Paris



Capítulo Oito – Paris



- Senhor Potter, acorde. Chegamos. – Harry despertou assustado de seu cochilo de duas horas, Fora uma longa viagem, de oito horas. Ele e Gina haviam conversado sobre bastante coisa: carreira, família e trabalho. Harry falou um pouco de Maureen (e Gina fez força para não fazer careta). Pediu desculpas por pedir a ela falar com Sarah sobre a moça e que ele teria que conversar com a filha.

Gina disfarçou o incômodo e repetiu: se ele estava feliz, a filha também ficaria.

Harry olhou pela janela e visualizou o Arco do Triunfo e, em seguida, a Torre Eiffel no seu esplendor. Olhou, maravilhado, a paisagem que surgia abaixo de si.

- Nossa! Mais linda que as revistas...

- O senhor nunca veio para cá?

- Não, nunca tive oportunidade. Durante esses anos, fui a várias cidades. Fui para Roma, Berlim, Madri, Viena, Praga, Budapeste, Zurique, Seul, Tóquio, Pequim. – Gina ficou impressionada. Harry era mesmo um homem viajado. – Baku, Nova York, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Istambul, mas nunca Paris. Nunca tive negócios lá. – sorriu sem-graça. – Agora surgiu a oportunidade e cá estou eu! – finalizou com um sorriso brincalhão.

Gina sorriu e voltou sua atenção à paisagem. Harry não queria parecer egocêntrico ou dizer, com peito estufado: “Dei a volta ao Mundo e você não”. Queria que aquela viagem não o fizesse aparecer metido ou coisa assim.
“Atenção, senhores Passageiros, apertem o cinto. Estaremos aterrissando em 10 minutos.”

“La attention, Passagers, attaché le ceinture de sécurité. Nous débarquerons en 10 minutes.”


- O que ela disse?

- Ela traduziu que aterrissaremos em 10 minutos.

- Ah... – Harry suspirou e relaxou na poltrona. Aquela seria uma longa jornada.


Hermione suspirou resignada.

Não sabia o que aquela mulher queria com ela. Não queria nenhum contato com ela na ausência de Harry. Não gostava dela e tinha medo de demonstrar por causa do chefe. Não teve alternativa senão mandá-la entrar.

- Com licença, Hermione? – Maureen tentava esconder toda sua arrogância e antipatia pela funcionária. Era recíproco.

- O que você quer falar comigo, Maureen? – perguntou Hermione depois de fazer um gesto para a mulher se sentar. Maureen se sentou e pensou que como, era “difícil” falar sobre aquilo.

- Quero que você me esclareça uma coisa. – encarou-a. Hermione pediu que ela continuasse. – Qual é o tipo de relação que há entre Harry e Gina?

- Como é? – Hermione deu um sobressalto na cadeira. De todas as coisas que imaginava vim de Maureen, essa era a última.

- Você me entendeu muito bem. – o tom de Maureen era feroz. – Qual é a relação que há entre Harry e Gina?

- Por que está perguntando isso? – desta vez, Maureen perdeu a paciência.

- Oras, não se faça se santinha, Hermione Granger! Eles trabalham juntos, foram para Paris juntos...

- Porque a Gina foi como intérprete! – Hermione ergueu-se da cadeira. – E a relação entre Harry e Gina é profissional.

Maureen fuzilou Hermione com o olhar, não acreditando em nenhuma palavra do que a moça dissera. Azar o dela! Hermione pensou. Não havia nada entre Harry e Gina por que... aquela mulher simplesmente estragara tudo.
Fingindo que estava arrependida de ter ido lá, Maureen levantou-se da mesa.

- Espero que não haja nada entre eles.

- Não se preocupe. Harry gosta de você e é fiel. – Hermione finalizou antes que a mulher saísse da sala.

Paris estava bela, como sempre, na opinião de Gina.

Não era à toa que ela era chamada de cidade da Luz. A cidade era toda iluminada à noite e a Torre Eiffel irradiava uma luz brilhante, como se estivesse observado cada transeunte que passava lá embaixo.

Pegaram um taxi em direção ao Hotel Ritz. Harry olhava cada pedaço pela janela, completamente maravilhado. Maureen já havia falado sobre a cidade, os lugares mais movimentados, tudo. Voltaria com ela algum dia.

