O enigma do portal.



HARRY OLHOU À SUA VOLTA ENQUANTO SABOREAVA o excelente café da manhã que Winky lhe havia trazido, passara a sua primeira noite oculto em Hogwarts em meio a um pequeno caos de móveis e tralhas de todo o tipo, mas ficou impressionado com a transformação que ocorreu no ambiente durante o pequeno intervalo de tempo em que se rendera ao sono: o pequeno casal de elfos havia tornado o lugar perfeitamente habitável, e o que era mais importante: limpo e organizado. O rapaz concluiu seu desjejum e manteve-se estático por um instante, pensando em qual seria o próximo passo a tomar – até agora tudo estava correndo bem: escapara da proteção sufocante dos seguidores de Dumbledore, havia se instalado em local seguro e que lhe oferecia grandes perspectivas de ampliar seus conhecimentos em magia e, o melhor de tudo, estava pela primeira vez em sua vida dependendo de si mesmo e decidindo que caminho seguir.
“E o que não pode esperar nem mais um pouco...” – pensou ele, decidido – “... é a seqüência do meu treinamento!”. E dirigiu-se à porta, que havia sido habilmente restaurada pelas competentes criaturas mágicas, enquanto enfiava a mão em um dos bolsos para apalpar a falsa horcrux – como havia se tornado um hábito seu – e lembrar-se de tudo que acontecera há pouco tempo atrás, reforçando a sua obstinação em atingir seu ideal, porém seus dedos tocaram outra coisa: o pequeno pedaço de pergaminho enviado por Gina através de Hagrid.
Sentou-se em uma banqueta de madeira rústica que havia sido posicionada próxima à porta e abriu o bilhete, reconheceu imediatamente a letra de Lupin – que lhe havia lecionado Defesa Contra as Artes das Trevas durante um ano inteiro no passado – e sorriu satisfeito: o segredo dos Weasley estaria muito bem guardado com um bruxo do quilate do antigo companheiro de seus pais. Então, uma idéia lhe veio repentinamente e, antes que se arrependesse de coloca-la em execução, chamou:
— Dobby! Winky! Venham aqui um instante! – quando os dois se posicionaram à sua frente, aguardando suas instruções, entregou-lhes o pedaço de papel e disse:
— Quero que leiam este endereço e depois o destruam. – aguardou alguns instantes, enquanto a tarefa era cumprida, e completou:
— Winky, não sei se você conhece a Gina, é uma garotinha ruiva... muito bonita... está sempre alegre... é esperta e inteligente... e adora o delicioso perfume de camélias brancas do brejo... – o rapaz começou a perder a noção de onde estava e porque descrevia a bruxinha tão detalhadamente, mas subitamente se recompôs –, enfim... o Dobby a conhece e poderá mostrá-la para você. – o elfo, ao ser citado, balançou efusivamente a cabeça em sinal afirmativo, mas Winky assumiu um ar de compreensão e de íntima admiração – Ela mora neste endereço que lhe mostrei, e quero que você a vigie dia e noite, e que cuide para que nada de mal lhe aconteça. Se por acaso ela correr algum perigo, quero que você a agarre e aparatem para um lugar seguro imediatamente, vocês entenderam?
Os dois confirmaram com a cabeça, então o jovem continuou:
— Ela não deverá saber de nada, está bem? E quando você tiver que descansar ou trazer relatórios para mim, o Dobby deverá substituí-la, esta claro?
— Sim mestre! – respondeu Winky, enquanto seu companheiro continuava a balançar a cabeça – Mas... posso perguntar-lhe uma coisa, senhor Harry Potter? – diante da afirmativa do bruxo, o elfo prosseguiu – Esta senhora Gina... ela vive no coração do mestre? Ela será a ama de Winky?
O rapaz enrubesceu por um instante, sem saber o que responder e imaginando se eram tão visíveis assim os seus sentimentos. Fixou o olhar no elfo que lhe fizera a pergunta e só então percebeu que, conforme sua própria ordem, Winky abandonara o velho trapo que usava antes e se trajava com um bonito pulôver de lã vermelha, e que se transformara em um pequeno vestido para ela, então, após um instante em que retornou a avaliar a pergunta, com um sorriso tímido e sem graça, respondeu:
— Sim Winky... se tudo der certo... sim, ela também é sua ama...
