O foragido.
ERA NOITE, O GAROTO ALTO E LOURO, de puro sangue bruxo, ocupava um cômodo escuro e úmido localizado nos porões da propriedade que Lord Voldemort confiscara como base central de seu pretenso reinado das trevas, apesar de fazer parte dos alicerces da antiga construção, seu acesso se fazia por uma porta localizada na parte externa da edificação. Não era um prisioneiro, não no sentido exato da palavra, mas sabia que não poderia sair daquele local sem a permissão expressa de seu terrível anfitrião.
Já não tinha o mesmo ar imponente e superior que herdara do pai, atualmente recluso em Azkaban, nem tampouco se orgulhava da marca negra que carregava no braço como fizera questão de ostentar até poucos dias atrás. Draco Malfoy, que se encontrava sentado a um velho colchão todo esfarrapado e amparado por um estrado em estado precário, descobrira da pior maneira possível, os inconvenientes de se tornar um servidor do Lord das Trevas, os infortúnios que se acometiam àqueles que se tornavam parte do seleto grupo denominado Comensais da Morte.
O que fazia naquele local nem ele próprio saberia responder, o que ouvira de outros servos do Lorde Negro que, vez ou outra o procuravam para atormenta-lo por não ter tido a coragem necessária para exterminar o velho diretor de Hogwarts com suas próprias mãos, é que a intenção se seu mestre era a de entrega-lo a Fenrir Lobo Greyback, que o transformaria em mais um integrante de seu esquadrão de lobisomens. E esta idéia lhe ocasionava um calafrio de medo que percorria desde a sola dos pés até a ponta de seus dourados fios de cabelo:
“Não, isso não poderia acontecer!”, pensava ele, “Qualquer coisa, menos isto! Até a morte seria mais desejável...”.
Entretanto, o que o jovem Malfoy tinha certeza é que, se conseguira alguma sobrevida após ter entrado no desagrado de seu mestre, foi porque Severo Snape, com certeza, interferira em seu favor. O seu ex-professor de Poções e Defesa Contra As Artes Das Trevas sempre manifestara sua simpatia pelo jovem, tendo inclusive feito um juramento perante a mãe de Draco, que levaria a cabo a tarefa do garoto em Hogwarts caso este não pudesse cumpri-la até o fim, e foi o que realmente ocorreu, com Snape matando o diretor Dumbledore em seu lugar.
O ex-aluno da Sonserina ouviu barulho de passos do lado de fora de sua cela, mas não estranhou, pois, apesar de não estar publicamente encarcerado, uma sentinela permanecia diuturnamente à sua entrada a fim de evitar alguma tentativa de deserção. Porém, por entre as frestas da madeira antiga e desgastada de que era construída a porta, percebeu um fraco raio de luz vermelha ser emitido e logo em seguida ouviu o baque surdo de um corpo caindo, provavelmente estuporado.
Sacou rapidamente de sua varinha, que não lhe havia sido tomada devido ao pequeno efeito que poderia ter contra os terríveis comensais que freqüentavam o local e lhe davam guarda, e a manteve em riste defronte ao rosto, tentando imaginar o que poderia estar ocorrendo do outro lado.
Então a porta escancarou-se bruscamente e um vulto negro e encapuzado se postou à soleira da porta, deu uma breve analisada ao seu redor até fixar o olhar no jovem bruxo que permanecia sentado e segurando tremulo o objeto mágico. Com um gesto da varinha, que também trazia empunhada, o desconhecido convocou um pequeno caldeirão de ferro que jazia a um canto e, ao apanha-lo em uma das mãos, girou a varinha sobre o mesmo murmurando algumas palavras ininteligíveis, em seguida atirou o objeto aos pés do rapaz e, girando sobre os calcanhares, afastou-se rapidamente do lugar, com sua longa capa enfunando às suas costas.