Harry e Gina chegaram ao oponente hotel Ritz. O lugar era de tijolo bege com enormes portas marrom. Era um hotel que misturava luxo e simplicidade.

Os quartos já estavam reservados, que ficavam um do lado do outro. O camareiro, um jovem muito simpático, conduziu-os até os aposentos, que ficavam no sexto antes. Harry lhe deu uma gorjeta de 500 euros e jovem saiu, satisfeito.

Mais tarde, Harry iria com Gina visitar o Museu do Louvre. Queria conhecer um pouco da cidade antes da reunião e Gina seria sua acompanhante. A garota adorou a idéia, pois amava o Museu do Louvre que fazia questão que Harry conhecesse e admirasse as outras, inclusiva A Monalisa, e A Madona das Rochas, duas obras famosas de Leonardo da Vinci, que Gina adorava apreciar. Não era perita em História, mas adorava pesquisar sobre tal assunto.

Torceu para que o passeio fosse maravilhoso ao lado de Harry. Corou. Não podia pensar nele. Não. De jeito nenhum. Paris podia ser a cidade dos romances, mas nada aconteceria ali. Nada. Se
dependesse dela. E não de seu coração.

Hermione saiu da sala. Estava espumando. Como aquela mulherzinha ousava desafiá-la? Oras, algo entre Harry e Gina? Agora sim que ela queria que tivesse muita coisa entre eles e que Paris os atingisse com seu vírus romântico. Só para Maureen ver. Adoraria ver a cara daquela lambisgóia se contorcendo de raiva! Ah, sim! Isso seria melhor do que o Natal!

Já estava no estacionamento quando viu alguém falando no celular. Era Maureen. Andou devagar, abaixando entre os carros e aproveitou a distração da moça, para ouvir a conversa. Não sabia por que, mas seus instintos diziam que coisa boa não era.

- É isso ai, ela me disse que não havia nada entre eles. Ainda bem, senão... – Senão o quê? Hermione crispou os lábios. Ai dela se ela encostasse um dedo nela! – Com a pirralha? – a modelo sorriu diabólica e um alarme disparou no cérebro de Mione. A pirralha só poderia ser a... – Ela não tem que querer. Ela não manda na vida dele. Mas deixa estar, quando me casar com ele, vou mandar aquela menina pra bem longe e com o aval dele. – Riu. – Tenho que desligar. Vou fazer um editorial. Beijo. Eu também. – desligou e foi direto para seu carro.

Hermione levantou-se e concluiu que estava certa. Maureen estava planejando alguma coisa.
Precisava avisar alguém. E sabia quem.

Pessoas que freqüentavam os cafés conversavam amenidades. Casais de namorados passeavam pelas calçadas. Uma criança espantava os pombos, gente sentava-se em torno do Rio Sena. Pessoas entravam na Catedral de Notre Dame para visitar ou se ajoelhavam para fazer promessas.

O Clio sedan entrou na Rue Castiglione e depois apareceu o Jardim das Tuileres, um parque famoso e que abriga muitas tulipas. No final do Jardim encontrava-se o Arco do Carrossel. Após passarem pelos Museus de Arte Moderna, d’Orsay e o de Jeu de Paume, finalmente conseguiram visualizar o museu de arte mais famoso do Mundo: o Museu do Louvre.

Harry não queria ir embora sem antes visitá-lo. Não era muito ligado em histórias, mas tinha uma curiosidade em conhecer o famoso museu que abriga as maiores obras de arte da história. Ao todo, o museu abrigava mais de sessenta mil obras, incluindo esculturas e pinturas.

- Chegamos! – anunciou Gina quando o carro parou. Os dois saíram do carro e Harry pagou ao taxista. Não queria que ele esperasse, pois a visita poderia demorar horas.

A enorme pirâmide que ficava na entrada do Louvre era vista com admiração pelos turistas que visitavam o museu. Pareciam piscinas que jorravam água por sete chafarizes. À noite, consistia numa bela iluminação.

- Linda, não é? – observou Gina. – Vinte e Dois Metros de Altura. Uma mistura do antigo com o novo.

- Realmente, é muito linda mesmo.

