É o fim, Rony!



Hermione tentou agir normalmente, porém sua cabeça estava a mil. O sonho havia sido muito real e ela não conseguia parar de pensar que aquilo poderia ser uma mensagem de Snape, mas como isto poderia acontecer? Por outro lado ele revelou informações que ela desconhecia e sequer fazia idéia, então como poderia “sonhar” com elas, estava muito confusa. Mesmo confusa Hermione não ficaria de braços cruzados. No dia seguinte à reunião, quando McGonagal entrou em contato com Harry, Hermione pediu-lhe se poderia verificar todos os relatórios feitos pelos membros da ordem da Fênix no ano anterior “para checar se algum detalhe passou despercebido” – acrescentou vendo o olhar de interrogação da Diretora. Achou melhor não pedir apenas os realizados por Snape para não levantar suspeitas. No outro dia já havia começado a ler os relatórios.

Rony andava reclamando que ela estava muito distante, ela sabia; algo aconteceu depois daquele sonho. Algo havia acordado, algo que nem ela sabia que existia. Não sentia mais vontade de ficar com Rony, ele não causava mais aqueles arrepios que ela sentia quando se tocavam, mesmo toques inocentes de antes de serem namorados. Lembrou-se do primeiro beijo deles e definitivamente faltaram as borboletas voando pelo estômago.

Por outro lado havia sonhado com Snape nas duas noites que se seguiram ao primeiro sonho, esses, no entanto eram diferentes, não pareciam conter nada de real e neles ela sempre se via com Snape em uma situação romântica e quando se lembrava deles sentia seu coração disparar e as faces corarem. Algumas vezes, enquanto lia os relatórios (que como Tonks sempre dizia eram excelentes para tratar insônia) se pegava olhando para o vazio e pensando naqueles sonhos românticos. Hermione não entendia o que estava acontecendo com ela. Ou melhor, entendia. Só não podia acreditar.

Hermione sempre foi racional e não podia negar os fatos. Apenas em seu primeiro ano deixou-se levar pelas impressões erradas que o Professor Snape fazia questão de deixar. Nos anos seguintes ela passou a admirá-lo, é claro que ele era antipático e parcial, nunca havia dado a Hermione um ponto sequer por suas respostas ou poções sempre perfeitas. Mas ela não podia negar que a dedicação dele à matéria que ensinava era algo belo e isto a encantava. Hermione sempre soube através dos outros professores que ele a elogiava e sempre adorou saber disto, apesar de nunca ter contado aos seus amigos sobre esta “fraqueza” do professor de poções. Desde que Voldemort retornou ela acreditou que se Dumbledore confiava em Snape eles deveriam acreditar também. Talvez todos estes sentimentos junto à visão dele sozinho e sofrendo naquele estranho sonho a tenham feito perceber o verdadeiro sentimento que nutria por seu ex-professor. Balançou a cabeça, não queria pensar nisto agora, mais tarde talvez...

Havia lido grande parte dos relatórios feitos por Snape no ano anterior e concluiu que ele não queria que ninguém soubesse o que fazia. Seus relatórios eram extremamente detalhados, mas não tinham nenhum conteúdo, simplesmente falavam nada sobre coisa alguma. Não parecia ter sido escrito por alguém prático como o professor Snape. Provavelmente os membros da ordem da Fênix achavam que Snape era apenas enfadonho e prolixo. Hermione não se deixou enganar, percebeu a intenção dele: as informações relevantes que conseguia passava diretamente para Dumbledore e então produzia os relatórios para desviar a atenção dos colegas.

Nos dias que seguiram a reunião deram uma arrumada na casa para que depois ela, Harry e Rony pudessem retornar. O tempo que sobrava Harry e Gina aproveitavam para namorar muito e isto deixava Rony ainda mais irritado, já que Hermione continuava distante dele.

