Interlúdio



Capítulo 6 – Interlúdio




A primeira coisa que sua mãe fez ao chegar na mansão foi observar cada detalhe minúsculo dos seus arredores, verificando se tudo estava como havia deixado. Seus olhos claros percorreram e notaram cada mudança que Draco fizera devido à visita de Bellatrix. Esperou até estar em seu quarto, deitada na cama, para questioná-lo sobre o assunto. Felizmente teve tempo o bastante para decidir o que seria seguro dizer. Não pretendia mentir... Muito.

- As escadas estavam ruindo. Mesma coisa com o salão de música, não tinha como restaurar, tiveram que ser reconstruídos por completo – explicou enquanto fechava as cortinas para deixá-la mais confortável.

- Impossível. A casa tem mais de 100 anos, protegida pelos melhores feitiços. Não faz sentido.

- Acho que os anos sem cuidado e manutenção tiveram seus efeitos – comentou sem parecer particularmente preocupado. – Precisa de mais alguma coisa?

- Não, estou bem. Obrigada.

- Caso precisar, o nome do elfo é Groger. Estarei no escritório, se quiser é só me chamar.

Sua mãe pareceu entretida pelo que tinha falado, fitou-a, levantando uma das sobrancelhas.

- Quem diria o quão prestativo você pode ser quando quer. Não muito tempo atrás estava me evitando como a peste – sorriu.

- Na verdade... Foi há muito tempo atrás. Outra vida, quase – defendeu-se.

- Suponho que sim.

Fitou-a por um instante para depois ir em direção à porta. Estava certa, antes da derrota de Voldemort não havia tratado muito bem nenhum de seus pais, confuso com tudo que havia acontecido na época. Todos têm seus momentos de adolescente revoltado, nada mais normal, principalmente quando seu o pai está na prisão; ensinamentos de uma vida inteira não fazem mais sentido e sua mãe tenta lhe proteger a ponto de fazer um acordo com seu professor de Poções para que “cuidasse” de você. A admiração ingênua de Draco pelos pais tinha que terminar algum dia, afinal. Não adiantava sentir culpa por aquilo.

- Draco... Quero ir vê-lo mais tarde – ela disse antes que fosse embora.

Suspirou, mas assentiu de qualquer forma. A visita ao mausoléu onde seu pai estava enterrado era inevitável, melhor então que acontecesse o mais cedo possível.

Fechando a porta do quarto dela, sentiu-se subitamente muito cansado. Toda a tensão com Gina e os preparativos para a volta de sua mãe tinham sido mais difíceis do que imaginara. Fazia três dias desde que Gina lhe dera um ultimato absurdo e ainda não havia criado algum plano infalível para conciliar a saúde de sua mãe com os desejos da ruiva. Primeiro tinha que resolver como contaria as outras notícias perturbadoras. Quem sabe, se sobrevivesse a elas seria seguro.

Nas três noites passadas havia sentado à sua mesa no escritório, pena na mão, pronto para escrever alguma carta milagrosa que convencesse Gina de que podiam continuar em segredo ou qualquer coisa que a trouxesse de volta. Mas o papel permanecia em branco. Passara praticamente a noite inteira acordado, pensando no que escrever, sabia de qualquer forma que era inútil tentar dormir sem ela ao seu lado.

Estava um pouco frustrado com aquilo, falando a verdade. Havia ainda parte sua que continuava a perturbá-lo de que não devia depender de Gina, o que tinham não podia ser algo sério. O restante que sobrava insistia em acreditar que a única razão para não ter contado nada para sua mãe era estritamente por causa de sua saúde frágil e nem um pouco relacionada com o fato que provavelmente não o consideraria mais seu filho por estar com uma traidora do próprio sangue. Não se mais importava com a tradição de sua família, porém perder sua mãe outra vez estava fora de cogitação.

No entanto, por enquanto preferia continuar acreditando que contaria tudo quando melhorasse, o que era apenas uma questão de tempo. Ao que parecia, ainda tinha o hábito de mentir para si próprio. Deixou escapar um suspiro e fitou mais uma vez o papel em branco. Pegou sua pena e escreveu uma única palavra.

- Gina – murmurou, pegando o papel e o amassando com força.




