aqui? — perguntou uma voz que surgia pelo corredor.
Era Lucius Malfoy, que vinha empurrando as pessoas com seu ar arrogante. Ao ver Rabastan Lestrange pendurado no teto, só suspirou.
— Tá bom, quem foi o infeliz?
Protestos de “não fui eu!” e murmúrios de “sei lá” ecoaram por todo o corredor, enquanto James resolvia aproveitar a situação para sair de fininho, pois não estava nem um pouco a fim de assistir àquela aula de Feitiços.
Avoado, procurando Sirius para contar-lhe a peripécia, não percebeu que estava sendo seguido até que um vulto negro o ultrapassou e bloqueou seu caminho.
— Snape.
— Potter.
— Não tô a fim de arrumar briga, não, tá? Então vou indo.
Quando tentou ultrapassar Severus, foi bloqueado novamente.
— Que foi?
— Foi você quem azarou Rabastan Lestrange. Eu vi.
— E o que você vai fazer? Me denunciar? Sabe que nem Malfoy levaria em conta.
— Não. Só vou tirar esse seu sorrisinho arrogante da cara.
— Ui! O Ranhoso tá me desafiando, é?! Que medinho…
— Se quiser interpretar isso assim…
Severus ergueu a varinha. James apenas riu.
— Ah, sai da frente, tô ocupado agora.
James chegou a conseguir ultrapassar o inimigo, porém foi agarrado por duas mãos macilentas e atirado para trás.
— Vai à merda, Snape! Sai do meu pé!
— Expelliarmus!
Foi por muito pouco. James fez um “Protego” não-verbal alguns segundos antes de ser atingido pelo raio de luz vermelha.
— Ah, seu filho da mãe! Estupefaça!
Severus desviou prontamente; era ágil apesar da longa capa esvoaçante.
— Tarantallegra!
James foi atingido em cheio no peito; ele escorregou para trás, enquanto seus pés dançavam em ritmo descontrolado, para os dois lados.
— Travalíngua! — gritou James.
Severus bloqueou o feitiço com facilidade.
— Não adianta usar a criatura contra seu criador, Potter.
— A não ser que seja esse — disse James, apontando a varinha para Severus e pensando com toda a força: “Levicorpus!”
Lá foi Severus, o tornozelo colado no teto, xingando, enquanto James ria, as pernas ainda dançando freneticamente.
— Sectumsempra! — berrou o sonserino, apontando a varinha para o adversário; um lampejo rápido e James escorria sangue do braço.
James tentou parar para observar o estrago; nada muito sério, mas iria exigir uma passada na ala hospitalar, senão ele sangraria até murchar. “Liberacorpus!”
Severus caiu com tudo no chão, produzindo um baque nada agradável contra o chão de pedra.
— Locomotor mortis! — gritou James, antes que ele pudesse se recuperar.
As pernas do outro se colaram uma na outra e ele aterrissou no chão, enquanto James tentava desesperadamente fazer suas pernas pararem de sapatear.
— Travalíngua! — exclamou Severus, se arrastando no chão.
James sentiu sua língua grudar no céu da boca, formando uma figura ainda mais lastimável.
“Silencio!”, pensou, apontando a varinha para Severus. Ele começou a abrir e fechar a boca, sem conseguir mais falar. James riu, a língua ficando dormente. Mas parou de rir quando sentiu outro tranco e foi atirado violentamente para trás por um claro Feitiço Expulsório. E os pés dançando.
Mal teve tempo de se proteger de outro raio vermelho, para em seguida tacar um “Mobilicorpus!”, que fez Severus começar a flutuar no ar e ser arremessado contra uma armadura no fim do corredor.
Foi quando se ouviu um grito alto no corredor:
— POTTER! SNAPE!
Não era outra senão McGonagall.
Vários Finites depois…
— ONDE VOCÊS DOIS PENSAM QUE ESTÃO?! NUM CLUBE DE DUELOS?! E, VOCÊ, SNAPE, É A SEGUNDA VEZ EM UMA SEMANA QUE EU O PEGO AZARANDO ALGUÉM!!! NÃO IMPORTA O QUE POTTER TENHA FEITO A VOCÊ…
— Eu fiz?! — exclamou James indignado. — Professora, ele me parou e tentou me desarmar!
— Isso é verdade, Potter?
— Claro que é! Lá estava eu, andando tranqüilo pelo corredor…
— Então deveria ter evitado a briga — cortou McGonagall. — Nada justifica esse comportamento selvagem!