No sábado foram cedo para o beco diagonal. Lá encontraram a guarda pessoal de Harry, formada por Quim, Tonks e Hagrid. Foram ao Gringotes, à Floreios e Borrões – compraram apenas o material de Gina – e rapidamente na loja de animais. Hermione fez questão de passar na botica, simplesmente algo lhe dizia que precisava entrar lá. Os garotos retornaram para a loja dos gêmeos com Hagrid enquanto os outros foram com Hermione. A garota caminhou até o fundo da loja, num local menos iluminado, não sabia o que estava procurando, apenas sabia que deveria ir lá. “Seria intuição?” – perguntou-se balançando a cabeça negativamente em resposta a sua pergunta muda, não acreditava nisto, mas o que tinha a perder?

Estava olhando alguns frascos quando sentiu que alguém se aproximava, mas antes que pudesse se mover ouviu aquela voz igual a de seu sonho, muito próxima, falando em um sussurro urgente – “não se vire, aja naturalmente” – Isto era quase impossível, pois ao ouvir a voz dele tão perto de si seu coração acelerou, sua respiração ficou mais superficial e ofegante e quando sentiu o toque dele um arrepio percorreu todo o seu corpo, seu rosto ficou muito quente e ela chegou a fechar os olhos por um segundo. Porém não se mexeu, ele colocou algo na mão dela e antes que ela pudesse olhá-lo ou dizer-lhe algo, ele desaparatou. Ela ficou parada por um minuto inteiro tentando controlar a respiração e raciocinar, então retornou para frente da loja, o pequeno pedaço de pergaminho muito bem guardado. Murmurando uma desculpa saiu, seguindo com todos para a loja dos gêmeos e de lá para a Toca.

Hermione aguardou um momento em que estivesse sozinha para ler o bilhete de Snape. Dizia apenas “não foi um sonho, preciso falar com você de novo, agora pessoalmente, me avise onde e quando”. Hermione estava assustada, então não havia sido sonho, mas como poderia ter feito contato daquela forma? E agora ele queria encontra-se com ela, seu coração disparou – pensou “deixe de besteiras, Hermione ele apenas quer aceitar a ajuda que você ofereceu”. Mas mesmo que ela pudesse encontrar um local seguro para se encontrarem como faria para avisá-lo. “Merlim! Que confusão que estou me metendo”. Ela queimou o bilhete e desceu para ajudar a Srª Weasley no almoço, não podia levantar suspeitas.

Foi difícil para Hermione disfarçar o quanto estava nervosa, não conseguia prestar atenção no que fazia e por duas vezes quase provocou acidentes. Quando Harry, Rony e Gina entraram na cozinha conversando animadamente e Rony tentou lhe dar um beijo, ela se assustou e se afastou instintivamente. Ao perceber o que tinha feito sorriu encabulada e lhe deu um selinho murmurando uma desculpa. Hermione estava se sentindo muito desconfortável e depois daquilo teve certeza de que não poderia mais continuar a namorar Rony. Em poucos segundos passou pela sua cabeça tudo o que vinha sentindo nos últimos dias. E hoje, como ficou nervosa com a simples proximidade de Snape e o arrepio que sentiu ao leve toque das mãos dele. Eram sensações semelhantes às que tinha por Rony no ano anterior, porém muito mais intensas. Ela teve que assumir: estava apaixonada pelo seu ex-Professor de poções, estava apaixonada por Severo Snape! Era fato, não havia mais como negar. Teve que duplicar seu autocontrole para parecer normal aos olhos dos amigos. Enganar Harry e Gina não foi difícil, mas Rony estava desconfiado; e ela teria que conversar com ele, logo. Mas o que diria? Como justificar que após uma semana de namoro ela não mais queria continuar com ele. “Mais encrencas” – suspirou. Teria que dar um jeito.

Terminou rápido de comer, afinal não tinha nenhum apetite, deu uma desculpa qualquer e subiu para o quarto que dividia com Gina. Precisava de tempo para pensar. Não queria magoar Rony, mas enganá-lo não era uma opção. Vinte minutos depois Gina entrou no quarto oferecendo ajuda. Hermione disse que apenas precisava ficar um pouco sozinha para pensar. Saiu levando alguns pergaminhos, após Gina concordar um pouco assustada.
Foi andando em direção a um lago um pouco afastado, sabia que qualquer um poderia encontrá-la, mas acreditava que Gina impediria Rony de ir atrás dela.

