CAPITULO II
CAPITULO II
E pela milésima vez, Hermione disse que tomaria um táxi, mas Draco não permitiu dizendo que a idéia era ridícula.
- A esta hora da noite vai ser difícil você arranjar um. Se eu a levar, você chegará em casa cedo, e salva.
Ambos foram para o elevador. Draco se adequou muito bem a vida trouxa, até carro tinha.
- Eu apenas pensei... – começou a dizer.
- Se você está preocupada com meu comportamento, esqueça – disse ele – Somente um idiota acreditaria que beijá-la agora a faria mudar de idéia.
Não, não estava com medo dele. Apenas que a conversa desta noite mudasse tudo, a confortável atmosfera do ministério, o relacionamento agradável que ambos tinham.
- Olha, será que nós não poderíamos esquecer o que foi conversado esta noite?
- Acho melhor não tentar – Draco a conduziu para um conversível preto – Mas pode ter certeza que eu não trarei o assunto de volta. Fiz minha pergunta e obtive a resposta. Não sou estúpido achando que se insistir no assunto a farei mudar de idéia. Você foi bem clara.
- Bem – disse Hermione – Eu gosto de trabalhar com você, por isso não quero problemas – e acomodou-se no carro – É novo né?
- O carro? É.
- Nunca imaginei você num carro tipo conversível.
- Considere isso crise de meia-idade.
- Comprar um carro esporte? Mas você não é velho o bastante para atingir a meia-idade, deve ter pelo menos uns vinte anos pela frente.
- Sempre fui muito precoce. Pergunte a minha mãe.
Ela riu muito. Quando o carro parou bem em frente a sua casa, ela percebeu que as luzes estavam acesas, normalmente há essa hora sua mãe já estava na cama. Depois do divórcio sua mãe veio morar junto com ela.
- Deixe-me no portão, por favor – disse ela.
E, como se ele não tivesse escutado, Draco estacionou bem perto da casa e desceu para abrir-lhe a porta do carro.
- Você não precisa...
- Poupe seu fôlego Hermione, porque vou levá-la até a porta de sua casa, quer queira, quer não.
Hermione viu que não adiantava teimar.
- Tudo bem, Malfoy.
De costas para Malfoy, enquanto lidava com a chave, Hermione sentia o calor do corpo dele, bem junto ao seu. Na verdade, quase colado. Deu um passo à frente quando a porta se abriu e entrou.
- Até amanhã – disse Draco e segundos depois desaparecia na escuridão.
As luzes da sala continuavam acesas e a televisão ligada. No longo sofá, a mãe de Hermione sentava-se com o controle na mão.
- Tinha alguém com você? – perguntou.
- O Malfoy me trouxe até aqui.
- Por que não convidou ele para entrar?
- A esta hora?
- Que horas são? – ela olhou no relógio – Pelo horário a festa deve ter sido um sucesso.
- Sem duvida foi – Hermione teve vontade de deitar no colo da sua mãe e contar à loucura que fora esta noite, ou até mesmo a Harry. Foi ai que ela se lembrou do seu jantar com Harry, ele deveria estar furioso, amanhã falaria com ele – Por que estava acordada até agora mamãe?
- Acho que cochilei aqui na sala. Hoje eu tive muita indisposição. Acho que comi alguma coisa que me fez mal. – bocejou e se levantou.
Hermione disse boa noite e se dirigiu ao próprio quarto. Porém não esquecia dos acontecimentos desta noite, e nem do rosto de Draco ao pedi-la em casamento.
No entanto, tinha certeza que agira certo, que mais poderia fazer para conservar o bom relacionamento entre ambos? Poderia ter dito “sim”
O sussurro no fundo de sua mente foi como um choque elétrico. E ela começou a rir à bobagem da idéia. Casar-se com Draco Malfoy? Estava cansada demais para raciocinar.
Dera a Draco a unia resposta que pudera. A única resposta sensata, para o bem de ambos.
Não dera?
Na manhã seguinte, Hermione dormiu demais e ficou feliz que a carta tenha sido feita na véspera, tomou banho, se trocou, tomou café e aparartou para o ministério para não perder tempo.
Chegou ao seu andar e se deparou com David Michaels na sala de Sarah e curiosa foi até lá.
