E o final



Capítulo 10

E O FINAL

Quando entrou na masmorra onde o julgamento seria o fez com a cabeça erguida e sabia que todos os outros também faziam o mesmo. Eram inocentes e não se arrependiam de nada, tudo que haviam feito valera a pena. Não seriam políticos corruptos que tirariam aquilo deles. Apesar de os dementadores estarem dificultando as coisas consideravelmente, seus mantos cinza deslizando perto dela.


As bancadas altas estavam cheias de bruxos e bruxas que conversavam em murmúrios enquanto esperavam ansiosamente pelo começo do julgamento, o clima era tenso e poucos arriscavam a rir. Enquanto era colocada na cadeira com correntes nos braços Gina procurou com os olhos pelo familiar cabelo loiro prateado e a expressão arrogante mas, para sua decepção, não encontrou Draco.


Ele era sua última esperança... Tinha a ilusão, tola talvez, de que faria algo extraordinário para salvá-la... Até mesmo confessar que havia mentido sobre a Ordem. Porém, sua ausência quebrou qualquer resto de delírio. Provavelmente interpretou mal o sanduíche de mortadela, talvez era apenas uma forma de ele se vingar, oferecendo-lhe falsas esperanças para depois esmagá-las cruelmente. Afinal, Gina tinha dado mais do que uma razão para Draco a odiar. Ele não havia facilitado as coisas mas ela também não havia ajudado.


Gostaria que tivesse partido da mansão sem brigas... Pelo menos queria ter uma segunda chance para tentar de novo. Gina gostava de Draco, apesar do jeito como a havia tratado, apesar da velha rixa... Apesar de tudo. Infelizmente sabia que era impossível, não daria certo entre os dois. Esperava demais dele, coisas que nunca conseguiria oferecer a ela, mesmo se quisesse. E faltava o mais importante para que os dois pudessem ficar juntos: confiança. Será que era capaz de confiar nele? Já tinha no passado mas... Conseguiria o suficiente para ficar juntos? Não achava possível.



Porém nada mudava o fato que... Sentiria sua falta todos os dias, fossem passados no frio cortante de Azkaban ou em liberdade.


As correntes a prenderam forte na cadeira e foi forçada a encarar a bancada do Conselho da Lei da Magia. Havia por volta de cinqüenta membros do Wizengamot, todos com vestes cor de ameixa e poucos familiares a Gina, porém ficou muito feliz de não encontrar Terence Higgs entre eles. Era a melhor notícia em dias! Sem ele tinham uma chance de serem inocentados!


Sentiu o olhar de Harry e virou para fitá-lo. Parecia que tinha percebido a mesma coisa que ela e trocaram sorrisos de alívio, mas que duraram pouco, era incapaz de agüentar encará-lo por muito tempo. Durante uma das várias e intermináveis noites em Azkaban, prometera a si mesma que se seu destino não fosse morrer na prisão contaria a Harry a verdade. Por mais errado, perigoso e sem futuro que aquilo que sentia por Draco era, não podia mais negar. Seria mesquinho e covarde esconder e fingir que tudo estava bem entre Harry e ela. Mas era cedo demais para pensar nos possíveis problemas que enfrentaria... Liberdade e suas conseqüências ainda estavam longe.


Quando todos os acusados estavam firmemente presos às suas cadeiras um homem pequeno e nada imponente deu início, gaguejando, à sessão da corte. Com um aceno da cabeça a uma menina de óculos quadrados se dirigiu a todos da masmorra, sua voz fraquejando a principio:


- H-Harry JPotter-r, Hermione G-Granger, Ronald Weasley, Neville Longbottom, L-Luna Lovegood, Fred Weasley, George Weasley e Ginevra Weasley, vocês estão perante a Suprema Corte dos Bruxos para serem julgados por uma série de acusações graves, sendo as principais: Violações ao Estatuto Internacional do Sigilo, Decreto de Proibição à Uso da Magia para Fins Imorais, extremas acusações de violência contra aurores do Ministério da Magia, resistir a prisão e planejar um golpe de Estado para depor o Ministro da Magia eleito conforme as leis de nosso governo. A sessão da corte será presidida por Griselda Marchbanks, Juíza da Suprema Corte. O júri é composto pelos membros do Conselho Wizengamot da Lei da Magia. Inquisidores: Adrian Pucey Jr., Ministro da Magia, Gawain Robards, chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia e Nina Pleasegood, Chefe do Departamento do Uso Indevido da Magia.


Gina não ouviu o resto do que ele falava depois do nome “Adrian Pucey Jr.” seguido do titulo de Ministro da Magia... Higgs tinha saído do cargo? Por quê?


Mais uma vez tentou achar Draco pela platéia... Havia uma sensação de que tinha algo a ver com isso. Outra vez não o viu.


- E você, Ginevra Weasley, também alega ser inocente de todas as acusações?


Demorou alguns instantes para notar que estavam falando com ela e Pucey teve que chamar sua atenção. Sua voz agora estava muito mais confiante, provavelmente começava a gostar da sensação de estar no comando e isso lhe trouxe segurança.



- Então?


- Sim. Sou inocente. Nunca fizemos nada além de proteger e defender...


- Limite-se a responder as perguntas – interrompeu Griselda, sua voz neutra porém dura.


Neville, que estava sentado do outro lado de Gina, tentou se ajeitar na cadeira, incomodado com a presença da juíza, que era amiga de sua avó. Pobre Neville... Quando saíssem daquela enrascada teria que enfrentar sozinho a fúria da avó.


Se saíssem.



Estava atrasado... Muito atrasado. Andava rápido pelo saguão da sede do Ministério até o elevador, não se importando de bater contra os infelizes o bastante a estarem em seu caminho. Tinha que chegar na corte número dez o mais rápido possível, não podia perder nada do que acontecesse no julgamento, qualquer imprevisto significaria mudança urgente nos planos. Draco estava determinado em garantir que Gina saísse daquela masmorra direto para... Bem, para qualquer lugar que não fosse Azkaban.



