Frente à frente com o inimigo
HERMIONE SE ENCONTRAVA NO ALTO DA TORRE de Astronomia, juntamente com Fred e Michelle, esta última tendo se oferecido insistentemente para se juntar aos integrantes da AD a fim de auxiliar na defesa do castelo, e se posicionara em um local estratégico na borda da marquise do mirante, de onde podia visualizar, mesmo que precariamente, o portão de entrada das terras de Hogwarts. Ela disfarçava sua aflição dando ordens e chamando a atenção de seus comandados a todo instante, insinuando que a vigília tinha que ser constante e precisa a fim de evitar qualquer surpresa, na verdade ela percebera que Fred estava aproveitando a oportunidade para se insinuar para a outra menina, o que distraía a atenção de todos e a deixava extremamente irritada. Afinal de contas, Rony, que sempre fora alvo de todo quanto era tipo de trote de seus irmãos, e neste grupo incluía-se Gina também, estava fora das divisas do castelo, arriscando sua pele para proteger o amigo Harry e tentar resgatar o irmão Percy – Gabrielle contara ao grupo de defensores que Rony lhe havia pedido para entrar no dormitório feminino da Grifinória para roubar a capa da invisibilidade que se encontrava nas coisas de Gina e, em seguida, a francesinha havia distraído Harry e Hagrid para que o ruivo tivesse tempo de atravessar os portões de Hogwarts sem ser notado.
O dia estava se encerrando e o lusco-fusco começava a tomar conta da paisagem, quando a professora McGonagall, acompanhada pela professora Sprout, subiu até onde o trio se encontrava, como já haviam combinado anteriormente, a fim de render-lhes o turno de vigia. Foi nesse momento que a garota observou Hagrid correndo em direção ao portão e, após realizar um gesto exagerado com seu guarda-chuva cor-de-rosa, liberar espaço para uma pequena comitiva adentrar às terras de Hogwarts: um pouco à frente um rapaz alto, magricela e de cabelos negros e espetados, que recebeu um abraço esmagador do guarda-caças, Harry era acompanhado de perto por um jovem mais alto ainda, muito desengonçado e com chamativos cabelos cor-de-fogo, que ela reconheceu imediatamente ser Rony, o que lhe fez soltar um longo suspiro de alívio, mais atrás, flutuando no ar e sendo conduzido pela varinha de outro rapagão ruivo, que indiscutivelmente se tratava de Jorge, havia um quarto componente que aparentemente estava dominado pelo feitiço do corpo preso e, a julgar pelos óculos e o cabelo também cor-de-sangue, com certeza se tratava de... Percy Weasley.
Hermione desceu desenfreadamente as escadarias da torre, sem preocupar-se em dar qualquer justificativa à diretora da escola ou aos demais e, quando atingiu a porta principal que dava acesso ao saguão do castelo, encontrou-se com o pequeno grupo que começava a subir o pequeno lance de escadas que vinha do jardim. Sem pensar duas vezes, a jovem bruxa de sangue trouxa deixou de lado a vergonha e o medo do que os outros pudessem dizer, e atirou-se ao pescoço de Rony, aplicando-lhe um fervoroso beijo na boca, enquanto dizia frases desconexas:
— Ai Rony, querido! Que medo eu tive! Seu louco, se arriscar assim! Graças a Merlin está bem, meu amor!
Rony retribuiu aos beijos a abraçou-a fortemente pela cintura, sustentando-a no alto, até que percebeu que estavam em público e largou-a abruptamente, quase a fazendo cair, ficando com o rosto e orelhas muito vermelhos e sem saber para onde olhar.
— S-sim... c-claro... TODOS NÓS estamos bem... não precisa se preocupar... – tentou disfarçar ele.
— Até quando vocês dois vão levar esta comédia adiante? – perguntou Harry com um sorriso maroto nos lábios, enquanto Jorge depositava Percy no chão e se aproximava para aproveitar a cena.