- Com licença – disse Hermione, querendo saber o que ele fazia lá. Não poderia ter sido convidado por Sarah. Ou poderia?
Um olhar para Sarah acabou com sua suspeita, ela estava imperturbada, sem um traço de culpa.
- David, trouxe sua correspondência – disse com ironia na voz.
Como se não houvesse entregadores.
- Muita gentileza sua – murmurou Hermione.
- Talvez você queria ajudar para selecionar – David ofereceu-se – Umas cartas, são mais interessantes que outras...
Hermione interrompeu-o
- Farei isso quando tiver tempo. Obrigada.
- Hum, você está chegando tarde hoje, a festa do Malfoy deve ter sido um sucesso.
Era algo que não merecia comentário e nem resposta.
- Sarah, se os contratos estiverem prontos leve-o a minha sala, por favor.
- Eles estão aqui – e entregou-os para Hermione – E o sr.Malfoy deseja vê-la imediatamente.
David se retirou.
- Esse homem a perturba? – Hermione perguntou
- Oh não. Apenas vem aqui quando quer falar com você.
- Ontem ele me deu uma rosa, eu te falei? – e mudou de assunto – Mas por que o Malfoy quer falar comigo, será que houve algum problema com a lista de ingrediente?
- Acho que não, tampouco ele quis adiantar o assunto comigo, só pediu pra avisar que quer vê-la.
- Ok, vou lá.
Hermione bateu na porta e entrou. Draco estava olhando a janela. Mas virou-se para Hermione quando a viu entrar.
- Bom dia Hermione – disse
- Bom dia.
O timbre de voz dele era o mesmo de sempre, o cumprimento, frio de um homem de negócios, o sorriso, perfeitamente normal. Tudo o que ela teria de fazer era retribui o sorriso e começar a trabalhar.
Porém havia uma diferença. Quando o encarou, enxergou não apenas seu companheiro de trabalho, mas também o homem solitário que lhe pedira que compartilhasse de sua vida.
Hermione sugerira na véspera que ignorassem o episodio. Como fora ingênua ao imaginar que será possível! Mas Draco soubera disso. Seria melhor não tentar, ele dissera. E tivera razão; as coisas haviam mudado, e não existia possibilidade de fazê-las voltar ao que eram.
- Quer falar comigo? – ela perguntou.
- Você se esqueceu de uma coisa em meu apartamento ontem à noite.
Hermione franziu a testa, tentando se recordar do que deixara por lá. Uma escola de cabelos? Um batom?
Draco pegou, na mesa perto da janela, um vaso de cristal contendo uma rosa vermelha.
- Beaves achou que isso era importante para você.
A rosa de David. Que pena não ter sido usada na festa. Mas era vermelha demais para se misturar com as flores brancas do centro de mesa. Por isso fora posta de lado enquanto ela arrumava s flores. Esquecera-se completamente da pobre rosa, mas Beaves guardara-a com cuidado.
Hermione cheirou a flor. Era linda, e não fora culpa da rosa o fato de ter sido dada por David. Mas, de qualquer forma, a flor serviu para chamá-la de volta à realidade. Afinal, não tinha sua própria vida e não poderia se fixar no que quer que esteja errado na de Draco...
O que ele estaria pensando agora? Quem sabe se precipitou pedindo-a em casamento por causa da conduta da Penélope, e agora se considerava feliz porque ela dissera “não”.
- Obrigada por ter trazido a rosa. Devolverei o vaso, naturalmente.
- Não há pressa, Beaves se sentirá feliz em saber como ficou contente por ter a flor de volta. Se eu tivesse sabido que você tinha alguém em sua vida, não a teria incomodado com aquela bobagem de ontem à noite.
Hermione abriu a boca pra falar que a rosa não significava nada para ela, que não havia ninguém em especial em sua vida. Mas de repente achou que ele poderia interpretar que preferiria não ter ninguém a tê-lo. Confuso, fitou-o e mordeu o lábio. E você achou que poderia fingir que aquilo nunca acontecera! Sua voz interior sussurrou.
- Não há necessidade de explicar – disse Draco – Eu entendo. Agora, vamos trabalhar antes que o ministro chegue.
Quando Hermione saiu uma hora depois da sala de Draco, com o vaso na mão e uma lista na outra. Sarah olhou com interesse, mas não disse nada, apenas apresentou-lhe um papel.