Quando o elevador infernal finalmente resolveu cooperar e descer até o andar que precisava, navegou pelos corredores até a entrada da corte e finalmente ajustou o passo para que sua ansiedade não fosse exposta para todos. Por que Draco Malfoy suaria uma gota sequer de seu corpo para chegar lá?


Abriu a porta parecendo despreocupado mas tomando cuidado para não chamar atenção desnecessária. Não estava lá para levantar suspeita, muito menos chamar atenção. Fechou a porta silenciosamente e sentou numas das arquibancadas mais distantes no primeiro lugar vago que viu. Felizmente a tensão na masmorra era tanta que ninguém pareceu notar sua chegada.


Com sua posição assegurada fixou o olhar no que interessava: Ginevra. Estava presa pelas correntes nos braços da cadeira em que estava sentada e de frente para a bancada principal da corte, onde os membros do Wizengamot se encontravam. O que mais o incomodava eram os dementadores presentes nos cantos do lugar para garantir que não houvesse nenhuma tentativa desesperada de fuga. As criaturas desgraçadas deveriam estar mais do que contentes (se sentiam algo) em sugar a felicidade de centenas de bruxos.


Concentrou-se então em ouvir o julgamento, esperando que não tivesse perdido nada de importante.


- Não! Não fizemos nada disso! – protestou Potter, cuspindo praticamente na cara de Adrian Pucey. – É mentira... Não torturamos nenhum deles! Entregamos direto para o Ministério e até Higgs, vocês nunca reclamaram do que a Ordem fazia. Draco Malfoy mentiu. É o que ele faz para viver! É o que o pai dele sempre fez e...


Lindo... Chegara bem no momento que o seu testemunho de tempos atrás estava sendo questionado.



- Não é preciso o testemunho de Sr. Malfoy para provar seu comportamento violento, Sr. Potter – interrompeu Pucey. – Suas ações passadas, seu comportamento na escola... E tantos outros casos duvidosos bastam.


Murmúrios se alastraram como fogo e Draco se viu, brevemente, em um momento onde a inocência da Ordem lhe traria problemas quanto sua própria “inocência”. As duas coisas não poderiam coexistir. Mas iriam em breve porque Nancy Pleasegood fez exatamente o que ele havia pedido que fizesse...


- Eles vão atacar meus amigos, vão usar golpes sujos... Eu sei que vão! Não é um julgamento justo se tentassem acabar com a reputação deles, não é? Estamos falando de Harry Potter! Ele é praticamente um santo! Sei que você é justa, então não deixar isso acontecer.


- Oh, claro que não! Devemos muito a Harry Potter e os seus amigos.


Até hoje a conversa era hilária mas tinha suas utilidades.


- Não estamos aqui para julgar o comportamento anterior de Harry Potter – cortou Nancy, séria. – E sim pelos crimes que cometeu agora, Sr. Ministro. Ou então terá que lembrar o resto desta corte também as qualidades dele.



- Mas existe importância em analisar...


- Pleasegood está certa, Pucey. Mantenha-se no presente – encerrou a discussão a velha tripa-seca Marchbanks.


Draco se sentia o mestre das marionetes, jogando um contra o outro... Com Pucey teve a certeza que não seria chamado a depor e seu testemunho de repente não valeria nada... Com Pleasegood garantiu que Potter e o resto da Ordem não fosse transformada em loucos violentos. E com a tripa-seca tinha a certeza que, lá bem no fundo, a velha apoiaria Nancy.


Voldemort era mesmo um idiota. Para que matar pessoas se você pode simplesmente controlá-las sem que percebessem? Talvez ele não tivesse sido um idiota... Era justamente por ser incrivelmente inteligente e poderoso que não se contentava em ficar nas sombras. Sempre gostou de ser o centro das atenções... A vaidade de Draco, e ao que parecia de seu pai também, era de outro estilo. A superioridade deles não precisava de auto-afirmação.


Balançou a cabeça, voltando a prestar atenção no que os interrogadores falavam. A pergunta agora era dirigia a um daqueles gêmeos bárbaros que Draco era incapaz de distinguir... Igualmente feios e idiotas. As coisas seriam tão mais fáceis se Gina odiasse sua família imbecil...


Gred ou Forge, que seja, respondeu em forma de piada a pergunta de Robards. Um grave erro, o homem não sabia distinguir uma piada de uma privada voadora pink dançante. Felizmente, Pleasegood riu e vários membros atrás dela fizeram o mesmo. Por alguns instantes a tensão na masmorra diminuiu, até que Marchbanks parou a “balburdia” e mandou que as perguntas continuassem.


O interesse de Draco diminuiu consideravelmente com o passar das intermináveis e chatas horas do julgamento, apenas voltando quando alguém se dirigia a Gina. Ficava claro a cada pergunta fraca e sem inspiração que os membros do conselho não estavam querendo realmente condenar Ordem. Perguntas estúpidas como “Por que vocês estavam planejando tirar Terence Higgs do poder?” agora realmente não tinham o efeito que teriam se Higgs não tivesse sido retirado à força pelo Wizengamot dias atrás. Potter estava novamente se tornando o herói de todos... De alguma forma ele sabia que Higgs era corrupto e por isso queria salvar os pobres bruxos de sua má influência e, se negasse que sequer planejava tal coisa era porque seria nobre demais para admitir. Pelo menos era o que todos naquele lugar queriam acreditar... Graças a Draco.



A ironia era gigantesca, maior que um hipogrifo e dois elefantes juntos. O plano dele era tão bom que Potter estaria salvo mesmo que tivesse cometido um massacre contra trouxas à luz do dia. Mas o que o tornava perfeito era o fato que metade dele se tornou completamente bônus apenas para aumentar a certeza do veredicto. No primeiro passo garantira a liberdade de Gina.


Claro que nenhum deles jamais admitira ou saberia que um Malfoy havia salvado seus traseiros inúteis. Também não tinha intenção nenhuma que descobrissem... Nem mesmo Gina. Era admitir sua fraqueza por ela na frente do mundo mágico inteiro. Sem falar que salvar Potter nunca seria motivo de orgulho.