— Eu... nós... – começou Hermione, bastante enrubescida também – Tudo bem Harry: eu e o Ronald estamos namorando, sim! Pronto, falei! – concluiu dirigindo-se para Rony, que deu um grande sorriso amarelo, principalmente ao perceber que Fred e Michelle chegaram ao local a tempo de ouvir a última frase, bem como, Gina, Neville, Luna e Gabrielle, que também se juntaram a estes, vindos da casa de Hagrid.
Gina avançou rápido até Harry e abraçou sua cintura carinhosamente, mas não o beijou, não queria tirar a atenção de todos do irmão Rony, que parecia um bicho-papão sob o efeito do feitiço “Riddikulus”, olhando abobado em todas as direções, enquanto Fred e Jorge se colocavam lado a lado e, inclinando a cabeça e encostando-a na do outro, cruzaram suas próprias mãos uma na outra na altura do peito, e passaram a disparar frases do tipo:
— Oh, o nosso Roniquinho está crescendo!
— Acho que vou chorar... têm um lencinho?
Hermione cruzou os braços e passou a olhar para o alto, revirando os olhos, enquanto batia freneticamente um dos pés ao chão, como se estivesse contando de um a dez para se controlar, Gina se limitava a rir debochada, até que se lembrou de Percy, que estava deitado sobre um dos lances da escada com a nítida aparência de que havia sido petrificado, e se agachou ao lado dele, examinando-o.
— O que ele têm? – ela perguntou preocupada, ao mesmo tempo em que Hagrid e Minerva McGonagall se juntavam à pequena multidão.
— “Petrificus Totalus”! – explicou Jorge brandindo sua varinha – Este idiota havia se deixado dominar pela Maldição Impérius. – justificou altivo.
— A Maldição Impérius! – repetiu Hagrid, assombrado, enquanto a diretora da escola deixava escapar um gritinho.
Aparentemente não suportando mais aquele excesso de bobagens, Hermione se aproximou do corpo do rapaz, batendo os pés fortemente e, ao mesmo tempo em que apontava com uma das mãos espalmadas para Jorge, disse para todos ouvirem:
— O que está acontecendo com vocês, será que somente o Ronald percebeu que o Jorge também estava controlado pela Impérius?
— S-sim... c-claro... – gaguejou Rony quando todos os olhares se voltaram novamente para ele – É claro que eu percebi... Impérius... por isso que... por isso que...Ah! Isso mesmo! Por isso que eu fui atrás do Harry! Eu fui o único que percebeu tudo! – disse, dirigindo-se para todo o grupo e alteando uma pose, deixando Hermione com uma terrível dúvida de que se ele realmente percebera alguma coisa.
— M-mas... o Sr. Percy! – adiantou-se McGonagall – Ainda está amaldiçoado? Como o trouxeram?
— Ainda está! – respondeu Harry – E vamos precisar de alguém mais experiente para libera-lo! Mas, vamos entrar e contaremos tudo... a todos.
Após deixarem Percy na Ala Hospitalar, devidamente vigiado pelo professor Flitwick, todos, com exceção de Gabrielle – que foi para o corujal despachar uma mensagem a mando da diretora, e de Hagrid – que voltou a patrulhar as cercanias do castelo, se dirigiram para o escritório da diretora e se sentaram a uma enorme mesa retangular, passando a ouvir a narrativa de Harry e Jorge.
— Então quer dizer que o Sr. Malfoy sabia que o Sr. Percy estava sendo controlado? – procurou confirmar Minerva McGonagall, a certa altura da conversa.
— Sim! – respondeu Harry – Aparentemente, por diversas vezes, o próprio Draco foi incumbido por Voldemort de despachar instruções para que ele as cumprisse, no Ministério.
— Não diga o nome! – disseram em coro, Rony, Neville e Luna.
