Uma Virada do Destino
Uma Virada do Destino
Hinge of Fate
Autora - Ramos
Tradução - Clau Snape
Beta reader - Bastetazazis
Disclaimer: Estes personagens são de propriedade de J.K. Rowling. Nenhum lucro foi obtido pelo seu uso.
Cap. 21
Sumário: A Batalha de Hermione - nascimento, morte, e o fim da história.
Apesar da predição otimista de Gina de que alguém voltaria antes que fosse tarde demais, na verdade já fazia quase quatro horas antes de um baqueado Severo Snape aparatar de volta no prado onde seu mais velho inimigo encontrara um longo final. O homem que chegou era muito diferente do homem que partira; sua veste caía aberta, os botões se foram há muito tempo, após tentativas especialmente inaptas de Sirius Black de prestar-lhe os primeiros socorros. A camisa que uma vez fora de um branco imaculado, agora estava cinzenta, com manchas de sujeira, sangue, e outras substâncias que ele tinha receio de identificar, considerando os cuidados solícitos que Canino dispensara à sua pessoa inconsciente. O lenço verde e preto desaparecera sem um traço, e um curativo rude feito à mão estava amarrado em torno do seu antebraço esquerdo abaixo de uma manga arregaçada.
Parando outra vez diante da cabana onde deixara sua esposa, Severo lançou-se ao redor ansiosamente, sabendo que Gina era incapaz de Aparatar com qualquer outra pessoa. A depressão na grama fora abandonada, com exceção do corpo de Lúcio Malfoy, e seu coração apertou com repentina apreensão.
Chamando pelo nome de Hermione, Severo se virou, procurando no pasto por algum sinal. Um grito curto não muito longe o atravessou como um trovão.
- Hermione! - ele gritou, o medo agarrando seu coração uma vez mais.
- Prof. Snape! - chamou uma voz apavorada. - Hermione está em trabalho de parto!
Por um instante, Severo Snape ficou completamente parado, tentando compreender as palavras que ele apenas ouvira. Então a mensagem entrou e o reanimou de volta a ação, rasgando sobre o ligeiro declive para encontrar o objeto de sua busca sob um pequeno carvalho.
Hermione estava ajoelhada na grama, a cabeça abaixada, com Gina encolhida a seu lado. Um círculo de vegetação espezinhada mostrava que ela andara aproximadamente agitada entre as contrações. Seu vestido estava amassado e escurecido de suor, a borda do gramado manchada e marcada com vários líquidos.
- Eu não ousei deixá-la! - balbuciou uma Gina confusa, e um olhar para o rosto vermelho e suado de Hermione o fez concordar com ela. O cabelo incontrolado de Hermione caía em mechas úmidas sobre o rosto dela, e o sarcasmo da voz era verdadeiramente alarmante:
- Severo Snape, seu bastardo! Experimente chegar perto de mim e eu quebrarei seus malditos joelhos! – Ela deu um gemido longo e baixo enquanto a contração continuava a curvar seu corpo por todo um minuto antes de liberá-la ofegante. Ela relaxou lentamente para trás, a posição das mãos sobre as coxas e a sustentação de Gina ao seu lado eram as únicas coisas que a mantinham levantada.
A tradição dizia que o parto era um campo de batalha para uma mulher, e Severo poderia bem acreditar. Seu trabalho de parto estava obviamente muito avançado para arriscar aparatá-la para qualquer lugar, e as probabilidades de chamar algum pessoal médico do campo de batalha que ele apenas acabara de deixar eram inviáveis. Sem hesitação, ele conjurou diversos cobertores e uma bacia d’água, completando com uma toalha de rosto.
Arregaçando rapidamente a única manga intacta, Severo espremeu a pequena toalha de rosto na água perfumada de lavanda. O primeiro toque dele no rosto de Hermione trouxe um choramingo de alívio, e os olhos dela se abriram enquanto ele empurrava suavemente para trás os cachos de cabelo emplastrados no rosto dela.
- Severo - ela sussurrou, seus lábios secos. - Você está vivo? - Os olhos marrons fixaram no rosto dele, seu alívio tão claro quanto vidro.
