Começa a Era das Trevas



OS EFEITOS DO INVERNO, QUE SEMPRE MALTRATAVAM muito aquela região, se mostravam mais rigorosos naquela manhã, a neve se acumulava densamente pela estradinha que levava até o vilarejo próximo à construção em ruínas que abrigava o, antigamente altivo e orgulhoso, bruxo de sangue puro. O jovem, de vestes rasgadas e puídas, caminhava com dificuldade pela borda lateral do caminho parcialmente obstruído, procurando não deixar vestígios de sua passagem a algum possível caçador de fugitivos que o seu ex-captor pudesse ter colocado no seu encalço.
Seus cabelos sujos e despenteados caíam sobre a face outrora superior e confiante, escondendo um rosto magro e cansado. Ao chegar no limiar da cidadela, passou a observar cuidadosamente os estabelecimentos comerciais que ainda se preparavam para iniciar suas atividades naquele dia gélido e cinzento, mas seu olhar procurava por uma particularidade em especial, dentre tantas opções: o jovem Malfoy procurava por comida.
Era desconcertante para ele próprio ter de se arriscar para roubar algo que sempre tivera com tanta facilidade, nunca chegara sequer a se imaginar tendo que jogar com a própria vida para conseguir algo tão elementar, mesmo no período em que permaneceu como prisioneiro, primeiro do Lord das Trevas e, depois, de seu salvador secreto, não precisara se preocupar com isto, mas agora, escondido entre os escombros daquela casa, dita por muitos como amaldiçoada, tinha que se aventurar nestas freqüentes incursões ao vilarejo para satisfazer suas necessidades primárias.
Naquele dia havia se atrasado para sua jornada, devido o frio intenso e ao acúmulo excessivo de neve no trajeto, tendo que ter tomado cuidados adicionais para não deixar rastros que pudessem revelar seu esconderijo e, por isso, as casas comerciais já apresentavam uma movimentação que poderia prejudicar sua investida, com exceção de uma, que era especializada em doces e guloseimas. Não era a necessidade básica do fugitivo, no momento, mas diante do perigo que corria em se expor mais do que o necessário, teria que servir.
Aproximou-se sorrateiramente e com excessiva cautela da porta que dava acesso aos fundos do estabelecimento, por onde eram transportadas as encomendas e reposições de estoque da loja e, quando julgou que seria suficientemente seguro, avançou rapidamente em direção à maçaneta da porta girando-a, sempre mantendo a varinha em punho na outra mão, porém, ao escancarar rapidamente o acesso, deparou-se com um rosto conhecido, que simultaneamente ao seu gesto, tinha a intenção de sair do prédio. Ante o espanto que se mostrou impresso no semblante da infortunada pessoa, a atitude tomada quase que instantaneamente pelo ex-aluno da sonserina foi fulminante:
— Império!
Um breve sorriso de satisfação escapou da fisionomia maltratada do bruxo de família nobre, finalmente sua sorte começava a mudar, o controle sobre a mente daquela pessoa poderia proporcionar, a ele, uma situação que há muito aguardava: sua volta ao mundo civilizado estava começando.
Um barulho de passos, vindo do interior da edificação, tirou o jovem bruscamente de seu estado de euforia, revelando que uma segunda pessoa se aproximava. Draco preferiu não desafiar a sorte e empurrou sua caça para dentro de um pequeno armário de vassouras que existia do lado externo da construção, e que tinha sua entrada bem próxima daquela pela qual pretendera invadir o local e, apoiando-se na porta da mesma com suas costas, a fim de evitar que alguém tivesse acesso ao cubículo, encostou a boca no ouvido de sua vítima e passou a transmitir freneticamente as instruções que deveriam ser cumpridas, enquanto seu prisioneiro ainda se mantinha no transe inicial da Maldição Impérius, ao longe podia ouvir a voz da outra pessoa chamando pelo nome de sua infortunada presa.
Aguardou que os chamados se distanciassem e, após verificar que não havia mais ninguém nas imediações, liberou sua vítima, ainda meio grogue, para seguir seu caminho e cumprir suas instruções quando chegasse a hora. Passados alguns minutos, o louro também abandonou o esconderijo improvisado em direção à estradinha por onde viera: não comeria nada naquele dia, mas não se importava com isso, um outro tipo de alimento circulava pelo seu organismo, já há algum tempo havia decidido que só havia um caminho a seguir para reconquistar sua liberdade, e o primeiro passo em direção a esta meta acabara de ser dado, nutrir-se-ia do poder deste sentimento até que tivesse outra oportunidade para alimentar seu corpo.