O teto do seu quarto se transformara em um borrão de tanto que o tinha fitado nas últimas horas. Seus braços estavam cruzados abaixo de sua cabeça, adormecidos por estarem na mesma posição por tanto tempo, o travesseiro não lhe trazia nenhum conforto.

O dia já havia raiado e o sol aquecia suas pernas, entrando pela janela de seu quarto. O céu estava azul e uma brisa fresca fazia as folhagens baterem contra o vidro da janela. Podia ouvir sua mãe na cozinha mexendo em panelas e talhares, como também sentia o cheiro da comida sendo preparada para o almoço.

Estava tudo errado.

Devia estar chovendo, devia ser noite. O vento deveria uivar raivosamente. E casa, em silêncio, submetendo-se à força de uma tempestade. Pois era assim que se sentia.

“Hoje fará quatro dias.”

Fechou os olhos, irritada. Estava tudo errado. “Ou quem sabe tudo certo”, pensou, amarga. Ergueu o braço direito em direção ao teto, mexendo os dedos da mão para que a sensação de formigamento parasse, depois fechou o punho e socou ar, imaginando o rosto de Draco sendo atingido. Aquilo aliviou um pouco sua frustração. Desde que voltara para casa chorando, permaneceu dentro de seu quarto, sozinha. Seus pais não perguntaram qual era a razão de sua tristeza ainda, mas talvez devessem. Quem sabe falar sobre o assunto não lhe faria se sentir melhor?

Teve bastante tempo para pensar em sua situação e decidira que fizera o certo, não estava arrependida. Continuava com as mesmas dúvidas, no entanto, quatro dias sem receber uma carta dele ou qualquer indício de que as coisas melhorariam só as aumentavam mais. Daquele jeito ficaria louca em uma semana.

Antes de Draco o que fazia para se distrair?

Responder aquela pergunta provou ser complicado demais. Caçar Comensais não contava, já que Draco seria o último Comensal para ser caçado e já tinha feito aquilo antes. Jogar Quadribol necessitava da presença de Draco, ou de seus irmãos (os quais provavelmente não estavam dispostos a diverti-la no momento).

Bufou, trocando de posição na cama.

Felizmente seu mau humor foi interrompido por batidas um pouco relutantes em sua porta.

- Gina? Posso entrar?

Era Hermione, e Gina ficou indecisa entre alívio e irritação. Com certeza a ouviria, mas também responderia de volta, mesmo hesitante, com a verdade. Mas não se olha nos dentes de cavalo dado, ou algo assim, não é mesmo? Sermão ou não, seria uma distração bem-vinda.

Levantou devagar e abriu a porta. As duas se encararam, relutantes, ainda fresca a memória da conversa intensa anterior. Quase impossível esquecer das palavras dela sobre Draco, principalmente depois de ter sido jogada de lado em favor de Narcissa Malfoy. Estaria mentindo se dissesse que não se perguntou qual a real opinião de Draco sobre os ideais de Voldemort durante os três dias que passou n’A Toca.

Hermione não estava menos relutante em abordar o assunto “Draco” novamente, porém a conhecia bem e sabia que no minuto que ganhasse coragem para iniciar seu sermão, só pararia até ter feito um estrago gigantesco, poucos eram capazes de resistir aos seus argumentos.

- Você quer conversar? – tentou, observando o rosto de Gina, com certeza procurando sinais de choro.

A resposta veio em um sinal para que se sentassem na beira da cama. Depois de alguns instantes de silêncio, Gina engoliu seco e se aventurou a começar.

- O que te contaram?

- Só que você voltou para casa chorando. Estão preocupados, mas não querem te pressionar.

- Imaginei – suspirou. – Sinto muito. Sou mesmo uma filha ingrata...

- Não fale assim.

- Narcissa Malfoy saiu do hospital.

Pela expressão de Hermione, sabia muito bem o que aquilo queria dizer.

- E Malfoy?

- Pediu tempo para a mãe se recuperar antes de contar do nosso namoro. Na verdade... Isso só foi depois que eu o pressionei bastante.

A amiga não comentou nada, mas novamente seu rosto mostrava desgosto. Ficou agradecida que se segurou e não disse sua opinião em voz alta.

- Eu disse que só voltaria a vê-lo depois – suspirou. – Mas quando vai ser isso? Ele pode muito bem nunca ter coragem de contar. Eu realmente não sei o que vai acontecer e isso está me deixando louca! O que mais dói é que a confiança que tenho nele não passa de um castelo de baralho frágil. Basta apenas uma carta cair para todas as outras irem junto. Se tivesse mais segurança não estaria tão... Tão deprimida.