- Real, vivo, e muito feliz em vê-la - ele lhe disse enquanto conjurava um copo d’água e o segurava em sua boca. Ela sorveu alguns goles antes de empurrá-lo para trás. - Quando começaram?
- Imediatamente depois que vocês saíram - Gina respondeu, mordiscando o que restava de uma unha. Todas as dez estavam mordidas por baixo, testemunhando sua ansiedade quanto à amiga e ao menino que amava. - Como foi?
- Nós vencemos - ele respondeu logo. - Harry está bem, e Pomfrey acha que Dumbledore se recuperará se sobreviver nos próximos dias. Qual o intervalo das contrações? – ele perguntou enquanto persuadia sua esposa a se deitar nos cobertores macios que ele conjurara. O casaco de Sirius Black e um jogo de vestes verdes estavam próximas, mas Gina fora obviamente incapaz de convencer Hermione a permanecer no leito temporário enquanto lidava com a dor do trabalho de parto.
- Não há quase nenhum intervalo entre elas – Gina lhe disse, um fato que ele podia ver por si mesmo quando Hermione se enrijeceu outra vez, um gemido baixo que veio dela outra vez quando as forças inexoráveis que controlavam seu corpo a pegaram novamente. - Nós sabemos que ela não deve supostamente empurrar até que dilate inteiramente, mas nenhuma de nós sabe dizer quando é isso. Eu acho que foi, o que, uma meia-hora atrás? Hermione disse apenas que não poderia mais suportar e começou a empurrar.
- Está vindo - Hermione anunciou entre dentes. Praguejando, Severo moveu-se para trás dela, tentando mantê-la contra seu peito, permitindo que ela usasse toda sua força para empurrar. Ela deu um grito curto quando a contração diminuiu e levantou a cabeça para encontrar os olhos dele.
- Eu tentei esperar, Severo. Eu tentei não empurrar, mas isso dói! – Ela ofegava, esgotada, a dor desnorteando a voz que rasgava o coração dele.
- Eu sei que você tentou, meu amor - ele murmurou para ela. - Mas está tudo bem agora. Você está quase lá. - Beijou a testa dela e friccionou uma mão tranqüilizadora sobre o abdômen inchado, tentando não tomar como pessoal quando ela afastou a mão para longe. – Só mais um pouquinho. A cabeça já está coroando? – ele perguntou a Gina em um tom baixo ansioso.
- O que? Essa coisa preta? - Gina perguntou, apontando um dedo bem mastigado em direção aos joelhos espalhados de Hermione. Há muito tempo que ela tinha deixado de ser delicada com o que se referia a ter um bebê.
- Eu suponho que sim. Você tem sua varinha? - ele perguntou. Gina assentiu, e Severo conjurou diversos cobertores menores. - Ponha um encanto aquecedor neste e mantenha-o pronto. Quando a cabeça sair, o resto seguirá rapidamente.
- Você quer que eu o pegue? - Gina perguntou assustada.
- A menos que você ache que eu posso segurar minha esposa e atender ao bebê – ele respondeu com seu toque ácido normal. Condicionada a seis anos de sarcasmo duro e pungente, Gina fez o que lhe mandaram. Nesse ínterim, Severo encontrou uma posição que o permitisse suportar Hermione com seu braço direito não danificado e ainda mantivesse sua mão esquerda livre para cuidar da esposa.
As poucas contrações seguintes vieram com crueldade, e Severo manteve Hermione levantada enquanto ela se curvava quase em duas, as mãos agarrando os joelhos até ficarem brancas do pulso para baixo. Se ela realmente ouviu os incentivos e as palavras de ternura que ele lhe sussurrou, ele não pode dizer, mas quando cada contração a liberava, ela desmoronava para trás de encontro a ele e virava o rosto contra seu peito. Mesmo com olheiras de exaustão sob seus olhos fechados, o cabelo muito cacheado coberto de suor, ela era a criatura mais incrivelmente bonita que ele já vira. E cada vez que ela se voltava para ele entre seus esforços, descansando de encontro a ele num gesto tão confiante, fazia o peito dele doer com a emoção que ele jamais pensara que seria sua.