Em meio a este turbilhão de sentimentos, o jovem afastou-se rapidamente do vilarejo, não percebendo, no entanto, que uma figura sombria e taciturna o observava atentamente, escondida atrás de uma pilha de lenha que beirava o caminho e, depois do garoto sumir após uma curva, aquela figura toda vestida de negro, jogou habilmente a capa que cobria seu corpo para trás dos ombros e, após dar uma olhada breve ao seu redor, em que demonstrava um leve traço de desdém e menosprezo por aquela vizinhança, o carrasco de Dumbledore e Comensal da Morte atualmente incumbido por Lord Voldemort de caçar seu ex-pupilo da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Severo Snape, fixou seu olhar no horizonte e desaparatou.


— Harry! Harry, acorde! – o rapaz abriu os olhos com dificuldade, tentando distinguir os contornos daquele rosto que se inclinava sobre ele, apesar de conhecer profundamente a voz que o chamava.
— Gina! O que foi? Que horas são? – respondeu enquanto apalpava a mesinha de cabeceira ao lado, procurando por seus óculos. Tinha ido dormir muito tarde na noite anterior, com a mente repleta de planos e dúvidas, devido à excessiva quantidade de informações que obtivera há algumas horas atrás.
— É cedo ainda! – a voz que respondeu sua pergunta era de Hermione, que se encontrava logo atrás da colega de Grifinória – Viemos te chamar porque ocorreu um fato novo!
Já equipado com seus óculos, o jovem havia se sentado na lateral da cama e tentava, inutilmente, ajeitar os cabelos com as mãos, enquanto aguardava que aquele segundo de suspense, criado pela amiga, fosse desfeito por alguma das visitantes.
— Azkaban está sendo atacada! – informou a menina mais jovem, que também havia se sentado na cama ao lado de Harry, aproveitando ao máximo a proximidade com o rapaz – Moody veio buscar Tonks e Lupin que estavam na guarda do castelo para auxiliar a resistência.
— E o que é pior... – emendou a outra –... Hogwarts está somente com a proteção da diretora Minerva, dos professores e de Hagrid!
O garoto levantou-se e passou a andar em círculos pelo quarto, mirando os pés descalços e alinhando seu pijama com as mãos.
— Isso quer dizer que não podemos abandonar a escola para procurar os horcruxes. – exclamou, finalmente – A proteção de Hogwarts é tarefa nossa!
— Nisso eu concordo com você, Harry! – apoiou Hermione e, lançando um olhar de receio para Gina, continuou – Mas...
— O que foi? – perguntou o bruxo, alternando o olhar de uma à outra.
— Fred e Jorge estão lá em cima, eles chegaram logo depois do Moody. – disse a ruivinha – E acham que, com as atenções voltadas para Azkaban, poderão se infiltrar no Ministério e capturar o Percy!
— O pior é que eles convenceram o Rony de que esta é uma boa idéia. – completou Hermione – Eles só estão aguardando que você suba para tomar o café para convence-lo a ajuda-los.
— E você? O que acha disso? – o garoto dirigiu-se a Gina, após um momento de reflexão.
— Eu adoraria, mais do que ninguém, trazer meu irmão de volta e acabar com o sofrimento dos meus pais. – respondeu a menina, com a voz firme, mas ligeiramente trêmula. – Mas não acho uma boa idéia nos dispersarmos, eu concordo com vocês de que a prioridade no momento é defender Hogwarts.
Harry deu uma última volta pelo cômodo, pensativo, então, pediu para as garotas que se dirigissem ao salão principal para o café da manhã, enquanto isso ele se vestiria e as alcançaria, logo em seguida.
Quando adentrou ao salão, poucos minutos depois, Rony levantou-se imediatamente e se dirigiu a ele, segurando-o pelo braço enquanto falava freneticamente:
— Harry! Você vai com a gente, não vai? Você não vai deixar aquelas duas te convenceram do contrário, não é mesmo? Essa é uma ótima oportunidade...
— Ronald! – a voz de Hermione sobrepôs-se à do rapaz – Ninguém está querendo convencer o Harry! Vamos nos sentar e discutir o que é melhor para todos.