E, levantando-se, abriu a porta ao mesmo tempo em que vestia a capa da invisibilidade, então com um breve aceno concluiu:
— Estarei na biblioteca, vocês dois podem ir e cumpram a tarefa que lhes passei. – e saiu.


Hagrid havia acabado de alimentar Canino e os demais espécimes, que mantinha no interior da propriedade e que, eventualmente, utilizava em suas aulas de Trato das Criaturas Mágicas, e dirigira-se à sua cabana onde preparava um caldeirão com chá e assava alguns bolinhos, quando se dirigiu a atender à porta onde havia ouvido algumas leves batidas soarem.
— Bom dia, Hagrid! – cumprimentou-o Minerva McGonagall, assim que o meio-gigante escancarou a porta.
— O que? Quem? Quero dizer, o que... – o homem pareceu extremamente confuso ao constatar a figura da diretora parada à sua porta, perdendo temporariamente a coordenação da fala.
— Algum problema, Hagrid? – a mulher, apesar de já estar acostumada com as esquisitices de seu guarda-caças, aparentou ligeira preocupação com sua saúde.
— Sim... digo... não... quero dizer... professora McGonagall? – continuou a gaguejar.
— Muito perspicaz em perceber que sou eu, Rúbeo. – continuou a bruxa, desistindo de tentar entender o grandalhão – Vim apenas avisa-lo que Madame Máxime não virá nos visitar hoje, como havia prometido. Algum problema de morte na família, ou algo parecido.
— Ótimo! Quero dizer... obrigado por me avisar. – controlou-se o outro – Agora, se me dá licença, tenho muito que fazer. – e bateu a porta bruscamente.
A diretora de Hogwarts ainda permaneceu alguns segundos na mesma posição, tentando entender o que se passava com o homem, mas achou que não valeria a pena perder o seu tempo ali e retornou ao castelo, balançando a cabeça negativamente.


A seção reservada da biblioteca de Hogwarts era realmente um campo muito fértil para quem desejasse colher informações não usuais nas disciplinas ensinadas na escola, alias, era tão fértil e farta que, quem não tivesse a direção de sua pesquisa muito bem definida, perderia um tempo enorme até localizar, entre tão variados assuntos, aquilo que realmente lhe interessava.
“Magias essenciais para o dia-a-dia”, era o nome do grosso volume que Harry apanhou na prateleira intitulada “Feitiços para qualquer momento”, folheou-o rapidamente e encontrou títulos estranhos: ‘Como se barbear rapidamente e com eficácia’, ‘Secando suas roupas e deixando-as com aroma de jasmim’ e também uma ‘Poção tradutória’. “Hermione acharia esta particularmente interessante, pois poderia ler livros escritos em qualquer idioma”, pensou com um sorriso.
Em outros livros, encontrou feitiços já seus conhecidos, como o do ‘Patrono’ – incluindo como enviar mensagens e até como se deslocar por pequenas distâncias com eles – da ‘Desilusão’ – que Olho-Tonto já usara nele uma vez, e que dá uma textura transparente e gelatinosa ao corpo – e também alguns mais complexos, como conjurar ‘Chaves de Portal’, executar a proteção do ‘Feitiço Fidelius’ e até dicas para aparatar e desaparatar com eficiência – inclusive com métodos para impedir aparatações e desaparatações não autorizadas.
Como Harry não sabia exatamente de quais feitiços poderia precisar no futuro, decidiu tentar absorver a todos eles e, a cada um que passava a dominar, esforçava-se para utiliza-lo no modo não verbal, chegando também a experimentar realizar alguns sem o uso de sua varinha, lembrando sempre da conversa que tivera com o Sr. Olivaras, porém com pequena eficácia.
O rapaz passou o dia todo ali, pesquisando nos livros e treinando alguns feitiços, parou apenas quando Dobby lhe trouxe um lanche e lhe informou que Winky já se encontrava escondida na casa dos Weasley. Quando já era noite avançada, resolveu retornar ao seu esconderijo para descansar, apesar de sempre utilizar sua capa mágica, a mesma seria completamente desnecessária, pois não percebeu nenhum vestígio do zelador Filch ou de sua gata, nem mesmo os fantasmas que transitavam freqüentemente pelo castelo foram avistados por ele.
Quando chegou ao final da estreita escada que dava acesso aos seus novos aposentos, julgou ter ouvido um som que lhe pareceu familiar, algo como uma nota musical vinda do lado oposto ao depósito onde se alojara.