Apesar da impaciência de Gina, Severo deu a notícia somente depois que Hermione pudesse absorvê-la: que Dumbledore fora golpeado antes de Harry reaparecer com Severo, Sirius e Rony atrás dele. A maneira como os cinco fizeram seu caminho até Voldemort. Como as varinhas entre Harry e Voldemort se juntaram e finalmente estouraram em chamas em ambas as mãos, desintegrando-se em cinzas numa questão de segundos.
- As penas se queimarão… - Gina murmurou. - Ah, eu sei tudo sobre essa profecia estúpida - ela continuou quando Severo a olhou com surpresa. - Você está certa, Hermione, Adivinhação é uma completa tolice.
Hermione riu aflita em resposta, os olhos fechados enquanto ela saboreava o curto espaço entre as contrações. Diversos vasos sanguíneos minúsculos em seu rosto haviam se rompido, dando a suas bochechas uma aparência sardenta.
- Então a Fênix de Dumbledore caiu, mas ele não morreu. As penas queimaram... as varinhas, certo? Ambas tinham penas de fênix em seu núcleo. A espada se quebrou?
- Harry fez apenas como ele disse: perseguiu Voldemort com a espada. Qualquer que tenha sido o feitiço que ele e Dumbledore inventaram para emboscar Voldemort na lâmina quebrada da espada, funcionou. Qualquer parte de Voldemort que não morresse com seu corpo físico seria soldada à lâmina da espada, e Harry já a enviou para Gringotes, para pedir a um especialista em itens amaldiçoados.
- Essa idéia foi minha - Hermione disse em um sussurro ofegante. - Para usar língua de cobra em um feitiço de ligação. Harry conseguiu lutar, então?
- Não há nenhuma dúvida quanto a isto - Severo respondeu, mais que um pouco impressionado com a idéia muito inteligente dela de usar língua de cobra para lançar um feitiço. A única maneira de quebrar o encanto e liberar a essência de Voldemort iria requerer uma outra pessoa que falasse língua de cobra. Já que Harry era atualmente a única pessoa viva com essa habilidade, era a solução mais próxima da perfeição que Severo podia imaginar.
- Remo acha que a mágica elementar que Harry tocou quando ele a acordou de algum modo reativou a proteção criada por Lílian Potter quando ela morreu - ele continuou. – O sangue de Harry que derramou na terra foi o sangue que Voldemort roubou de Harry três anos atrás.
- E escuridão cairá toda sobre a terra? - Gina pressionou.
Snape segurou seu braço esquerdo, o pulso exposto estava vermelho e empolado, indicando que uma queimadura muito pior fora escondida sob a bandagem.
– A derrota de Voldemort causou uma reação da Marca Negra, e cada Comensal da Morte que tinha uma ficou inconsciente. Pomfrey levou quase vinte minutos para me trazer de volta, e os outros poucos que recuperaram a consciência pareciam ter ficado loucos, como se fossem expostos ao Cruciatus por muito tempo. A resposta ao feitiço de Dumbledore parece que me protegeu de alguma forma de todo este efeito.
Toda discussão adicional teve que esperar quando Hermione arqueou-se mais uma vez com uma contração, seu rosto se avermelhou enquanto ela se esforçava para empurrar a criança para fora de seu corpo. Severo teria feito qualquer coisa para poupar-lhe da dor, mas não podia fazer nada além de suportá-la enquanto ela gemia, e empurrava, e sofria. Finalmente a contração abrandou e ela se deixou relaxar nos braços de seu marido por um pequeno intervalo de tempo.
- Eu te amo, Hermione - ele disse suavemente, não se importando se Gina Weasley estava ouvindo ou não.
- Eu te amo também, Severo. - Ela respirava lenta e superficialmente, então tomou fôlego. – Nós estamos quase lá? - ela perguntou, sem abrir seus olhos.
Sem nenhum traço de embaraço, seu braço comprido alcançou mais em baixo entre suas coxas enquanto ele sentia a cabeça do seu filho. Um sorriso largo veio através do seu rosto cansado quando seus dedos encontraram, bem próximo à liberdade, uma massa de cachos finos.