Como era de hábito, o jovem Weasley ficou com o rosto vermelho como um pimentão, porém calou-se e retornou ao seu lugar à mesa, onde se sentou bruscamente e cruzou os braços, permanecendo em silêncio.
Harry dirigiu-se à mesa e sentou-se entre Gina e Hermione, em um lugar que havia sido deixado estrategicamente vago, Neville e Luna também se encontravam junto aos demais. O rapaz tomou fôlego, antevendo a discussão que provavelmente iria tomar lugar ali, porém, quando ia começar a falar, foi surpreendido por Jorge, que se antecedeu à sua iniciativa e disse:
— Harry, pelo que as meninas nos disseram, você parece estar preocupado com a segurança do castelo ... acho que você está certo ... mas ... tenho um plano ... e acho que ... eu e você seriamos o suficiente para coloca-lo em prática.
O Menino-Que-Sobreviveu ficou momentaneamente sem ação, ante a proposta feita pelo gêmeo Weasley, enquanto isso, os demais integrantes da mesa, após se entreolharem uns aos outros, dirigiram seu olhar para o outro gêmeo, Fred.
— A idéia foi dele! – defendeu-se o bruxo, ao perceber que era o centro das atenções.
— Só estamos estranhando o fato de um de vocês estar tomando uma atitude ... sozinho. – insinuou Hermione.
— É verdade! – comentou Gina – E ... porque você e ... o Harry?
— Eu tenho a idéia e o Harry tem o talento! – respondeu o bruxo – Duas pessoas poderão se infiltrar com mais facilidade no Ministério do que um grupo, e assim não desfalcaremos demais a defesa do castelo ... o Fred ficará aqui para ajudá-los. – disse, olhando para o irmão que, sem outra alternativa, concordou com a cabeça.
— Eu não acho isto uma boa idéia! – declarou a caçulinha Weasley – Quero saber, tanto quanto vocês, o que está acontecendo com o Percy, mas ...
— É mentira! – respondeu Jorge, inflamado – Você está é preocupada com o seu namoradinho! Não liga nem um pouco para o que possa acontecer ao seu irmão!
Gina calou-se instantaneamente, uma expressão de incredulidade tomou conta de seu rosto e, logo em seguida, a exemplo do que sempre ocorria ao seu irmão Rony, seu rosto tornou-se vermelho como o fogo. Os demais componentes da informal reunião, mantiveram-se boquiabertos e sem palavras, até que Harry contestou:
— Não é bem assim, Jorge! Eu também não acho sensato tentarmos invadir o Ministério num momento como este, afinal de contas, já faz bastante tempo que o Percy está agindo de maneira estranha, não vejo o porquê de realizarmos uma empreitada arriscada como esta agora!
— Estou desapontado com você, Harry! – respondeu o outro, levantando-se de seu assento e adotando uma postura ameaçadora – Francamente, você sempre foi recebido em nossa casa como uma pessoa da família, colocou nosso irmão Rony e a nós mesmos em perigo por diversas vezes, e ainda ficou se aproveitando de nossa irmãzinha achando que eu e o Fred não sabíamos de nada! E agora, e na única vez que te pedimos para nos ajudar em alguma coisa, você nega!
— Calma aí! – agora foi a vez de Rony se levantar, completamente alterado – Agora você foi longe demais! – sua atitude foi imitada por Fred e Gina, que também se mostravam indignados.
— Esperem! Esperem um pouco! – a voz de Harry se sobrepôs às demais, os alunos das outras casas, que também tomavam o café nas outras mesas, faziam o mais absoluto silêncio, a fim de não perderem qualquer lance da discussão – Tudo bem! O Jorge não deixa de ter certa razão! Eu irei com ele!
— Isto é um absurdo, Harry! – reclamou Gina – Você não tem que ...
— Nós estamos perdendo um tempo precioso aqui. – disse o bruxo da cicatriz, interrompendo-a – Muita coisa já pode ter acontecido lá fora enquanto estamos aqui discutindo! Eu e o Jorge iremos ver o que pode ser feito pelo Percy e você, Gina, fica incumbida de organizar a defesa de Hogwarts, não há tempo a perder!
