História de trouxa



Eileen sentou-se em uma poltrona ao lado da maca de Tobias. E ficou observando suas feições. O sangue já estava lhe corando novamente as faces e ela viu que seu rosto era na verdade bronzeado, seus lábios finos de um vermelho suave e seus cabelos castanhos pareciam se fundir com a cor de sua face. “Deve trabalhar no campo, sob o sol...” Imaginou Eileen. Alastor a observava novamente pela porta entreaberta. Em sua feição, no entanto lia-se piedade, e não acusação por ter abandonado um bruxo curandeiro bem sucedido por um camponês trouxa. Apenas meneou a cabeça negativamente para si mesmo e fechou delicadamente a porta do quarto.
Eileen não sabia quanto tempo havia ficado ali, esperando que Tobias acordasse. Mas Alastor sabia, e haviam se passado mais de duas horas.
Foi quando Tobias lentamente abriu seus olhos. Fixou o teto por alguns instantes e fez uma careta de dor. Então se deu conta de que não sabia onde estava. Olhou lentamente em volta de si e viu, sentada a seu lado, Eileen.
- Oi. Quem é você? Onde estou? O que acont... Cadê aquele desgraçado? - disse jogando-se fora da cama e caindo logo em seguida no chão, gemendo de dor.
- Não, Tobias! Você não pode sair da cama! Volte, por favor!- e com a ajuda de Alastor colocaram-no de volta na cama. - Eileen olhou seu olhos castanhos escuros e uma sombra de ódio passou por eles. Eileen estremeceu levemente. Provavelmente, apenas Alastor tenha notado.
- Ok, rapaz. Agora fique aí deitadinho enquanto o Rufus não chega! Sem gracinhas!- esbravejou Alastor.
- Bem... Sr. Moody, pode deixar que eu continuo daqui, obrigada- disse Eileen. E Alastor saiu do quarto fechando a porta atrás de si. O coração de Eileen disparou ao virar-se para encarar Tobias. - Meu... Meu nome é Prince, Eileen Prince, e você está num hospital chamado St. Mungus.
- St. Mungus? Que nome mais esquisito para um hospital... Aliás que santo é esse que eu não conheço?- disse Tobias com um leve sorriso iluminando seu rosto.
- É, bem, eu também não sei que santo é esse, mas, bem... Estou aqui por causa do ataque que você sofreu. Você se lembra de tudo?
- É claro que eu me lembro! E aquele desgraçado vai me pagar!
- E você poderia me contar o que houve?
Tobias olhou Eileen desconfiado. Olhou novamente em volta e parecia estar avaliando suas opções.
- E quem é você mesmo, moça? Por que quer saber o que me aconteceu? É da polícia é?
- Bem, não. - disse Eileen achando a idéia engraçada. - Sou do ministério... Do ministério. E preciso saber o que aconteceu com você para que possamos pegar o culpado.
- Mas... Desde quando o ministério interfere em casos de tentativas de assassinatos? - disse ele, ainda mais desconfiado.
- Olha, por que você não me conta primeiro e eu explico depois? Afinal, não deve ter sido algo muito... Bem... Normal o que aconteceu com você...
Tobias pensou por um instante. Agora analisando bem, sem a adrenalina a lhe cegar os olhos, o que lhe acontecera fora algo completamente absurdo. Ele olhou aterrorizado para Eileen.
- Você é da gente dele? Do tipo dele?
- Não, não sou. Por favor, confie em mim! Só quero ajuda-lo.
E com um feitiço muito leve fez com que Tobias relaxasse um pouco e começasse a falar.
- Foi algo muito esquisito, acho que você não vai acreditar em mim...
- Pode apostar que vou...
- Bom, há poucos dias um Senhor mudou-se para as terras ao lado das minhas. Até aí, nenhuma novidade, aquelas terras parecem amaldiçoadas! Nunca ficaram mais do que um ano ou dois com um novo dono!
Eileen mexeu-se na cadeira, prestando atenção à história.