- Muito em breve, eu acho - ele lhe disse, conduzindo a mão dela ao mesmo lugar. Mesmo com uma audiência, era um maravilhoso momento íntimo para um homem que aceitara uma vida sozinho.
- Bom - Hermione vociferou quando foi pega outra vez pela dor produzida pelo próprio corpo. Ela conseguiu prender a respiração apropriadamente profunda antes de fazer força para baixo com todo seu poder, seguramente firme pelos braços do marido. Suas coxas estremeceram com o esforço, e um gemido penetrante veio do alto da garganta enquanto seu corpo se esticava brutalmente com a tarefa árdua, até que gradualmente, finalmente, a cabeça do bebê emergiu, liberando-se tão vagarosamente do corpo da mãe.
Outra contração mais suave pareceu seguir com uma pequena pausa, e Gina disparou tardiamente para frente com um pano e pegou a criança quando primeiro um braço, depois outro, apareceu livre, e então o resto do corpo branco-úmido descorado deslizou rapidamente do ventre de Hermione, seguido por um fluxo de sangue e líquido.
Os punhos minúsculos empurravam e acenavam ao ar, marcando um contraponto com os choramingos soltos que rapidamente se elevaram para lamentos finos e rápidos de ultraje. O pequeno tórax oscilou com suas primeiras respirações, e a cor do bebê girou rapidamente do roxo para o cor-de-rosa brilhante.
Gina puxou o pano aquecido em torno do corpo viscoso e molhado, cuidadosa com o cordão umbilical que ainda conectava a nova vida à Hermione.
- Hã, eu deveria fazer algo com isto? – ela perguntou incerta.
Severo abaixou Hermione até o chão com uma rápida confiança e puxou uma fita preta do bolso, a mesma fita preta que prendera a carta ameaçadora de Malfoy. Suas mãos estavam tremendo, ele notou distante enquanto amarrava a fita em torno do cordão umbilical, perto da barriga do bebê, e cortou o cordão úmido e escorregadio com um agito de sua varinha.
- É uma menina - ele observou enquanto envolvia com cuidado sua filha recém-nascida no cobertor. - Hermione, meu amor. Nós temos uma menina!
Apesar de esgotada, Hermione sorriu com a surpresa na voz dele e abriu os olhos para ver Severo levantar o bebê vermelho, cujos berros estavam se desvanecendo em lamentos descontentes ocasionais. Ela levantou as mãos no ar, e Severo colocou o pacote minúsculo na curva do braço dela.
- Alô - ela murmurou à menina, uma lágrima de alegria fazendo-a soluçar. - Eu sou sua mamãe.
Apesar do suor e das lágrimas que molhavam seu rosto, o sorriso de Hermione rivalizava com qualquer Madonna, e Gina deixou cair uma lágrima inesperada dela quando o seu uma vez odiado professor de Poções segurou a esposa em seus braços. Hermione descansou contra ele num contentamento exaustivo, a cabeça enfiada sob o queixo dele enquanto ambos olhavam sua filha. Severo Snape, Gina observou, também estava sussurrando para sua filha, ambos absortos à platéia.
Finalmente, entretanto, os novos pais se lembraram da presença de Gina, e permitiram que ela segurasse o bebê enquanto lidavam com o necessário e, de seu ponto da vista, repulsivo final do parto.
- Não acho que Sirius vai querer seu casaco de volta - Gina conseguiu fazer uma piada enquanto Severo envolvia a placenta num pedaço do tecido daquela roupa.
- Provavelmente não - Severo disse calmamente enquanto fazia o que podia para deixar Hermione ligeiramente mais confortável. Ele pedira para Gina aplicar um encanto de secagem no amarrotado vestido ensopado, enquanto ele invejosamente reservava suas forças finais para Aparatar de volta a Hogwarts. Não tinha nenhuma intenção de confiar sua nova família a uma Chave de Portal, uma modalidade notoriamente violenta de transporte conhecida por arremessar o viajante sem equilíbrio no fim da viagem.
Quando Gina devolveu relutantemente o bebê de volta a sua mãe, Severo envolveu o resto do casaco arruinado em torno de Hermione antes de puxar uma pequena peça de metal do bolso. Bateu-o com sua varinha e entregou-o prontamente a Gina, cujo cérebro super excitado levou um tempo para reconhecer o objeto como a tampa de um frasco de tinta.