Qualquer que fosse a resposta de algum dos prisioneiros das cadeiras as pessoas que assistiam murmuravam em aprovação... Poucas foram as vezes em que houve protestos e manifestações contra a Ordem. E os membros do Wizengamot, de modo mais sutil, acompanhavam o pensamento da audiência com alguns risos e acenos leves da cabeça. O julgamento estava no papo.


Seis horas depois os membros encerraram as perguntas e começaram a conversar entre si para suas últimas considerações antes da decisão final. A inocência era tão certa que o clima era quase alegre... Pleasegood até acenou para os gêmeos, um deles piscou de volta.


Uma piada... O julgamento foi uma total piada na verdade. Mas também, Higgs e suas armações eram patéticas. Esqueceu-se que do mesmo modo que opinião pública ficou a seu favor ela poderia ser manipulada de volta para o lado de Potter. Se seu plano de dominação puro-sangue se resumisse àquilo... Quase sentia pena dele.


Mas pena não era um sentimento que os sonserinos cultivavam.


Apesar da atmosfera descontraída, à exceção os dois gêmeos loucos e a loira desvairada que não parecia saber onde estava, Potter, Gina e o restante estavam ainda tensos. Inocentemente preocupados com o resultado! Parecia que ou o sanduíche de mortadela se perdeu no caminho da cela dela ou então Ginevra não tinha confiança nele o suficiente para ficar tranqüila.


A última alternativa, infelizmente, era a mais provável.


Que seja... Que ficasse preocupada e sofresse junto com Potter a agonia daqueles momentos. A consciência de Draco estava limpa... Não importava mais nem um pouco que os dois ficassem juntos e tivessem milhares de criaturas cavernosas de cabelos despenteados com...



Os bruxos de vestes cor de ameixa pararam de falar e se endireitaram solenemente. Depois de alguns instantes até que o silêncio voltasse por completo, Griselda Marchbanks levantou.


- Os que são a favor de inocentar os acusados de todos os crimes?


Draco sorriu, satisfeito, quando mais de trinta pessoas ergueram as mãos.


- E os que são a favor da condenação?


O restante, não mais que quinze bruxos, levantou os braços.


Antes mesmo que a juíza pudesse anunciar a inocência oficialmente a masmorra estava de pé, aplaudindo, assim como vários membros do conselho.


- Fred Weasley, George Weasley, Ginevra Weasley, Harry Potter, Hermione Granger, Luna Lovegood, Neville Longbottom e Ronald Weasley, vocês foram inocentados de todas as acusações e estão livres – a voz firme da velha vibrou pelo lugar, utilizando um feitiço para aplicar sua potência. Havia um sorriso aberto na cara enrugada dela agora.


Os dementadores foram dispensados, Pucey parecia que estava prestes a vomitar, Gawain encarou Draco com um olhar de desafio, Nancy acenou de novo para os gêmeos, Croaker estava revirado os olhos e com a mão no bolso cheio de moedas. As correntes das cadeiras libertaram um a um os recém inocentados, que logo que puderam pular de alegria e se abraçar que nem macacos. Muitos dos bruxos e bruxas nas arquibancadas desceram e foram comemorar com a Ordem, provavelmente gentalha conhecida deles.


Por todos os lados que virava encontrava alívio e felicidade. Era pior do que quando acordou em St. Mungos do lado do quarto de Granger. Pelo menos, até agora, não havia balões coloridos.



Levantando elegantemente de seu lugar, Draco ajeitou suas vestes, deu uma última breve olhadela em Ginevra (que abraçava seus irmãos bufões) e discretamente, assim como entrou, abriu a porta da corte e foi embora.


Sem arrependimentos.


Até parece.


Minutos depois as portas do elevador se abriram, mas ele foi impedido de continuar.



Gina não conseguia conter a alegria... Era impossível parar de rir, de abraçar qualquer pessoa na sua frente! Estavam livres! Finalmente. E não só de Azkaban mas de Higgs e perseguições... Nada mais de disfarces, meses longe de casa, longe daqueles que amava! Sua vida poderia voltar ao curso natural... Poderia conseguir um emprego melhor e pagar pelo resto da Academia de Aurores...


Abraçou Rony pela vigésima vez e pela décima ele a levantou para o alto e rodou rápido, fazendo toda a masmorra passar por seus olhos... E foi então que o viu.


Draco.



- Me põe no chão, Rony! – gritou aflita.


Ele obedeceu, uma vez na vida, e a olhou, confuso.


- O que foi? Que houve?


- Fiquei tonta – mentiu, tentando olhar por cima do ombro do irmão para não o perder de vista, Draco estava se levantando de uma das arquibancadas mais afastadas, prestes a ir embora. – Acho que preciso de um pouco de ar.


- Erm... 'Tá bom. Agora você tá livre para ir onde quiser – riu e foi abraçar Hermione.


Dando as costas para as comemorações, Gina correu até a saída, perdendo o primeiro beijo em público entre o irmão e Hermione, sem contar a reação imperdível do resto da família.


Só parou de correr quando viu suas vestes verdes escuras. Estava parado de costas para ela, esperando o elevador... Reparou imediatamente que tinha cortado o cabelo. Sorriu sozinha, imaginando o que diria se soubesse quantas vezes teve vontade de cortar ela mesma sem que percebesse.


As portas do elevador se abriram. Ela parou de sonhar acordada e se aproximou afobada, colocando a mão no ombro dele.


- Draco! – chamou, quase sem fôlego.



Ele se virou para encará-la, sua expressão impossível de ler... Ela odiava como Draco era capaz de recuperar tão bem de uma surpresa e vestir uma máscara de indiferença. Mais por inveja de não conseguir fazer o mesmo do que pelo fato que ele tinha essa habilidade.


- Eu... Não sabia que tinha vindo – tentou. Tinha que começar de algum lugar, afinal. – Não vi você quando entrei e... E... Erm...


- Estou meio que com pressa aqui – informou, apontando para o elevador que ameaçava ir embora sem ele.


Precisava tentar...


- Não tem nada para falar para mim? – suplicou.


Por favor... Por favor... Só fale que errou quando me beijou, que sente muito por agir como um asno no baile... Prove para mim que é não é egoísta... Por favor.


- Acho que já falei tudo. Quer mais? Arranje um papagaio.