- A questão é: se ele contar, você poderá com certeza dizer que vai confiar nele, ou esse momento será apenas um entre tantos? Se não existe confiança talvez... Talvez seja melhor...

Gina abriu um pequeno sorriso, mesmo que não se sentisse exatamente feliz.

- Hermione, estamos falando de Draco Malfoy. Desde que eu o capturei no Egito ele conseguiu conquistar minha confiança, quebrá-la em mil pedacinhos e depois recuperá-la intacta. Ele gosta de me provar errada. O idiota é do contra. Quando penso que vai me abandonar, volta. Quando achei que me salvaria, me deu as costas.

- E você acha isso divertido? – não era à toa que estava confusa e um pouco assustada, Gina em seu lugar também estaria.

- Um pouco – admitiu, bochechas vermelhas. - Mas não tem tanta graça no momento. Além disso, até alguns dias atrás, o resultado da equação sempre foi positivo, estou namorando afinal de contas e por boas razões. Mas e agora? Tenho como competir com a mãe dele?

- Você não devia ter que competir com ninguém em primeiro lugar!

- Eu sei disso.

Ficaram em silêncio por um tempo; não havia o que fazer, a não ser esperar por Draco. Gina só gostaria de que a espera fosse curta.

- Gina... Que acha de ir comigo ao Beco para vermos meu vestido de noiva?

Sorriu. Era a distração perfeita.





Ela já estava lá por quase uma hora, de pé olhando para a placa com o nome “Lucius Malfoy”. Draco nem podia começar imaginar o que se passava em sua mente. Será que estava pensando no que teria acontecido se tivesse feito outras escolhas? Culpando outros pelos erros que ele cometera? Havia deixado claro que ainda acreditava que seu pai fizera o certo, que não havia outra escolha, mas o quanto daquilo era verdade?

Finalmente sua mãe se levantou, tocou os lábios de leve com os dedos e então os colocou na placa, despedindo-se. Passou por Draco sem nenhuma palavra, seus olhos secos de lágrimas. Sua reação foi melhor que o esperado, porém, talvez fosse apenas que já tivesse chorado o bastante sozinha.

Voltaram para a mansão em silêncio, por um breve momento pareceu que haviam voltado no tempo, para uma época mais simples quando passava as férias ouvindo-a tocar piano enquanto treinava Quadribol no jardim, determinado a ganhar de Potter no ano que viria. Seu pai o observaria uma vez ou outra pela janela de seu escritório, às vezes orgulhoso, às vezes descontente, pronto para corrigir alguma falha que vira em seu vôo. Talvez lembrando dias parecidos, sua mãe sorriu ao seu lado, olhando para o céu como se fosse algo especial.

Para andar sem cair, ela se apoiava em um bastão similar ao que seu pai gostava de levar à eventos e festas, com uma cobra prateada na ponta. Recusara a ajuda dele para se locomover, preferindo usar suas próprias forças. Estava mais pálida que ele, muito mais magra do que lembrava. Informaria o Ministério do tratamento péssimo de St. Mungos, e com sorte algumas enfermeiras incompetentes seriam despedidas no processo.

Decidiram tomar chá da tarde na varanda, a mesma que algum tempo atrás Draco discutiu com Gina e Blaise durante o baile, pois sua mãe desejava ficar ao ar livre. Estava tudo perfeitamente calmo e tranqüilo, quando Groger apareceu anunciando uma visita. Por uma fração de segundo teve a esperança que se tratava de Gina, mas imediatamente concluiu que tal fato seria absurdo. Infelizmente a visitante era outra, uma menos interessante e bem mais Sonserina. Pansy.

Antes mesmo que pudesse mandar o elfo dispensar a mulher sua mãe, voltando rapidamente ao seu papel de dona da casa e esposa da sociedade, disse que a trouxesse até eles. Foi um erro extremamente infeliz, principalmente para ele, que conhecia bem a língua venenosa e solta de Pansy. Havia grandes chances de que falasse sobre tópicos que gostaria que jamais fossem ditos na frente de sua mãe.