- É uma Chave de Portal, Srta. Weasley. Ela a levará até o portão de entrada de Hogwarts. Os Aurores e outros idiotas variados do Ministério devem ter enchido o lugar completamente agora, sem o seu pai se opor, então não espere boas-vindas amigáveis até que prove que você é uma estudante. Assim que você chegar lá, por favor informe a Madame Pomfrey que eu Aparatarei Hermione e o bebê diretamente no portão da frente de Hogwarts e que eu apreciaria sua atenção imediata. E alguém deve lembrar a Draco Malfoy de seu dever com os restos do pai - ele acrescentou, acenando com a cabeça para o buraco onde o corpo de Lúcio Malfoy jazia.
- Sim, professor - Gina concordou, ansiosa para ver Harry outra vez. Deu a Hermione um sorriso largo e gritou: - Parabéns! - assim que a Chave de Portal foi ativada.
- Sozinhos finalmente - Hermione satirizou em voz baixa, e Severo caiu de joelhos ao lado dela, um sorriso cansado que puxava o canto de sua boca. Ela empurrou uma mecha de cabelo longe do rosto dele, preocupada com as linhas de preocupação no rosto dele. - Você tem certeza que está pronto para isso? Aparatação, eu digo?
Severo capturou a mão e pressionou um beijo em sua palma.
- Eu posso fazer o que quer que seja necessário fazer, pelo menos nos próximos momentos. Se, entretanto, um contingente de gigantes chegar por aquela montanha nos próximos minutos querendo negociar seu lugar justo na sociedade bruxa, eu lhes direi que se danem e voltem na próxima terça-feira. Eu estou cansado, e não sei ao certo quanto mais eu posso suportar hoje.
Ele estremeceu silenciosamente no assunto dos gigantes; ele ainda não tinha contado sobre a morte honrosa de Rúbeo Hagrid, e a notícia ia feri-la profundamente. Hagrid era um membro da equipe de funcionários que nunca deixara de tratar Severo com respeito, tanto quando estudante como quando professor. Ele, também, sentiria falta da alma delicada do meio-gigante.
Severo deixara muitas coisas de fora na sua história, mas ele não via a hora de compartilhar com ela as outras coisas que o deixaram impressionados aquele dia. Como a maneira como Neville Longbottom não gaguejou nenhuma vez enquanto explicava seu papel na batalha para os Aurores recém aparecidos. Alguns dos bruxos e bruxas do Ministério que apareceram se recordavam dos pais de Neville, e sinceramente até Severo vira algo similar ao pai do menino em seu comportamento após a batalha. O modo como Cornélio Fudge aparecera, inflado de intromissão fanática e obviamente apenas um tanto apavorado enquanto ordenava que Sirius Black fosse preso, e quando viu a queimadura no braço de Severo, ordenou que o prendessem também. Harry objetara, gritando com teimosia e recusando-se a mover uma polegada sobre o assunto. No final, Olho-Tonto Moody intervira, junto com o chefe dos Aurores, e concordara que podiam confiar que provavelmente o padrinho de Harry e o antigo mestre de Poções de Hogwarts não iriam assassinar qualquer um nas próximas horas enquanto toda a confusão fosse ordenada.
Essa decisão, entretanto, foi no momento em que a maré girou. Não obstante quantas ordens adicionais Fudge emitisse, ele era no geral ignorado pelo aurores e pelo pessoal que aparatava vindo de St. Mungos, o respeito deles com o Fudge escorrera como água quando foram tratar dos negócios e conseqüências da batalha. Em vez disso, eles se voltaram para Harry Potter e os membros da Ordem que já estavam acostumados ao papel da liderança de Harry sob Dumbledore. O menino que sobreviveu estava no comando, e ninguém no campo de batalha tinha alguma dúvida daquilo.
Todas estas coisas, entretanto, podiam esperar até que Hermione e o bebê estivessem em segurança de volta à Hogwarts e eles tivessem tempo tanto para lamentar e celebrar. Com um grunhido de esforço, Severo conseguiu apanhar sua esposa, filha e tudo, e um momento depois, desaparatou, deixando o declive aos carneiros e ao vento.