— O Malfoy disse que o Percy estava amaldiçoado “há séculos”, e que todos os Weasley eram uns idiotas! – disse Fred fechando os punhos – Então ele se ofereceu para atraí-lo até onde estávamos, para provar que estava realmente arrependido e contra o Lord das Trevas, mas estava mesmo era com medo que eu lhe desse uma surra!
— Aí eu chamei o Dobby e pedi que ele trouxesse uma coruja, então o Draco a enviou para o Ministério, dizendo que o Percy deveria ir imediatamente até a Casa dos Gritos para receber novas instruções!
— Dobby? – questionou a diretora, não é um elfo doméstico que pertenceu à família Malfoy e que estava trabalhando nas cozinhas do castelo até pouco tempo atrás? Ele e o elfo que pertencera aos Crouch pediram demissão antes de começar o ano letivo...
— Eles trabalham para mim, agora! – interrompeu-a Harry – E eu os pago para isso! – completou ao perceber o olhar horrorizado de Hermione – Lamento ter escondido isto da senhora.
— Então, quando o Percy chegou, no final da tarde, eu o petrifiquei! – completou Jorge.
— Seus loucos! – ralhou Hermione, agarrando-se ao braço de Rony – E se os Comensais da Morte tivessem interceptado a mensagem e preparado uma armadilha para vocês?
— Estávamos preparados! – acalmou-a o “namorado” – Se acontecesse alguma coisa diferente já havíamos combinado de desaparatar para os portões de Hogwarts.
— E este garoto? O tal de Draco, que fim levou ele? – perguntou Michelle, com uma profunda expressão de pena.
— Dobby o levou para a Mansão dos Black, muito a contragosto, só aceitou quando o Jorge disse que era uma boa oportunidade para ele se vingar de tudo que sofreu quando era escravo de sua família. – explicou o garoto da cicatriz.
— E Fawkes? – perguntou Gina – O que acha que ela estava fazendo lá?
— Acho que ela quis me avisar da cilada criada pelo Draco, com a ajuda forçada do Jorge... não sei bem porque...
— Mas eu sei, Sr. Potter! – falou a diretora Minerva – Esta fênix é a guardiã de Hogwarts e... após a morte de Alvo... ela, com certeza o tomou como novo aliado na defesa do castelo. Aproveite bem este apoio, Harry: ela fará qualquer coisa para auxiliar os defensores de Hogwarts.
Hermione fez um gesto mudo, socando o ar com um dos punhos, como que dizendo: “Eu sabia!”.
— Pois muito bem! – disse a diretora se levantando – Agora só nos resta esperar notícias de Azkaban e ver se o Olho-Tonto pode nos ajudar com o Percy. Quanto aos seus pais, - disse ela olhando para os irmãos Weasley – pedi para Gabrielle mandar uma coruja para Molly, para tranqüiliza-la. Ah, Harry! Uma última coisa: não se esqueça de levar a sua penseira para os seus aposentos, separei alguns frascos com os pensamentos de Dumbledore, também, que poderão vir a ajuda-lo em sua empreitada.
— S-será que eu não estarei invadindo a privacidade dele, desta forma? Não sei se...
— Foi o próprio quadro dele que me deu a idéia. – disse ela, apontando, com o nariz, a parede onde ficavam pendurados os quadros dos ex-diretores de Hogwarts – E me orientou a selecionar os frascos.
— Certo! – respondeu ele, satisfeito – Ah! E... professora McGonagall... a senhora sabe alguma coisa sobre horcruxes?
— Sim, Potter! – ela deixou escapar um breve sorriso de satisfação – O quadro também me falou sobre isso. Estarei à sua disposição, se precisar de mim. Boa sorte!
E, todos se retiraram para seus aposentos para se prepararem para o jantar, que seria servido em breve.
O Lord das Trevas se encontrava, como já era de hábito, sentado em sua suntuosa cadeira de espaldar, imponente, como se fora um imperador em seu trono, mas uma leve e quase imperceptível rusga de preocupação e ansiedade passava pelo seu rosto transfigurado, tornando mais contundentes as suas feições de cobra.