- Por que veio? Por que... – suspirou, cansada. – Por que veio se era apenas para ir embora sem dizer nada? Estou cansada de ter que colher migalhas para acreditar que você se importa comigo. Cansada de eu ter que falar o que você sente quando são só suposições que...


- Algumas vezes se acerta, outras não. É a vida. Agora se me dá licença...


- Vou tentar outra vez... Você teve algo a ver com o resultado do julgamento? Achei que o que me deu em Azkaban significasse que me ajudaria... Mas como fez isso se não confessou que mentiu?


- Claro... Porque só existe um jeito de salvar pessoinhas: o jeito Potter. Tchau, Ginevra.


Mas ele não estava indo embora, aliás, ficou parado no mesmo lugar.



- Uma reposta sincera, Draco. Só isso que peço. Nada de distorcer, de escapar por insultos. Você não vai morrer se falar a verdade sem rodeios.


- Que seja. Eu vim aqui para ver vocês todos serem executados em praça pública. Que tal essa verdade sincera para você, Ginevra?


- Está mentindo.


- Não.


- Está sim. Levantou a cabeça um pouco, empinando o nariz... Faz isso quando está na defensiva.


- Não faço nada disso. Deixe de ser ridícula – mentiu, repetindo o movimento.


- Acabou de fazer novo.


- Não, não fiz.



- Aí está outra vez.


- Não!


Gina riu, o que o deixou mais indignado ainda.


- Você ajudou a Ordem. Não sei como, mas ajudou.


- Correção: ajudei você. O resto dos panacas foi questão de semântica. Era o julgamento da Ordem, não só seu infelizmente.



- Então admite! Foi você mesmo! – gritou radiante, quase ameaçando pular nele e o abraçar.


- Não me agradeça – afastou-se, prevendo sua intenção.


- Tarde demais: Obrigada – sorriu. – Não sabe o quanto...


- Olha, é bem simples: fui eu que coloquei você nessa confusão. Então tinha que resolver o problema.


- Mas não teria mentindo sobre a Ordem se eu não tivesse colocado você em Azkaban em primeiro lugar.


- Talvez... Só que quem resolveu virar Comensal? Definitivamente minha culpa essa parte.



- Não importa mais... O que fez, o que eu fiz... Só importa que você acabou de me salvar de uma vida inteira em Azkaban. E fez mesmo sem esperar que eu... Não ia nem mesmo me contar depois, não é? Tentando provar que eu estava errada de novo, Draco Malfoy? – perguntou com um meio-sorriso, referindo-se a todas as vezes que fizera algo por ela e justificara com a mesma desculpa.


- Não. Dessa vez não.


- Pena. É a única vez que queria ser provada errada – sorriu.


A porta do elevador havia se fechado há muito tempo e nenhum dos dois havia notado. Gina se aproximou dele lentamente, olhos fixados em sua face. Com certa relutância ergueu as duas mãos e segurou seu rosto, gentilmente fazendo com que Draco se inclinasse um pouco para frente. A ponta de seu nariz arrebitado tocou na do pontudo dele por um instante até que inclinaram suas cabeças para lados opostos e a respiração de ambos pudesse ser sentida em suas peles.


Os lábios de Gina tocaram de leve nos dele, afastando-se logo em seguida, esperando resposta. Fechou os olhos assim que Draco a beijou de volta. As mãos dele seguraram sua cintura conforme intensificava o beijo e sentiu arrepios correndo por suas costas.


Dessa vez nenhum dos dois queria parar. Poderia ter passado uma hora ou um segundo que não faria diferença. Estavam juntos e era a única coisa que importava.


O som do elevador despertou os dois, tinha voltado para aquele andar e abriu suas portas outra vez, felizmente estava vazio.


Não se separaram logo em seguida, apenas pararam o beijo e permaneceram do mesmo jeito, lamentando silenciosamente terem que terminar algo tão certo. Gina não conseguiu abrir os olhos mas tirou as mãos do rosto dele e ao invés o abraçou.



- Isso não vai dar certo.


- Por que não? Potter? – perguntou, seu tom dando sinais de amargura.


- Não... Também. Mas... Você ainda vai gostar de mim daqui um mês? Ano? Década?


- Não tenha dúvidas. É difícil se livrar de você, Weasley. É como um vício muito bom que te mata mas prefere morrer a largar. E você? Não esqueci das coisas que disse. É capaz de confiar em mim? Porque não vai ser fácil...


- Você fez coisas extraordinárias por mim. Do seu jeito estranho, mas fez. Eu confio em você. Mas... E quanto o resto do mundo? Todo mundo vai ser contra... Vai ser um escândalo.


- Você se importa?


- Não, mas...


- Então que se dane o resto do mundo.


- Minha família vai ter um colapso nervoso... Meus irmãos... Eles podem te matar, sabia?



Draco riu.


- Até parece. Eu posso vencer todos eles juntos com uma das mãos nas costas. Bando de idiotas im...


- Draco.


- Está certo. Bando de idiotas, ponto.


Abriu seus olhos e levantou o rosto um pouco, pois ele era mais alto, e o fitou, séria.


- E Harry?


- Posso matá-lo por você. Presente de volta de Azkaban.


- Tenho que conversar com ele. Explicar o que aconteceu.


- Nah, deixa ele sofrendo... Sem saber de nada. Potter CORNO! Isso sim valeria a pena ver.



- Se vamos ficar juntos você vai ter que parar de sentir prazer na desgraça alheia.


- Não alheia. Só do Potter.


- Até que eu fale com ele... Não podemos... – suspirou, com uma pausa. - Já fiz o suficiente para magoá-lo. Ele tem que saber a verdade, não gosto de machucá-lo.


- Eu gosto. Será que posso contar para ele ao invés de você?


- Não. Definitivamente não.


- Estraga prazeres.



- Isso é sério, Draco. Por favor.


- ‘Tá, ‘tá certo. Eu espero você se livrar do Cicatriz.


Vozes começaram a surgir no corredor... As pessoas começavam a sair da corte número 10 e logo estariam lá, vendo Gina Weasley agarrada com Draco Malfoy.


