Narcissa



Capítulo 8 – Narcissa




Gina tinha participado de um bom número de jantares silenciosos, porém, aquele estava entrando para a história. Não estava longe de pensar que até mesmo a prataria se recusava a fazer um barulho. Não enquanto Narcissa Malfoy estivesse no mesmo cômodo.

A primeira coisa que a mulher falou ao ver a namorada do filho, foi comentar no bom gosto dele em escolher vestidos. A segunda foi questionar por que ela precisava da assistência de Draco. Gina tentou abrir a boca para responder, mas a suposta sogra simplesmente lhe deu as costas e anunciou que o jantar estava servido.

Desde então, só Draco tinha ousado abrir a boca, e apenas para fazer comentários irrelevantes. Suas tentativas não foram ignoradas por Gina, no entanto, toda vez que tentava contribuir para o início de alguma conversa o olhar fixo de Narcissa a parava.

O clima não era exatamente de hostilidade. A verdade era que Draco não tinha certeza do que queria, Gina não sabia exatamente o que deveria falar ou não e Narcissa sabia que havia algo de errado com a menina, mas ainda achava cedo comentar.

- Ah bem, por mais que o silêncio me agrade, acredito que o objetivo desse jantar é para que eu conheça a jovem que conquistou meu filho.

Gina, que estava bebendo vinho, tossiu um pouco ao ouvir a voz repentina de Narcissa, mas se recompôs.

- O que você gostaria de saber?

Narcissa deu uma risada curta, o som não era muito agradável, porém talvez fosse o nervosismo influenciando sua opinião.

- Para começar, acho que seu nome completo! Draco foi tão misterioso, não me disse nada. Mas agora, vendo você pessoalmente, eu sei que seu rosto é familiar. Posso até conhecer sua mãe e não saber!

Não foi preciso olhá-lo para saber que Draco estava prendendo a respiração. Ela mesma teve que colocar um pedaço de bife na boca para ter uma desculpa e não responder. Narcissa infelizmente esperou pacientemente até que ela terminasse com um sorriso.

- Ah, duvido que a senhora conheça minha mãe. Ela não é muito de encontros sociais, sabe. Muito caseira. Aliás, é até engraçado, mas Draco também só a conheceu hoje.

- Verdade? Pelo menos não me sinto tão excluída. Não fui a última a saber.

- Definitivamente não. Para ser sincera não faz muito tempo que Draco e eu também não tínhamos idéia.

O comentário definitivamente deixou Narcissa curiosa. Gina não tinha ilusões, no entanto, a mulher com certeza não tinha falhado em notar o desvio de assunto. Alguma hora seria obrigada a revelar seu sobrenome Weasley. Parte dela ansiava para que o momento chegasse logo e a agonia terminasse, mas também havia aquela porção que preferia que Narcissa esquecesse da pergunta.

Enquanto o momento definitivo não chegava, Gina tentou entreter sua “sogra” com o máximo possível de verdades e uma considerável quantidade de omissões. Draco, vez ou outra, se aventurava a completar alguma informação, claramente preferindo deixar as duas “se conhecerem” e evitando se comprometer. Afinal, Gina sabia que ele não queria atrapalhar sua relação com nenhuma delas.

- Agora, na verdade, estou me concentrando em voltar para a Academia de Aurores.

- Olhando seu rosto de menina e com esse vestido, é difícil imaginá-la como uma auror. Tem certeza que uma moça como você quer um emprego como esse?

Gina riu um pouco, tentando ser educada. Difícil era explicar para aquela esposa troféu que boa parte da sua adolescência e juventude foram dedicadas a ações bem não femininas e delicadas.

- Acho que é a influência de ter tantos irmãos. Não consigo me imaginar fazendo outra coisa.

- Suponho que os tempos sejam outros.