Como que para retira-lo de seus devaneios malignos, uma sombra disforme ergueu-se das cinzas da lareira apagada, que ornamentava um dos cantos mais escuros da suntuosa sala em que Voldemort agora habitava, e deslizou, flutuando pelo ar, em direção a este.
Ao chegar-se próxima ao bruxo, a estranha aparição começou a tomar uma forma semi-humana, com a pele extremamente enrugada e colada aos ossos, porém não possuindo o aspecto físico, e sim etéreo, a figura emitia uma luz negra de seu corpo esfarrapado e, se fosse possível fazer uma comparação muito simplificada, poder-se-ia dizer que aquela forma era o correspondente a um patrono das trevas, conjurado para enviar mensagens.
O espectro aguardou que o Lorde Negro desviasse o olhar lentamente em sua direção, e então sussurrou, com uma voz feminina.
“O jovem Malfoy está na Mansão dos Black!” – e, dito isto, girou e deslizou novamente em direção à velha lareira, desaparecendo por entre as cinzas.
— Bellatrix! – chamou a figura ofídia, poucos instantes depois, com um tom de triunfo na voz gelada.
— Sim, mestre! – disse a mulher poucos segundos depois, entrando na sala e realizando uma reverência, aparentemente substituíra Rabicho em sua função de sentinela.
— Tem notícias do Snape?
— Não, milorde... ele não fez mais contato!
— Tente encontra-lo, tenho boas novas para ele, mas... caso não tenha sucesso, mande Fenrir vir falar comigo. – e, levantando-se, jogou uma magnífica capa sobre as costas.
— Pretende se ausentar, mestre?
— Sim, Bella! A mudança na situação exige uma interferência minha. – o bruxo parecia mais estar falando consigo mesmo do que deixando a outra ao par de seus planos – Vejamos o que o velho Scrimgeour ainda pode fazer por mim e... que tipo de colaboração minha antiga aliada poderá me oferecer...
A bruxa não respondeu, apenas assentiu com a cabeça e, realizando nova reverência, retirou-se do aposento.
Harry e os demais alunos que haviam se reunido na sala da diretora, com exceção de Michelle que se dirigira ao Salão Comunal da Sonserina a fim de tomar uma dose do tônico que Madame Pomfrey lhe prescrevera para acelerar sua recuperação, seguiam em direção ao Salão Principal para jantar, quando encontraram com Lupin e Tonks, no corredor próximo ao saguão.
— O que houve? Como está a situação em Azkaban? – perguntou Gina, antecipando-se aos demais.
— A fortaleza caiu! – respondeu Tonks de imediato, porém seu olhar não era de derrota – Remo lhes dará mais detalhes, tenho que passar algumas instruções para a Minerva. – concluiu, retirando-se.
— Como assim caiu? Os aurores e a Ordem foram derrotados pelos comensais? – impacientou-se Rony – Sabe alguma coisa de meus pais e irmãos? Eles participaram da defensiva?
— Calma! Calma! – tranqüilizou-o Lupin, enquanto abria a porta de uma sala desocupada e convidava o pequeno grupo a entrar, para conversarem melhor – Estão todos bem, não tivemos baixas... mas a fortaleza foi tomada... os asseclas de Voldemort foram apoiados por gigantes e dementadores, e... esses últimos conhecem muito bem o local.
— Então... os comensais foram libertados... – agora era Harry que se mostrava preocupado –... Lucio Malfoy está livre?
— Não foi isso que eu disse. – corrigiu o bruxo, com tranqüilidade – Realmente fomos derrotados, e uma boa parte da fortificação foi destruída, mas antes que os Comensais da Morte invadissem o local, Olho-Tonto lançou um poderoso feitiço nos seguidores de Voldemort que estavam confinados no presídio e os enraizou!
— Como assim... os enraizou! – preocupou-se Hermione – Ele os transformou em arvores ou coisa parecida?