- Os franceses costumam perguntar se gostamos dela. Nunca ficam satisfeitos nem com um sim e nem com um não. Exigentes, mas são boas pessoas. – Harry imaginou se Monsieur Fredéric

Lefebvre, o empresário com quem iria negociar, seria assim.

Entraram na imensa fila e meia hora depois estavam dentro do Louvre. Harry olhava tudo embasbaco. O museu era mais do que imaginava. Não entendia porque as pessoas se focavam em apenas algumas obras de arte específicas, como a Monalisa.

Entraram na Grande Galeria, onde as pessoas olhavam as obras, fascinadas. O local abrigava as obras de artes italianas mais famosas do lugar. Observaram as obras com cuidado e Harry fazia questão em se deparar em uma que achava interessante ou não. Gina, ao contrário, adorava todas as pinturas da Grande Galeria.

-Gin? – um rapaz alto e moreno estava atrás deles e olha a moça, surpreso.

- Jean! Comment allez-vous? (como vai?) – perguntou Gina após abraçar o rapaz.

- Condamnez à une amende, merci. Et vous? (estou bem, obrigado, e você?)

- Condamnez à une amende, merci. Travailler. J'ai fini mon cours. Je suis très amende. (bem também, trabalhando. Terminei minha faculdade).
Harry escutava a conversa, sem entender nenhuma palavra. Realmente, o francês era complicado. Mais complicado era o coreano. Harry parecia um bobo ao ouvir os coreanos falarem com ele. O que um intérprete não faz.

Gina trocou mais algumas palavras com o rapaz e se dirigiu a Harry.

- Harry. Esse é Jean, um amigo meu. Jean, C'est mon patron, Harry Potter. (Jean, esse é meu patrão, Harry Potter).

- Voulu vous rencontrer, monsieur Potter. (prazer em conhecê-lo, senhor Potter) – Jean estendeu a mão à Harry, que apertou, sem entender nenhuma palavra.

- Ele disse que é um prazer conhecê-lo. – traduziu Gina.

- Disse que é um prazer conhecê-lo também. – Gina traduziu. Aquele idioma fez Harry se sentir um peixe fora da água. -Nous entrons à dîner dans Le Le Monde aujourd'hui (iremos jantar no Le Monde, hoje).

- Le Monde. Un très bon restaurant. Vous allez l'aimer. (um ótimo restaurante. Vocês vão gostar.)

- Nous espérons donc. Dîner de l'affaire. (Esperamos que sim. Jantar de negócios).


- Donc, c'est la bonne endroit. Je dois bien, aller. Je suis heureux vous voir encore, Gin. (esse é o lugar certo. Eu tenho que ir. Que bom te ver, Gin) - abraçou a garota, algo não muito comum com os franceses. Harry pensou que estavam perdendo tempo, mas se amaldiçoou. Era apenas um velho amigo que Gina encontrou.

Então, por que, diabos, queria que ele fosse embora logo?

- J'aussi. Envoyez-moi des e-mail, en parlant de votre travail. (eu também. Mande-me notícias, falando sobre seu emprego).

- J'enverrai. Au revoir. Au revoir, Monsieur Potter. (Pode deixar, até mais. Até mais, senhor Potter.)

- Tchau. – disse Harry sem ânimo quando Jean se afastou. Gina pediu desculpas pela intromissão. Harry a tranqüilizou e ambos continuaram a visita.

Foi uma tarde maravilhoso. Harry entendia porque a Monalisa era um dos quadros mais visto do Museu. O sorriso da modelo continua um mistério indecifrável ao longo dos séculos. Era magnífico, assim como a Madona das Rochas.

Depois foram almoçar num restaurante aconchegando perto do Museu. Harry deu graças, pois isso o ajudou a relaxar e o otimismo tomou conta se si para o jantar de logo mais.


- O que está me dizendo, Hermione? – dona Glória teve que se sentar ao ouvir as palavras de Hermione do outro lado da linha. Sarah brincava no tapete da sala, alheia à conversa.

- Exatamente o que a senhora ouviu. Maureen está planejando fazer alguma coisa com Sarah depois que se casar com Harry.

- Meu Deus... – engoliu em seco. Nunca gostara de Maureen, mas jamais imaginara que a moça fosse capaz de fazer alguma coisa contra a futura enteada. – E o que vamos fazer?