Aquecida, limpa, e confortavelmente aconchegada na cama maior recentemente instalada no quarto da Monitora Chefe, Hermione não se moveu até que o som de água corrente cessou de repente no banheiro. Ela não estava cochilando, embora seu estado mental estivesse próximo. Na curva de seu braço, sua filha agarrara um mamilo e se entregara em começar uma refeição. O ato primitivo de alimentar seu bebê não era desagradável como temera, mas dava-lhe uma sensação surpreendente maravilhosa. Uma necessidade elementar de sentir a sucção tomou conta dela, a pequena boca morna com um aperto tão forte, apesar dos espasmos de dor em sua barriga e da impressão muito real que nunca sentaria corretamente outra vez.
A massa de cachos pretos do bebê saiu de encontro ao gorro verde pálido; ela desistira de pegar os cachos desordenados enquanto a alimentava. Para alguém com somente algumas horas de vida ela já mostrava sinais de temperamento, e já demonstrara completamente o desagrado com o chapéu tricotado que sua mãe colocara. Esse desprazer fora abandonado quando seu apetite se afirmara, hora em que ela demonstrara ter um par saudável de pulmões.
A porta do banheiro abriu e deixou sair um sopro de vapor, junto com um Severo Snape nominalmente vestido. Cansado e ansioso para se juntar a sua esposa, seus únicos esforços para se aprontar para a cama foram um banho e um passar de dedos impaciente em seus cabelos. Sua bagagem não fora levada ainda para o quarto da Monitora Chefe, então no lugar da longa capa preta que Hermione detestava, ele usava um roupão da sua esposa. Infelizmente ele era de um amarelo manteiga vivo e não favorecia em nada sua cor ou atitude. O tecido esticou ligeiramente através de seus ombros e caiu aberto sobre o peito pálido, levemente definido e as inevitáveis cuecas pretas.
Severo encontrou sua varinha caída próxima a de Hermione na mesa de estudo da Monitora Chefe, junto com suas vestes de gala esquecidas e o adornado colar que a mãe dele enviara, o qual Hermione estava muito feliz em ver de novo. Com a facilidade da longa prática, ele fez brevemente o trabalho de proteger o quarto e a porta. Satisfeito com a segurança adicional, ele acendeu o fogo com um “Incendio” e se juntou a Hermione na cama, afofando o travesseiro para permitir que ele se inclinasse de encontro à cabeceira e soltasse um suspiro pesado.
Do seu canto no cotovelo de Hermione, Bichento abriu os olhos e considerou o intruso. O gato já inspecionara completamente a pequena nova ocupante em sua cama, e ronronara em aprovação, e agora Severo estava sob o mesmo escrutínio. Ele devolveu o olhar fixo dos olhos amarelos, esperando um rosnado ou um silvo. Os dois não se encontraram no dia que Severo passara no quarto de Hermione, pois havia desaparecido como os gatos fazem, e saíra antes que o macho residente retornasse.
Bichento se levantou e se espreguiçou, depois andou na ponta dos pés se aproximando do homem invadindo a SUA cama. Com uma batida deliberada do corpo, desmoronou contra o peito de Severo, ronronando. Surpreso consigo mesmo, Severo deu ao gato de listras ruivas um afago em sua orelha, ganhando mais ronronados por seus esforços.
Crise contornada, Severo deslocou-se até que pode ver sua filha melhor, mamando lentamente agora, os cílios pretos ondulados próximos às pequenas bochechas redondas e gordas.
- Você tem certeza que ela ficará bem aqui na cama conosco? – ele perguntou suavemente.
Hermione olhou de relance, mas parecia apenas extasiada pela pequena pessoa em seus braços.
– Não se preocupe. Você tem um sono muito leve, e eu duvido que ela nos deixe mais do que uma hora assim esta noite.
Severo grunhiu em reconhecimento; embora os casos críticos fossem transferidos ao St. Mungos, Pomfrey e diversos funcionários do hospital estavam cuidando de uma enfermaria de Aurores mais ou menos gravemente feridos e de estudantes. A medibruxa e seu bando se voluntariaram de bom grado para olhar a pequena enquanto os pais esgotados teriam um descanso tão necessário, mas nem ele nem Hermione consideraram se separar de sua filha por um momento.