— Em coisa parecida seria mais adequado! – respondeu o ex-professor de DCAT com uma risada – Moody usou um antigo feitiço das trevas, que transforma suas vítimas em seres inanimados... e eles ficam presos ao chão... literalmente presos por raízes... não podem ser retirados! Se não estivéssemos em plena guerra, ele provavelmente seria condenado e preso pelo Ministério, por usar este tipo de magia negra!
— E... o Voldemort não pode reverter o feitiço? – perguntou Harry.
— Pelo que o Alastor me falou, nem ele próprio sabe como desfazer o encantamento... aparentemente só com a sua própria morte é que as vítimas do feitiço poderão ser libertadas. – concluiu Lupin.
— O senhor disse que ele prendeu somente os seguidores de Você-Sabe-Quem com raízes... e os outros prisioneiros? – a pergunta foi de Neville.
— Não sobraram muitos que não fossem lacaios daquela cobra traiçoeira, mas estes poucos aproveitaram para fugir para o mais longe possível, como o Mundungo... o único que permaneceu em sua cela em meio aos destroços, foi Stanislau Shunpike, o Lalau... mas nós o liberamos e ele também fugiu.
— Então... não existe mais prisão... digo... Azkaban não está mais ativa? – Luna demonstrou-se interessada.
— Eu acho melhor assim, é um lugar a menos para nos preocuparmos! – respondeu Lupin, alegremente – Agora vamos priorizar nossas forças para defender Hogwarts e o Saint Mungus, além do Gringotes.
— E o Olho-Tonto? – Gina procurou informar-se – Vamos precisar dele para liberar o Percy da Maldição Impérius!
Diante do olhar de incompreensão do bruxo, Harry e os demais contaram a ele os últimos acontecimentos, no que ele prometeu entrar em contato com Alastor Moody o mais breve possível, retirando-se da sala. Logo em seguida, os componentes da AD rumaram finalmente para o Salão Principal.
— Menino Malfoy! Menino Malfoy! – gritava Dobby, esganiçado, enquanto subia atabalhoado pela escadaria da mansão dos Black, esquecendo-se que poderia aparatar, em direção ao quarto do recente hóspede.
— Que foi agora? Deixe-me em paz, criatura nojenta! – respondeu Draco, que repousava em uma suntuosa cama, naquele que outrora fora o aposento da falecida dona da casa.
O elfo fez uma careta, ao entrar no quarto e ser recebido daquela maneira pelo sonserino.
— Dobby não deveria se incomodar com o Menino Malfoy! Dobby deveria deixar aqueles que estão lá fora entrar e darem conta deste ingrato!
— Do que é que está falando agora? Seu retardado! Não pense que vai conseguir me assustar! – mas, logo em seguida, ouviu-se um violento estrondo vindo da rua, que chegou a fazer a estrutura da casa tremer – O que é isso? O que está havendo? – instantaneamente, o ex-comensal da morte abandonou a pose, e passou a pensar seriamente em enfiar-se debaixo da cama.
— É o que Dobby está querendo dizer... tem alguém querendo entrar na casa!
— E quem é? A casa não está protegida pelo feitiço do Fiel do Segredo? Como alguém pode...
— É por isto que não entraram ainda... eles não conhecem a senha, e estão tentando achar a entrada à força!
— E... quem são eles? Eles estão atrás de mim? – choramingou o louro.
— Dobby não sabe! Dobby não olhou, veio correndo contar para...
— Então vá ver quem são, seu imprestável! Você pode ir lá fora sem ser visto, não é mesmo?
Dobby não respondeu, com uma terrível carranca, ele estalou os dedos e desapareceu numa nuvenzinha de fumaça. Logo em seguida, um novo estrondo fez a louça de chá, que o rapaz havia deixado sobre a mesinha de cabeceira, escorregar com a trepidação e cair ao chão, partindo-se em vários pedaços. Draco não pensou duas vezes, atirou-se para baixo da cama, mantendo sua varinha em riste, com todo o corpo tremendo.