A resposta foi bem melhor do que esperava. Quem sabe ainda havia esperança para uma transição pacifica de “namorada do meu filho” para “Ginevra Weasley”. Nem tudo precisava ser dramático e cansativo. Algumas pessoas eram razoáveis e inteligentes o suficiente para deixar o passado de lado, certo?




Talvez o plano funcionasse. Quem sabe, se sua mãe conhecesse Gina antes de saber a verdade, poderia até mesmo gostar dela e não expulsá-la da casa imediatamente. Até então, tudo parecia ir bem. As duas estavam sendo civilizadas; sua mãe estava genuinamente curiosa em saber o que Draco fez naqueles três anos em que ficou no hospital e, principalmente, ouvir como os dois se conheceram e acabaram juntos.

Verdade que havia pouca coisa que podia ser dita sem criar problemas. Não poderiam falar que Gina capturou Draco, que ela havia se escondido na mansão, ou que Bellatrix fora responsável em parte pela aproximação dos dois. Aquele tipo de informação só traria perguntas incomodas. Mas Draco estava seguro que o pior havia passado.

Afinal, haviam escapado da terrível questão do sobrenome de Gina, graças ao pensamento rápido dela. Poderia ter pulado e lhe dado um beijo de tão aliviado que ficou quando o assunto foi desviado com sucesso. Eventualmente chegaria a hora tão temida, mas por enquanto preferia acreditar que sua mãe estava gostando de Gina.

Poderia ser ridiculamente impossível, mas até que as duas eram parecidas. Ferozmente leais a suas famílias, independentes, mas sem a necessidade de provar tal fato. Muito boas em mentir, mas não tão boas em tolerar mentiras. Ambas se apaixonaram por homens Malfoy.

Foi obrigado a parar com as comparações ao ouvir sua mãe lhe chamar.

- Estamos na sobremesa e você mal abriu a boca Draco. Acho que já passamos pelo nervosismo inicial, participe da conversa.

“Sobremesa, graças a Merlin! Está acabando.” Nem tinha notado a mudança de pratos em sua frente.

- Achei que vocês estavam se divertindo bem sem mim.

Sua mãe se voltou para Gina, sorrindo.

- Devo confessar que estou surpresa com o quanto estou gostando da conversa – virou para o Draco. – Quando você me falou que tinha uma namorada, estava tão nervoso e relutante que tive a impressão de que se trataria de uma nova Pansy. Ou pior.

- Impressões não são muito confiáveis. Eu também imaginava uma Narcissa Malfoy bem diferente – confessou Gina.

- Realmente, estou contente em conhecê-la. Assim ambos vão concordar comigo.

- Concordar? Com quê? – Draco perguntou, largando a colher e seu pedaço pudim.

Gina não era capaz de notar os sinais, mas ele viu. Sua mãe terminou sua sobremesa e limpou os cantos da boca com o guardanapo de linho, cuidadosamente o dobrando ao lado de seu prato. Movimentos que poderiam tão bem ser os de um lutador colocando suas luvas de boxe.

- Chega de charadas, por favor. Não sou uma tola qualquer e muito menos uma velha senil. Acha que me escapou o pequeno detalhe do sobrenome dela?

- O que meu sobrenome importa, afinal? A senhora não acabou de falar que gostou de mim?

Draco não precisava de mais nenhuma evidência para concluir que seu plano falhara terrivelmente. Infelizmente, Gina ainda insistiria não conhecendo sua mãe como ele. As portas do caos acabavam de se abrir.

Sua mãe permaneceu impassível, tom de voz amigável sem realmente ter um pingo de genuinidade.

- A partir do momento em que vocês se esforçaram tanto em não citá-lo logicamente pode-se concluir que ele importa. Ou então não o teriam escondido em primeiro lugar. E, querida, está interpretando minhas palavras erroneamente. Em nenhum momento afirmei que gostei de você. Está confundido o dever de uma boa anfitriã com amizade. O que é perfeitamente esperado de alguém como você.