Draco teve um breve momento de letargia, tentando assimilar a estranha cena que ali se passara, então se levantou e deu um passo em direção à porta, de onde pode avistar os pés de seu provável carcereiro estirados ao chão. Um novo calafrio percorreu sua espinha, imaginando o que lhe aconteceria se seu carrasco o julgasse responsável pelo ataque ao comensal. Então, lembrou-se do caldeirão que lhe fora atirado pelo desconhecido visitante e abaixou-se, meio indeciso, para apanha-lo.
Porém, assim que sua mão firmou-se numa das abas do objeto, sentiu um forte puxão no umbigo e o cômodo todo começou a girar ao seu redor, repentinamente percebeu que não se encontrava mais em seu cárcere, estava viajando pelo espaço noturno a uma grande velocidade.
Permaneceu assim, agarrado à estranha chave de portal em que o desconhecido vulto convertera aquele pequeno caldeirão, por poucos segundos, mas que a ele pareceu uma eternidade uma vez que não sabia o seu destino e tampouco a intenções de seu seqüestrador.
O surpreso rapaz só parou de girar ao tocar o solo bruscamente, de barriga para baixo e com um urro de dor, o pequeno caldeirão quicou no chão e voou longe com um ribombar característico de ferro. Draco levantou-se o mais rápido que pôde e, mantendo ainda a varinha empunhada, pôs-se a olhar ao seu redor a fim de descobrir qual era o seu paradeiro e se havia alguma pista do porque fora transportado até ali.
— Lumus! – murmurou em meio à intensa escuridão que dominava o lugar, fazendo uma forte luz emanar da ponta de sua varinha, e pôs-se a vasculhar a área.
O jovem bruxo, pelo que pode observar, encontrava-se em meio a uma sala de dimensões amplas, e decorada com abundante variedade de tapeçarias e móveis de fino acabamento que, não fora pelo excessivo acúmulo de pó e a farta distribuição de teias de aranha, dir-se-ia que se tratava da moradia de pessoas de uma classe social muito elevada, porém devido ao estado de conservação lastimável apresentado, o mais provável de se imaginar era que já há um bom tempo estes supostos aristocratas haviam abandonado o imóvel.
Com toda certeza aquele era o cômodo principal da construção, pois, no lado que provavelmente seria a frente do casarão, via-se uma majestosa porta de duas folhas entalhada em madeira maciça e que era ladeada por duas magníficas janelas tipo balcão, protegidas por encardidas cortinas de seda, e que, a exemplo da entrada, encontravam-se lacradas por diversas tábuas dispostas longitudinalmente, no extremo oposto via-se uma escadaria que após o primeiro lance de degraus se bifurcava em direções opostas, provavelmente dando acesso aos quartos no pavimento superior, e, em uma das laterais do aposento, havia uma grande lareira, que há muito não era utilizada, e que ostentava um imponente brasão exposto em sua marquise.
O recente fugitivo aproximou-se do objeto iluminando-o com a varinha incandescente, e observou que na base do brasão havia uma palavra em alto relevo, e que deveria identificar o nome da família a qual pertencia aquele lugar, com um forte assopro o rapaz retirou uma parte da camada de pó que ali se depositara ao longo dos anos e pode ler, escrita caprichosamente no emblema, a palavra "Prince".
— Como ele está? – indagou Lupin ao seu jovem parceiro, assim que aparataram no quintal d'A Toca.
Como Rony lhe lançasse um olhar meio abobado em resposta, o primeiro tornou a insistir:
— Ora, vamos! Não sou nenhum tolo como devem imaginar, respeito a intenção do Harry de ficar invisível e não querer falar comigo, mas acho que você deveria retribuir a confiança que tenho depositado em você!
— Ele está bem! - respondeu o rapaz constrangido - Espero que entenda a situação dele, todos querem trata-lo como a um bebê, protege-lo para que nada lhe aconteça, mas ele já provou diversas vezes que, no momento, ele é o grande rival de Você-Sabe-Quem, se não fosse pelo Harry acho que todo o mundo bruxo já estaria subjugado pelas forças das trevas. - concluiu em tom de desabafo.