Passaram-se alguns poucos minutos que pareceram uma eternidade, então o bruxo ouviu passos leves subindo a escadaria de madeira, eles chegaram até a porta e a empurraram lentamente, com um horrível barulho de dobradiças rangendo. Os passos continuaram pela tapeçaria em direção à cama, mas Draco não teve coragem de olhar a quem pertenciam, fechou os olhos e encostou o rosto no assoalho, aguardando o momento de ser descoberto. Então ouviu o barulho das cobertas da cama sendo levantadas e o som da respiração de alguém se aproximando do vão debaixo da cama, o rapaz sentiu uma onda de terror tomar seu corpo, imobilizando-o, quando uma voz soou, esganiçada:
— Menino Malfoy!
Draco levantou a cabeça bruscamente, batendo-a com violência no estrado que sustentava o colchão.
— Seu idiota! Que me matar do coração? Por que não avisou que era você?
— Dobby não... Dobby não...
— Diga logo o que descobriu, bicho estúpido! – resmungou o bruxo, enquanto saia de seu esconderijo e ficava novamente em pé, tentando recuperar a pose.
— Era aquele terrível homem-lobo, junto com aquela mulher má que matou o padrinho de Harry Potter! Dobby viu! Estavam tentando achar a porta!
— Bellatrix e... G-Greyback? – o louro sentiu suas pernas lhe faltarem, sentando-se na cama – E-eles ainda estão lá?
— Não! Algum bruxo poderoso lançou um feitiço neles e os fez saírem rodopiando para longe! Dobby não conseguiu ver quem era!
— Um bruxo poderoso? – repetiu o rapaz, recuperando um pouco a cor do rosto que lhe fugira – Quem poderia ser? E... Greyback aqui! Só pode estar atrás de mim! – o rapaz começou a divagar com seus botões – Mas, como descobriram que estou aqui? Aquele maldito Potter deve ter me entregado... para se vingar...
— Se o Menino Malfoy começar a falar mal do Mestre Harry Potter, Dobby vai...
— Tudo bem, tudo bem! É, realmente não faz sentido! Mas você tem que ir avisar o Potter de que estou correndo perigo! Isto é... é melhor não me deixar sozinho aqui... mande aquela sua amiguinha imprestável ... a Punky!
— Dobby vai falar para a WINKY avisar ao Harry Potter... mas só porque Harry Potter mandou Dobby cuidar do Menino Malfoy. – e estalando os dedos, sumiu novamente.
Harry sentou-se à mesa da Grifinória para jantar com os amigos, esquecendo-se por um momento de que não era mais aluno de Hogwarts, o Salão Principal estava bem mais vazio do que de costume, apesar de nenhum aluno ter abandonado a escola após os recentes acontecimentos envolvendo os Comensais da Morte, a maioria preferiu ficar em seus Salões Comunais, onde se julgavam mais seguros, no caso de uma possível invasão.
A notícia que corria à boca solta, após o término da Batalha de Azkaban, era que Fudge havia re-assumido o cargo de Ministro da Magia e que, após vasculharem as salas secretas existentes no edifício do Ministério, os comensais haviam abandonado o local, deixando um rastro de sangue e morte para trás.
Olho-Tonto Moody havia chegado há pouco, acompanhado dos Sr. e Sra. Weasley, e estava realizando os contra-feitiços necessários para libertar o jovem Percy da Maldição Impérius. Penélope Clearwater também viera para Hogwarts, se instalando permanentemente na cabeceira do ex-namorado.
— Amanhã vamos procurar a Tiara de Rowena Ravenclaw – disse “o Eleito” aos demais – , tenho o palpite de que já topei com ela há algum tempo atrás!
— Vai procurar a horcrux amanha? – ele ouviu a voz de Michelle à s suas costas, a menina acabara de entrar no salão com Bichento, o gato de Hermione, ao seu colo – Me deixe ir com vocês? Eu quero ajudar!