- Nós precisaremos arranjar um berço ou algo parecido de manhã - ele comentou, observando os pequenos lábios como um botão de rosa no peito de Hermione. - Eu poderia conjurar algo, mas eu não tenho energia para chamar nem um lenço direito agora.
- Nós vamos ter que pensar num nome pela manhã - Hermione corrigiu. - Nós não tivemos sequer uma idéia de como nós iremos chamá-la, ou quem serão seus padrinhos, ou… – ela foi interrompida por um bocejo maciço, e desistiu do esforço de listar todas as coisas deixadas por fazer.
Severo se aproximou mais, muito a contragosto de Bichento.
- Minha família tem uma tradição - ele começou.
-Ah, Não. Nós não vamos chamá-la de Otávia, ou Agripina, ou nenhuma outra imperatriz romana.
- Está certo, então - ele concordou, não inteiramente surpreso. – Que tal Athena, ou Diana? Eu fui sempre parcial às deusas mesmo - ele murmurou, dando-lhe um olhar significativo.
- Humm. Eu sempre gostei das rainhas inglesas - Hermione respondeu, aquecida pela apreciação nos olhos dele que ela infelizmente seria incapaz de fazer qualquer coisa por algum tempo. – Várias delas, como Elizabeth, ou Eleanor, ou Victoria. Esse sim é um bom nome, mesmo quando ela ficar uma velha sem graça. - Olhou para baixo para a criança em seus braços. Ela havia soltado do mamilo enquanto dormia, sua pequena boca ainda fazendo movimentos de sucção. - Como Victoria soa para você, hein?
- Victoria Snape soa aceitável - seu pai respondeu por ela. - Nós podemos nos preocupar sobre o que irá no meio amanhã. - Ele inclinou-se para baixo e beijou Victoria delicadamente, abençoando-a. – Nascida no dia em que Voldemort foi finalmente derrotado. Eu diria que isso soa perfeito.
Victoria não se agitou, e Severo olhou fixamente para ela, recordando os eventos do dia passado antes de balançar a cabeça.
- Eu queria que você pudesse ter visto, Hermione - ele lhe disse quietamente. - Você estaria muito orgulhosa do Harry hoje.
- Eu estou orgulhosa dele. Você não está?
- Eu… estou impressionado. Ele tem o dom do comando.
- O que seria uma mágica primária? – ela perguntou.
- Não. Somente a mágica de seu coração. Ele pediu, e eu segui um menino de dezessete anos de idade em uma batalha que nós poderíamos nunca ter ganho. Mas nós ganhamos. – Ele fez um pigarro de humor auto-censurado. - Eu estava errado, todo o tempo. Eu pensei que Dumbledore estava treinando Harry para ser o próximo Merlin.
- É claro que não - Hermione murmurou sonolenta.
- Ele é o próximo Arthur - Severo indicou.
- Rei Arthur? - Hermione moveu sua cabeça ligeiramente para olhar para ele. - Você está doido?
- Não, infelizmente - ele disse seriamente. - Antes que amanhã termine, a chamada para um voto de Não-Confiança no Fudge estará soando pelos salões no Ministério. Uma palavra do Harry Potter, e Arthur Weasley será Ministro da Magia antes que a cadeira do Fudge esfrie. Então, em vinte ou trinta anos, quando Arthur estiver pronto para se aposentar, Harry será ministro. Não há uma bruxa ou bruxo na Inglaterra que seja capaz de imaginar qualquer outro.
Hermione piscou para ele, confusa, obviamente imaginando que ele enlouquecera. Severo inclinou-se uma vez mais e beijou sua testa.
- Não se preocupe com isso agora, querida. Eu confio em seu julgamento, e eu confiarei no Harry. O Menino-Que-Sobreviveu se transformará em Harry, o Conquistador.
Ela bufou ligeiramente.
- Isso soa tolo.
Severo sorriu também, e com um dedo acariciou delicadamente a bochecha de sua filha recém-nascida.