Se pudesse, já teria se escondido embaixo da mesa. Draco não precisava interpretar folhas de chá para prever o desastre. Sim, as duas possuíam suas semelhanças, mas era em suas diferenças em que jazia o perigo.

- Como assim alguém como eu? – foi a vez de Gina colocar seu guardanapo em cima da mesa, praticamente o jogando contra a prataria. Sua revolta era palpável.

- Não é necessário leglimência para notar as diferenças gritantes de classe. Para começar, sua mãe não lhe educou como uma moça da alta sociedade, pois ela mesma não participa desta. Suas palavras, aliás. Como eu sei isso? Em primeiro lugar, você olhou boa parte do jantar para meu filho, em busca de auxílio na utilização dos talhares para passar uma boa impressão. Segundo: foi ele quem escolheu seu vestido, pois não tinha confiança no seu gosto.

O olhar fulminante que Gina deu em sua direção foi o bastante para que ele considerasse seriamente a possibilidade de utilizar sua varinha em defesa própria. Outra questão preocupante era se seria vitima apenas de Gina.

- E temos é claro, o fato de você possuir vários irmãos. Preciso dizer mais? Por alguma razão existem famílias, uma em particular, que insistem em ter mais filhos do que são capazes de manter. É uma questão de estatística simples que vocês não parecem entender. O que liga inevitavelmente a sua vontade de buscar um emprego. Quem vai mantê-la se não você mesma? É obrigada a trabalhar. A influência masculina que sua mãe permitiu em sua formação fez parecer normal para você o cargo de auror, que francamente, não serve para uma esposa, ou mesmo, namorada de um Malfoy.

Silêncio. Draco engoliu seco.

- Eu... Eu não acredito nisso – murmurou Gina.

- Não há nada de errado em ser pobre, Ginevra – anunciou sua mãe em um tom aveludado. – A questão é você não serve para o nosso estilo de vida. Pense bem. Seria capaz de jogar fora sua carreira promissora como auror para se casar com meu filho? E eu sei que vocês são jovens demais para pensar em casamento. Mas, sejamos razoáveis, para que então se envolverem se não para casarem algum dia? A menos que você também não tenha sido educada nas leis de moral e ética e esteja contente apenas com alguns presentes caros.

Nunca pensou que chegaria o dia em que teria horror dos argumentos de sua mãe. Sim, uma vez ou outra não concordara com ela, mas jamais imaginou que teria vontade de fazê-la parar de falar com uma azaração. E tudo aquilo porque o rosto de Gina não conseguia esconder seu sentimento de humilhação. Ela estava no limite de sua raiva, porém, também era inegável que tinha sido ferida.

- Você é uma moça inteligente, a principio pode parecer cruel da minha parte, mas no fim concordará comigo. Tenho certeza de que seus pais, se não forem pessoas interesseiras, têm a mesma opinião. São mundos diferentes. Só de pensar no absurdo que seria você trabalhar o dia inteiro em lugares impróprios, atrás de criminosos, enquanto seu marido vai para festas da sociedade ou faz viagens para França... É ridículo. E mesmo se fosse outro emprego! Os comentários seriam intermináveis.

- Você só concordou com esse jantar para me humilhar não é? – disse Gina entre dentes. – Desde o momento que eu entrei aqui já tinha sua opinião formada. Então, por que esperou tanto?

- Isso não é verdade. Precisava confirmar minha dedução. E considere minhas palavras como quiser, mas em realidade estou poupando você de um futuro infeliz.

- Fala por experiência? Deve ter sido bem doloroso ver seu marido destruir a própria família e ainda por cima não se importar.

Sua mãe sorriu seu sorriso mais furioso, um que só parecia quando a ofensa tinha sido grande.

- Não fale do que não sabe.