— Bichento! – exclamou Hermione surpresa – Por onde você tem andado? Faz dias que não o vejo!
— Ele fica sempre rondando a Sala Comunal da Sonserina, então eu o peguei: adoro bichinhos! – disse ela, retirando alguns pedaços de pão dos bolsos e oferecendo-os ao animal.
— Ele deve pensar que o Perebas está por lá, ainda! – disse Rony e, apontando para as migalhas na mão da bruxinha, completou – Hei, boa idéia... andar com um lanchinho nos bolsos...
— Mas... e então Harry, vai me deixar ir com vocês? – continuou Michelle, mudando de assunto.
— Claro! – respondeu Harry, com um sorriso – Podemos precisar da ajuda da... sua avó!
Harry já se encontrava deitado em sua cama, quando Winky desaparatou sobre ele.
— Mestre Harry Potter, Winky lamenta incomodá-lo, mas… o Menino Malfoy está correndo perigo! – e contou a Harry tudo o que lhe havia sido passado por Dobby.
Harry vestiu-se rapidamente e, enquanto tentava decidir qual seria o próximo passo a tomar, dirigiu-se até o retrato da Mulher Gorda e pediu que o elfo chamasse Hermione no dormitório da Grifinória. Daí a poucos minutos a menina atravessou o buraco do retrato acompanhada por Gina, as duas trajavam roupões com o brasão da casa e tinham uma expressão de grande curiosidade.
— Aconteceu alguma coisa? – as duas perguntaram em uníssono.
Harry narrou a notícia trazida pelo elfo, no que foi interpelado pela ruiva ao final.
— Mas como eles conseguiram descobrir tão rapidamente que o Draco estava lá? Não que eu me importe com o que possa acontecer com ele... mas, não faz sentido!
— A culpa é minha! – assumiu Harry – A Ordem já havia retirado a Sede de lá porque o Snape conhecia o Segredo do Fiel... ele provavelmente estava de tocaia para ver quem freqüentava a casa... e deu de cara com o Malfoy!
— Não, não, não! – Hermione começou a resmungar, andando de um lado a outro do corredor – Se fosse o Snape, ele teria simplesmente entrado na casa e... feito o serviço! Não, quem tentou pegar o Malfoy... o Greyback e a Lestrange... não tiveram contato com o Snape, por isso tentaram encontrar a entrada à força!
— O pior é que você tem razão, Mione! Mas eu te chamei para a gente ir até lá e lançar outro feitiço de proteção... por mais que me agrade a idéia, não posso deixar que peguem o Draco!
— E porque não me chamou também? – indignou-se Gina – Se eu não tivesse levantado para fazer xixi, não teria visto a Winky chamando a Mione!
— Eu... achei que nós dois seríamos o suficiente para fazer isto, quer dizer... a Mione tem mais jeito para estes feitiços e... pode ser perigoso! – ele justificou-se.
— Aahh! Eu também quero ir! – choramingou a menina, diante do olhar de desaprovação de Hermione.
— Tudo bem! – recuou o rapaz – Mas você ficará dentro da mansão até eu e a Mione lançarmos o feitiço!
Resignada com a decisão do garoto, Hermione pegou a amiga pelo braço, entre os gritinhos de “Eba! Eba!” da outra e retornaram rapidamente para o dormitório, voltando logo em seguida devidamente vestidas e preparadas para o frio.
— Pretende sair pelo Monte dos Imortais, não é? – observou Hermione com um olhar de reprovação.
Harry concordou com a cabeça e se dirigiram rapidamente para a antiga masmorra de Godric Gryffindor, a amiga o seguia, ao lado de Gina, continuando a questiona-lo:
— Que feitiço pretende usar para proteger o lugar?
— O Feitiço Fidelius.
— É um feitiço extremamente complexo, tem certeza de que sabe executa-lo? – continuou a bruxinha.
