Presente De Salvação
__________Nunca antes, em toda a vida pôde ser vista uma sala como aquela. A luz mal adentrava pelas janelas escancaradas e se dissipava em formas anômalas pelo ar empoeirado do lugar. As paredes com cascas podres de colméias de abelhas, e o chão cheio de torres de cupins, mais ao longe havia cadeiras de metal enferrujado pelo tempo e muitas poças d’água separavam tudo do quadro negro pendurado na parede, ainda com os escritos de uma partitura.
__________Harry não lia partituras e não imaginou como seriam aquelas notas postas em sons. Azar o dele. Aquele era o seu último presente materno. Tal melodia se chamava...
__________‘Mas que letras estranhas...’, Harry assoprava o quadro para tirar o excesso de pó, tomando cuidado para que nada fosse alterado.
__________Ele tossiu. E seus olhos lacrimejavam pela poeira. Foi quando ele percebeu o que havia escrito ali, qual era o título daquela música.
__________‘Alias Domum...’, Ele não fazia idéia do que aquelas palavras significavam, nem ao menos do que aquela música representava.
__________O anjo de pedra coral flutuava pelo ar sepulcral daquela sala interditada e antiga. Ele não possuía sentimentos para dá-los em condolências, pois ele sabia o que aquela música representava para ambos, mãe e filho. A sua harpa o incitava a tocar, e ele não cedeu aos seus desejos. O dedilhar leve nas cordas soou aquela que fora a canção de ninar que Lílian cantava todas as noites para o seu menino.
__________Ela havia escrito de presente para ele, e a letra foi dita pela voz angelical do corpo de rocha que rodeava a cabeça baixa e pensativa de Harry que tentava descobrir por que fora ali que a sua mãe foi feliz há tanto tempo atrás.
__________Seus olhos demonstravam saber a continuação daquelas três notas iniciais, e ele começou a lembrar de tudo, de quando os tempos eram tristes para o mundo, entretanto para ele foram momentos de se ter a maior das felicidades, quando os seus pais ainda estavam vivos, e ainda lhe davam somente carinho.
__________O anjo cantava com a voz dela, guardada há décadas, a sua voz de criança, afinada e meiga. A música que fora feita para unir, mas que nunca fora de verdade um feitiço.
__________Harry podia ouvi-la pela voz de uma mulher que o balançava em seus braços eternas noites, e que mesmo na mais profunda escuridão, ainda sim, continuava a o manter a salvo, de todo e qualquer mal, até naquele dia fatídico.
__________O presente de um outro tempo começava assim:
‘E por tantas vezes hei de não unicamente, sim...
‘Simplesmente ou além de nunca ter por fim,
‘Usá-las por ninguém, a não ser que para ti;
‘Seja tão, vá além, de importantemente ir...
‘Mente de jamais correr, por entre portas que te...
‘Levam para lugares sombrios, sem te dizerem com arte...
‘Quem é ou porquê; assim te levo eu para um lugar em que...
‘Eu sei que nunca vai se sentir sozinho, ou em outras solidões...
‘Por muitas vezes tens de saber como lá chegar
‘Pelo caminho que já está sempre junto de ti
‘É o que eu te desejo, do fundo do meu coração...’.
__________Tais palavras vinham a sua boca como se sempre estivessem esperando para serem pronunciadas. O jorro de passado veio-lhe a mente, e ele cantava em prantos, desafinadamente a melodia que o salvava todas as noites, aquela música não era um feitiço como as outras que se faziam muito antes dentro daquela sala do coral, aquela música fora um feitiço que o guardava dos malefícios e o guiava para a sorte de sempre nunca sofrer, até que ela não mais fora mantida. E Harry por não saber, deixou-se sofrer por tantos anos a mais.
__________O anjinho que tocava todo feliz parou e com um sorriso nos lábios falou ainda usando a voz dela:
__________‘Espero que tenha gostado. Este é o meu último presente diretamente a você, só que receio de ele não ser tão poderoso para impedir que tudo de mal venha a lhe acontecer, proteja-se, eu sei que você conseguirá suportar grandes batalhas, como o seu pai o faria, e como eu lhe ensinei. Meu amor, nunca desista de lutar, porque se não você de já estará perdendo todas as chances de vencer. Eu já não tenho muita coisa a te falar, eu ainda não desisti de vencê-lo, e se eu não puder, acabe com ele por mim! É o que eu quero. Eu te amo, com todas as forças que tenho. Eu te amo, e é para todo o sempre... Espero que este não tenha que ser o meu adeus a você, mas se for, não chore, eu estarei sempre ao seu lado, guiando você e o aconselhando para seguir o melhor dos caminhos. Eu nunca deixarei de ser a sua mãe, nem que em outros tempos provem o contrário. Eu sou Lílian, e te abençôo com a minha música especialmente para você...’, O anjo já detinha lágrimas em seus olhos de pedra. Eram restos que ela havia guardado nele, quando a voz dela cessou o anjo parou de se mexer e se pendurou na parede esburacada. Uma porta se fez na mesma parede em que estava pendurado o enorme quadro negro.