- Algo importante? – perguntou
- Depende do seu ponto de vista, a secretária do senador mandou uma mensagem cancelando sua visita na quinta porque haverá uma votação importante. Será que alguém vai querer as entradas para o quadribol?
- Vou ver se o Draco quer convidar alguém – E você, por que não leva seu filho?
- É acho que sim, ele vai gostar – disse com animação – Ah! A esposa do ministro pediu para agradecer-lhe pela festa de ontem. Não foi para agradecer ao sr. Malfoy ou Penélope. Mas a você!
- Eu e ela conversamos bastante – disse ela – E por falar nisso, nunca passe mensagem nenhuma da Penélope ao Malfoy, a menos que seja urgente.
- Alguma outra mulher vai ficar com ele? Ótimo! Eu já estava pensando que iríamos agüentá-la permanentemente. Suponho que você não vá me contar nada.
- Por que acha que eu sei? – Hermione ergueu sua sobrancelha.
- Porque você sempre sabe tudo. Eu me pergunto quem será a próxima. Está na hora de uma ruiva, não acha? Já reparou como ele quase nunca dá preferência a uma morena? Será que é por que tem a nós o tempo todo?
- Sem duvida – disse Hermione. Ela se perguntava o que diria Sarah se soubesse da conversa deles na véspera.
Na hora do almoço, Hermione deixou em cima de sua mesa uma pasta com os trabalhos que teria que fazer e ia descer para lanchonete quando ela deu de cara com Harry na sua porta.
- Harry! – e o abraçou – Ah você deve me odiar né? Me desculpa, eu nem fui pro jantar mas ocorreu um imprevisto, e eu me esqueci completamente e...
- Mione – disse interrompendo-a – É lógico que eu não vou te odiar, só se você for almoçar comigo hoje.
- Claro! Vamos até a lanchonete aqui do prédio, tenho uma pilha de coisas pra fazer.
- Não tem problema – disse sorrindo.
E passando o braço pela cintura dela, eles desceram.
- Você falou com o Draco?
- Falei sim, eu estava com ele, antes de ir pra sua sala.
- Ah sei – disse pegando um prato de salada – Faz tempo que eu não te vejo.
- É verdade, você anda bem ocupada – disse pegando seu prato, e a guiando para as mesas – O Draco disse que você anda trabalhando demais.
- Você sabe, sempre cheia de deveres. – será que o Draco disse alguma coisa para ele, se perguntou. – E você, como anda sua vida de auror.
- Muito atarefado também, alguns comensais da morte andaram fazendo bagunça em Hogsmeade, mas o pegamos.
- Que bom!
Enquanto batiam papo, um funcionário da lanchonete se aproximou da mesa deles e disse:
- Srta. Granger, sua secretária precisa vê-la imediatamente.
- Obrigada – e olhou para cara do Harry – Preciso ir, Sarah nunca iria interromper meu almoço se não fosse importante.
- Tudo bem – suspirou – Mas você não me escapa, vamos marcar outro jantar, e caso você falte de novo, pode estar certa que eu darei uma boa surra no Draco – disse rindo.
- Ok, valentão! Até mais Harry – disse dando um abraço e um beijo nele.
- Até Mione – disse.
Assim que entrou no escritório, adivinhou o que se passava, sentada num sofá perto de Sarah se encontrava a esposa do ministro. Ela sorriu para Hermione.
- Desculpe-me – disse – Eu não sabia que você havia ido almoçar. Vim com Bob, como pode ver, na esperando de podermos terminar com a interessante conversa de ontem, quando aquela jovem mulher chegou e você desapareceu. Mas não imaginei que eu estivesse interrompendo seu descanso.
- Sem problemas, sra. Stewart. Quer vir a minha sala?
- Melhor, por ter interrompido seu almoço, eu te convido para almoçar. Eu me sentiria muito melhor.
Hermione pensou, no monte de coisa que teria que fazer, mas talvez Draco achasse melhor ela entreter a sra. Stewart.
- Ficarei encantada. Onde a sra prefere ir?
- Aí esta o problema, não conheço restaurantes bons por aqui, por isso quero usar sua experiência não só para almoçar, mas para fazer compras e andar naquela roda gigante, Bob não gosta de alturas e eu não quero subir sozinha.