Pelo que conheciam de Harry, todos ali sabiam que era impossível dissuadi-lo da decisão tomada, então cada um se levantou e foi se dirigindo lentamente a um dos cantos do salão a fim de receberem as orientações da nova líder em exercício, com exceção de Rony que, aparentemente contendo as lágrimas, aproximou-se do amigo e disse:
— Por favor Harry, deixe-me ir com vocês!
— Isto já está decidido! – respondeu o outro, inabalável – Você deverá ajudar os outros na defesa do castelo.
O jovem ruivo não disse mais nada, cerrou os punhos e dirigiu-se resoluto para fora do salão, pisando o chão fortemente e batendo a porta com violência ao sair.
— Tome cuidado, Harry! – disse Gina, depositando levemente um beijo nos lábios do rapaz, não se importando que o mundo inteiro pudesse estar vendo aquilo, em seguida retirou-se para junto dos demais, lançando um olhar fulminante para Jorge.
Pouco depois, o pequeno grupo pertencente à Armada de Dumbledore, viu a porta do salão se bater mais uma vez, desta vez atrás dos dois bruxos que se propunham a realizar tão arriscada missão.


Hagrid olhou meticulosamente para o trabalho que acabara de realizar e estava muito satisfeito com o resultado, o inverno daquele ano estava sendo muito rigoroso, e as nevascas noturnas haviam obstruído completamente a passagem que levava do portão de acesso à propriedade até a entrada principal do castelo. Na verdade, o meio-gigante havia exagerado propositalmente na execução desta tarefa a fim de manter-se ocupado o máximo de tempo possível, tentando esquecer momentaneamente os terríveis acontecimentos que não cessavam de ocorrer, e o resultado era esplêndido: o antiqüíssimo leito de pedras em que se baseava o caminho estava completamente à mostra, não havendo restado um floco de neve sequer que pudesse ocasionar uma possível queda de um dos alunos ou dos docentes da escola.
— Hagrid! Hagrid!
O homenzarrão se virou para verificar quem se aproximava da saída da propriedade, e pôde visualizar Jorge, um dos gêmeos Weasley, e Harry – este último era quem lhe acenava e o chamava pelo nome.
— Onde pensam que vão? – perguntou o grandalhão assim que os dois se aproximaram – As saídas estão proibidas a todos os alunos... o caos se instalou lá fora!
— Certo Hagrid! – o Menino-Que-Sobrviveu achou melhor usar de tato com o grandalhão – Mas, como não somos mais alunos, tenha a bondade de liberar a passagem para nós: temos um assunto muito importante a tratar.
— Como? Oh, sim! Claro! – o guarda-caça constatou que o rapaz estava com a razão – Mas, tomem cuidado! Hogwarts ainda é o lugar mais seguro atualmente.
E, realizando um largo gesto com o guarda-chuva que trazia empunhado em direção aos portões de entrada que se encontravam cerrados, os mesmos começaram a abrir-se lentamente, até liberarem um espaço em que caberia uma pessoa por vez.
— Tem certeza de que sabe o que está fazendo, Harry? – preocupou-se o detentor das chaves de Hogwarts, enquanto Jorge passava rapidamente pela fresta aberta e aguardava do lado de fora – Não tem intenção se juntar aos defensores de Azkaban, não é mesmo?
— Não se preocupe! – tranqüilizou-o – Pretendo retornar antes do anoitecer!
E, quando se dirigia de encontro ao representante da família Weasley, ouviu uma voz feminina a chamá-lo:
— Arry! Arry!
— Gabrielle? – exclamou confuso – O que houve? Aconteceu alguma coisa?
— Non Arry, apenes soub que irria sairr e vim desspedirrme – disse a menina quase sem fôlego, assim que alcançou o rapaz.
— Ora, obrigado Gabrielle, mas não se preocupe: logo estaremos de volta!
— Au revoir! – despediu-se a francesinha depositando um beijo no rosto do bruxinho.
— Vamos, vamos Harry! – apressou-o Hagrid – Já que tem mesmo de ir, é melhor que o faça logo: não posso ficar com os portões abertos por muito tempo!
— Até breve! – disse o jovem, atravessando os portões e juntando-se ao seu parceiro, ao mesmo tempo em que acenava para a dupla que permanecera em Hogwarts.
— E então? – perguntou Harry quando já haviam ganhado uma pequena distância do castelo, e começavam a enfrentar um trecho bastante tomado pela neve – Qual é este plano mirabolante?