Seguiu alguns passos na direção em que julgou ser a origem do som, com a varinha bem levantada sobre sua cabeça a iluminar-lhe o caminho. Em um determinado ponto, pareceu-lhe ter avistado uma fraca luz descrever um pequeno arco em uma parede semi-obstruída por restos de entulho, mas ao chegar ao local só pode verificar uma negra parede de pedra natural, onde fora toscamente esculpido o corredor onde estava. Como nenhum vestígio se fez perceber, o já ensonado garoto deu meia volta e dirigiu-se ao seu destino.


Mais um chuvoso dia de férias transcorria para os jovens bruxos que se encontravam na aconchegante residência dos Weasley, como as atividades externas eram praticamente impossíveis com aquele tempo horrível, assim que terminaram o café da manhã cada um se ajeitou como pôde na pequena sala de visitas: Gina isolou-se a um canto enquanto brincava distraidamente com Arnaldo, Hermione apanhou um pesado exemplar de “Estudo Avançado de Transfiguração” para se distrair, enquanto Rony disputava uma acirrada partida de xadrez bruxo com Fleur.
— Não podemos continuar desse jeito! – explodiu inesperadamente a garota de cabelos castanhos e crespos, fazendo com que Gina derrubasse seu bichinho de estimação do colo e que Rony depositasse, assustado, sua rainha defronte a um peão de Fleur, sendo imediatamente destruído por um golpe de machado.
— O que foi? – perguntou a ruivinha, enquanto aninhava o animalzinho assustado em seu colo.
— Desculpem! – começou Hermione – Realmente tenho passado dias muito agradáveis aqui na Toca... – e trocou um rápido sorrisinho com Rony –... mas não podemos continuar com esta inércia, digo, não podemos ficar esperando o Harry aparecer para que reiniciemos o nosso treinamento.
— Trreinamente? – repetiu Fleur, levantando uma sobrancelha.
— Você tem razão, Mione! – apoiou a caçulinha Weasley, levantando-se e depositando o Mini-Pufe sobre um sofá – Podíamos muito bem ir treinando para a próxima batalha!
— Batalhe? – novamente uma expressão de dúvida se estampou no rosto da francesinha.
— E o que iríamos treinar? – indagou o rapaz, aproveitando-se para abandonar o jogo que estava praticamente perdido – Não temos nenhum feitiço novo para aprender...
— Aprranderr? – Fleur perdeu a paciência – Pode saberr o que vocêss estarr faland?
— Tudo bem! – Hermione se dirigiu aos dois colegas de Grifinória – A Fleur é legal e pode até ajudar a gente. – e dirigindo-se a Fleur disse – É que precisamos nos preparar para ajudar o Harry quando ele tiver que enfrentar... Você-Sabe-Quem.
— Do que vocês estão falando? – a voz da Sra. Weasley soou forte do meio da escada onde havia se posicionado ao descer, após a arrumação dos quartos – Vocês são crianças e não devem se meter com essas coisas, não quero mais ouvir nada sobre este assunto, entenderam? – e dirigindo-se com um sorriso radiante para a filha, concluiu – E parabéns pelo seu quarto querida, está uma pérola. Nunca a vi tão caprichosa assim! – e retirou-se para a cozinha.
As duas companheiras de quarto trocaram um olhar de espanto e estranheza, enquanto Fleur se levantava e, ao certificar-se que a sogra se encontrava fora dos limites para ouvir sua voz, disse:
— Oui, talvess eu possa ajudarr vossess, afinal me forrmei em Beauxbatons!


Após mais um exaustivo dia de estudos na Seção Reservada, Harry estava retornando para seus aposentos quando, ao alcançar o corredor final que daria acesso aos seus aposentos, ouviu novamente uma singular nota musical vinda do mesmo lado em que já explorara anteriormente, e desta vez não teve dúvidas: era o canto de uma fênix.
Dirigiu-se ao local já seu conhecido e começou a vasculhar a área circundante à que havia detectado resquícios de uma luz brilhante nas vezes anteriores, estava tão entretido em sua empreitada que acabou assustando-se ao ouvir uma conhecida voz dirigir-se a ele:
— Harry Potter perdeu alguma coisa? – Dobby havia se materializado a seu lado sem que o rapaz percebesse.