— Mas eu tentei! Ele que partiu pro duelo, eu não ia ficar parado vendo ele me azarar, ia?
— Poderia ter evitado isso sim, Potter, você não é nenhum incapaz! — exclamou McGonagall. — Detenção para o senhor e quinze pontos a menos para a Grifinória!
— Mas!…
— Nada de “mas”! E, para o senhor, Sr. Snape, outra semana de detenções e menos vinte pontos para a Sonserina por ter provocado a situação! E agora os dois para a aula de Feitiços, que é onde deveriam estar!
McGonagall saiu arrastando James e Severus, enquanto os dois se olhavam.
— Você me paga, Snape — sibilou o primeiro.
— Digo o mesmo, Potter.
— É, e então, quando eu quase consegui me livrar do Snape, aparece a McGonagall, me dá uma detenção e me desconta quinze pontos! Isso não é justiça!
Era o que James Potter bradava à metade da Sala Comunal naquela noite. Quase todos ouviam interessadíssimos o relato de seu fabuloso confronto com Severus, um pouquinho enfeitado, na verdade, mas quase verídico. Quando ele concluiu a narrativa, todos explodiram em concordâncias e protestos.
— É — disse James, com aquela cara de “deixei o melhor pro final” —, ela descontou vinte pontos do Ranhoso e ele vai ganhar mais uma semana de detenções por ter me provocado!
— Injustiça mesmo ela ter tirado pontos de você, Prongs — disse Sirius, bocejando preguiçosamente numa poltrona próxima da lareira. — Mas que foi engraçado o que você fez com o Rabastan Lestrange foi. O cara soltando bolhinhas pela boca…
Sirius gargalhou, e as risadas de quase todos os grifinórios o acompanharam, enquanto James sorria e dizia:
— Não foi nada, ele tava merecendo uma lição.
— É, mas… — Sirius engasgava de tanto rir —, o cara soltando bolhinhas em forma de coração… Você tem cada idéia, Prongs!
— Eu sei — disse James estufando o peito, que logo foi atingido por uma almofada certeira por parte de Peter.
— James, não precisa chamar tanto a atenção! — exclamou o outro, rindo.
— É! — disse Sirius para logo em seguida levar uma almofada na cara também.
Foi o início de uma guerra de almofadas que vitimou muitos grifinórios incautos.
Nem Daisy Lynch conseguiu restaurar a paz na Sala Comunal, pois muitos grifinórios atingidos revidaram, causando o caos total que só os Marauders sabiam provocar. Aos berros, ameaçando todos de detenções e jogando feitiços, tentou dominar a situação, mas ficou completamente fula da vida quando alguém (que ela tinha fortes suspeitas de ser Cherry) lhe atirou uma almofada na cara, e entrou pra briga.
James aproveitou a confusão armada e se afastou discretamente para um canto, onde Lily observava divertida a batalha.
— Lily? — ele chamou cauteloso.
O brilho dos olhos verdes da garota toldou-se um instante por nebulosidade, que passou quase instantaneamente quando ela foi forçada a se desviar de uma almofada que errou a sua cabeça por centímetros.
— Potter — disse ela. — Primeiro, é Evans. Segundo, você apronta o diabo a quatro e vem aqui se esconder, é?
— Não estou me escondendo — disse James, agarrando uma almofada no ar e a atirando de volta para a confusão. — Só quis aproveitar a oportunidade.
— Não sabia que tínhamos tantas almofadas na Sala Comunal — disse Lily, desviando de mais um projétil fofo. Parou-o no ar com a varinha e arremessou-o de novo para o sofá.
— Não temos — disse James. — Sirius deve estar conjurando elas.
Lily sorriu. Por alguns instantes, James só pôde apreciar aquele sorriso genuíno e encantador que parecia mergulhar a Sala Comunal em penumbra, de tão radiante que era. Então, ela se voltou para o trabalho.
— Que é isso?
— Trabalho de Aritmancia. Remus também deveria estar fazendo — ela lembrou. — Onde é que ele tá?
— Ah, ele… sabe, o avô dele morreu.
— De novo? O avô dele já não tinha morrido?
— Foi o outro.
— Ah — disse Lily compadecida. — Coitado do Remus! Parece que tem sempre uma desgraça acontecendo com ele!
James foi atingindo por um ataque de riso que ele tratou de transformar num acesso de tosse seca. Viu-a olhando curiosamente para ele, e achou que seria a sua chance.
— Lily… quer dizer, Evans… eu tenho pensado no que você me disse.
— Quando?
— No baile.