A sra. Stewart, nem imaginava que assim como o ministro, Hermione também odiava altura.
- Então poderíamos fazer isso depois do almoço – concordou.
- Querida, o sr. Malfoy, tem alguma idéia do quanto é feliz em tê-la como colega de trabalho?
Quer se casar comigo? Ele dissera. Nós combinamos, você e eu. Solidez. Sensatez. Espírito prático. Tudo, Draco lhe dissera.
- Ele nunca me falou isso. Tampouco jamais se mostrou insatisfeito.
Hermione passou o resto da tarde com Frances Stewart e só voltou ao ministério já era bem tarde.
Olhou para a porta fechada da sala de Draco e perguntou:
- Ele ainda está lá?
- Oh sim. Acho que não irei para casa hoje, só se fugir.
Nesse instante a porta se abriu e Draco apareceu, abotoando o paletó.
- Sarah, se Hermione chegar antes de...- Draco fez uma pausa quando a viu – Teve uma tarde agradável? – perguntou a ela.
Hermione abafou o desejo de explicar que não estivera se divertindo.
- Fui até a roda gigante. Fora isso não fiz nada além da rotina. Vou terminar o máximo que puder da pilha em cima da minha mesa esta noite.
- Claro que não. Isso pode esperar, você deve estar tão cansada quanto nós.
- O contrato com o ministro foi enfim assinado? – Hermione perguntou. Ela leu a resposta nos olhos dele – Mas pensei que tudo já tivesse acertado. O que houve?
- O ministro não disse. Venha, eu te levo pra casa, é caminho para minha.
Quando ele trouxe o carro, a capota estava levantada.
- Você se importa Hermione, está um pouco abafado.
- O ar fresco fará você se sentir melhor. Você deve estar desapontado, se empenhou tanto nesse projeto.
- O estranho disso tudo, é que eu não garanto que o contrato esteja morto. Garanto que o ministro está tão interessado quanto antes – ele olhou para Hermione – A sra. Stewart, não deixou escapara nada?
- Não disse uma palavra sobre negócios ou do marido. As únicas coisas sobre as quais se interessou foram as compras, os passeios e os relacionamentos.
- Parece-me que foi uma tarde muito interessante – a voz dele estava seca – Que tipo de relacionamentos?
- Comigo, em especial. E havia também Penélope. A sra Stewart, não me pareceu se simpatizar com Penélope, mas não parava de comentar sobre ela.
- Preciso me lembrar de lhe dar um presente Hermione ok? Uma recompensa por uma luta incrível.
- Obrigada. A sra. Stewart só me levou em lojas caras hoje, pareceu-me uma frustrada casamenteira. Sabe se eles têm um filho adulto?
- Não sei. Quer que eu pergunte?
- Pode não ser necessário. Se eu passei no teste de nora dela, ficarei sabendo – chegaram a sua casa – Quer entrar e tomar um café? Minha mãe me perguntou por que eu não o convidei para entrar ontem à noite.
- Obrigado – Draco agradeceu – Mas tenho coisas a fazer ainda hoje.
- Certo. Mas lembrei de você ter dito que estaria quase no caminho de seu apartamento.
- Ok. Entrarei alguns minutos, apenas para dizer “Oi” – e estacionou o carro no único espaço vazio.
Hermione abriu a porta e chamou a mãe pelo nome. Nada de resposta.
- Talvez, ela tenha ficado no consultório até mais tarde. Sinto muito.
- Em outra ocasião. Até amanhã.
Ela entrou e começou a desabotoar o casaco, ajustando aos poucos a vista ao escuro. Quando chegou no sopé das escadas, viu sua mãe esparramada no tapete. Hermione arregalou os olhos e seu rosto adquiriu uma tonalidade cinza.
- Mãe? – a voz dela estava tremula.
A mãe dela balbuciou alguma coisa e ergueu sua mão, mas estava fraca demais e a mão caiu ao seu lado.
Hermione correu à porta da frente.
- Draco! – havia uma certa histeria em sua voz.
Ele se encontrava já no meio da calçada, mas precisou de apenas três passos para voltar até ela.
- O que foi, Hermione?
Hermione não podia falar. Em vez disso, agarrou-lhe as mãos e o fez entrar na casa, ao lugar onde a mãe se encontrava.
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