- Infelizmente, não podemos fazer nada.

- Como nada?? Temos que provar que essa mulher não vale nada! – Sarah levantou os olhos perante o tom de voz da avó. Esta viu que a neta a olhava, deu um sorriso tranqüilizador para ela, que voltou a brincar.

- Eu sei. Mas, por enquanto, temos que esperar. Maureen não fará nada com Harry fora. Sarah está sob nossa segurança.

- Eu sei, mas é uma oportunidade, não... – dona Glória queria estar errada. Com Harry fora, Maureen poderia planejar alguma coisa, depois das palavras de Hermione.

- Não deixaremos que nada aconteça com Sarah, dona Glória. Isso eu garanto.

Katherina chamou Sarah para tomar banho. Dona Glória esperou que ela subisse as escadas e comentou:

- Sabe o que eu espero, Hermione? Que algo aconteça entre Harry e Gina nessa viagem. Ela é uma boa menina. Torço pelos dois, embora as chances sejam remotas.
Hermione ficou surpresa. Pensou na mesma coisa naquela tarde, depois que Maureen saiu.

-Eu também. Sabia que Maureen veio me perguntar se algo estava acontecendo entre os dois?


- Sério? E o que respondeu?

-A verdade. Senão, ela seria capaz de alguma coisa.

- È, eu sei. – suspirou. – Vamos deixar as coisas correrem. Não podemos nos meter na vida pessoal de Harry, embora muitos conspirem contra esse relacionamento.

-Está certo. – desligaram o telefone. Dona Glória sentiu-se cansada. Amava Harry como um filho e não queria que nada de ruim acontecesse com ele. E com Sarah? Ah, só se passassem por cima do seu cadáver!

-Quando chegar lá, terá que dizer: Bon soir, messieurs. Que significa: Boa Noite, Cavalheiros.

- Certo. – Harry estava um pouco mais calmo à caminho do Le Mondé, a bordo da limusine que Fredéric forneceu para buscar ele e Gina no Hotel. O carro era bem confortável, com Frigobar e televisão. Os dois permaneceram intocáveis.

- O resto você deixa comigo.

- Obrigado. E, Gina. – a moça virou-se para ele. – Obrigado por tudo.

Por um momento, Gina pensou ter visto carinho nos olhos dele, mas era apenas agradecimento mesmo. Amaldiçoou-se por deixar-se iludir daquela maneira.

-Não tem por que agradecer. É um prazer.

-Não! Eu tenho que agradecer. De alguma forma... eu sei que tenho.

“Você não pode me agradecer do jeito que eu gostaria. Mas fico contente por sua confiança”. Gina encarou Harry, segurando as lágrimas. Aquilo era loucura. Estava numa limusine com ele, com o homem que amava e não podia fazer nada.

-Vou aumentar seu salário. – as palavras de Harry despertaram Gina de seus pensamentos.

- O que? Não, senhor Potter, por favor! Eu estou feliz com o que ganho, não me queixo de nada. Por favor, deixe as coisas como estão! – Gina falou aquilo como se a proposta dele fosse absurda, sem sentido algum. Jamais permitiria aumento. Talvez mais para frente. Agora, nem pensava nisso. Já não bastava o pagamento que receberia como intérprete. Recusara à princípio, mas Harry separou seu trabalho na empresa com a função que estava exercendo.

- Está bem, como você quiser! Mas, se precisar de alguma coisa, me procure.

- Sim, senhor. – Gina virou e encarou a paisagem na janela. A Torre Eiffel brilhava como nunca e luzes iluminavam a cidade.

Chegaram ao restaurante por volta das oito da noite. Os empresários ainda não haviam chegado. O maitrê os recebeu na porta e os encaminharam até a mesa reservada. Harry e Gina sentaram-se.

-Est-ce que vous aimez boire quelque chose? (gostariam de beber alguma coisa?)

- Ele perguntou se queremos tomar alguma coisa. – traduziu Gina.

- Champanhe. – o maitrê sorriu e se retirou.

- Escolheu bem. Champanhe é uma bebida muito adorada pelos franceses.

-Por isso ele entendeu?

-Exatamente.

-Por que eles não aprendem nosso idioma?