— Ah! — disse Lily, escarlate.
Uma sombra de tristeza passou pelos seus olhos verdes, e ela os baixou. Depois de beijar Sirius, encarar James ficara muito difícil. Toda vez que via seus olhos castanhos, tão doces e suaves, lembrava-se que tinha beijado seu melhor amigo e sentia-se mal.
— E o que você tem pensado? — perguntou ela, tentando disfarçar o mal-estar.
— Eu tenho pensado que você está certa — disse James sério, desviando-se de mais uma almofada. — Eu tenho falado muito e feito pouco. Não dá pra ninguém se apaixonar assim.
— É — concordou Lily.
— Então, eu decidi que vou começar a fazer alguma coisa pra te mostrar como eu gosto de você. Ainda não sei exatamente o quê — ele pareceu desanimado por um instante —, mas tenho certeza que vou descobrir. Nem que seja pra atravessar tempestades, ou mudar as estações, ou apagar as estrelas… Ou até mesmo fazer deveres de Aritmancia — ele acrescentou, risonho, e ela riu. — Seja lá o que for preciso, farei. Só preciso de um tempinho.
— Todo o tempo que precisar — disse Lily gentilmente.
James sorriu radiante — e sua distração momentânea custou-lhe um golpe de almofada não previsto. Uma almofada tão dura quanto um livro atingiu-o na nuca e o projetou para a frente; ele tentou se equilibrar, mas caiu em cima de Lily, que estava sentada na cadeira. A cadeira escorregou para trás e a ruivinha aterrissou com tudo no chão, com James em cima dela.
Ela já ia começar a xingar o desgraçado que atirara a almofada, quando percebeu a proximidade de James. Podia sentir a sua respiração ofegante em cima de seu rosto. A pele dele, tão macia, estava a milímetros da sua. Seus olhos castanhos piscavam. Os lábios dele. Ele se aproximava…
— O QUE É QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?!
O grito fez grifinórios pularem de suas cadeiras, largarem as almofadas e alguns ergueram as mãos como se alguém tivesse chegado gritando “Mãos ao alto!”. E também fizeram James se assustar e sair de cima de Lily. Ocupado demais em olhar para McGonagall de mãos erguidas no ar, ele não percebeu que Sirius tomara silenciosamente o rumo dos dormitórios, seguido por um agitado Peter.
— Ei, Six! — disse Wormtail, entrando no dormitório atrás do amigo. — Já vamos nos preparar?
Ele estava obviamente se referindo à excursão noturna. Nem podia imaginar o que se passava dentro de Sirius. Remorso.
A cena estava muito vívida em sua mente. Quando ele desviara os olhos de um grifinório que acabara de derrubar com uma almofadada ágil, eles capturaram outra imagem; James conversando com Lily.
Ele nunca saberia dizer porque se sentiu como se um leão faminto, devorador e selvagem tivesse despertado dentro de si, mais feroz do que Remus em dias de lua cheia. Só o que soube foi que, segundos depois, mirou muito bem uma almofada na nuca de James. Queria interromper aquele contato visual. Queria separá-los por um instante. Queria que James olhasse para trás, risse e revidasse, e que parasse de conversar com a garota, deixasse-a em paz.
Atirou com toda a sua destreza de exímio artilheiro, e acertou o alvo com força e precisão. O que não podia prever é que seu golpe abrisse toda aquela reação em cadeia que levou James a cair em cima de Lily. Sentiu o leão dar um rugido furioso dentro de si, e já procurava outra almofada quando ouviu a voz abençoada de Minerva McGonagall. Mas foi como se aquela voz o puxasse para a razão. Por Gryffindor, o que é que ele estava fazendo?!
James, o seu amigo, o seu irmão, que o acolhera em sua casa quando ele estava passando necessidade, cujos pais tinham sido mais pais para ele do que os seus próprios; James, o Prongs, companheiro inseparável de marotices e de noites em Hogsmeade bebendo uísque; ele dava em cima da garota dele, e tinha a cara-de-pau de sentir ciúmes?!
Riu ao lembrar de James caindo. Depois sentiu nojo de si mesmo.
— Eh… Padfoot?
Ele olhou. Peter ainda continuava ali.
— Padfoot — ele disse, firme como Sirius nunca tinha visto.
O rapaz pôde ver a expressão determinada no rosto de Peter. Nunca imaginou que ele possuísse tanta coragem assim.
Se tratavam de seus interesses. Se Sirius continuasse naquela depressão muda, os Marauders iriam acabar. E os Marauders, naquela época, eram a coisa mais importante de sua vida. Então ele podia enfrentar Sirius para que os Marauders não acabassem.
