Chamado Irresistível



Ao final da tarde, quando o burburinho se havia acalmado e todos retomavam seus afazeres normais, Rowena voltou ao quarto da filha, depois de haver convocado Godric a acompanhá-la. Helga também se encontrava lá.
– Zibby, minha filha, quero lhe fazer algumas perguntas.
A moça estava sentada em uma grande poltrona ao canto do quarto, que não ficava de frente nem próxima ao grande espelho. Séria, esperou que a mãe continuasse.
– Você usou sua varinha diante do espelho?
A moça balançou a cabeça negativamente. Rowena acenou que compreendia.

– Você pronunciou alguma palavra diante do espelho?
– Sim, respondeu Zibby. Pareceu-me que reconheci uma palavra e a pronunciei, mas não a sabia, na verdade, seu sentido, quero dizer. Apenas falei o que lia e que acreditava significava outra coisa. Então tudo começou.
–Entendo.
Rowena caminhou em volta do quarto, queixo nas mãos, meditando sobre o significado das respostas da filha.
– Você sabe o que é este objeto, Rowena? perguntou Godric, que estivera em silencio desde que chegara.
– Parece-me que sim, respondeu Rowena, com o sobrolho carregado, olhando fixamente para Griffindor.– Este objeto não deveria estar aqui de maneira alguma.
– Eu disse!, – exclamou Griffindor, vitorioso – Eu falei que isso era uma armadilha, um malfeito de Slytherin a fim de acabar com nosso sossego – redarguiu o bruxo, que aborrecera-se à morte com todo o pandemônio armado no castelo em torno da revelação do espelho mágico.
– Não quis dizer que ele não pode ficar aqui, Godric, por ser um objeto maléfico. Quis dizer que é impossível que ele esteja aqui, nesse momento. Aqui, em Hogwarts.
Diante da resposta enigmática, todos retesaram-se e se ajeitaram mais pra frente em suas cadeiras à espera da explicação para tão curiosa afirmação.
– Como assim, não poderia estar aqui?
Rowena deu um passo em direção ao espelho e voltou-se para sua pequena audiência.

– Este espelho não pertence a este mundo e por isso não poderia estar aqui, em Hogwarts, hoje.

Três pares de olhos abriram-se ainda mais. Após um momento de silencio, a bruxa prosseguiu.

– Este não é um espelho qualquer, como bem puderam notar. Porque este é o Espelho de Ojesed e pertence à Senhora do Lago.

Os três bruxos não contiveram uma exclamação de espanto.

–Mas... então deveria estar em Avalon, completou Helga.
– Sim, deveria, concordou Rowena.
– Como veio parar aqui? perguntou Godric.
– Isso é um mistério. Mas o mais espantoso, com certeza, é que de nenhuma forma teria saído de Avalon sem a permissão da sua dona. Desse modo, se o espelho aqui veio parar, foi enviado por ela.

O silencio se fez na sala e todos baixaram os olhos para o chão, tentando decifrar o significado daquele estranho acontecimento.

- ou roubado. Disse helga.

Todos franziram o cenho, exceto por Zibby que arregalou os olhos.

- Mas roubado por quem?

Após alguns instantes calada, Rowena continuou.

– Perdemos o contato com Avalon após a morte de Arthur. Já não é possível chegar à ilha, que se fechou para sempre nas brumas. Avalon deixou nosso mundo e não existe para os mortais. Somente com grande esforço essa relíquia poderia ter sido enviada desde a ilha das fadas até Hogwarts, ou retirada, - acrescentou olhando para Zibby - de modo que pudesse atravessar o abismo que separa nossas existências. Se tal esforço foi feito, e o espelho foi enviado pela Senhora do Lago, como não poderia ser feito por nenhuma outra pessoa, então deve existir um motivo muito forte para que tal feito tenha ocorrido. Mas se foi roubado, o mistério é ainda maior, pois quem teria tal poder?

Godric cofiou a barba e lamentou.

– Se Merlin ainda estivesse conosco...
– Creio que devemos recolhar o espelho para outro local no castelo, e evitar que os jovens entrem em conato com ele. Não é um brinquedo apesar de atraente, com sua incomum capacidade de mostrar... o invisível – e Rowena hesitou um pouco antes de dizer isso. – Há um propósito nesse objeto mágico e, até que saibamos qual seja, é mais seguro mantê-lo longe de olhares curiosos.