- Eu digo o mesmo para você. Sua opinião sobre a minha vida é tão irrelevante que sinto por seu tempo desperdiçado. A única coisa que importa é Draco e eu. Só nós dois sabemos o que é melhor para nossas vidas. E para ele, nada disso que você falou faz diferença. Não é Draco?

As duas olharam para ele e toda a cor de seu rosto se esvaiu. Sua boca abriu, mas nenhum som saiu. Não tinha planejado assim! Não era para nada daquilo acontecer! Como podia escolher? Qualquer que fosse sua resposta, significaria perder uma delas. Gostaria de ter a certeza de que nada do que sua mãe falara fazia sentido, mas não tinha. Seus argumentos contra os fatos dela eram praticamente água contra rocha. E, no entanto, Gina lhe oferecia uma versão tão mais simples e tentadora: só os dois e mais nada. Jogar tudo para o alto, e apostar neles. Mas onde estava sua coragem para apostar em algo que nem ele tinha certeza que podia funcionar? Estava em uma contínua guerra contra ele mesmo, brigando com Gina e depois correndo atrás do prejuízo. Por quanto tempo mais os dois iam agüentar aquilo?

Era fácil quando os obstáculos eram apenas antigos preconceitos. Agora os dois se conheciam e as desculpas estavam acabando. Faltava algo. A peça final. O empurrão necessário para que ele se envolvesse por completo. Mas Draco não sabia como dar o último passo sem perder o equilíbrio.

- Não é Draco? – repetiu a pergunta Gina, sem a certeza anterior. – Ou estou aqui apenas bancando a idiota?

Desviou o olhar. Gina deu uma risada fraca, que não escondeu bem a tristeza.

- E você nem precisou saber qual é o meu sobrenome, Narcissa. Aplausos, sua reputação de cobra insensível foi bem merecida! – levantou da sua cadeira. – Eu sei onde é a saída.

Antes de sair, porém, se aproximou lentamente de Draco. Seus rostos estavam tão perto um do outro que foi dominado por sua presença e se viu forçado a encará-la. Nunca em sua vida se odiou tanto. Gina tinha dado o passo final e ele a tinha abandonado na hora em que mais precisava.

- Você é um covarde. E eu sou uma idiota por ter pensado o contrário.

As palavras não foram necessárias, seu olhar já o tinha destruído. E por um momento não conseguiu respirar nem se mover, como se tivesse parado no tempo revivendo eternamente o momento do seu maior erro. Foram os segundos necessários para que Gina saísse da sala de jantar e provavelmente de sua vida.

Só saiu de seu estado de paralisia quando sentiu a mão de sua mãe em seu ombro.

- Você fez a coisa certa. O melhor a fazer em uma situação como essa é cortar o mal pela raiz. Antes que ela tivesse ilusões de grandeza. Ou, Merlin, antes que você se envolvesse demais.

- Tarde demais – murmurou.

- Que disse querido?

- Tarde demais.

Sentiu a mão em seu ombro o segurar com mais força.

- Draco, não seja ridículo. Não há futuro para vocês dois. É simplesmente impossível. Foi uma falha, admita, corrija-a e siga em frente. É o que ela vai fazer.

- Preciso dela...

- Ora, por favor, alguns meses juntos e você já lhe está dando crédito demais para essazinha.

- O nome dela é Ginevra Weasley. E você não sabe de nada, mãe. Não sabe, porque eu estava preocupado demais em fazer papel de filho perfeito. Mas chega.

- Não ouviu nada do que disse para ela? Da mesma forma que ela não serve para você, você também não serve para ela. Agora ou daqui alguns meses, vale a pena prolongar o inevitável? Não sei nada do que aconteceu entre vocês, mas não tenho nenhuma dúvida de que passaram mais tempo tentando ficar juntos do que realmente passaram juntos.

- Não importa, se eu não tentar vou me arrepender.

Sua mãe suspirou, genuinamente cansada.

- Por quê? Qual a razão dessa insistência?