— Se não fosse por ele... e por seus amigos, diga-se de passagem. – O homem parou de andar para olhar fixamente para o garoto – Ouça bem, Rony, isto serve para o Harry e para todos os outros: vocês podem contar comigo para qualquer coisa que precisarem, sei que esta batalha está mais na mão de vocês do que na nossa. Reconheço que alguns ainda teimam em trata-los como crianças que não devem saber de nada, mas acredite-me, eu não faço mais parte deste grupo. – parou um instante, pensativo – Ficarei muito magoado se não puder estar ao lado de vocês quando precisarem agir.
Parou de falar ao perceber que o Sr. e Sra. Weasley saíam da casa e se aproximavam ávidos por notícias.
— Fique tranqüilo! – sussurrou o jovem – Vou dizer aos outros que você é um dos nossos.
Em seguida foram soterrados pela enxurrada de perguntas de praticamente todos os bruxos e bruxas que os aguardavam.
— Calma! Calma! – Lupin tentou controlar a situação, elevando ligeiramente o tom de voz – Não o vimos, mas sabemos que ele passou pelo local que Rony nos levou, e aparentemente está tudo bem com ele. Só nos resta agora esperar que ele faça um contato.
Os presentes se dividiram em pequenos grupos e continuaram a dar uns aos outros sua própria opinião sobre o assunto, exceto por Hermione e Gina que puxaram o jovem bruxo ruivo a um canto.
— Vocês foram até a casa dos pais dele, não é? – a garota de cabelos castanhos indagou, enquanto acariciava distraidamente um dos braços do rapaz, que assentiu com a cabeça.
— Como sabem que ele está bem? – Gina estava começando a ficar aflita.
Rony pensou em dar-lhe uma resposta atravessada como: “Por que eu deveria lhe dizer algo se você fica por aí escondendo as coisas de mim?”, mas a expressão da irmã tocou-lhe o coração e, abaixando a voz de forma que apenas as duas pudessem ouvi-lo, disse:
— Ele ainda estava lá, oculto pela sua capa! Não se preocupem, tudo correrá bem... e... outra coisa: podemos confiar no Lupin, ele está conosco!
Se o garoto tivesse dito uma frase de efeito como esta há alguns dias atrás, Hermione o teria questionado imediatamente, querendo saber em que fatos ele se baseava para tal afirmação, mas agora, ela apenas lhe lançou um sorriso terno e abraçou-se a um lado de seu corpo, enquanto a pequena ruiva imitava o seu gesto do outro lado.
Eram dez horas da noite de domingo, e Hagrid caminhava de um lado a outro defronte aos portões de entrada de Hogwarts, o céu estava limpo e a lua estava na ultima fase de seu crescente, o que não agradava ao grandalhão, visto que toda a área ao seu redor encontrava-se muito bem iluminada e, uma vez que pretendia contrabandear o jovem amigo para dentro da propriedade, quanto menos se pudesse ver, menos teria para se explicar.
Um leve rumor de passos tirou o meio-gigante de seus pensamentos, como nada se pudesse enxergar que explicasse tal ruído, o homenzarrão alertou:
— Quem está aí? É você Harry?
— Sim Hagrid, sou eu! – respondeu o rapaz descobrindo a cabeça de sua capa da invisibilidade, já se encontrava defronte aos portões de entrada do castelo.
— Vamos logo! – disse o outro, realizando um largo gesto com o guarda-chuva que trazia empunhado em uma das mãos e, com a outra, puxando uma das folhas do portão até abrir uma pequena fresta por onde o garoto esgueirou-se para dentro.
Após o guardião das chaves de Hogwarts repetir o grotesco gesto, que aparentemente evitava a entrada de visitas indesejáveis na propriedade, dirigiu-se novamente ao jovem, demonstrando nervosismo:
— Continue coberto com a capa! Não vou poder acompanha-lo ou chamaremos muita atenção. – orientou – Ouça bem, Harry: conheço um lugar perfeito para que fique sem que alguém desconfie, quando eu era aluno escondia o Aragogue lá... – pareceu que uma lágrima iria rolar pelo emaranhado de cabelos e pêlos.