- Mas depois de uns dois dias, ele começou a expandir suas terras, vindo para os lados da minha terra, que já é muito pequena, então eu mandei um recado para ele, através de um de seus empregados, que era para ele recuar as terras dele antes que eu fosse resolver pessoalmente o caso.
Um olhar de assombro e ódio passou pelos olhos de Tobias enquanto ele reportava o que lhe acontecera.
- Parece que o velhote não gostou muito e essa manhã veio me visitar. Tinha um olhar arrogante e me olhava de cima para baixo, como se eu fosse um nada! Pediu-me para que eu vendesse as terras para ele e eu disse que não venderia. Essas terras foram de meu pai e eu nuca vou me desfazer delas! Parece que o velho ficou realmente irritado e começamos a discutir. Ele parecia não se conformar que eu não aceitasse vender as terras, como se eu fosse obrigado a fazer aquilo. Eu me senti ameaçado quando ele começou a vir para cima de mim e colocou a mão dentro do casaco. Achei que ele iria sacar uma arma, então peguei uma faca que estava sobre a mesa. Foi então que eu não entendi nada! Ele sacou uma vara, como um pedaço de pauzinho de dentro da capa e disse algo parecido com “cruz” alguma coisa. E nesse exato instante eu senti uma dor horrível, como nunca havia sentido antes! Uma dor alucinante! E fiquei no chão me retorcendo. Quando a dor parou tentei arremessar a faca contra ele, mas a faca se voltou contra mim mesmo e começou a me cortar! Então eu perdi os sentidos. Foi isso...
Tobias olhou nos olhos de Eileen pedindo por informações e então reparou que seu rosto, apesar de não ser tão bonito, era alongado, fino e delicado. “Deve ser de família rica...” pensou rapidamente.
- Bem Sr. Snape, como o senhor mesmo deve ter notado o senhor foi atacado por uma pessoa que não é... Como poderei explicar... Que não é como o senhor. Esse senhor... Como é mesmo o nome dele?
- Eu... Eu não me lembro... Puxa, que estranho! Tenho certeza que nos apresentamos, mas o nome dele realmente fugiu de minha mente! Como num passe de mágica!
- Bem, Sr. Snape, e foi mesmo um passe de mágica. O homem que atacou o senhor era um bruxo.
Tobias olhou Eileen com incredulidade depois deu uma risadinha, depois várias risadinhas. Perante o rosto sério de Eileen ele parou de rir.
- Você está brincando, não está?
- O senhor acha que eu estou brincando?
- Não parece, mas não pode ser verdade também. Isso não existe.
- Sim, Sr. Snape, existe, e o senhor foi vítima de um bruxo das trevas provavelmente, pois os bruxos... Digamos... Normais não agem dessa forma.
Tobias continuava sem poder acreditar. Olhou Eileen ainda mais desconfiado.
- E você sabe disso tudo porque também é bruxa?
- Sim.
- Então mostre alguma magia... Que não me machuque, é lógico.
- Pegue aquele copo vazio. - Tobias pegou.- “Aguamenti”- disse em voz alta. E o copo se encheu de água. Tobias largou o copo que se espatifou no chão. Moody entrou assustado na sala. Ao ver o copo no chão e o olhar de terror de Tobias, com um leve sorriso e um aceno de varinha, disse:
- “Reparo” - e o copo colou-se sozinho. Tobias pulou novamente na cama.
- Vocês... Vocês... - gaguejou Tobias
- Nós somos do Ministério da Magia e você está a salvo conosco aqui. Esse hospital é de bruxos e você foi tratado por bruxos. Logo estará livre para ir embora, mas terá de ficar sob a custódia de um bruxo, caso o tal senhor resolva retornar às suas terras, o que eu duvido muito.
- Eu espero que seja você então... - disse Tobias, sorrindo assustado para Eileen. Ela corou instantaneamente e sorriu para ele, mostrando todos os seus dentes. E ele admirou seus lindos dentes. “Dentes de gente rica”, não pôde deixar de pensar. Mas Eileen não conseguiria mais ler seus pensamentos...

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