Sentiu sua garganta presa por uma força invisível e uma pressão forte no peito avisando-o que aquela pergunta era decisiva e não só para explicar-se para a mãe. Era mais do que aquilo, era o que estava faltando desde o começo. Seu último passo. Esteve lá todo o tempo, mas nunca teve a coragem de admitir em pensamento e muito menos falar em voz alta. Mas estava lá à espreita, esperando seu momento para se libertar. A resposta para sua pergunta anterior esteve à sua frente todo o tempo: não importava quantas vezes brigava com Gina, corria atrás do prejuízo porque tinha certeza que podia funcionar. Que os dois tinham chances de dar certo. Portanto, insistiria mais uma vez e quantas vezes fossem necessárias. E aquela certeza vinha de um único fato, imutável e inegável.

- Eu amo Gina.

Notou o olhar incisivo de sua mãe fixo em seu rosto, analisando cada uma das três palavras ditas e buscando verdade nelas. Draco permaneceu firme e não se esquivou, acreditava no que dissera. Para sua surpresa, no entanto, ela balançou a cabeça decepcionada e nada tocada pela declaração.

- Você se conhece tão pouco assim? Está apenas com medo das conseqüências de deixá-la. Isso não é amor. É dependência. Quantas vezes eu lhe disse para não depender dos outros, meu filho?

- Por que não? Por que é errado confiar e depender de alguém nem que for um pouco? – quase suplicou.

A principio ela não respondeu, perdendo-se em seus pensamentos por um pequeno instante antes de voltar a encarar Draco. Quando falou afinal, sua voz trazia uma dor que raramente ele podia presenciar vinda dela. Pegou o rosto do filho com as duas mãos para que não deixasse de ver sua aflição ou escapasse de sua lição.

- Porque no fim... Só resta solidão.

Antes que pudesse recolher coragem para perguntar a ela a razão de sua amargura, sua mãe tirou sua mão do ombro de Draco e foi embora. Seu primeiro impulso foi correr atrás de Gina, mais uma vez buscando reconciliação, pronto para levar quantas azarações fossem necessárias, dela e de seus irmãos. Mas a gravidade do que tinha acontecido durante o jantar o impediu. Tinha quase certeza que daquela vez tinha ido longe demais e esgotado suas chances. Não tinha esperanças, mas precisava tentar de qualquer jeito, só não sabia se estava pronto para enfrentar a realidade.

O que poderia fazer para redimir seu erro? Se existisse um modo de fazê-lo.




Gina estava sem lágrimas. Chegou em casa, mas parou antes de entrar e resolveu caminhar pelo campo, em direção ao vilarejo, esquecendo-se que estava dentro de um vestido caro que estaria além de recuperação pela manhã. Ainda era noite alta quando atravessou a grama descalça, segurando seus sapatos na mão. Se virou, quando já estava bem longe d’A Toca, e viu curiosamente uma a uma das luzes da casa acenderem. Estranhou mas continuou sua caminhada, sua mente distante demais para se importar.

Então era isso. Era assim que terminava seu curto, porém marcante, romance com Draco Malfoy. Tentou e tentou mais um pouco, contra a vontade de todos, insistindo, quase como uma birra de criança, para no fim ele os destruir. Riu sozinha, percebendo um soluço se unindo ao som. Tal final era o equivalente de morrer escorregando em uma casca de banana. Mais que tristeza, estava com raiva dele. Queria lançar uma azaração para deixá-lo incapaz de sentar por séculos.

Maldito loiro insensível.

Não ligava para os insultos de Narcissa Malfoy. Não ligava para maldições que os ancestrais de Draco jogariam contra ela. Para alguém que enfrentou sua vida inteira, aquele tipo de coisa era simples de descartar. Era ele o culpado de tudo. Em nenhum momento tinha ligado para o sobrenome dela ou as pilhas de galeões que não possuía. Mas na primeira oportunidade, no primeiro real obstáculo, não teve coragem.

