Capítulo XXX
Hermione andava pelo corredor calmamente. Já passava das 21:00 e sua monitoria não demoraria a terminar. Enquanto olhava os quadros se aprontando para dormir, lembrou da conversa que teve há duas semanas com Rony.
FLASHBACK
Hermione e Gina passaram pelo quadro da Mulher-Gorda e avistaram os meninos concentrados numa partida de xadrez-bruxo. Mione ainda tentou adiar o momento, mas a amiga fez questão de tirar Harry do aposento e deixar o ruivo a sós com a garota. Antes de sair, ela ainda deu uma piscadinha de incentivo para que a outra não voltasse atrás.
Hermione sentou-se no sofá ao lado de Rony, que observava a amiga, que parecia um pouco desconfortável.
- Você está bem? – Perguntou ele, encarando-a preocupado.
- Sim. – Ela respondeu olhando-o sem graça. – Porquê?
- Nada, é que... Você parece estranha. – Explicou o rapaz.
- Eu estou bem. – Ela disse num meio sorriso. – Na verdade, eu precisava falar com você...
- Eu também quero falar com você. – Ele interrompeu. – Mas pode falar.
- Não, fala você primeiro.– Ela olhou-o nos olhos e sentiu um aperto no coração. Será que ele diria que estava gostando dela? Se fosse isso ela não poderia terminar com ele agora.
- É que... – Ele parecia estar nervoso e suas orelhas começavam a ficar vermelhas. – Eu estou gostando de uma garota.
- Sério? – Hermione engoliu em seco, com medo de perguntar. – E posso saber quem é?
- É a... – Ele já estava totalmente corado. – Luna.
- Lovegood? – Ela perguntou, iniciando um meio sorriso.
Ele apenas confirmou com a cabeça. Hermione o abraçou sorrindo.
- Ai Rony, eu fico tão feliz por você! – Ele parecia estar um pouco mais aliviado. – E você já falou isso pra ela?
- Ainda não. – Ele olhou para as mãos novamente. – Eu tenho namorada, esqueceu?
- Ah, claro... Era sobre isso que queria falar com você. – Ela disse.
- Sobre o nosso namoro? – Ele questionou. Ela afirmou com a cabeça.
- É que... - Seu amigo prestava atenção a cada palavra que dizia. – Eu já resolvi o que precisava e nós já podemos parar de fingir.
- Então isso quer dizer que nós estamos terminando? – Ele sorriu.
- Bom... Literalmente sim. – Ela deu um meio sorriso. – E você já pode dizer pra Luna que gosta dela, pois não vai mais precisar bancar mais o meu namorado.
- Pelo menos foi bom pra nós dois. – Ele encarou-a também sorrindo. – Quero dizer, no momento em que eu precisei voltar a ser solteiro você conseguiu resolver o seu problema.
- É verdade. – Ela deu um beijo rápido na bochecha do amigo. – Vamos descer pro almoço?
- Vamos. – Ele levantou e os dois começaram a andar em direção à saída. – E você não vai me dizer?
- O que? – Ela franziu as sobrancelhas sem entender a pergunta.
- O problema que te fez inventar esse namoro. – Ele explicou calmamente.
- Ah, Rony. – Ela ficou meio sem-graça. – Acho melhor deixar isso pra lá.
- Tudo bem, já que insiste. – Ele riu abraçando-a pelo ombro.
FIM DO FLASHBACK
Hermione voltou a prestar atenção ao corredor por onde passava. Começou a ouvir alguns passos vindo em sua direção, e assustou-se quando deparou com a Professora Trelawney.
- Menina, o que faz por aqui? – Perguntou a Professora distraída.
- Estou monitorando. – Respondeu simplesmente.
- Ah claro. – Enquanto a mulher tentava segurar vários pergaminhos, alguns caíram pelo chão.
Hermione começou a recolher os papéis, até que a mulher segurou sua mão, analisando-a por segundos, e olhando em seus olhos depois.
- Quanto mais vazio está o coração, mais ele pesa. – Disse com uma voz meio sonhadora, meio aterrorizante.