- E nossa filha jamais precisará se preocupar com o tipo de coisas que você teve que se preocupar, Hermione. Não com o Harry como padrinho.
- Agora eu sei que você ficou louco. Você quer que o Harry seja o padrinho de Victoria?
- Não - ele respondeu com falsa severidade -, eu quero Gina Weasley como madrinha. Ela é sua amiga e estava lá o tempo todo. Harry está apenas correndo pela beirada, já que eles obviamente estão correndo juntos.
Hermione abafou o riso.
- E em alguns outros lugares. Obrigada - ela adicionou sinceramente, antes de beijá-lo na boca suavemente. Com um sorriso delicado, ela entregou o bebê adormecido ao pai enquanto arrumava a camisola e se acomodava na cama. Irritado com a maneira com que seus donos se moviam de lá pra cá, Bichento recuou ao pé da cama e se encolheu indiferente como uma bola.
Quando Hermione estava confortável, Severo novamente colocou Victoria na dobra de seu braço e extinguiu cada uma das velas murmurando “Nox.” Achou uma posição confortável deitando-se de lado, um braço encolhido abaixo da cabeça enquanto observava a visão de suas esposa e filha. Na luz macia da única vela, Hermione olhou de volta para ele, seus olhos aquecidos com o amor tanto por ele quanto por Victoria, os eventos que cercaram sua concepção já não tinham nem mesmo uma remota importância.
Hermione sentiu uma linha minúscula de preocupação enquanto Severo continuava a olhar fixamente para ela. Seus olhos estavam pretos na luz fraca, as linhas de seu rosto aprofundadas pela fadiga, o cabelo preto ficava ondulado enquanto secava.
- Alguma coisa errada? - ela sussurrou.
- Nada - ele respondeu, balançado a cabeça. - Apenas olhando o que o destino me deu.
Para sua surpresa, Hermione mordeu o lábio, no que ele reconheceu como um hábito nervoso.
- Severo, se você tiver qualquer dúvida, me diga, por favor. Talvez sejam apenas os hormônios, ou feromônios, ou o que quer que…
Severo inclinou-se sobre sua filha e silenciou Hermione com um beijo rápido, seguido rapidamente por outro.
- Hermione - ele disse pacientemente. - Eu te amo. Você me deu uma filha, e nós estamos ligados para sempre, da maneira mais elementar possível.
Ela abriu a boca, e ele rapidamente a incitou.
- Não confunda elementar com irreal - ele lhe disse suavemente, seu nariz esfregando contra o dela enquanto falava em tons delicados e persuasivos. - Isto é real.
Ele beijou sua boca suavemente, inteiramente, e assim que sua boca abriu debaixo da dele, o beijo foi interrompido quando ele foi atingido com um bocejo. Ela não pode deixar de rir dele e de suas próprias ansiedades fantasmas; eles estavam mortos de cansaço e muito distantes de qualquer pensamento racional.
- Eu lhe prometo isso - ele lhe disse quando pode falar outra vez, tateando pela mão dela nas cobertas e prendendo-a firmemente na dele. - Eu amo você, e a nossa filha, e eu não tenho nenhuma intenção de deixar você ou ela fora da minha vista por pelo menos uma década, se não mais. Eu pensarei em algo mais eloqüente de manhã, mas eu estou simplesmente exausto demais para ser poético agora. Está bem?
- Está certo - Hermione murmurou, bocejando um bocado ela mesma enquanto fechava os olhos. - Nós temos amanhã.
- E todos os dias após - ele resmungou, sentindo-se apenas um pouco poético de qualquer maneira, mesmo quando perdeu a batalha e caiu no sono.
FIM
N/T - Bem teoricamente esse é o último capítulo dessa saga maravilhosa que a Ramos nos presenteou. Mas como vocês perceberam, eu falei dois capítulos, sim existe um epílogo que se passa anos mais tarde e que já vai ser postado a seguir. Mais uma vez o meu eterno agradecimento à Bastet e à Fer na betagem e conselhos. E a todos os que leram essa fic maravilhosa. Beijos Clau
Comentários (1)
Chorando um oceano aqui! Mérlin do céu!
2014-04-02