— Mas isto não importa – continuou –, siga pelo corredor da masmorra da aula de poções do Slughorn até o final e, atrás da estátua da velha Bruxa Vidente, existe uma outra escadaria que desce para os antigos alicerces do castelo. A área foi proibida pelo perigo de desmoronamento, mas é preciso muito mais que isso para afetar a estrutura deste castelo... ah sim, muito resistente... – percebeu que estava se deixando levar novamente pela conversa – Enfim, lá embaixo encontrará uma sala que servia de depósito, você vai ter bastante trabalho para arrumar tudo... mas lhe servirá...
— Obrigado Hagrid! – disse o bruxinho dando-lhe um forte abraço e, após se cobrir novamente com a capa, seguiu em direção ao Castelo.
— Espere um pouco! – chamou seu benfeitor, retirando um envelope dos bolsos – A pequena Gina mandou isto para você!
— O que é? – perguntou meio sem graça, apanhando o envelope das mãos do outro, era evidente que se tratava de um bilhete, mas Harry achou que ficaria mais estranho ainda se apenas recebesse a encomenda sem nenhum questionamento.
— É o endereço do fiel do segredo da casa dos Weasley! Leia e destrua-o imediatamente, Harry! Isto é muito importante!
O rapaz fez um gesto afirmativo com a cabeça e, após guardar cuidadosamente o bilhete sob a capa de invisibilidade, dirigiu-se decididamente até a entrada principal do castelo e, após subir o pequeno lance de escadas, abriu cuidadosamente a porta e entrou. Olhou lentamente ao seu redor realizando um breve reconhecimento da área, o grande hall de entrada que dava acesso às escadarias e ao salão principal permanecia absolutamente igual à sua última estada na escola, à exceção de que a iluminação era bastante deficiente, com apenas alguns raros castiçais apresentando velas acesas, provavelmente devido à ausência de alunos e ao avançado da hora.
Harry seguiu o trajeto que lhe havia sido designado por Hagrid e, ao passar defronte a sala de aula de Poções, não pôde deixar de lembrar de seu antigo desafeto Severo Snape, que por tanto tempo lecionara aquela matéria. O rapaz havia passado os últimos dias na casa que herdara de seu padrinho, mesmo sabendo que os integrantes da Ordem da Fênix haviam abandonado o local devido o assassino de Dumbledore conhecer seus segredos, na falsa esperança de vir a encontrar-se com o traidor e dar-lhe o merecido castigo.
“Eu não teria a mínima chance!” – apesar do rancor e do sentimento de vingança que dominava o seu peito, sabia que o pensamento em seu íntimo estava correto – “Por isso preciso estar em Hogwarts, tenho que me preparar para a batalha que me aguarda!”.
Seus devaneios o acompanharam até chegar na estátua da velha Bruxa Vidente, como havia sido orientado, circulou o alto pedestal que lhe servia de base e deparou com uma passagem incrustada na pedra do monumento, do tamanho de uma portinhola, onde caberia, com pequeno esforço, uma pessoa de estatura normal. Achou interessante que durante os seis anos em que freqüentou o local, nunca tivera a curiosidade de se aventurar por ali, nem ele ou qualquer outro que conhecera, nem mesmo os gêmeos Weasley ou os antigos criadores do Mapa do Maroto. Era mais impressionante ainda, que Hagrid tivesse conseguido passar por aquela abertura, devido suas proporções.
Logo após o limiar da entrada, iniciava-se uma série de degraus esculpidos na pedra formando um ângulo bastante íngreme em direção a um provável pavimento inferior, e que descrevia um pequeno semicírculo até atingir um acanhado corredor onde a escada desembocava. A escuridão era total e, não fora por ter sua varinha a iluminar o caminho, não teria identificado os resquícios de entulho que se encontrava por toda à parte, provavelmente com origem em pequenos desabamentos ocorridos no passado.