- Tenho que ir – suspirou Gina, afastando-se relutantemente de perto dele.


- Espera.


- Mas eles estão vindo...


- Não sou do tipo heróico. O que eu fiz para ajudar você no julgamento... Não vai se orgulhar de mim se souber o que foi.


- Eu não me importo.


- Agora. Agora que não sabe.



- Você fez o que fez por mim. Pelas razões certas, isso que importa. É isso que faz heróis, Draco. Não é seguir regras ou quebrá-las... E sim lutar pelo que acredita.


- Você é mesmo uma grifinória tolinha – riu.


- E você um sonserino pretensioso.


- Exatamente por isso é melhor que dê o chute no Potter logo. Odeio esperar.


Revirou os olhos, deu-lhe um pequeno beijo rápido na bochecha e foi em direção das vozes que agora estavam mais perto enquanto Draco se virou e entrou no elevador.


Conforme andava tentando parecer que nada de anormal tinha acontecido, revivia em sua mente cada frase que trocaram várias e várias vezes. Não podia acreditar... Era isso então. Sua decisão... Sua escolha. Estava louca... Completamente doida! E não podia se sentir mais feliz. Depois de tantas reviravoltas, brigas, reconciliações... E todos os problemas que enfrentaria? E as dúvidas que teria? Não fazia diferença, queria ficar com ele e o resto resolveria conforme aparecesse. O agora era só o que importava.


Era arriscado e talvez não desse certo. Mas se não tentasse, se arrependeria e sabia disso.


Olhou para trás e viu que o elevador já tinha subido... Virou e sorriu abertamente para o grupo animado que vinha ao seu encontro.


- Ei Gina! Vamos para o Beco Diagonal comemorar! Tom reservou uma mesa n'O Caldeirão Furado! – gritou George enquanto apoiava o braço no ombro dela. – Vamos te ensinar como beber Fogo no Rabo.



- George! – protestou chocada sua mãe, que viera ver o julgamento e antes estava extremamente aflita.


- Não se preocupe mãe, eu já sei beber Fogo no Rabo – riu Gina.


Os olhos de sua mãe arregalaram imensamente, quase saltando para fora, e todos caíram na risada.


Não sabia o que fariam quando descobrissem que Draco e ela estavam apaixonados. Provavelmente achariam que havia colocado uma maldição Imperius nela e o matariam na primeira oportunidade. Só esperava que não ficassem muito decepcionados com ela. Desde seus 11 anos de idade era fato claro para sua família que estava apaixonada por Harry, seria apenas lógico que os dois terminassem juntos, como todos esperavam. Para eles era só uma questão de tempo para que Harry entrasse para a família oficialmente.


- O que foi Gina? – perguntou gentilmente Hermione quando chegaram n'O Caldeirão Furado. – Ficou quieta de repente.


O bar todo estava lotado de amigos e parentes, todos comemorando, bebendo, cantando e dançando (no caso de Fred e George em cima da mesa enquanto gritavam “Nós conseguimos! Nós conseguimos!”). Estava sentada ao lado de Hermione e Harry, que para seu desconforto, havia colocado a mão em sua cintura.


- Não é nada. Só cansada.


Na verdade Hermione não havia parado um minuto desde que chegaram de comentar o julgamento, analisando cada mínimo detalhe e finalmente chegara no assunto “Draco”. Gina não queria ouvir a amiga falando mal dele... Aquilo a deixava irritada e com vontade de gritar para todos que, apesar de ser arrogante e ter um ego maior que a Lula Gigante, Draco era uma boa pessoa. Lá no fundo. E que além do mais tinha salvado todos eles! Mas não podia e tinha que agüentar a onda de insultos que estava tomando conta da mesa.



- Devo admitir que estranhei quando não o chamaram para depor... Afinal foi a mentira dele que começou tudo isso! – continuou Hermione, ignorante do fato que incomodava Gina.


- Deve ter ficado com medo de encarar a gente frente a frente e continuar cuspindo mentiras! – gritou Rony, tomando outro gole de firewhiskey. – Fuinha imbecil!


- Agora deve estar sozinho naquela mansão gigante, choramingando sua derrota – riu Harry. – Ninguém quer ele agora. Para quem vai pedir socorro agora que Higgs foi preso?


- Ainda não acredito que Higgs foi deposto! Foi muita sorte... Mas um pouco coincidência demais – disse Hermione, desconfiada.


- Ah, Hermione! Quem se importa? – riu Rony.


E para a revolta dela, Rony a beijou do nada, na frente de todos, quando terminou com um sorriso, gritou:


– Isso merece um brinde!


Hermione abriu a boca em protesto quando seu namorado subiu na mesa com um copo cheio de cerveja amanteigada que começava a cair em cima de todos abaixo dele. Ele assobiou para chamar atenção do bar todo.


- Rony desce já daí... Você está bêbado! – protestou inutilmente.



- Atenção pessoas desse bar! Eu tenho um grande anúncio para fazer então ouçam! – gritou, fazendo que todos parassem de falar e prestassem atenção. – Eu e Hermione estamos juntos muito tempo agora... E nos divertimos muito, se entendem o que eu digo!


- RONY! – gritou Hermione, que estava mais vermelha que um tomate.


O bar todo gritou de alegria, assobiando e rindo.


- A verdade é que foi tudo em segredo até agora... Porque não tínhamos exatamente a vida ideal para um namoro... Com toda a história de correr perigo todo dia e quase morrer a cada mês. Mas... Isso acabou. E agora... Agora eu posso dizer na frente de todo mundo: Hermione, eu te amo!


De novo a platéia assobiou e gritou. Hermione ainda estava vermelha no rosto todo mas agora sorria, emocionada.


- Te amo, te amo, te amo! Você... Você É ela. É a que... – ele perdeu o rumo do discurso, estava completamente bêbado e praticamente caindo para trás.


- Anda logo com isso, Roniquinho! – gritou Fred do outro lado do bar. – Pede logo!


- Eu tinha todo um... Aquele negócio, como chama mesmo? Um discurso planejado... Sabe... Mas não estou lembrando muito bem agora... Desculpa... Então vamos lá! Hermione... Hermione Jane Granger, você quer se casar comigo? – e estendeu a mão para levantá-la também.