-Os franceses são muito orgulhosos. Eles acham que o inglês se resume apenas aos Estados Unidos.

- Mas eles têm que levar em consideração os ingleses. – Gina deu de ombros.

- Eu sei, mas é o jeito deles.

O garçom trouxe o champanhe dois minutos depois. Harry tomou e aprovou. Gina, que não tomava muito álcool, achou excelente.

-Acho melhor parar. Precisamos ficar lúcidos. – riu Gina.

-Ok. Pediremos mais durante o jantar.

Dez minutos depois, os empresários chegaram. Fredéric Lefebvre era baixinho grisalho, mas tinha pose distinta e era um homem bem respeitado.

-Bon soir, messieurs. – disse Harry num perfeito francês e estendeu a mão para Fredéric.

-Bon soir, Potier du monsieur. Été heureux de vous rencontrer. – Harrry entendeu aquelas palavras, já que Jean as pronunciaram.

- S'il vous plaît vous rencontrer aussi. – repetira as palavras de Gina, que sorriu, em aprovação. Significava: é um prazer conhecê-lo, também.

- Qui est cette femme, Harry? Est-ce que votre petite amie est? (quem é a garota, Harry? Sua namorada?) – Gina corou e fez força para traduzir. Harry ficou um pouco embaraçado e disse que era sua intérprete.

- Vous êtes très joli (você é muito bonita) – disse Fredéric, sem malícia e com respeito.

- Mérci, monseuir. – Gina corou.

Gina começou seu trabalho. Fredéric falava que adorava a boa velha Inglaterra e que iria para lá com a esposa. Seus filhos já eram casados e ele queria uma segunda lua-de-mel, depois de quarenta anos.
Era um homem sério, mas que sabia aproveitar a vida e não era tão workaholic assim. As amenidades duraram até o jantar. Uma lagosta ao molho de morangos, caviar e scargot (Harry se controlou para não fazer cara de nojo).

Depois do jantar, seriam discutidos os negócios.


-Ele ligou? – perguntou Ben, sentando-se na beira da banheira.

-Ainda não. Vou ligar para ele, daqui a pouco. – o homem fez uma careta. – O que foi?

- Você tem coragem de me dizer que vai ligar para ele. – Maureen deu um sorriso malicioso.

- Oras, você sabe que estou com ele só por causa da grana dele. E quando me casar, vou tirar cada centavo dele.

- E ficar comigo. – Maureen inclinou-se da banheira e roçou a boca na de Ben.

- Você tem dúvidas? – perguntou num sussurro, enquanto tirava o roupão do amante.

- Não sei, devia ter? – Ben entrou na banheira e aproximou-se perigosamente dela.

- Nenhuma. Você sabe que só tenho olhos para você. – Ben olhou desconfiado, mas Maureen o puxou para si.

Faltava pouco. Quando Harry voltasse para o Brasil, falaria sobre casamento.

E ele cairia na sua rede, como um peixinho!

- Affaire fermée!(Negócio fechado) – Fredéric apertou a mão de Harry, quando Gina concluiu a decisão do empresário. Harry mal podia acreditar. Tinham fechado um grande negócio. A DEVON seria instalada na França, afinal.

- Merci. – Harry sorriu em agradecimento aos homens.

- Par que n'invite pas la belle dame pour danser? (Porque não convida a bela dama para dançar?) – perguntou Lefebvre, apontando para Gina.

- O que ele disse? – perguntou Harry, mas Gina estava muito envergonhada e quase engasgara no champanhe. Não queria traduzir aquilo. Não mesmo!

- Nada importante... – murmurou, tomando um gole de água.

- Gina, tudo o que eles disserem, é importante. – Harry falou sério e Gina queria sumir. Ele não entendia por que ela não queria traduzir aquilo. O que tinha demais?

- Ele me perguntou... – começou, sem encará-lo. Por que não me convida para dançar.

Harry olhou para Fredéric, que conversava com um de seus sócios, e depois para Gina.

- Ele disse isso? – perguntou descrente; Gina permaneceu calada. Harry ficou alguns segundos em silêncio. – Está bem. – levantou-se da mesa e estendeu a mão para Gina.

- O que está fazendo? – ela mal podia acreditar. Aquilo significava o que pensava que significava?