— Dobby! Winky! – convocou o rapaz assim que atingiu o piso inferior.
Os dois se materializaram imediatamente à sua frente, mas, antes que tivessem tempo de iniciar a costumeira reverência, o seu mestre já foi distribuindo-lhes a tarefa.
— Vamos procurar por uma masmorra ou depósito, onde eu possa me instalar por algum tempo.
E os três passaram imediatamente a vasculhar a área, cada um seguindo em uma direção diferente. Era um corredor estreito e curto e, o que lhe dava a falsa impressão de ser mais extenso, eram as inúmeras colunas de pedra que serviam de sustentação para a construção existente mais acima, aliada a grandes montes de material de demolição distribuído aleatoriamente, incluindo blocos de pedra e vigas de madeira.
Enquanto seguia pela melhor trilha que podia distinguir entre os escombros, o jovem mantinha a varinha levantada acima da cabeça a fim de melhor iluminar a área à sua volta, forçando os olhos a fim de descobrir alguma porta ou entrada incrustada na rocha negra que revestia as paredes ali, pertencentes aos alicerces do castelo. Quando se encontrava no último lance do caminho por ele escolhido, julgou ter avistado algumas centelhas em uma das paredes à sua esquerda, mas ao esforçar os olhos tentando descobrir a origem das faíscas, sua atenção foi desviada pelo chamado do elfo:
— Dobby encontrou! Mestre Harry Potter, Dobby encontrou um calabouço! – guinchou o elfo, aparentemente bastante satisfeito com seu feito.
Após retornar pelo caminho que já havia percorrido, o bruxo chegou até o local onde as duas pequenas criaturas o aguardavam, logo à frente do local de sua descoberta. Harry não perdeu tempo e atravessou uma grande porta de madeira em forma de arco que pendia inclinada para dentro do aposento, precariamente sustentada por pesadas dobradiças de aço forjado, bastante danificadas pela ferrugem, o ambiente interno era desolador, antigos móveis em péssimo estado de conservação cercados de prateleiras formadas por espessas tábuas em madeira lavrada de forma bastante rudimentar. Aparentemente ali fora, um dia, um depósito de materiais para poções ou coisa parecida, apesar de apresentar aproximadamente quatro vezes o tamanho do que era utilizado atualmente em um dos pavimentos acima. Não havia nada de interessante além dos móveis, apenas um ou outro caldeirão trincado e restos de alguns outros tantos aparelhos como ampulhetas, bússolas e guilhotinas que não teriam outro destino a não ser o lixo.
— Não tem mais nenhuma sala, mestre. Winky já olhou tudo! – anunciou a pequena elfo por sobre os ombros de Dobby.
— Então esta vai ter de servir... – disse Harry, levantando uma cadeira que jazia atravessada ao centro do cômodo e, imediatamente os dois pequenos seres mágicos seguiram seu exemplo e iniciaram a difícil tarefa de tornar aquele local habitável.
Um novo dia se iniciava para os integrantes e hóspedes da família Weasley, desta vez, porém, a manhã começou bastante chuvosa apesar da temperatura ainda se manter agradável. Gina havia se levantado um pouco mais tarde que de costume, talvez porque nos últimos dias sua companheira de quarto estava se recolhendo bem depois que a maioria dos moradores da casa: ela e Rony ficavam “conversando” no alpendre da moradia após os demais se recolherem – o casal não assumira que haviam se “acertado” e, sempre que Gina tentava arrancar uma confissão de um dos dois, eles se faziam de desentendidos – e a ruivinha só conseguia dormir quando a amiga se deitava.
Enquanto descia as escadas em direção à cozinha, a menina ia saboreando o delicioso aroma do desjejum preparado por sua mãe e, com toda certeza, auxiliada por Fleur que, em contrário ao que a maioria dos envolvidos nos assuntos familiares achava, a moça havia se mostrado muito prendada e prestativa no que se referia aos afazeres do dia-a-dia.