- Do que a senhora está falando? – Perguntou Hermione franzindo o cenho.
- Porque está com medo de demonstrar o que sente? – Continuava a mulher com os olhos arregalados, ainda segurando a mão da garota.
- Eu não sei do que está falando. – Hermione tentou desconversar.
- Claro que sabe. – Afirmou a mulher, soltando a mão dela.
- Gosto de me sentir segura. – Hermione não soube dizer o que a fez responder àquilo, talvez o olhar de cumplicidade que a mulher lhe dirigiu tenha influenciado-a.
- Não há segurança, não na vida, não no amor. Conforme vai descobrir, quando parar de fugir. – Respondeu a mulher antes de retirar-se ainda atrapalhada com os montes de papéis que carregava.
Hermione olhou-a atentamente como se pela primeira vez o que ela falava fizesse sentido.
- Até que dessa vez a louca disse uma coisa certa.
A garota foi retirada de seus pensamentos ao ouvir a voz arrastada quase sussurrando em seu ouvido. Draco estava há alguns passos dela, porém parecia que estava ao seu lado.
- O que faz aqui Malfoy? – Ela perguntou tentando não prestar atenção no andar lento e charmoso do rapaz.
- Sou monitor, lembra? – Ele riu desdenhoso, enquanto aproximava-se.
- Claro que lembro. – Ela retrucou, olhando pela primeira vez os olhos azuis acinzentados que estavam a centímetros dos seus.
Eles ficaram em silêncio por alguns segundos apenas encarando-se, até que Malfoy quebrou-o com uma pergunta que a desconsertou de início.
- Fiquei sabendo que terminou com o Weasley.
- É, terminamos. – Ela respondeu com dificuldade.
- Cansou de brincar de faz-de-conta? – Ele disse agora a encarando cinicamente.
- Já disse como você é arrogante? – Ela falou enquanto dava as costas ao loiro.
- E eu já te disse como você é teimosa? – Continuou ele, dando um passo à frente.
- E eu já te disse como você é idiota? – Disse ela enquanto caminhava pelo corredor que já havia inspecionado.
- E eu te disse como você mente mal? – Ele falava enquanto seguia a garota pelos corredores. Mal podia conter o riso preso na garganta.
- Irritante! – Ela quase gritou ao virar em um corredor.
- Medrosa! – Ele dizia enquanto parava de andar, como ela acabara de fazer.
- Afinal, o que você veio falar comigo? – Ela retrucou enquanto virava-se em sua direção, notando que estava há apenas dois passos de distância dele. – Ou só está querendo me chatear?
Draco ponderou se deveria irritá-la mais ou não. Resolveu deixar o sarcasmo de lado.
- Eu vim atrás de você a pedido de Dumbledore.
- Como é? – Ela questionou.
- Ele pediu que avisasse aos monitores que eles deveriam voltar às suas casas, devido a um imprevisto. – Tentou explicar.
- Que tipo de imprevisto? – Draco simplesmente ficou em silêncio. – Malfoy me fala o que foi que aconteceu!
- Não posso. – Ele encarava o chão agora. – Ele pediu sigilo absoluto.
- Mas eu tenho direito de saber! – Ela colocou uma das mãos na cintura enquanto gesticulava com a outra. – Também sou monitora-chefe, caso não se lembre.
- Só estou fazendo o que ele me pediu pra fazer. – Ele encarou-a novamente com um olhar indecifrável. – E eu devo acompanhá-la até a sua casa.
- Eu não preciso de guarda-costas. – Teimou a garota com os braços cruzados. – Sei me cuidar sozinha!
- Pode até ser. Porém isso não cabe a mim decidir! – Ele virou-se a aguardando. – Espero que não fique aí por muito tempo, senão terei que levá-la a força.
- Irritante! – Bufou ela andando rapidamente na frente do loiro.
- Você já disse isso... – Zombou ele enquanto caminhava em direção à torre da Grifinória.