Quando Pansy apareceu à sua frente estava consideravelmente mais bronzeada, conseqüência de suas férias, pagas pelo ex-marido, claro, na França. A primeira coisa que fez foi correr até onde sua mãe estava sentada e abraçá-la fortemente, o que fez Draco se levantar subitamente, temendo que privasse sua mãe de oxigênio.

- Quando fiquei sabendo que estava melhor a primeira coisa que fiz foi voltar para a Inglaterra! – disse em sua voz esganiçada para forçar doçura que jamais teria. – Estou tão feliz que está bem Sra. Malfoy!

Chocada e escandalizada pelo comportamento da mulher, sua mãe conseguiu manter sua compostura perante o escândalo, e surpreendeu Draco ao retornar fracamente o abraço de Pansy.

- Obrigada...

- Pansy! Sou a Pansy! Namorada do seu filho em Hogwarts lembra? A escola – sorriu, agindo como se estivesse falando com uma pessoa debilitada mentalmente.

Como se fosse sua culpa pelo ridículo que passava, Narcissa olhou para ele com uma das sobrancelhas para cima, talvez pedindo alguma explicação.

- Não me lembro de Draco ter mencionado uma namorada...

Infelizmente Pansy não ouviu, ou decidiu ignorar, e continuou agindo como se fosse bem-vinda ali.

- Visitei você todos os dias, por Draco entende? Ele não podia ir porque estava fora do país. Eu levava sempre rosas para dar um pouco de cor àquele lugar horrível.

Apesar de ainda incomodada, sua mãe pareceu ficar tocada com aquela informação, mesmo Pansy falando como se Draco estivesse em férias no Havaí. Viu-se revirando os olhos, sabia que a razão da visita de Pansy não era preocupação pelo bem estar de sua mãe, havia sempre segundas intenções no que aquela mulher fazia. Com certeza queria ganhar pontos com quem acreditava ser sua futura sogra.

“Gina deveria estar fazendo isso...”, pegou-se pensando de repente, e quando percebeu quase engasgou com o chá que tomava. Sugerir que sua mãe seria sogra de Gina queria dizer que pretendia casar-se com a ruiva, o que certamente não fazia sentido.

- Agradeço a preocupação. Como vê, estou bem agora.

- Mas ainda em recuperação. Pode, portanto, soltar minha mãe agora?

- Ah! Me desculpe! – riu Pansy, finalmente terminando o abraço.

Seguiu-se um longo momento de silêncio, Draco encarando Pansy, Pansy sorrindo para sua mãe e por fim, Narcissa olhando para o filho com uma expressão de impaciência no rosto. Apenas Pansy parecia confortável naquele lugar. Sua mãe tomava lentamente uma xícara de chá como desculpa para não iniciar nenhuma conversa, Draco fixava seu olhar na “visita”, tentando fazê-la perceber que não era bem-vinda, enquanto aquela comia bolachas que não lhe foram oferecidas.

Não ficaria surpreso se trinta minutos tivessem se passado de tão incômoda que foi a cena. Mas o silêncio era melhor do que veio depois. Como previsto, Pansy falou mais do que a boca.

- É tão bom ver que a mansão continua linda como sempre, depois daquele acidente horrível! – disse observando ao se redor e mordendo sua décima bolacha.

- Acidente?

- É... Ele não te contou? Foi notícia por um tempo...

Antes que pudesse falar mais besteira sutilmente tirou sua varinha do bolso sem que nenhuma delas notasse e fez com que o bule de chá perto de Pansy tombasse na mesa, derramando todo o conteúdo em seu colo. Bruscamente ela se levantou, gritando de dor. Enquanto sorriu sentiu o olhar de sua mãe em sua direção antes de ela voltar suas atenções à “convidada”, chamando Groger para ajudá-la.

- Que acidente terrível, minhas desculpas – falou, o tom cordial mal escondendo indiferença.

Groger rapidamente secou e limpou a mesa e a saia de Pansy, que parou de gritar assim que ouviu o comentário de Narcissa, passando a sorrir como se tivesse ganho uma jóia cara.

- Oh, não é nada. Mal tocou em mim.

- Imagine se tivesse, seus gritos iam chegar aos ouvidos de Londres – comentou Draco, revirando os olhos.

Pansy riu, fingindo achar que aquilo havia sido um elogio. Sua mãe levantou um das sobrancelhas, incrédula. Draco avaliou as chances de repetir o “acidente”, só que mirando no rosto dela. Quando a comoção terminou e Pansy voltara a se sentar, sua mãe voltou ao assunto anterior, para seu horror.