- O que você acha? Até que não é uma má idéia. – sorriu divertido, deixando Gina completamente sem-jeito. Hesitante, Gina aceitou a mão que era oferecida e foi para o centro da pista. No mesmo momento que a cantora começou uma nova música.

- Ne me quitte pas, Il faut oublier, Tout peut s'oublier, Qui s'enfuit déjà, Oublier le temps, Des malentendus.

- É Piaf?¹

- Não, é Maysa². Uma cantora brasileira.

- Ela canta em francês?

- Cantava.

- Nossa, é um francês perfeito! Parecido com o seu!

- Oras, não exagere, senhor Potter! – Gina riu sem graça.

- Não estou exagerando, é verdade! – disse Harry sincero. Inconscientemente, eles se encararam nos olhos e desviaram completamente envergonhados.

- Et le temps perdu, A savoir comment, Oublier ces heures, Qui tuaient parfois. A coups de pourquoi, Le coeur du bonheure.

A música era lenta e triste. Expressava os sentimentos de Gina, desconhecidos por Harry. Sentimentos que não queria ter, queria enterrá-los, matá-los em seu coração, mas com ele ali tão perto, eles só fizeram aumentar.

Harry não sabia por que, mas uma sensação estranha, desconhecida, percorreu seu corpo. Não sabia por que, mas aspirou o perfume floral de Gina, que aguçaram seus sentidos por completo. Também não sabia o motivo de apertar a garota em seus braços e sentir o calor dela, seu cheiro.

“Harry, seu idiota! Que pensa que está fazendo? Ela é apenas sua funcionária, nada mais!”. Sua mente gritava. Sentiu um bolo na garganta ao sentir seu coração bater descompassado.

-Ne me quitte pás, Ne me quitte pás, Ne me quitte pás, Ne me quitte pás...

Gina deixou-se levar pela emoção e encostou a cabeça no ombro de Harry. Sabia que aquilo era errado. E se alguém conhecido de Harry estivesse lá e presenciasse a cena? Ele era comprometido e a última coisa que queria era envolver o chefe, o homem que amava, num caso de adultério.

Mas o que Gina não sabia era que Maureen estava há quilômetros de distância da mente de Harry.

Desconhecia os sentimentos que despertara em Harry naquele momento. Agora era tarde, tarde de mais... Lágrimas desceram pelo rosto da ruiva, que não fez nenhum esforço para contê-la. Por que tudo tinha que ser difícil para ela? Sua vida amorosa era um caos. Fora traída e agora estava apaixonado por um homem completamente inatingível para ela.

- Moi je t'offrirai, Des perles de pluie, Venues de pays, Où il ne pleut pás, Je creuserai la terre, Jusqu'après ma mort, Pour couvrir ton corps, D'or et de lumière, Je ferai un domaine.

- Gina... – Harry ouviu os soluços da moça. – Tudo bem?

- Er... eu – “merda” – Estou bem. É que essa música... ela é tão triste e me traz... tantas lembranças... Ah, senhor Potter, eu não devia... – soltou dos braços dele e deu-lhe as costas, secando as lágrimas.

- Tudo bem, Gina. Eu compreendo. – Harry ofereceu um lenço, tentando ignoras as batidas insistentes de deu coração. – Realmente, essa música traz muitas lembranças. – Mentiu para não admitir que sua mente tivesse se esvaziado completamente, restando apenas Gina e o cheiro dela.

De alguma forma, Harry se sentia culpado pelas lágrimas dela. Ficou de frente para ela, que mantinha a cabeça baixa.

- Está assim por causa de seu ex-namorado, certo? – Gina levantou a cabeça. – Hermione me contou tudo. Sinto muito. Ele era um canalha. Trair você... como ele pôde? – Era impressão de Gina ou
Harry estava indignado?

-Où l'amour sera roi, Où l'amour sera loi, Où tu seras reine, Ne me quitte pás, Ne me quitte pás, Ne me quitte pás, Ne me quitte pás, Ne me quitte pás.

-Isso não importa mais... – a voz de Gina estava falha. Harry ergueu o rosto de Gina e ela encarou aquela imensidão verde que tanto a hipnotizava.