Ambos ficaram quietos até chegarem no corredor que levava ao quadro da Mulher-Gorda. Hermione parou em frente à porta, porém não disse a senha aguardando o sonserino se retirar. Malfoy a encarava seriamente enquanto ela se esforçava pra sustentar o olhar que ele lhe dirigia.
[i]Porque ele tem que me olhar desse jeito? E porque eu tenho que ficar assim só por estar perto dele? Ele é um cara qualquer, um sonserino metido! Que cheira tão bem... Beija tão bem... Pára Hermione! Você vai acabar fazendo besteira se não tirar isso da sua cabeça. Ele é arrogante, lembra? Lembro... Que ele me deixa sem ar só com um toque, que minhas pernas tremem quando sinto seu corpo próximo ao meu... Que isso Hermione Jane Granger? É melhor parar por aqui... Se ele realmente quisesse alguma coisa já teria dito algo, afinal já faz duas semanas que você e o Rony terminaram e nada...[/i]
Neste instante Draco aproximasse lentamente dela. Ele fica bem próximo do seu rosto, inclina a cabeça para o lado e...
Hermione sentiu-se afoguear ao recordar a pressão sensual do corpo dele contra o seu. Lembrou-se do cheiro dele. Sentiu de novo o toque dos lábios dele em sua pele. Consumia-se de desejo, de saudade... Seu corpo protestava contra a distância, como nunca experimentara antes.
... Num sussurro ele diz próximo ao seu ouvido: Boa Noite!
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Neste instante Draco aproximasse lentamente dela. Ele fica bem próximo do seu rosto, inclina a cabeça para o lado e...
[i]Eu não consigo! Por mais que eu queira algo me impede. Será que ela não entendeu ainda que eu estou apaixonado por ela? Mesmo depois de ter falado aquilo tudo, de ter mostrado pra ela todo o desejo que sinto... Eu não posso mais me humilhar pra uma pessoa que não me corresponde. Eu tentei... Mas também tenho orgulho próprio e cansei de esperar ela se decidir. Mas é tão difícil simplesmente esquecer... O que houve entre nós, o que eu sinto quando a vejo... Mas dessa vez vai ter que ser assim, se o meu silêncio não lhe diz nada, minhas palavras serão inúteis![/i]
... Num sussurro ele diz próximo ao seu ouvido: Boa Noite!
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Hermione já estava quase fechando os olhos quando aquelas duas palavras ecoaram em sua mente: [i]Boa Noite... [/i] Como assim Boa Noite? Ele estava prestes a beijá-la e tudo o que consegue é dizer Boa Noite?
Por mais que aquilo fosse óbvio ela não conseguia entender. Há alguns dias ele praticamente se declarara pra ela dizendo querer estar com ela, falando que a desejava, e agora estava tratando-a como se nada tivesse acontecido? Após todos esses questionamentos Hermione teve que tirar uma pergunta entalada na sua garganta:
- O que você quer de mim? – Ela encarou aqueles olhos azuis que pareciam perplexos.
Draco não a entendia. Primeiro o rejeitava, dizia que o odiava, tratava-o mal e agora parecia estar decepcionada. Será que ainda lhe restava uma chance? Ele resolveu arriscar.
- Quero tudo. – Os olhos castanhos reluziram um brilho diferente. – Tudo que tem a dar. – Ele continuou enquanto tocava-lhe a face com as costas da mão. – E nada menos do que isso bastará. – Draco suspirou aliviado. Hermione não o havia rejeitado dessa vez, ao invés disso parecia compreender o que ele acabava de dizer. Porém, ao invés de investir novamente, ele resolveu dar a ela um tempo para pensar melhor. – Mas eu posso esperar.
Ela simplesmente o viu caminhar lentamente com as mãos nos bolsos. Parecia estar em câmera lenta andando pelo corredor, e antes de virar na primeira entrada à direita ele a olhou mais uma vez e ela pôde notar que ele não estava triste ou com raiva. Dessa vez ele parecia estar... Feliz.
- Escama de Dragão. – Hermione disse após alguns segundos. A porta se abriu e ela pôs-se a subir as escadas em direção ao dormitório feminino. Com certeza teria muito que sonhar esta noite.
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