O bar todo entrou em caos completo, todos batiam palmas, assobiavam loucamente e gritavam “Aceita! Aceita! Aceita!” enquanto Hermione segurava lágrimas e tentava não desmaiar completamente. Gina virou para ela, rindo.


- Vai lá, Herm. Sobe.


Relutantemente ela pegou a mão de Rony e subiu na mesa, totalmente vermelha.


- Então... Você aceita? – perguntou timidamente, um traço de dúvida em sua face.


- Oh Rony... Você está bêbado. Não sabe o que diz.


De repente o lugar inteiro estava em silêncio, tensão clara em todos os rostos. Não era exatamente o que esperavam, principalmente Rony.


- Sei sim. Eu tentei pedir tantas vezes... Mas não podia. Você sempre falou que não era o momento para pensarmos num futuro. Mas eu pensei nele todos os dias desde que nos beijamos pela primeira vez, sempre tive certeza que era com você que queria ficar pro resto da minha vida. Casa comigo, Herm.


Ela estava chorando agora mas não de tristeza, sorria, radiante. De repente caiu em cima dele, abraçando-o forte.


- Claro que sim, Rony. Claro que sim!



O bar todo explodiu em palmas e Gina estava entre eles. Era perfeito, os dois mereciam ser felizes juntos para sempre. De palmas foram para risadas quando Rony caiu para trás, finalmente não agüentando o próprio corpo e levando Hermione junto, que caiu em cima dele.


- Espero que ele consiga lembrar do pedido amanhã cedo – gritou George.


- Hermione não vai deixá-lo esquecer – respondeu Fred, batendo seu cálice contra o de George e gargalhando.


A festa não perdeu a animação mesmo depois de horas mas o desconforto de Gina continuava a crescer. Ela estava tentando atrasar o inevitável e sabia. Mas como poderia terminar com Harry justamente quando ele estava tão feliz? Não parecia justo.


Quando O Caldeirão Furado começou a esvaziar a coisa toda piorou. Harry não costumava demonstrar carinho na frente de tantas pessoas mas agora que só haviam sobrado amigos próximos ele finalmente voltou sua atenção para Gina. Puxou-a com cuidado para mais perto dele e sorriu do jeito irresistível que sempre fazia. Quase doze anos apaixonada pela mesma pessoa não eram fáceis de ser esquecidos.


- Nós conseguimos – começou, aliviado. – Não achei que íamos, mas aqui estamos. Nosso trabalho acabou finalmente. Todos os Comensais estão presos, à exceção de Draco... Mas não importa. Ele é um inútil mesmo. E a Ordem está livre de todas as acusações. Vencemos Gina! Acredita? Tanto tempo sem ver o fim do túnel...


- Eu sei.


- Rony está certo. Estamos livres agora para vivermos o futuro que sempre sonhamos com. E eu...


“Ah não, Harry... Não termine essa frase. Não fale...”. Não suportaria ouvir o resto, era simplesmente doloroso demais.



- Ei Harry! Vem cá e cante com a gente o hino dos Canhões antes que Roniquinho vomite! – chamou George.


- Já vou... Só um minuto – respondeu, virando para Gina e abrindo a boca para continuar. – Gina, o que eu quero dizer é que...


- Vem logo, cara! – insistiu o gêmeo. – Ele está ficando verde!


- Vai lá, Harry. Tudo bem – incentivou. – Nos falamos depois.


Relutantemente levantou da mesa e juntou-se ao grupo dos gêmeos que, com Gui, Neville (muito envergonhado e sóbrio), Lino Jordan, Rony, Simas e Dino, começaram a gritar - e não cantar, porque era ruim demais para ser música - o hino do time.


- Eles son horrríveis – comentou Fleur, horrorizada com os sons que os homens estavam fazendo. – Alguém defia parrá-los.


- Daqui a pouco param e começam a relembrar os “bons e velhos” tempos... E uma hora mais ou menos depois estão dormindo, Fleur. Não se preocupe – informou Angelina Johnson, rindo.


Gina observou o grupo desafinado por um longo tempo, percebendo o quanto tinha sentido falta daquilo. Daquelas reuniões alegres... De seus amigos e família juntos se divertindo. Será que perderia aquilo outra vez se escolhesse Draco? Será que aceitariam sua decisão?


- Ainda não consigo acreditar que terminou – sorriu Hermione, sentando-se do lado de Gina outra vez. – E... Que Rony me pediu em casamento na frente d'O Caldeirão Furado inteiro!



- Acho que estava tentando compensar por ficar tanto tempo nas escondidas, Hermione – riu Gina.


- Então conseguiu – bufou, tentando parecer irritada, sem sucesso. – Mas, bem, foi até que bem romântico de um jeito muito estranho.


“Bem vinda ao meu mundo”, pensou Gina, lembrando de todas as vezes que as atitudes de Draco podiam ser classificadas da mesma forma. Soltou um suspiro que não passou despercebido por Hermione.


- O que foi?


Não conseguia responder, queria falar para Hermione o que sentia e a decisão que tinha tomado mas... Não era para ela que deveria dizer.


- Gina, que houve? – insistiu, preocupada com a falta de resposta.


Decidida, levantou da mesa e foi em direção ao grupo de cantores frustrados que assim que a viram começaram a cantar uma balada à sua homenagem. Bêbados...



- Ei! Olha a Gina! Nossa queridinha pequenina de nariz arrebitado... Ela merece uma música! Não acha Gred?


- Com certeza, Forge!


Começaram a gritar uma letra sem pé nem cabeça e o restante do grupo seguiu animadamente.


- Gina, ela é tão gente fina! Ela é legal, ela balança o coração de todo o mundo mágico... Todo mundo quer ser Ginaaaa!


Revirando os olhos para a cantoria deprimente, aproximou-se de Harry (que repetia o refrão mais rindo do que cantando) e falou baixo em seu ouvido:


- Precisamos conversar.


- Suspirando palavras de amorrr no ouvido do Harry! Uhhh, oh yeah!