Odiava ele por sua covardia. Mas, Merlin, sentiria sua falta.

De repente um raio cortou céu ao horizonte, iluminando seu caminho. Ao som do trovão gotas e mais gotas de água caíram, a molhando até os ossos. A tempestade aumentava sua intensidade rapidamente, não se importou.

Só realmente sentiu a chuva quando um pop fez surgir ninguém menos que Draco Malfoy à sua frente. Pensou que era uma miragem, mas miragens não costumam acontecer durante tempestades. Talvez uma assombração, mas também não se lembrava te ter matado ele... Não ainda, pelo menos.

Concluindo, irritada, de que se tratava do verdadeiro, se abraçou de repente sentindo cada gota de água que caia sob ela.

- Está maluca, correndo pelo mato nessa chuva? – ele gritou, tentando ganhar do som de um trovão.

- Que raios você está fazendo aqui? – ela retrucou também alto, mas só porque estava com vontade de gritar.

Ele se aproximou, mas Gina deu dois passos para trás.

- Me deixe em paz! Estou cansada de você!

Draco não desistiu, avançou e jogou sua capa nos ombros dela. Tentou resistir ao gesto, mas ele a segurou pelos ombros.

- Eu fui até sua casa, mas sua mãe disse que você não tinha voltado – explicou sem que ela tivesse perguntado.

- Como me encontrou?

Draco abriu um sorriso e mostrou um relógio em seu pulso. Os ponteiros marcavam não horas, mas palavras. No momento o maior estava em “Arredores d’A Toca”, ficou claro a função do relógio ao olhar o restante das “horas”. Em particular “Te traindo” e “Dormindo, ou seja, sonhando com você”.

- Você fez isso para me vigiar? – perguntou indignada.

- Pode crer. Porque é isso que eu faço. Consigo estragar tudo.

Gina suspirou, estariam condenados a machucar um ao outro?

- O que você quer, Draco?

Se ela estava com uma aparência terrível, ele não ficava para trás. Cabelo loiro pesado sobre seu rosto, roupas grudadas no corpo pela água, sapatos caros enterrados na lama. Seu olhar era perdido e em outra situação nada lhe daria mais satisfação do que abraçá-lo, mas no momento não conseguia sentir nada mais do que rancor.

E então ele ficou um joelho na lama e se abaixou.

- Ginevra Weasley... Gina. Eu amo você.

Olhou para ele, triste. Só isso que ia falar? Tirou a capa dele de seus ombros e lhe devolveu.

- Seria bom se você tivesse me amado há algumas horas atrás, quando eu precisava. Agora é meio tarde para sentimentalismo.

- Eu fui um idiota, Merlin, mas não pode me perdoar?

- Quantas vezes terei que fazer isso? Não dá mais, Draco. Parece que desde que começamos só fui eu que me esforcei para fazer isso funcionar!

- Ficar de joelhos na lama e pedir desculpas não é esforço suficiente para você? – gritou abrindo os braços em frustração.

Tão cansada... Estava tão cansada de brigar e tentar...

- Vá embora. Sua mamãe deve estar preocupada.

Sabia que parecia covardia, mas lhe deu as costas e começou a correr na direção oposta, para dentro da escuridão. As nuvens de chuva tinham escondido a lua, tornando muito mais difícil enxergar a sua frente. A escuridão deu mais força para as distantes janelas d’A Toca, agindo como um farol para ela.

Saiba que ele tinha ido embora, porque ouviu mais uma vez um pop.

Acelerou mais ainda o passo no final do caminho, cobrindo a cabeça com os dois braços e se perguntando por que as luzes continuavam acesas. Entrou direito na cozinha mais preocupada em ficar perto da lareira acessa do que olhar ao seu redor. Sentou o mais próximo do fogo e não saiu do lugar por horas a fio.

Estava tão magoada com ele que não conseguia raciocinar direito.