- Você estava falando de um acidente?

- Sim, sim. Terrível. Falaram que foi um acidente, mas eu sei a verdade, não é mesmo Draquinho?

- Não tenho idéia do que você está falando.

- Sei – sorriu, mostrando finalmente seu lado mais sonserino, escondido por trás do papel de norinha perfeita. – Faz quanto tempo? Seis meses? Foi logo que Draco saiu de Azkaban.

- Azkaban! – sua mãe interrompeu, chocada. – Draco, você não me disse nada sobre ter sido preso! - Draco queria esganar Pansy. Mais: queria matá-la devagar e dolorosamente.

- Eu ia.

- Quando?

- Quando achasse que era melhor.

- O que mais não me contou?

Não respondeu, o que foi suficiente para deixar sua mãe mais indignada ainda. Pansy parecia estar se divertindo com a discussão, comia uma bolacha para disfarçar o sorriso.

- Draco? O que mais?

- Depois – cortou rapidamente.

- Ah, não se preocupe comigo. Meus lábios estão selados – riu Pansy, colocado um dedo na boca.

- Você fica quieta. Veio aqui só para se vingar, não foi? – gritou, sua paciência chegando ao fim.

- Vingar? Por Merlin, Draco, não tenho idéia do que está falando – disse em falso tom de inocência.

- Está convidada a se retirar, Parkinson – respondeu, apontando a saída.

- Draco! Não trate uma visita de forma tão rude! Explique-se!

- Essa mulher está inventando mentiras porque não quero mais saber dela. Simples assim. É só uma atirada em desespero - Pansy se levantou e ajeitou a roupa, sua encenação terminando.

- Passar bem, Sra. Malfoy. Espero que se recupere plenamente e assim possa dar uma lição no seu filho mal educado. Ele está escondendo muita coisa da senhora, cuidado.

Terminado seu discursinho patético, Pansy foi finalmente embora. No entanto, o estrago já havia sido feito.

- Explique-se – mandou sua mãe, claramente sem paciência para mais mentiras.

- Ela é louca.

- Não é sobre isso que estou falando - bufou, enquanto tentava ganhar alguns minutos para poder inventar uma história convincente que tivesse o máximo de verdade, o possível sem que ela enfartasse. - Eu não sou uma enferma no leito de morte, filho. E você não é mais uma criança que necessita temer uma bronca. Conte a verdade. Ou descobrirei de outra forma.

Talvez fosse a forma serena, porém, firme que falara, mas de algum jeito lhe trouxe segurança. Quem sabe não fosse algo tão ruim contar a verdade.

- A Ordem da Fênix me capturou no Egito e fui levado para Azkaban. Eu ia contar isso no hospital, mas fomos interrompidos. Passei um mês lá.

A informação a deixou consideravelmente menos irritada, tocou o ombro dele numa tentativa de lhe trazer conforto. Mas a verdade era que por mais enlouquecedor que fosse ficar em uma cela daquela prisão, sua estadia trouxe Gina em sua vida e, portanto... Não foi tão ruim assim.

- Como conseguiu sair de lá?

Ficou quieto por um tempo, decidindo se não era melhor contar logo a verdade, acabar com as dúvidas e ficar livre de culpa. Porém, lembrou de como ela defendera seu pai em St. Mungos. Não podia contar que falara para todo o mundo mágico que ela fora obrigada por Lucius a fazer algo, insinuando que não se amavam e, pior, que ele não ligava para sua família. Independente da visão de Draco sobre seu pai, ela ainda o amava demais.

- Fiz um acordo com o Ministro e o ex-marido de Pansy, diretor de Azkaban na época. Eu acusava a Ordem de ter sido torturado por eles e o Ministério perdoava meus crimes.

- Por que estavam atrás da Ordem da Fênix?

- Theodore Higgs era Ministro, odiava Potter tanto quanto nós. Tinha medo de que Potter ficasse muito popular e o tirasse do cargo.

- Compreensível. Mas ele acabou perdendo o cargo de qualquer forma, ao que parece.

- Sim – quase acrescentou “graças a mim” mas resolveu não apressar as coisas. – Acusações de corrupção. Felizmente já tinha cortado ligações com ele.