— Tem uma lareira na Casa dos Gritos que tem acesso direto até o prédio do Ministério... eu e... Fred... costumávamos usa-la quando ainda éramos estudantes e não podíamos aparatar... para irmos visitar... o nosso pai...
Harry achou estranho o fato de um lugar tão importante como o Ministério da Magia, possuir tantas falhas de segurança, mas não deu maior importância ao fato.
— Mas agora nós dois podemos aparatar até a Casa dos Gritos, não há motivo para nos arriscarmos por este caminho abandonado!
— Tem razão! – desculpou-se Jorge – Que bobagem a minha! Vamos lá, então!
CRAQUE! – CRAQUE! – O som costumeiro dos bruxos desaparatando se fez ouvir naquela estrada erma e desabitada e, se existisse algum espectador neste momento, naquele local, teria ouvido um terceiro ruído, ocorrer logo em seguida: CRAQUE!


— Muito bem, Mione! – disse Gina tão logo os dois rapazes saíram pela porta do Salão Principal – Vamos nos dividir em dois grupos: eu, Neville e Luna vamos para a casa do Hagrid para vigiarmos o acesso pela Floresta Proibida, e você, Rony e Fred vão para a Torre de Astronomia para verificar algum possível ataque aéreo.
— Tudo bem, mas... e o Ronald? – perguntou Hermione – Que fim levou?
— Que droga! – reclamou a ruivinha – Aquele cabeça dura vai acabar nos atrasando! Vamos procura-lo!
O pequeno grupo dirigiu-se para a porta do salão e, quando chegaram próximos a esta, a mesma se abriu para a entrada de Michelle que, apesar de demonstrar um grande desgaste físico, além do fato de sua falta de cabelos lhe proporcionar um aspecto esquálido e estranho, aparentemente mantinha o bom humor de seus melhores dias, cumprimentando os componentes do grupo com um delicioso sorriso.
— Tudo bem? Posso ajuda-los de alguma forma? Soube do que está acontecendo em Azkaban...
— Obrigado Michelle, mas está tudo sob controle. – agradeceu-lhe Hermione – Por acaso viu o Rony por aí?
— Sim, eu o vi há pouco subindo para a Sala Comunal da Grifinória, acompanhado da Gabrielle, os dois pareciam estar com muita pressa!
Hermione e Gina trocaram um rápido olhar de entendimento e saíram rapidamente em direção ao retrato da Mulher Gorda, sendo seguidas pelos demais.
— Ah, eu odeio quando o Rony começa a agir desta forma! – reclamou Hermione – Ele deu para ter estes acessos de adulto, agora!
— A última vez que eu o vi assim foi quando achamos que... – Gina interrompeu a frase abruptamente, parando no meio da escadaria com uma estranha expressão no rosto.
— Quando acharam... o que? – insistiu Hermione.
— Quando achamos que o Harry estivesse possuído pela Maldição Impérius! – respondeu a menina.
— Você não acha que... – agora foi a vez de Hermione interromper a frase pela metade.
— Do que é que vocês duas estão falando, afinal de contas? – perguntou Fred, perdendo a paciência.
— Fred. – Hermione aproximou-se com uma expressão extremamente determinada do bruxo, que recuou um passo, meio receoso – Você e o Jorge... vieram direto d’A Toca para cá, hoje cedo?
— Sim! Quero dizer, não! – respondeu, meio acuado, olhando para os outros ao seu redor, em busca de apoio – Nós passamos em Hogsmeade antes, para entregarmos uma encomenda de pirulitos explosivos na Dedos de Mel.
— E... você esteve o tempo todo junto dele? – a garota de cabelos castanhos caminhava de um lado a outro pelo degrau da escada, analisando profundamente a fisionomia do rapaz, que já começava a tremer.
— Claro que sim! Quero dizer... na verdade... na hora que estávamos indo embora... ele sumiu. Pensei que ele tivesse vindo para cá na frente e, só quando já estava na metade do caminho é que ele me alcançou, disse que havia ido ao banheiro.
— O que você acha Mione? – perguntou Gina ao perceber que a amiga parara a um canto e coçava o queixo com uma das mãos.
— Não sei, não sei... vamos achar o Rony primeiro, e depois pensaremos nisto.
E continuaram a subir as escadas, para grande alívio do gêmeo Weasley, que realizou o restante do trajeto apoiando-se nos corrimões, até que suas pernas parassem de tremer.