- Se eu tivesse uma namorada como você e a traísse... eu não me perdoaria nunca. Você é melhor que isso, Gina. Pense nisso!

Gina sentiu seus joelhos fraquejarem. Por que ele estava fazendo aquilo com ela? O que era aquela conversa? Cadê a relação chefe-subordinado que devia ter ali? Paris tinha levado.

- Je t'inventerai, Des mots insensés, Que tu comprendras, Je te parlerai, De ces amants-là, Qui ont vue deux fois, Leurs coeurs s'embraser, Je te raconterai, L'histoire de ce roi Mort de n'avoir pás, Pu te rencontrer.

Fredéric e seus sócios estavam bebendo e entretidos numa conversa bem alegra, pois todos estavam rindo. Um deles convidara uma moça para dançar e estava se dirigindo para a pista.

Harry aproximou-se lentamente de Gina, que permanecia imóvel. Esforçou-se para se manter em pé. Ele estava perto, a poucos milímetros e... fechara os olhos!

“Deus, se isso for um sonho, não me acorde agora. Só mais um pouquinho... um pouquinho mais...”

TRIMMMMM!

Harry abriu os olhos, sobressaltado. Tateou os bolsos em busca de deu celular. Gina secara os olhos e seu rosto se tornou impassível.

- Alô?

-Oi, meu amor? Como você está?

- Ah... – Harry se sentiu envergonhado. Maureen voltara com força total na sua mente. E ele se sentiu culpado. – Bem, obrigado. Você tem razão, Má. A cidade é linda. Vamos passear aqui juntos, um dia. – disse tudo aquilo muito sem-graça. Por que não estava se sentindo contente ao ouvir a voz da namorada?


- Eu não disse? – risos. –Mas, me conta: e a reunião?

- Deu tudo certo. – Harry sorriu. – Fechamos o negócio.

-Hum... isso pede uma comemoração, certo ? – falou com a voz maliciosa. Harry se sentiu constrangido e não empolgado, como deveria.

- Podemos conversar quando voltar?

- Ne me quitte pás, Ne me quitte pás, Ne me quitte pás, Ne me quitte pás.

- Podemos... Harry, onde está tocando essa música?

- È do restaurante. Estava jantando com os negociadores.

-Ah sim... Bom, eu tenho que desligar, senão a ligação vai ficar caro. Pode me ligar depois? – pediu de um jeito que não dava para dizer não.

- Claro. Eu ligo quando puder. Ok. Tchau. – desligou – Tinha completamente me esquecido da Maureen. Prometi ligar para ela quando chegasse e... Gina! – Harry olhou para os lados, à procura da ruiva. Mas ela tinha sumido.

- On a vu souvent, Rejaillir le feu, De l'ancien volcan, Qu'on croyait trop vieux, Il est paraît-il, Desterres brûlées, Donnant plus de blé…

O telefonema de Maureen foi o suficiente para voltar ao mundo real. O suficiente para perceber que nada daquilo poderia ter acontecido, que era apenas um sonho distante. O telefonema era a realidade, e ela tinha que enfrentar.

Quando Harry se distraiu com a ligação de Maureen, Gina correu o banheiro e chorou, como se pudesse aliviar aquela dor que alastrava em seu peito. O que estava fazendo? Quase beijara o chefe, ou melhor, ou quase a beijara. Por quê? Por que ele tinha convidado a para dançar? Seria melhor ele dizer, “não, obrigado?” Seria, para ela, seria.

- Qu'un meilleur avril, Et quand vient le soir, Pour qu'un ciel flamboie, Le rouge et le noir, Ne s'épousent-ils pás.

Fora um ano de paixão reprimida e quase tudo viera à tona por um descuido. Ela não poderia arrisca. Então, tomou uma decisão. E esperava, com toda sinceridade, que Harry concordasse. Seria melhor para ela... e para ele também.

Harry viu quando Gina saiu do banheiro. Não parecia que tinha chorado. Estava com o rosto totalmente imparcial como se aquele “pequeno momento” não tivesse importância.

- Desculpe, Senhor Potter, eu estava no banheiro...

- Tudo bem... – Harry tentou dizer alguma coisa, para acabar com aquele constrangimento, mas não conseguia.