Os gêmeos podiam ser muito irritantes quando se esforçavam. Harry olhou para ela um pouco confuso mas se levantou e a seguiu para fora, saindo no pequeno beco onde estava o muro de tijolos que dava para o Beco Diagonal. Ainda podiam ouvir a música terrível dentro do bar.


- O que houve Gina? Algum problema, você parecia preocupada...



- Não podemos mais ficar juntos, Harry.


Encarou-a sem acreditar, rindo fracamente supondo que fosse alguma piada.


- Do que está falando?


- Não podemos, sinto muito.


Ele passou a mão no rosto e depois empurrou os óculos para cima. Estava nervoso e confuso, Gina sabia que em breve teria que explicar em detalhes, o que pioraria mais ainda a situação.


- Por quê? Achei... Achei que estávamos bem. Não estamos?


- Desculpe. Sinto muito... Mas as coisas mudaram... Eu mudei.



- Gina... Não estou entendendo. Mudou como? O que aconteceu?


Respirou fundo, soltando um longo suspiro.


- Harry... Você sempre foi aquele por quem esperei praticamente minha vida inteira. Tive namorados mas nenhum importou... Era você sempre. Desde que Rony contou sobre seu amigo lendário durante as férias... Pode-se até dizer que eu gostei de você antes mesmo de vê-lo. Era paixonite boba quando tinha 11 anos mas depois ficou maior e não sumiu. Você salvou minha vida. E... Depois de tanta espera, de sonhar tanto... Você me beijou na frente da Sala Comunal inteira e tudo pareceu que daria certo.


- Gina...


- Me deixe terminar, ok? Preciso falar isso, te explicar. Aceitei e entendi a sua razão de desmanchar comigo. Harry, você é assim... Nobre e corajoso. Precisava garantir que eu ficasse segura. Mas e depois? Quando Voldemort já estava derrotado e você livre? Sempre me perguntei por que nunca tentou voltar comigo... E o modo que me tratou! Achava que tinha me deixado para trás completamente.


- Eu não... Nunca esqueci você. Só não... Não conseguia...


- Eu sei, entendo agora. Mas a verdade é que passei tanto tempo apaixonada por você e sem retribuição que me acostumei com sua ausência. Sempre longe, distante e... Frio. Não é sua culpa, sei disso. O fato é que... Alguém ocupou no meu coração o lugar que era reservado para você. Me apaixonei por outra pessoa. Não porque quis... Acredite, tentei negar até o último minuto – riu debilmente. – E mesmo assim não consegui escapar.



- Quem? – suplicou Harry, engolindo seco e olhando para o lado, não conseguindo encará-la de frente. – Alguém na França? Era isso que você ia falar para mim no dia que fui capturado?


“Se ao menos fosse isso seria muito mais simples.”


- Não.


- Então quem? Acho que mereço saber.


- Não posso falar. Você vai me odiar.


- Nunca. Sempre vou te...


- Não fale – pediu, sentindo que choraria a qualquer minuto.


Ficaram em silêncio, com o som das vozes roucas dos gêmeos cantando uma música d’As Esquisitona ao fundo. Os punhos de Harry estavam fechados e sua testa franzida.


- Ele também está apaixonado por você?



Fraquejou por uma fração de segundo, perguntando-se qual era a resposta, mas depois venceu a dúvida que ainda restava.


- Sim.


- Quem é?


- Eu não...


- Me responda! – gritou, perdendo o controle.


- Harry!


O grito acelerou seu coração com o susto. Nunca o tinha visto gritar diretamente para ela. Gina sempre havia sido aquela com quem vinha contar seus problemas depois que tinha gritado com outras pessoas.



- Eu preciso saber – insistiu, sua voz controlada mas não menos furiosa.


- Por quê? O que vai ganhar com isso?


Mais silêncio. Finalmente depois de alguns minutos ele fechou os olhos e suspirou, relaxando as mãos e o rosto.


- Você está certa. Não vou ganhar nada... E já perdi tudo – disse amargamente. – Espero que ele mereça você e a faça feliz, como eu não consegui.


Sem esperar resposta, voltou para dentro do bar e pelo resto da festa não olhou para ela ou mesmo sorriu uma única vez. Foi a última vez que o viu em muito tempo, saiu de sua vida por completo e com ele uma parte dela.



Não queria admitir mas estava além do nervoso. Começava a chegar ao nível de pânico, um absurdo para sua imagem de confiança inabalável. Tinha que repetir em sua cabeça paranóica que havia passado apenas três dias e não havia razão para suspeitar que Gina tivesse mudado de idéia. Devia ter uma explicação muito lógica para a demora... E ela teria que dá-la assim que entrasse pela porta da frente se não quisesse levar uma azaração!


Provavelmente queria provocá-lo só porque tinha mandando acabar com Potter rapidamente. Era isso. Mais uma tentativa de tirá-lo do sério, ela era especialista nisso. Garota cruel e insensível, dando esperanças para ele e depois fingindo que nada tinha acontecido! Ah, mas quando a visse... Ia... Ia... Beijá-la muito.


Era incapaz de se irritar de verdade com ela. Tantos meses juntos comprovavam o fato. Esperava que Gina nunca descobrisse tal coisa... Seria poder demais nas mãos dela. Se soubesse algum dia que tinha tanto controle sob ele não o deixaria em paz. Seria impossível agüentá-la trovejando a vitória e contanto vantagem.



- Groger, alguém apareceu na porta? Alguma correspondência? Anda criatura!


- Não, mestre Malfoy.


- Por Merlin! Será que quer que eu vá atrás dela naquela casa nojenta que chama de Toca? Porque eu vou! Vou lá e a tiro de lá a força se preciso!


- Talvez o mestre devesse escrever uma carta para a senhorita e lhe dizer o quanto anseia por sua volta...


- Conselhos românticos do elfo-doméstico? Onde o mundo foi parar! – riu Draco. – Desde quando você fala comigo sem ter permissão, Groger? Vá lavar louça e me deixe em paz.