O sol já havia se posto e as primeiras estrelas começavam a aparecer, quando percebeu que estava com frio e achou já ser hora de voltar para a Toca. Tinha tomado algumas decisões.

Encontrou todos sentados à mesa para jantar. Rony estava emburrado com Gina, Molly e Artur a olhavam com preocupação. Obrigou-se a comer um pouco, somente para agradar a Srª Weasley.

Assim que terminaram de jantar e de ajudar a Srª Weasley com a louça, Hermione chamou Rony.

-- Preciso falar com você – falou séria, mas tentando transparecer uma tranqüilidade que não sentia.

-- Vamos ao meu quarto – disse um pouco mais alto para que Harry e Gina que estavam próximos pudessem ouvir e saber que não deveriam interromper a conversa. Subiram sem trocar uma palavra sequer, Hermione entrou primeiro e Rony fechou a porta ao passar.

-- Mione, o que está acontecendo? Você está muito estranha – tentava manter a voz calma e firme, mas ela pode perceber o quanto ele estava nervoso.

Ela havia ensaiado o que dizer, mas só agora com ele ali tão próximo, podia perceber o quanto isto seria difícil. Virou-se lentamente para ele fixou seu olhar por alguns segundos, porém quando começou a falar não pode mantê-lo.

– Rony ...acho que ... – ele segurou o queixo dela obrigando-a a olhar em seus olhos, ela via como estavam tristes. Ele aproximou seus lábios dos dela, mas ela desviou-os virando-se de costas para ele. Olhou a lua lá fora, sentiu seus olhos marejarem, tomou fôlego e disse de uma só vez, antes que perdesse a coragem – Não quero mais namorar você – voltou-se para ele, havia um misto de surpresa e dor em seu rosto.

– Mas, porquê? – ele conseguiu dizer, sua voz era um pouco mais que um sussurro – O que eu fiz de errado, Mione, me diz, me perdoa. Eu te adoro, o que .... – ele falava muito rápido, não a deixava responder. Ela viu os olhos dele encherem de lágrimas e algumas rolaram por sua face. Sentiu seu coração apertado, ainda gostava muito dele, mas não como ele queria, não como ele merecia, não poderia continuar com ele estando apaixonada por outro, mas também não queria que ele sofresse.

Tentou dizer com firmeza, mas sua voz saiu rouca pelo esforço que fazia para não chorar.

– Não é culpa sua, Rony. Você não fez nada errado. O problema é comigo, eu não estou mais apaixonada por você – suspirou – acho que o nosso tempo passou – e acrescentou baixinho – me desculpe.

Ele a olhava serio, seu rosto ainda manchado de lágrimas, mas ele não chorava mais.

– Quem é ele? Eu o conheço? – tentou dar um tom mais duro a sua voz, seus olhos estavam mais escuros e Hermione viu raiva estampada neles.

-- Ele?!? – Hermione não entendeu imediatamente o que Rony queria dizer.

-- É o outro cara. O que roubou você de mim – Falou, agora sarcástico. Já havia controlado as lágrimas.

-- Não tem outro cara! – ela estava indignada, como ele poderia pensar isto dela. Agora também sentia raiva. Ela estava terminando o namoro porque não queria enganá-lo. Ela não era mais apaixonada por ele. Estava apaixonada por Snape, mas ela não sabia o que iria acontecer entre eles, provavelmente nada, porém mesmo que ela ficasse sozinha, isto ainda era melhor do que enganar Rony. Não poderia continuar namorando ele e sonhando com outro; e isto era fato.

-- Rony, eu apenas percebi que não estava mais apaixonada – ela tentava trazer a conversa de volta ao plano racional, mas ele não a deixou terminar. O autocontrole dele tinha sido extinto e o tom de voz começou a elevar-se.

-- Percebeu que não era mais apaixonada por mim – repetiu com um tom de desdém que a machucou – estamos juntos a apenas uma semana e você já se cansou de mim. O que aconteceu recebeu uma carta do Vitinho foi?! – ele estava se descontrolando.