A chuva parou devagar e o dia começou a amanhecer. Ouviu sinais de que a casa acordava, mas não ligou. Estava esquentando suas mãos quando sua mãe entrou na cozinha e depois de um momento de incerteza, se pronunciou, lhe dando um susto.

- Gina... Temos visita – ela disse incerta, apontando para a porta aberta que dava para a sala.

Ao se virar e ver de quem se tratava, teve que olhar sua mãe e confirmar que não se tratava de um engano.

- Ela está esperando você.

Talvez mais por confusão do que qualquer outra coisa, levantou e foi até o outro cômodo. Narcissa estava sentada no melhor sofá da sala, seu nariz alto, expressão séria e as mãos juntas em seu colo. Seu corpo estava mais rígido que na mansão Malfoy e revelava seu incômodo. Em seu rosto estava estampado o quanto Sra. Malfoy não desejava estar naquele lugar. O sentimento era mútuo. Era o segundo membro Malfoy que resolvia importuná-la, não sabia se agüentaria dois no mesmo dia.

- Gostaria de conversar com você – era mais uma ordem do que um pedido. – Às sós.

Gina cruzou os braços, fazendo um grande esforço para ignorar o estado de seu vestido e sua aparência ensopada. Não estava nem um pouco disposta a tolerar aquela mulher.

- Já conversamos o bastante.

Pelos sons abafados do andar de cima, sua mãe não era única a presenciar a conversa. Não seria surpresa se toda sua família estivesse acordada e só não enchiam a sala graças às ordens de sua mãe.

- É sobre Draco.

- Não me interessa.

Para sua surpresa Narcissa levantou calmamente, Gina imediatamente relaxou acreditando que ela estava indo embora. Infelizmente, a mulher parou em sua frente e sem sinais de desistir.

- Se eu pudesse falar às sós com sua filha, Sra. Weasley, agradeceria – não tirou os olhos de Gina ao falar, e concluiu mais alto para que todos ouvissem. – O pedido se estende ao resto da casa.

Antes que sua mãe respondesse, Gina a parou com a mão e indicou a porta para Narcissa.

- Já disse que não quero conversar. Já tomou o meu tempo demais, retire-se, por favor.

A frase era educada, mas o tom estava longe de ser agradável. Não queria deixar dúvidas que ela não era bem-vinda.

- Ele me contou seu sobrenome – retrucou, firme como estivesse dizendo algo extraordinário que justificaria tudo.

- Tarde demais.

Podia sentir a irritação de Narcissa crescer, mas Gina também começava a perder a paciência.

- Ouça o que tenho a dizer, não levará mais que dez minutos. Depois me expulse dessa casa. Mas antes escute.

- Por que eu deveria?

Narcissa inexplicavelmente soltou um suspirou e de repente parecia muito cansada.

- Muito bem. Terá que ser assim – estava se esforçando tanto para falar o que viria a seguir, que parecia estar fisicamente doendo. – Eu peço desculpas pelo jantar.

Algo no andar de cima caiu, mas fora o acidente, a casa estava em total silêncio. Não era todo dia que alguém da família Malfoy entrava n’A Toca, muito menos pedia desculpas a um Weasley (ou quem quer que fosse). Segurou a vontade de olhar a janela e se certificar que o mundo não estava acabando lá fora.

O que mais lhe espantou foi que a desculpa parecia sincera.

- Está bem. Estou ouvindo – anunciou Gina, entendendo que acabara de presenciar a mulher mais orgulhosa e centrada que já conhecera fazer algo muito difícil. – Mãe pode nos dar licença?

Pôde ouvir a indignação do andar de cima, mas sua mãe assentiu e subiu as escadas, as ordens de que todos fossem dormir alto o bastante para as duas ouvirem. Narcissa só voltou a falar quando teve certeza não havia mais ninguém escutando.