— Oh, Dobby! – respondeu surpreso – Sim, acredito que haja alguma coisa escondida por aqui... uma passagem, talvez.
— Magia antiga... magia muito antiga! – observou o elfo.
Harry, realizando uma largo gesto, aproximou a varinha incandescente da parede de pedra nua e viu formar-se um arco luminoso sobre o local onde provavelmente haveria uma passagem, mas o rastro brilhante extinguiu-se logo em seguida. O jovem lembrou-se, então, das palavras de Dumbledore: “A magia sempre deixa vestígios”, estava confirmado – o local escondia uma passagem para uma outra câmara, que deveria possuir um conteúdo muito valioso para ter sido tão bem oculta e assim permanecido durante tanto tempo.
Mas, como descobrir como abrir o portal? Lembrou-se, então, da passagem similar que Voldemort havia criado na caverna em que ele e Dumbledore resgataram o falso horcrux que carregava nos bolsos. “Um preço! Tenho que pagar um preço para entrar!” – pensou o rapaz convicto – “Mas o que seria?” – naquela ocasião o diretor tivera que pagar com sangue para entrar, mas não acreditava que, dentro de uma escola como sempre foi Hogwarts, alguém impusesse uma condição semelhante a esta.
“O que poderia ser exigido em uma escola?” – continuou em suas conjecturas – “O que se faz em uma escola? Ensina-se! Será que é isso que eu devo demonstrar, vontade de ensinar aos outros o que sei?”.
E o bruxo fixou o pensamento o mais que pode em ensinar aos outros, mas nada aconteceu. Andou em círculos pelo estreito corredor. “Também, não tenho nada para ensinar a ninguém, e tenho que ser sincero ou não serei atendido...”.
Dobby permanecia em silêncio a seu lado, olhando ora para seu mestre ora para a rocha, imaginando se poderia ajudar de alguma forma. Como que lendo o pensamento do elfo, Harry mirou seu rosto e disse:
— Dobby, os elfos podem aparatar e desaparatar dentro de Hogwarts, você pode se transportar para o outro lado da rocha?
— Não mestre! – disse o pequeno com as orelhas murchando – Dobby precisa já ter estado do outro lado ou o seu mestre o estar chamando de lá... Dobby não pode ir para um lugar que não sabe se existe.
E, percebendo a expressão de desânimo que tomou conta do rosto de seu amo, completou:
— É uma pena que Harry Potter não consiga atravessar para o outro lado, quanta coisa Harry Potter poderia aprender lá, não é mesmo?
Harry concordou com a cabeça distraidamente, tentando imaginar de que outra forma poderia pagar o pedágio de entrada, passou então a tentar tudo que lhe vinha à mente – como já fizera anteriormente com a Sala Precisa – pensou em esconder-se, em se alimentar, em ir ao banheiro e, num gesto de desespero, experimentou até oferecer alguns galeões à parede de pedra, sentindo-se completamente ridículo, em seguida. Por fim, quando o cansaço dominou-lhe o corpo, desistiu e retirou-se para seus aposentos.


Conforme Fleur havia prometido, os quatro bruxos adolescentes passaram a ocupar as horas disponíveis do dia para treinarem alguns feitiços que a recém-casada havia aprendido na sua estadia na Beauxbatons. Como a Sra. Weasley se mostrara contra tal entretenimento, o quarteto passou a utilizar o quarto de Fleur e Gui para a empreitada, por ser o único local da casa que a matriarca evitava inspecionar e, aparentemente, essa aproximação dos filhos e de Hermione com a nora a deixava bastante satisfeita, pois fazia com que a jovem se habituasse cada vez mais à nova família. Aliás, a francesinha havia se tornado a menina dos olhos da bondosa senhora, depois que observara o grau de dedicação e ternura que despendia ao marido, mesmo depois que fora parcialmente desfigurado por Greyback e, nestes primeiros dias de lua cheia depois do ocorrido, verificara o esforço da menina em controlar os ímpetos selvagens que o rapaz passara a demonstrar desde então.
Molly Weasley também não tinha motivos para ralhar com Gina e muito menos com a sua colega de quarto, principalmente porque o dormitório das garotas estava se tornando o lugar mais organizado da casa e, também, porque a agradava muito observar a maneira como o filho caçula e a sua hóspede, filha de pais trouxas, estavam se tornando próximos. Sempre que podia, ela procurava enaltecer as qualidades do filho para a garota e vice-versa, e não se cansava de elogiar a ruivinha pelos seus recentes dotes domésticos, referindo-se à arrumação do quarto.