- Senhor Potter, eu sinto muito, mas estou morrendo de dor de cabeça. Gostaria de ir embora, se o senhor não se importa.

- Não, claro que não... – Harry pensou nos empresários. – Pode falar com eles? – apontou à mesa.

- Tudo bem. – Gina dirigiu-se até à mesa. - Je suis désolé, messieurs, mais je dois aller. Je suis un mal de tête. (Eu sinto muito, cavalheiros, mas tenho que ir. Estou meio indisposta.)

>-Ne vous inquiétez pas, mon cher. Prenez une médecine. Vous sentirez meilleur demain, vous avez parié (não se preocupe, minha cara. Tome alguma coisa. Se sentirá melhor amanhã.)

Je veux, monsieur Frédéric. Été heureux de vous rencontrer. Bonne nuit- (Tomarei. È um prazer conhecê-lo, senhor Fréderic. Boa noite.) – Gina apertou a mão do homem cordialmente.

-Harry, C'était bon de négocier avec vous. J'espère que DEVON fassent succès ici. (Harry, foi um prazer negociar com você. Espero que a DEVON prospere aqui) – finalizou o empresário com sinceridade. Ao ouvir a tradução, Harry ficou radiante e disse que era um prazer negociar com eles.

Despediram-se e foram embora.

Não conversaram muito durante o caminho. Apenas comentaram o que acharam de Fréderic, dos sócios e do lugar. Era como se a noite tivesse parado ali.

Gina não esperou que Harry pegasse as chaves do quarto dele, foi direto para o seu como se quisesse fugir. Ele não a impediu. Ainda estava num jeito de falar com ela. Pedir desculpas por sua imprudência e que nada daquilo aconteceria novamente.

Sentiu-se um idiota. Entrou no quarto e se jogou na cama, completamente exausto. Há um tempo atrás, era o solteirão (pra não dizer viúvo) mais cobiçado, eleito pela People o mais desejado, sempre se recusando a arrumar alguém, dedicando-se apenas ao trabalho. Agora, que estava namorando com uma “moça maravilhosa”, ele quase estragara tudo.

Gina era apenas uma funcionária, nada mais. Não poderia fazer nada que a deixasse numa situação delicada. Não podia dar importância à pequena atração que sentira naquela noite, se importar o quanto ela estava com aquele vestido vinho que combinava com seus cabelos ruivos. Esquecer que sentira uma pontinha de ciúmes do amigo de Gina, alegando que se sentia um Mané por não saber francês. Quem sabe umas aulas...

Não, nada daquilo poderia ter importância. O importante era deixar as coisas como estavam. Harry faria para deixar tudo igual, enquanto Gina já planejava algo para acabar com tudo aquilo.

Continua...




Legendas:

1 Edith Piaf (1915-1963) cantora parisiense
2 Maysa (1936-1977) cantora, compositora e atriz paulista.

N/A: Salut, tout le monde! (Oi, todo mundo!)

Mil perdões pela demora. Esse capítulo exigiu algumas pesquisas e uma caça a um dicionário português/francês pela net, pois a única coisa que sei em francês é: “merci”, “au revoir”, “monsieur”, “bon soir” e “bonjour”. O nome desse capítulo já diz tudo. Tive que pesquisar, inclusive no “Código da Vinci” que fala bem sobre o Museu do Louvre. Espero que não esteja “fué”. Vocês vão me dizer. Sinceridade, pessoal!
Ah, o sobrenome Lefebvre (acho que é isso), peguei “emprestado” (e com aval de uma fã super-roxa) do cara do Simple Plan, o Sebastian. Não sabia nenhum para colocar daí eu peguei esse ai. Se você é fã, me responda: é o baixista ou guitarrista? (esqueci!)
Ah, eu ia colocar uma música de Piaf, mas achei mais interessante colocar a da Maysa “Ne me quitte pás”, que foi tema da minissérie global: “Presença de Anita". Muito linda a música.

Muito obrigada pela paciência e um super-obrigada para os Oskar. Saiba que é um incentivo escrever e melhorar cada vez mais.
Espero que tenham gostado do “pequeno momento” H/G, que estava devendo há zilênios. Muita água rolará por esse rio (esqueçam o Tietê, ok?)
Bjão e até a próxima. Juh!
Au revoir.

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