Todos concordaram e o espelho foi levado a uma sala na ala mais afastada do movimentos dos estudantes, onde poucos tinham acesso.

Duas semanas depois o espelho mostrou a que viera.
Era noite e os alunos já haviam se recolhido aos seus dormitórios. Godric tratava de assuntos da escola, que o manteria ainda acordado até mais tarde no escritório. Rowena terminara de experimentar uma de suas poções de revelação, que pretendia usar no espelho caso ele não se pronunciasse por muito tempo e ambos matutavam no sentido daquele incomum presente, quando foram avisados pelos elfos do castelo que um homem estava à porta.
O casal dirigiu-se à entrada da escola e lá encontraram o jovem oficial de Guilherme, Richard LeFort, em roupas comuns de viajante. Sua presença causou estranheza nos bruxos mas o convidaram a entrar e se dirigiram todos ao escritório de Griffindor.

– O que o traz à nossa escola, caro amigo? – perguntou Griffindor, após acomodar o visitante em uma grande poltrona de espaldar alto junto a lareira, que estava acesa para aquecer a sala naquele que era um dos primeiros dias do inverno.
– Na verdade não sei, disse o rapaz e pareceu embaraçado de ter apenas aquela parca explicação a fornecer. – Talvez entendam minha presença como imprópria e não tenho uma explanação adequada a dar, pelo que peço que me perdoem. O que me sucedeu foi insólito e não posso expor senão contando simplesmente. Não sou pessoa de me deixar levar por impulsos. Como soldado, preciso planejar minhas ações pois tenho comigo a vida de muitos homens. Mas não pude resistir a esse chamado, embora vos possa parecer uma tolice.
– Fale livremente, meu jovem. Você está entre amigos – incentivou Griffindor, seguido por aceno de concordância de Rowena, acompanhado de um pequeno sorriso.

LeFort tomou fôlego e continuou.

– Eu tive um sonho – e sentiu-se muito tolo ao dizer isso. Não foi um sonho comum, pareceu-me muito vívido, como se estivesse acontecendo naquele momento, e por isso cá estou.
– Conte-nos seu sonho, disse Godric, atento.
– Numa grande campinha de batalha, verde, como são as planícies de Glastonbury, uma estranha mulher, vestida de folhas apareceu-me. Sua pele era levemente azulada e tinha um crescente na testa, brilhante como a própria lua. Ela estendeu a mão em minha direção e nela havia uma espada. Ela ergueu a espada e apontou-a para o céu e fez-se um relâmpago, que inudou de claridade toda a planície. Quando o clarão esmaeceu, ela continuava lá, mas suas vestes eram de água, e derramavam à sua volta, criando riachos que cresciam em rios e logo todo o lugar era um imenso oceano, com ondas altas que resfolegavam como mil cavalos galopando. O céu se fez escuro e a sombra desceu sobre tudo. Quase a não a enxergava mais, apenas um vulto, que ergueu o outro braço e portava uma lança. Sua boca se abriu e nenhum som foi pronunciado, mas a terra tremeu e um golpe de ar me atingiu no rosto. Ela olhou para mim e senti vontade de chorar. Cai de joelhos e ela disse, em voz nenhuma: “Com tua vida”.

O rapaz baixou a cabeça e ficou em silêncio por bastante tempo. Rowena e Godric não ousavam interromper sua reflexão.

–Eu assenti – continuou ele, com a voz embargada. – Jurei que a defenderia com minha vida. E aqui estou.
– Como você sabia que devia vir para cá?
– Preciso repetir minha primeira explicação, desculpem-me por isso. Mas também não sei. Apenas soube.
– A quem você deve defender com o empenho de sua própria existência? – questionou Godric.

LeFort olhou diretamente para seus anfitriões e havia certeza e determinação em seu olhar.

– Não é quem, é o quê.

Diante do ar de interrogação de Godric e Rowena ele completou.

– Empenhei minha vida e honra na proteção da Lança. A Lança de Longinus deverá estar sob minha guarda.

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