- Isso tudo em tão pouco tempo.

- Política pode ser bem volúvel – sorriu. Uma pena que não poderia contar seu golpe genial, sua mãe com certeza se orgulharia.

- E quanto ao “acidente” que aquela moça citou? Aliás, quem é ela? Não me lembro de você ter um namorada em Hogwarts... Muito menos uma tão...

- Burra?

- Eu ia dizer estranha. Mas concordo - sorriram.

- Ela estava fazendo tipo, é um pouco mais inteligente que aquilo, quando quer. Filha única dos Parkinson.

- Ah sim. Me recordo de conversar muito com a mãe dela, agora entendo por que a mulher aparecia tanto em casa. Provavelmente acreditava que era uma mera questão de tempo até que vocês se cassassem.

- Bem... Tecnicamente... Pansy era a escolha mais lógica - sua mãe levantou as sobrancelhas, surpresa por Draco ter pensando em casamento naquela época - Família tradicional, rica, influente... Ela era a melhor garota da Sonserina na época – estava ficando um pouco incomodado de conversar aquilo na frente da sua mãe, não era um assunto que tocaria normalmente. – Pelo menos ele aprovou.

Sim, seu pai achava que Pansy não era de tão mal. E por mais imperfeita que fosse, Pansy havia sido sua propriedade em Hogwarts, o que foi suficiente por um bom tempo. Felizmente, as coisas mudaram, para bem melhor.

- Entendo. Uma pena que não me consultou sobre o assunto, teria feito seu pai repensar a “escolha”. Se fossem esses os critérios ideais para procurar um par, ele não teria tido chances comigo em nossa época – sorriu, um pouco tristeza escondida por trás.

- Os Malfoy...

- Eram uma ótima família, porém, havia melhores. Receio que nesse aspecto Bella teve o melhor casamento.

- E deu no que deu – deixou escapar.

- O que quer dizer com isso?

- Nada.

Obviamente que não foi convencida pela resposta, mas mais uma vez deixou passar o comentário.

- Sua história ainda não terminou, não é mesmo?

- O tal “acidente” foi a razão de eu ter reformado alguns cômodos da casa. Armadilhas foram colocadas na mansão. Quando voltei para cá, elas explodiram.

Sua mãe arregalou os olhos e colocou uma das mãos na boca, chocada.

- Quem poderia ter feito algo tão horrível?

Desviou o rosto rapidamente, mas depois voltou à olhá-la antes que notasse algo de estranho.

- Comensais.

- Não faz sentido.

Draco deu de os ombros, parecendo não saber realmente o que se passara.

- Foi o que o Ministério deduziu. Fiquei no hospital alguns dias me recuperando, mas não foi nada de grave. Depois que saí de lá, me dediquei a reformar a casa e curá-la.

- E conseguiu ambas – sorriu, colocando sua mão direta na bochecha dele. – Obrigada. Passou por tantas dificuldades e eu não pude ajudar em nada... – suspirou. – Mas o que importa é que está tudo bem novamente. Agora podemos nos concentrar em achar uma noiva realmente adequada pra você, que tal?

Quase engasgou com o chá que tomava. Sua expressão de horror fez sua mãe rir abertamente, apenas entendendo metade sua aflição.

- Está bem, sem pressa. Um passo por vez. Primeiro, minhas roupas estão em péssimo estado, preciso de novas. Estou pensando em ir visitar o Beco hoje, me acompanha?




Hermione Granger conseguiu se provar a noiva mais neurótica que já andou na Terra em apenas uma tarde. Além de ter comprado dezenas de livros velhos e empoeirados sobre união matrimonial através dos séculos, estilos de cerimônias e vestidos antigos, também comprou terríveis livros de auto-ajuda sobre casamento de autores que provavelmente tinham o mesmo nível de qualidade que Lockhart. Para piorar, os lia enquanto andava com Gina pelas ruas do Beco Diagonal.

O que deveria ter sido simplesmente uma prova do vestido de noiva se tornou um tour pelo mundo do casamento. Sem contar as pessoas que paravam as duas na rua para cumprimentar Hermione sobre a união, às vezes andar com gente famosa era péssimo.

Quando Gina já não estava mais sentindo seus pés de tanto andar de loja em loja finalmente Hermione resolveu entrar na Madame Malkin para ver seu vestido. Prometera à Gina que seria a última parada e depois as duas iriam comer algo n’O Caldeirão Furado.