— Bom dia, Gina querida! – saudou-lhe a mãe enquanto a garota se sentava à mesa onde já se encontravam Fleur e Tonks, esta última havia ficado como hóspede desde que o rapaz a quem deveria vigiar havia desaparecido – Espero que tenha arrumado seu quarto antes de descer, tenho andado muito atarefada para também ter que arcar com esta responsabilidade. – a matriarca aproveitou para dizer.
— Tudo bem, mamãe! – respondeu, lembrando da bagunça que havia deixado para trás – O papai e o Gui já foram trabalhar? – tentou desviar o assunto.
— Sim, Fred e Jorge também. – respondeu Molly, caindo na armadilha – Mas, onde estão Rony e Hermione? Alguém andou distribuindo a poção do sono nesta casa? – continuou, enquanto fazia um gesto com a varinha que fez com que uma sineta tocasse estridente no pavimento superior. Gina e Fleur trocaram um breve e significativo olhar.
Enquanto os presentes seguiam a se servir dos quitutes espalhados pela mesa e ouvindo, logo acima, os ruídos de movimentação dos remanescentes do mundo dos sonhos, uma grande coruja-buraqueira adentrou pela janela e pousou suavemente ao lado de Molly, estendendo-lhe uma das patas onde havia um exemplar do Profeta Diário. A senhora depositou uma moeda no porta-níqueis localizado na outra pata e atirou o jornal sobre a mesa enquanto o animal levantava vôo novamente, retirando-se.
Fleur apanhou o tablóide distraidamente, enquanto os dois jovens retardatários desciam com grande estrépito pelas escadas a fim de saborear o café da manhã.
— Oh mon dieu! – a belíssima descendente de veelas soltou um grito agudo de susto.
— O que houve, querida? – preocupou-se a Sra. Weasley, também assustada.
Gina, Tonks e Hermione que a viram apertando o periódico nas mãos trêmulas, se colocaram à sua volta a fim de também lerem a manchete da primeira página.
— Quem foi que morreu desta vez? – perguntou Rony, com a sua habitual falta de tato, sentando no outro extremo da mesa e mordiscando um naco de pão.
— O casal Bentley! – respondeu Hermione fuzilando-o com o olhar – Segundo o jornal, os dois foram assassinados no quarto de sua casa na França pela maldição imperdoável da morte, a única sobrevivente foi a sua filha...
— Michelle! Oh, pobrrezin... – continuou lamentando-se Fleur – Erram amigues de mon famille, erra dell o bichin q falei outrro dia...
— Pelo menos os comensais estão matando pessoas em outros países agora, talvez nos deixem...
— Ronald Weasley! – as vozes de Hermione e da Sra. Weasley soaram em uníssono, interrompendo a narrativa do rapaz.
— O que foi? É verdade não é? – o ruivo tentou argumentar.
— Sim, mas tenha mais sensibilidade meu filho, não vê que eram amigos da Fleur? – ensinou-lhe a mãe, enquanto Hermione balançava negativamente a cabeça em sinal de desaprovação.
— Oh! – Fleur pareceu lembrar-se de algo – Madame Máxime erra madrinhe de Michelle, com cerrtezz irrá cuidarr dell.
— Bentley! – exclamou Hermione intrigada – Que nome estranho para uma família francesa!
— Oh, elles non erram française, erram ingless há muito tempe em Paris, Michelle frequentave a Beauxbatons como nóss. – explicou a lourinha entre alguns suspiros.
— Bem, talvez seja interessante reunirmos a Ordem para decidirmos que caminho tomar neste caso. – Tonks se manifestou pela primeira vez, levantando-se.
— Puxa, pensei que fosse ficar mais tempo conosco. – lamentou-se Gina – E o professor Lupin? – lembrou-se a menina – Porque não ficou aqui também?
Houve um breve momento de silêncio, então a metamorfamaga respondeu, apontando com um dedo para o céu.
— Lua cheia...
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