Harry e Jorge se materializaram, quase que simultaneamente, a poucos metros da Casa dos Gritos, havia um enorme acúmulo de neve na estreita trilha que levava até a porta de entrada, o que dificultava bastante a locomoção dos dois rapazes.
Quando a dupla já alcançava a passagem para acessar o interior da construção, uma breve e quase imperceptível nota musical, já bastante conhecida de Harry, chamou sua atenção. O rapaz olhou à sua volta, procurando a origem daquele som e percebeu, empoleirada num dos galhos de uma velha árvore que crescera junto à fachada da edificação, a magnífica fênix Fawkes, já em seu estágio adulto, a observa-lo atentamente.
“Alguma coisa está errada!” – pensou o rapaz, e instintivamente sacou de sua varinha e avançou rapidamente em direção ao interior da casa, onde Jorge já havia penetrado e, estranhamente, mantivera-se estático após avançar poucos metros no interior do local.
— Jorge, espere! – disse emparelhando-se ao outro – Deixe-me ir na frente, tem algo estranho aqui!
Mas, mal o garoto levantara um dos pés para dar o próximo passo, o seu companheiro segurou seu braço fortemente com uma das mãos, chegando a cravar as unhas em sua pele. Harry olhou assustado para o parceiro e percebeu que o mesmo continuava estático, com o olhar perdido no vazio, um forte tremor dominava seu corpo, ao mesmo tempo em que ele balançava freneticamente a cabeça em sinal de negativa e suava muito, mas nenhuma palavra saía de sua boca.
— Tudo bem, Jorge! – tentou tranqüilizar o bruxo, enquanto usava a outra mão para liberar seu braço, a grande custo – Fique aqui, eu vou ver o que está acontecendo!
Quando o ruivo sentiu que o amigo havia se soltado, desabou de joelhos ao chão e segurou a cabeça entre as duas mãos, aparentemente uma luta terrível se travava em seu interior. O garoto da cicatriz, após realizar um rápido e estranho gesto com sua varinha, de onde se desprenderam algumas faíscas, avançou mais alguns passos, até se localizar bem ao centro do aposento, quando inesperadamente um forte raio de luz cortou o aposento.
— Expeliarmus!
Com uma espécie de efeito retardado, a varinha de Harry foi atirada ao outro lado do cômodo e, quando o bruxo desarmado voltou-se para conhecer a identidade de seu agressor, demonstrou uma profunda expressão de espanto.
— Ora, ora, ora! Finalmente, o Santo Potter! Desarmado e à minha mercê! – a voz do jovem Malfoy tentava manter o tom de menosprezo que sempre fora sua marca registrada, mas havia uma forte nuance de amargura por trás daquelas palavras.
— Draco! Esperava encontrar qualquer um aqui, menos você! – apesar de desarmado, Harry mantinha-se bastante calmo.
— Mas eu esperava por isso há muito tempo Potter! Pelo menos para isto este imprestável Weasley me serviu! – disse apontando, com um gesto de cabeça, o pobre Jorge ajoelhado próximo à entrada – Apesar dele estar tentando se livrar do meu controle.
— E o que pretende fazer agora? Vai me matar? – desafiou-o o bruxinho – Você não foi capaz de fazer isto com o professor Dumbledore, por que teria coragem de fazer comigo?
— Não é má idéia, Potter! – ameaçou o louro, enquanto andava de um lado a outro da sala, sempre apontando a varinha para seu prisioneiro – Isto, com certeza me deixaria em alta com o Lord das Trevas novamente, sem contar que me daria muito prazer, também.
— E o que o impede? – o rapaz continuava a desafia-lo – Se quisesse realmente me matar, já o teria feito.
O maltrapilho e desnutrido ex-aluno da Sonserina balançou negativamente a cabeça, caminhou até uma velha cadeira em péssimo estado de conservação que havia próximo a uma das paredes e sentou-se pesadamente, deixando sua varinha cair ao chão.
— Eu... eu teria aceitado... a proposta do... velho Dumbledore... se o Snape não tivesse chegado naquele momento! – agora era o louro que segurava a cabeça entre as mãos, tentando, a todo custo, segurar as lágrimas que insistiam em lavar seus olhos – Eu... eu achei que... talvez... eu e você... pudéssemos... fazer um acordo!