- Quando minha irmã Andrômeda fez a escolha de se casar com um trouxa, nossa família a expulsou. Na verdade, nem deveria chamá-la de “irmã”. A desgraça foi tão grande e minha mãe sofreu tanto, que jurei odiar Andrômeda pelo resto de minha vida. Ela sempre foi mais... Carinhosa comigo do que Bellatrix, e éramos inseparáveis quando menores. Bella gostava de arrancar as cabeças de minhas bonecas, mas Andrômeda sempre as consertava para mim. Besteiras de crianças, eu podia ter quantas novas quisesse, mas o gesto era o que contava. Sua traição me feriu mais do que gosto de admitir.

Gina nem saberia por onde começar, se quisesse comentar, então só ouviu Narcissa.

- Ver você de braço dado com o meu filho me levou ao dia em que ela ousou pisar na casa de minha mãe com Ted Tonks. Os resultados, já esclareço, foram bem mais catastróficos do que nossa simples discussão. Não havia espaço para compreensão, muito menos tolerância. Foi o mundo em que cresci e foi o mundo em que criei Draco. Perder ele para você foi pior do que Andrômeda. Não espero que entenda, mas o que ela fez foi o mesmo que cuspir em nossas caras e, para mim em particular, foi rejeição. Ele era mais importante do que nossa família, nosso nome.

Narcissa parou um momento, criando um silêncio incômodo. Gina não tinha simpatia alguma por aquela mulher e, no entanto, lá estava ela um pouco sensibilizada.

- Draco nunca conheceu Andrômeda, provavelmente nunca a considerou como sua tia. E agora que minha família se foi, eu me pergunto se nosso ódio valeu a pena. Valeu a pena perder minha irmã por algo que acabou nos destruindo? Não quero isso para Draco. Não quero perdê-lo. Minha primeira reação foi automática, programada. Quando em perigo, ataque. Mas então, eu vi os olhos do meu filho e entendi finalmente que é hora de colocar meu orgulho de lado.

- Não muda o fato que ele simplesmente deixou que você me insultasse e na hora mais importante, me abandonou!

- Você não parecia necessitar de ajuda e além do mais, pode sinceramente dizer que nunca teve dúvidas? Que quando contou para sua família não teve um momento, mesmo que breve, em que não soube o que era certo? Ele estava tão dividido que não conseguiu tomar uma decisão na hora. Mas isso não diminuiu o que ele sente por você. Os dois são tão jovens... Impulsivos. Esquecem que nem tudo na vida é decidido no momento presente. Minutos depois, ele confessou que precisava de você e então correu para pedir desculpas.

- É só o que ele faz. Pedir desculpas. Vai ser assim sempre? – murmurou Gina, de repente se sentindo apenas uma adolescente.

Narcissa sorriu.

- Seis meses que se conhecem e já acham que está tudo determinado e impossível de mudar. Em relacionamentos é necessário tempo para achar as falhas e corrigi-las, a diferença é que alguns tentam arrumar, outros desistem. Isso é o que separa relacionamentos sérios de romances tolos. A escolha é sua. Draco já fez a dele, está disposto a pedir desculpas sempre que for necessário.

Gina tinha muito que pensar e, Narcissa percebendo resolveu que era o momento de ir embora.

- Acredito que meus dez minutos terminaram.

Estava se encaminhando para a porta quando Gina, mais surpresa consigo mesma, a parou antes.

- Obrigada.

Ela simplesmente assentiu em retorno.




N/A: Não... Eu não morri. Por um momento, é, eu achei que tinha! Haha. Mas estou viva e escrevendo. E vou acabar essa fic antes do sétimo livro, é uma promessa de vida! Risos. Sério mesmo, o próximo capítulo vai chegar tipo, em duas semanas ou menos, porque vou escrever até meus dedos ficarem adormecidos! haha Alguém ainda está ai, lendo? Se estiver, brigada. Capítulo 9 é o último. See you there!

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