-- Rony, não é nada disso, por favor – ela tentava argumentar novamente, mas sua raiva também crescia – porque ele tinha que tornar tudo ainda mais difícil e doloroso – pensava. Ele não a ouvia, agora estava aos gritos.

-- Vai ver você achou que eu era muito devagar, muito respeitador, ou talvez você queira mesmo um por semana. E quem será o próximo da lista, Harry? Um dos meus irmãos?

A mão dela voou no rosto dele, antes que ela pudesse pensar o que estava fazendo. Ele a olhou assustado. Ela estava furiosa, tinha lágrimas no rosto, mas neste momento seus olhos brilhavam de ódio, deu um empurrão nele – que caiu sentado na cama e ficou lá imóvel – e desceu as escadas como um foguete, saiu da casa, ignorando os olhares assustados de todos e andou sem rumo.

Só parou quando sentiu uma mão segurar o seu braço, virou-se pronta para brigar novamente, mas se deparou com Gina que lhe lançou um olhar de compreensão. Hermione abraçou a amiga, se deixou ser abraçada por ela e chorou em seu ombro. Ainda com o rosto escondido e aos soluços tentou explicar.

-- Eu...não queria...que ele... ficasse... com raiva......de mim. Ele foi tão....grosso, dizer aquilo...tudo – voltou a chorar. Gina ainda a abraçava

-- Então foi isso, você terminou o namoro – Gina concluiu mais para ela própria. – Mas o que aconteceu, Mione? Vocês pareciam estar se entendendo bem. Hermione tentou se acalmar para explicar, mas evitou os olhos de Gina.

– Percebi que não era mais apaixonada por ele. Mas não tem nada haver com outro cara – completou antes que Gina perguntasse e sentindo um pouco de remorsos, pois esta não era bem a verdade – Eu percebi que o que sinto pelo Rony é apenas amizade, uma grande amizade, talvez há um ano fosse algo mais, não sei, talvez eu tenha confundido os sentimentos. Mas eu só percebi isto depois que começamos a namorar, se eu achasse que não continuaríamos juntos nunca teria sequer começado a namorá-lo. Eu estou confusa. Droga!! Porque as coisas tem que ser tão complicadas?! No ano passado eu queria matá-lo sempre que o via com a Lilá, mas quando ele me beijou no dia do casamento, eu achei que faltava algo, faltaram as pernas bambas e as borboletas no estômago – Olhou para Gina que concordou com a cabeça mostrando que entendera o que ela estava querendo dizer – Eu não podia continuar com ele assim, isto seria enganá-lo e eu não podia fazer isto.

Falava tudo como uma enxurrada, ainda estava muito magoada com Rony, mas tinha convicção de que agira corretamente. Gina olhava a amiga com carinho e Hermione percebeu que ela havia entendido os seus motivos e que estava ao lado dela.

-- Vem, Mione, vamos entrar. Mamãe falou que iria preparar um chá calmante... e não se preocupe – acrescentou vendo que Hermione hesitou em voltar para a casa de Rony – pedi para que Harry fosse conversar com ele e que não o deixasse sair do quarto até que eu fosse chamá-los. Hermione começou a tremer de frio e então aceitou retornar para a casa.

A Srª Weasley fez menção de perguntar algo quando Hermione sentou-se à mesa para tomar o chá, mas Gina a impediu de interrogá-la, a menina ficou novamente grata à amiga. Poucos minutos depois de voltar ao quarto de Gina ouviu passos e imaginou que fossem os garotos descendo.

Tentou colocar seus pensamentos em ordem, mas logo adormeceu. Não sonhou. No dia seguinte quando se levantou já havia tomado sua decisão.
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Obrigada a todos que leram, mesmo os que não comentaram. Sei que demorei para atualizar, mas ai está o cap 6. Se quiserem que eu avise das atualizações me mandem e-mail.

Morgana, Obrigado pelo comentário, realmente as coisas serão melhor explicadas mais a frente. Parabéns por Shooting Star, está ótima.

Devo estar postando uma Short Fic, aviso por e-mail.

Beijos Ana Mariante

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