Neste momento, na entrada da construção, ao lado de Jorge, um braço empunhando uma varinha apontada para Draco, apareceu do nada, e uma voz se fez ouvir:
— Impedimen...
— Não! – o verdadeiro Harry materializou-se ao lado da figura, escondida pela capa da invisibilidade, segurando-lhe o braço com uma das mãos e impedindo que o feitiço atingisse ao Malfoy, ao mesmo tempo, sua réplica que se encontrava no centro do aposento, e que havia enganado ao seu captor desde o princípio, desaparecia lentamente.
— Harry, o que... – Rony deixou a capa cair a seus pés, revelando-se, ao mesmo tempo em que olhava, pasmo, do amigo ao seu lado, até o local onde havia sumido sua imagem clonada.
— É um feitiço que aprendi num velho livro! – explicou o bruxo, enquanto fazia um gesto para que Draco, que havia se levantado e apanhado novamente sua varinha do chão, se mantivesse calmo – Em todo caso, obrigado por ter vindo em meu socorro, Rony.
O ruivo lançou um sorriso amarelo para o amigo e, logo em seguida foi verificar o estado do irmão, caído ao chão.
— Este miserável lançou a Maldição Impérius nele! – esbravejou Rony, com indignação – Você não vai acreditar nesta escória, não é Harry?
— Libere o Jorge, Malfoy! – ordenou Harry, sem admitir contestação.
Resmungando e com grande má vontade, Draco sentou-se novamente na cadeira e, apontando a varinha para o bruxo amaldiçoado, realizou um breve gesto, enquanto murmurava algumas palavras ininteligíveis.
— Maldito! – gritou Jorge assim que se sentiu livre do feitiço e, antes que alguém pudesse impedi-lo, arremessou-se em direção ao louro, atingindo-o com um potente soco no nariz, que fez com que o sangue do outro espirrasse pela parede às suas costas.
— Calma Jorge! – pediu Harry, enquanto segurava o rapaz com a ajuda nada convincente de Rony – Calma! Está tudo bem, agora!
— Não vai realmente acreditar que este pústula vá se transformar em seu amiguinho, não é mesmo! – questionou Jorge, aparentemente satisfeito pelo dano realizado em seu ex-controlador.
— Não quero a amizade de ninguém! – gritou Draco, enquanto tentava estancar a hemorragia com as mãos – Só desejo... ajudar a derrotar... o Lord das Trevas! Sei que ele me jurou de morte, ou coisa pior, e devo escolher um lado para ficar... mas estou pensando só em mim mesmo!
— E o que fará se o seu pai continuar do lado de Voldemort? Ficará contra ele e sua mãe? – indagou Harry, enquanto observava um breve tremor e uma expressão de medo nos outros três ao ouvirem aquele nome.
— Meu pai nunca me tratou com a dignidade que mereço! – desabafou o louro, sentando-se novamente e limpando as mãos ensangüentadas nas próprias roupas – Às vezes chego a duvidar que seja realmente meu pai, e minha mãe apenas segue as ordens dele... acho que realmente... sou um peso para os dois.
Do lado de fora da construção abandonada, uma nova nevasca tinha início, castigando duramente a vizinhança já totalmente coberta por uma espessa camada de neve. Há alguns poucos metros do local, a mesma figura sinistra e protegida por uma longa capa negra, que havia seguido Draco desde sua aventura matinal em Hogsmeade, observava atentamente o local, sem perceber, no entanto, que também era vigiada, do alto do telhado da famigerada Casa dos Gritos, por Fawkes: a famosa fênix que dedicara sua existência à proteção e auxílio de Hogwarts e de seus defensores.












Nota do Autor:
Gostaria de fazer um agradecimento especial à
.:*bruna malfoy*:., suas palavras me deixaram
muito feliz e me incentivaram bastante a continuar com a fic. Também
acredito na sua teoria do Régulus, assim como acho que vai acontecer
alguma coisa importante quando o Harry voltar para Godric's Hollow, mas
deixo isto para o gênio da J.K. , e quanto àquele loirinho
de sangue-puro, espero ter tirado um pouco da sua curiosidade. Bruninha,
este capítulo é dedicado a você, um beijão
e continue mandando seus comentários, mesmo que tenha críticas,
eles me fazem muito bem.
Rufus Sorcerer

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