Quanto a isto, em certo momento após um dos inúmeros comentários da mãe sobre o assunto, a garota dirigiu-se à amiga, aos cochichos:
— Obrigado por livrar minha cara Mione! Não tenho tido paciência para arrumar minhas coisas, mas prometo que vou compensa-la.
— Do que está falando? – questionou a outra – Pelo que sei é você que está fazendo todo o serviço, mas pode deixar que das minhas coisas eu cuido, como sempre fiz. – disse, frisando bem a última parte.
— Está tirando uma com a minha cara? – alterou-se a espevitada bruxinha, mas antes que pudessem dar seqüência à conversa, foram interrompidas pelos gêmeos que vieram filar o almoço.
Gina não retornou ao assunto, mas ficou muito intrigada com o que estava acontecendo. Sabia que Hermione não era do tipo de inventar uma estória daquelas e que também não teria tempo para executar tal tarefa, uma vez que continuava com as fugidinhas com seu irmão, Fleur também não se daria ao trabalho de deixar o quarto da cunhada mais organizado que o seu próprio, e Rony mal conseguia vestir seu próprio suéter sem desvira-lo do avesso. Aquilo estava realmente a deixando muito intrigada, e sua curiosidade entrou em órbita quando, ao retornar ao dormitório naquela noite para dormir, encontrou um caprichado buquê de camélias brancas do brejo sobre o seu travesseiro.


O Menino-Que-Sobreviveu acordou em sua precária, porém confortável, cama de armar que havia sido montada pelos elfos em sua nova habitação, apanhou os óculos que havia deixado sobre um livro depositado ao chão e permaneceu por mais alguns instantes deitado, com as mãos entrecruzadas atrás de sua cabeça, apoiando-a. Seu pensamento era o mesmo de quando fora dormir na noite anterior: descobrir uma maneira de atravessar o suposto portal que existiria no lado oposto do corredor em que se localizava sua atual moradia.
Por algum motivo que desconhecia, Harry tinha certeza que alguma coisa de muito importante lhe seria revelada se tivesse êxito nesta empreitada, porém, sua atual prioridade era a de aprender o máximo possível das magias e feitiços armazenados nos livros da Seção Reservada da Biblioteca de Hogwarts.
E, quanto a isto, se encontrava bastante satisfeito, havia aprendido muita coisa neste período em que se encontrava clandestinamente instalado nas dependências do castelo, e precisava aprender muito mais. “Hermione ficaria orgulhosa de meu empenho.” – pensou ele, satisfeito. Repentinamente, como se estivesse sonhando ou ouvindo uma conversa que acontecia a uma distância muito grande dali, lembrou-se das palavras que seu amigo elfo lhe proferira na noite anterior: “É uma pena que Harry Potter não consiga atravessar para o outro lado, quanta coisa Harry Potter poderia aprender lá, não é mesmo?”, e tornou a repetir a frase em sua mente, desta vez frisando um pequeno trecho: “... quanta coisa Harry Potter poderia aprender lá...”.
Era isso! Ele não tinha que ensinar ou dar seu sangue ou qualquer outro ato mais esdrúxulo que pudesse vir a inventar, ele queria o que todo aluno que vinha para Hogwarts deveria querer, desde os tempos mais remotos: Ele queria aprender!
Levantou-se lépido de seu leito e, apanhando sua varinha que havia pernoitado no mesmo local que seus óculos, saiu afoito para o corredor, deixando Dobby, que se materializara há poucos instantes com uma bandeja com o café da manhã, completamente zonzo com a inesperada atitude do rapaz.
Ao chegar em frente ao local em que já perdera muito tempo tentando decifrar seu enigma, parou ofegante e fixou o pensamento naquilo que julgara ser a resposta da charada: todo o seu pensamento se voltou para a intenção simples e clara de aprender.
Então, lentamente a imagem da pedra nua à sua frente começou a tremular como uma bandeira ao vento, e o tom negro da rocha começou a se modificar até que os olhos do rapaz distinguiram a figura de uma ostentosa porta de madeira maciça incrustada sob um magnífico arco de pedra toscamente esculpido e, na face da porta havia um emblema entalhado em alto relevo que Harry conhecia muito bem: era o brasão de Godric Gryffindor.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.