— Sirius, eu sei que tem alguma coisa errada acontecendo com você.
— Não tem.
— Não adianta negar. E… — ele hesitou —, desta vez, não adianta me intimidar também. Eu… acho que… não… vou deixar você ficar assim. Você tem que contar pra alguém.
Sirius nunca tinha ouvido Wormtail falar assim.
— Eu sei que você ia preferir contar pro Prongs — disse Peter —, mas acho que não dá pra contar pra ele. Nem pro Moony, porque a Lily é amiga dele. Então sobra eu. Sei que… não sou a pessoa ideal… mas queria que você contasse!
A comoção se apossou de Sirius. Se Peter conseguia sair de sua covardia, é porque a coisa estava séria. Lágrimas fugazes vieram aos olhos docemente cinzentos do rapaz, e ele as enxugou com a manga.
— Tenho sido um traste com você, Pete.
— Eu sei — disse Peter sério. — Mas… por favor… conta. Nem que seja só pra ficar mais alegre.
— OK… Eu… conto.
E foram minutos de alívio os dessa conversa, no escuro de um dormitório, falando coisas para um rosto que ele mal podia enxergar, mas que era o rosto de um de seus melhores amigos, o Pete, o Wormtail, o covarde meio fraco, mas sempre um ponto vital dos Marauders. Sentindo como se seu coração ficasse mais leve, um pouco, ele pôde narrar tudo, desde o dia em que reviu Lily no Expresso de Hogwarts, passando pela festa e concluindo com o assustador e frio beijo ardente que tinham trocado naquele corredor às escuras. Quando terminou, Peter estava abobado. A coisa tinha ido muito mais além do que ele pensava.
Era preciso demover Sirius de seus projetos. Antes que James descobrisse.
— Você não devia fazer isso. Ela é a garota do James.
— Eu sei — disse Sirius com os dentes trincados. — Eu lembro disso todo dia. Não preciso de muita ajuda — disse, fazendo um gesto desanimado em direção à porta.
— Você vai abrir o jogo com ele?
— Não posso contar a ele o que eu fiz. Ele nunca iria me perdoar.
— E com razão. Você sabia o que ele sente por Lily, e mesmo assim…
— Não faça eu me sentir pior, tá legal?!
Sirius disse as últimas palavras se levantando furioso.
— Não preciso de mais ninguém pra me lembrar que ela é a garota do James! Minha consciência já martela isso na minha cabeça o tempo todo!
— Desculpa, Six — disse Peter, recuando um pouco. — Eu sei como é difícil pra você. Mas devia desistir dela.
Sirius olhou para Peter em silêncio.
— Desculpa, Pete… Mas você nunca vai conseguir entender. Você… não sabe o que é… amar.
Com raiva contida, Sirius abriu o malão com um chute, catou seu uniforme e falou:
— Vou tomar banho. Quando James chegar, diz pra ele que já tô saindo pra gente ir pro Salgueiro.
— OK — disse Wormtail.
Rapidamente, evitando olhar para o amigo, Sirius entrou no banheiro e fechou a porta com um baque surdo. Peter ficou algum tempo ali, maquinando. Sirius amava Lily… Ele tinha que fazer alguma coisa para demovê-lo do projeto. Ou os Marauders acabariam.
Estava tão concentrado imaginando o que podia fazer Sirius desistir de Lily que não se deu conta do ruído na porta do dormitório, como se alguém tivesse se chocado contra ela, nem do barulho surdo de algo caindo no chão.
Do outro lado da porta, horrorizado, James Potter escorregava até o chão. Incapaz de acreditar em tudo o que tinha ouvido.
N.A.: Para quem não se lembra, Davy Gudgeon é aquele garoto que o Remus cita no terceiro livro, que quase teve um olho arrancado pelo Salgueiro.
Agora a prévia:
James ouviu tudo que Sirius disse a Peter. E agora, não consegue mais encarar o amigo e irmão da mesma forma. Quem será capaz de deter a fúria do Marauder quando se vê ferido no seu ponto mais fraco? James e Sirius, frente a frente, sem mentiras.
"— Você me traiu. Você sabia como eu a amava, e me traiu!
Laços de amizade são mais fortes que o ciúme?
N.A.: Quem se interessar, dê uma passadinha na song que eu escrevi pra me desculpar com o Remie... O nome é Incondicionalmente, o shipper Lupin/Tonks.
N.A.2: Comentem!! ;)
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!