Com uma reverência breve o corcunda obedeceu. Não queria realmente ter sido tão ríspido com o elfo, era útil algumas vezes e leal o bastante... Mas a demora de Ginevra estava lhe deixando muito mal-humorado. Talvez fosse uma boa idéia mandar uma carta para ela, mandando que viesse imediatamente para a mansão... Afinal não queria sujar seus sapatos caros no barraco dos Weasley pobretões.


“Ela não gostaria que pensasse assim da casa deprimente dela.”



Que seja. Não queria sujar muito seus sapatos não-baratos na “casa” dos Weasley não-ricos, corrigiu para si entre dentes.


Ela precisaria valer muito a pena por todas aquelas mudanças em seu comportamento. Felizmente Draco não tinha dúvidas que Gina valia.


Foi tão... Inesperado e maravilhoso o que ela havia feito no corredor do Ministério. Ainda era difícil acreditar que finalmente retribuía seus sentimentos. Confiava nele. Acreditava nele! E melhor ainda: largaria Potter para ficar com ele! A vitória era doce.. Perfeita.



Mas claro que Potter teria que estragar a coisa toda mais um pouco! Draco esperava que a criatura de quatro-olhos não tivesse falado alguma bosta de dragão para Gina e a feito mudar de idéia. Odiava Potter... E continuaria a odiar até o fim da vida. Com sorte viveria mais do que o Santo Potter e poderia dançar em cima de seu túmulo várias vezes.


Estava prestes a fazer um buraco no tapete árabe de seu escritório quando Groger apareceu em sua frente e, se elfos-domésticos eram capazes de tal coisa, parecia estar muito contente consigo, com um meio-sorriso.


- Mestre Malfoy o senhor tem visita... Ela está no portão agora.


Não esperou que terminasse, saiu correndo do escritório e só parou quando estava perto do portão, diminuindo o passo consideravelmente antes que ela o pudesse ver. Afinal, não queria parecer desesperado.


Gina estava sorrindo atrás do portão, mãos para trás de forma adorável. Estava praticamente implorando para ser beijada.


- Olá. Estava passando pela vizinhança e gostaria de saber se você gostaria de doar para uma organização filantrópica.


- É mesmo? É que organização seria essa?


- G.A.D.



O portão se abriu, sofrendo com a velocidade em que Draco o fizera se movimentar, queria a coisa aberta logo. Imediatamente Gina caiu em seus braços.


- E essas siglas significam o que exatamente?


- Gina Ama Draco. É para juntar o máximo de felicidade para os dois.


- Gostei da sua causa... Muito nobre. Aceita doação de cem mil galões?


- Não. A doação não é em dinheiro. É em beijos.


- Finalmente uma organização que vale a pena. Vou doar imediatamente. Sou uma pessoa muito generosa.


- É melhor ser mesmo!


Entre risadas se beijaram intensamente.


- Você demorou.



- Quis deixar você esperando.


- Isso foi cruel para uma Weasley.


- Até as Weasley podem ser malvadas.


- Graças a Merlin.


De mãos dadas seguiram juntos pelo jardim e entraram na mansão, trancando a porta da frente firmemente. Tinham muito o que fazer sozinhos.


FIM


I, I will be king


And you, you will be queen


Though nothing will drive them away



We can beat them, just for one day


We can be Heroes, just for one day


And you, you can be mean


And I, I'll drink all the time


'Cause we're lovers, and that is a fact


Yes we're lovers, and that is that


Though nothing, will keep us together


We could steal time,


just for one day



We can be Heroes, for ever and ever


What d'you say?


Heroes – David Bowie.


N/A: Não queria que acabasse... Mas acabou. Sad... So sad. Vou sentir falta de escrever esse Draco... E essa Gina. Abandoná-los justamente quando a diversão vai começar? Oh well... É um final feliz pelo menos! Espero que tenham gostado que tenha valido a pena ler todos esses capítulos. Eu me diverti, com certeza e espero que vocês também :). Obrigada pelas reviews, pelos elogios, por acompanharem mesmo que não tenham deixando comentários. Pelo apoio, pelas palavras entusiasmadas... Por tudo, people! Obrigada Pichi por ter betado até o fim, agüentado os erros e ainda por cima gostado da fic! Obrigada Dana, Diana, Dark-Bride, Lucy, miaka, Melissa, Cami, Gi Malfoy, Pat, Isadora, Guta, aleja malfoy, Jessica chan, nat (Poke), Pekena, Thaysa, Aline, Cat, estrelinha W.M., Mila, L. Malfoy, Jessica (Jessy) Malfoy, Ryoko, Lou Malfoy, Nina Black Lupin, Ronnie Granger Weezhy, aNiTa JOyCe BeLiCe, Becky-Smyt, nicole weasley malfoy, Maaya, Blackberry Jam, Satine, Amanda Dumbledore, Karina, Rk-Chan, Kaká, Nessa, Alulip, brockthueLa, Nina, Mari Felton Malfoy, Rema, Eowin Symbelmine, Franinha Malfoy, Lika Slytherin, Lady Bunce, Lady Bathory, Débora, AnInhA e Willa Black... Desculpa se esqueci alguém!


N/A 2: Sobre a continuação da fic: Sim, eu fiz uma! Ela se chama "Grandes Expecativas" e está no fanfiction.net para quem quiser ler.

Enfim, era isso. Obrigada por tudo e agradeço a todos outra vez... Se nos virmos de novo em uma terceira fic: até lá... Se não: muito obrigado por ler as duas outras e até outro projeto! Mesmo se continuação, essa não vai ser minha última fic D/G! ;)



N/A 3: Vou colocar mais curiosidades e cosinhas extras no site das duas fics. Lá tem fanarts das duas fics, algumas coisas que não apareceram na fic por cortes... Como certas coisas surgiram da minha cabeça... E avatares e ícones para quem quiser usar em um dia louco, ou seja, extras para os interessados. O endereço, para quem não sabe ainda, é: http://scilafics.edwigeshomepage.com


N/A 4: Ahhhh... A música final! Achei que combinava e meio que ligava LP com FH! No fim, os dois são heróis... Não é fofo? Eu achei, huahau.


PS. Se você leu até aqui... Wow. É a maior nota de autora que eu já escrevi, e eu sou tagarela (acredita que essa é só um pouco maior que a de Falsos Heróis?).

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