— Eu... bem... tinha pensado que talvez... você pudesse realiza-lo, por isso pedi pra Winky te chamar!
A menina parou repentinamente, aparentando insegurança, estavam a poucos passos do painel em que se exibia a paisagem do lar de Fawkes.
— Não sei como fazer... vi o Lupin executa-lo lá n’A Toca... mas não me lembro como...
— Tenho uma cópia com o procedimento todo aqui comigo... copiei de um livro da biblioteca, quando pretendia proteger o acesso ao Monte dos Imortais! – disse ao mesmo tempo em que cortava a parede de rocha maciça com uma labareda de fogo de sua varinha.
— Pra você vai ser fácil, Mione! – encorajou-a Gina, assim que concluíram a travessia.
A garota de cabelos crespos tomou o pedaço de pergaminho que Harry lhe oferecia, e só despregou os olhos dele, momentaneamente, quando aparataram para a Mansão dos Black. Assim que se materializaram no corredor de entrada do local, Dobby veio ao encontro deles.
— Mestre Harry Potter! – disse, realizando uma pomposa reverência – Dobby não abandonou seu posto! Dobby ficou tomando conta do ingrato Menino Malfoy!
— Onde está o Draco? – perguntou Harry, dirigindo-se para a porta de entrada. Hermione continuava lendo febrilmente as instruções para o feitiço, murmurando algumas palavras ininteligíveis.
— Escondido no quarto... – o elfo fez um gesto com o dedo, apontando para cima - ... o covarde!
— É melhor que fique por lá! – resmungou o rapaz – Dobby, sabe se é seguro lá fora, agora?
— Dobby não sente nenhuma presença hostil... talvez aquele que espantou os bruxos maus ainda esteja por perto...
— Este não nos incomoda! – disse, enquanto tomava Hermione por uma das mãos e liberava as trancas da porta – Gina, você fica aqui com o Dobby. Não vamos demorar!
Gina ficou observando a dupla sumir pela porta da casa, enquanto um amargurado “Tenha cuidado!” lhe escapava da garganta.
Como já era muito tarde da noite, as vizinhanças do Largo Grimmauld estavam desertas, Hermione, com cara de poucos amigos começara a executar o encantamento, andando de um lado a outro defronte a casa e apontando sua varinha para o telhado desta, repetindo palavras desconhecidas que lia no pergaminho. Então, após a garota repetir o estranho ritual por sete vezes, a construção à frente deles começou a ter seus traços cada vez mais embaçados, até que desapareceu no ar.
— Consegui! Consegui! – comemorou a bruxa, mostrando finalmente um sorriso e dando pulinhos no ar.
— Ótimo! – elogiou Harry – Mas, como vamos entrar agora?
— Como agora eu sou o fiel do segredo, vou ter que escrever, de próprio punho, o endereço do lugar... – disse ela, rasgando um pedaço do papel que tinha nas mãos e escrevendo nele freneticamente –... quando você ler, vai conseguir enxerga-la de novo! – concluiu ela, dobrando ligeiramente o pedaço de pergaminho e estendendo o braço para que o outro o apanhasse.
— Pode soltar Mione! – disse o garoto ao perceber que a menina mantinha o objeto preso entre os dedos – Senão vai rasgar!
Mas então, ele percebeu que ela não estava prendendo o bilhete propositalmente, apesar dele perceber que os olhos da menina o miravam com uma aparência de súplica e desespero, nenhuma outra parte ou músculo de seu corpo se movimentava: Hermione estava literalmente paralisada.
— Ora, ora, ora! Dando um passeio pela noite, Potter? – aquela voz, vinda de suas costas, fez com que um gélido arrepio percorresse a espinha do rapaz, e fazendo com que seus cabelos se arrepiassem, se é que era possível ficarem mais espetados.
Harry virou-se lentamente, com a varinha em punho, odiando-se por ter sido tão estúpido e descuidado, seus olhos brilhavam com um intenso ódio, quando se viu frente a frente com Severo Snape.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!