Foram atendidas pela própria Malkin, que já conhecia Hermione, mas ainda não vira Gina, a madrinha. O que primeiramente causou alvoroço, a dona da loja queria que Gina experimentasse dezenas de modelos para usar no casamento mas, graças à Merlin, foi cortada por Hermione, que pediu para ver seu vestido.

Era um modelo realmente bonito, um pouco clássico demais para o gosto de Gina. Imaginava seu próprio mais simples e decote mais generoso. Porém, entendia que Hermione estava longe de ter seus gostos e que um vestido mais tradicional combinava melhor com a cunhada. Fez seu papel de madrinha muito bem, fazendo comentários quando achava realmente necessário e elogiando o que gostava.

No fim das contas o objetivo de esquecer Draco foi atingindo com pleno sucesso. Até ele resolver estragar tudo parando na frente da loja com sua mãe ao lado. Olhavam a vitrine e se não fosse o tamanho avantajado da Madame Malkin e o vestido bufante de Hermione teriam visto Gina lá dentro.

Para piorar a situação, Narcissa resolveu entrar na loja! Pensando rápido, levantou da cadeira em que sentava e se escondeu nos provadores nos fundos.

- Gina! Onde está indo? – chamou Hermione, confusa mas incapaz de se mexer com Malkin lhe tirando as medidas.

- Sssh! – pediu, entrando num provador e fechando a porta bruscamente.

No minuto que se fechou perguntou a razão de estar se escondendo. Concluiu que definitivamente não queria ver Draco. Se ele quisesse que fosse atrás dela. Em segundo, também não estava ansiosa para encarar Narcissa Malfoy. Tinha medo de não se controlar na frente deles e acabar brigando com Draco. Por mais que quisesse que as coisas se resolvessem, precisava que a iniciativa fosse de Draco. Não apenas era uma questão de orgulho, mas também necessidade de certeza do que sentia por ela.

Concentrou-se em ouvir o que se passava dentro da loja, temendo que tivesse deixado Hermione à mercê das cobras. Se Draco a atacasse de qualquer forma, ou deixasse que sua mãe o fizesse sairia e lhe estuporaria até a China.

- Será que pode me atender? Estou com pressa – reconheceu como a voz de Narcissa.

- Me desculpe Sra. Malfoy, mas a Srta. Granger tem hora marcada.

- Entendo. Esse vestido realmente precisa de toda ajuda que conseguir.

“Cobra venenosa”, pensou Gina, já se preparando para o pior.

- Mãe vamos para Gladrags – disse Draco, seu tom forçadamente despreocupado. – Para que perder tempo aqui?

Será que estava com medo que Hermione contasse para Narcissa sobre Gina? Ou estava querendo evitar á insultá-la?

- Está bem, vamos.

Escutou passos e o sino da loja tocando e por fim a porta fechando. Estava prestes a respirar aliviada, quando ouviu Hermione:

- Quer dizer que devo tirar você da lista de convidados para o casamento, Malfoy? – disse em plena voz alta, que só podia estar se dirigindo à Draco, ainda dentro da loja.

- Se um dia eu estive nela, Granger, o erro foi seu.

- O erro foi da minha madrinha, na verdade. Devo avisá-la?

Houve um pausa.

- Não seja precipitada, Granger.

Gina sentiu sua esperança voltar rapidamente e quase abriu um sorriso de alívio. Mas ainda faltava muito para aquilo ser uma confissão de amor eterno. Nisso ouviu o sino tocar novamente, Narcissa entrando outra vez.

- O que houve Draco? – Narcissa perguntou em tom impaciente.

- Nada, só relembrando velhos tempos de Hogwarts.

Ouviu outra vez a porta se fechar, daquela vez os dois indo embora. Esperou mais alguns minutos apenas para ter certeza que não voltariam, só depois saiu do provador.




N/A: Mil desculpas pela demora, mas a vida real é a fogo. Principalmente agora que estou estagiando e passando por um semestre muito complicado na faculdade, sorry. Nem nos finais de semana estou tendo paz (aliás agora mesmo enquanto escrevo isso estou fazendo um trabalho, sem exageros hahha). Bem, espero que tenham gostado do capítulo, a fic está acabado! E dessa vez sem continuação, risos.

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