__________Harry ainda estava chocado com tudo aquilo. Suas pernas estavam bambas, as penas de agoureiro ainda dentro do bolso da calça. A sua face molhada, e a sua voz seca. Ele estendia um sorriso de orelha a orelha, mas lá no profundo de sua mente, havia um garoto de quase doze anos chorando enlouquecido, com muita dor, e em estado de eterna depressão.
__________As suas pernas iam pela porta quase hesitando deixar aquela sala velha e sem mais função a escola.
__________A porta se fechara atrás das suas costas, e a sala de esvaiu como em um sonho bom. Não existia porta alguma atrás de si, e disso ele pôde saber, mas não queria olhar para trás, não mais havia volta, ele sabia, ele definitivamente saberia, que até para isso, se houvesse a chance, se tudo pudesse se concentrar, ele poderia deixar de ter tal pensamento. Talvez existisse, em alguma lacuna do tempo, a mínima ocasião em que a felicidade tivesse todas as chances de ser encontrada.
__________Mas para isso acontecer, talvez o destino tivesse de fechar os olhos e ouvidos e ir dormir para todo o sempre.
__________Para que a felicidade reinasse haveria de existir o menor dos acasos, para que tudo fosse.
__________E naquele exato instante o menino destino tinha os seus dois olhos abertos e eles viam tudo, tudo o que se pode imaginar.
__________E há uma coisa que todos sabem.
__________Não há limites para a imaginação.
__________‘Dumbledore! Mas ela está agindo tão estranhamente.’, Disse a senhora Malkin espantada.
__________‘Ela foi atingida. Mais um que sofreu pelo feitiço. Aquele boato... Eu sei que é verdade e por isso eu a trouxe aqui.’, Alvo estava com seus óculos de meia-lua-crescente bem fixos. Seus olhos azuis não deixavam de brilhar. Ele sabia do que ela estava sofrendo.
__________‘Alvo, você sabe o quê nós devemos fazer?’, Malkin estava quase desesperada, mas ela confiava cegamente nele. Ela sabia que muitas das coisas que a amiga falara foram com diálogos em sua mente perturbada, e fora logo falar a Alvo.
__________‘Nós não vamos ter outra chance, senão agora. Ela está preparada para soltar um feitiço, que irá contra seu próprio peito, ela não sabe e não sente, mas as suas mãos estão viradas para si mesma.’, Alvo mantinha a calma, ele não podia errar, ele não podia deixar que aquela que o levará a prosseguir com as mudanças do tempo fosse levada, não justamente naquele momento.
__________Seus olhos estavam vermelhos como o sol se pondo e a sua ira despertava a sua força oculta. Os dedos se moviam alternando entre o lendo e o rápido e da sua boca o som foi escutado. Era o feitiço de guia para a morte, e das suas mãos a imagem de um senhor vestido de branco, segurando uma garça a faz voar e da sua cauda sai um grande rio luminoso que enfeitiça para a morte:
__________‘Abequar Acará Acaraú’.
__________E quando Dumbledore ouviu tais palavras indígenas, ele respondeu com um feitiço mais antigo e com mais poder.
__________‘Aeger Cultor Lumen!’, E da ponta da sua varinha expeliu-se um raio de luz que parecia um líquido viscoso e branco. E ele jorrou rápido e certeiro.
__________O encontro dos dois feitiços resultou em uma explosão.
__________Tudo veio abaixo.
__________Mas ileso, calmo e sereno, Dumbledore se levantou e com Malkin ao seu lado disse:
__________‘Infelizmente mais alguém... Eu vou usar um feitiço de correção de memória para explicar o que aconteceu. E nós a devemos levar até a enfermaria.’, O olhar dele era sincero, mas naquele azul, mais azul que os céus e mais profundo que o mar poderia ser achado um querer díspar, uma vontade de outrem enclausurada em sua mente.
__________E eles conjuraram macas e faixas que levaram a visitante abatida para o alto, para a torre da enfermaria.
__________Enquanto eles subiam, um alguém que Alvo fez questão de não cruzar o caminho vinha descendo.
__________Alvo percebeu que vários segredos escondidos em Hogwarts haveriam de ser encontrados naquele momento e o pobrezinho ainda estava muito fraco para agüentar a todos eles.
__________Os boatos não eram verdade.
__________Eles eram apenas uma ilusão que fazia com que a vítima se anulasse, se destruísse pensando que fora aquele por quem mais possuía dúvidas.
__________Alvo notou que a visitante estava com os sintomas exatos. Aquilo era uma doença, um feitiço mal-processado, alguém que não soube como fazer propriamente e se livrou da magia.
__________Magia indomável, magia bruta, magia natural.
__________Havia muitos nomes para isso, e dentre todos o que mais chamava atenção era:
__________Magia de Druidas.
__________Andando sem destino na imensidão de Hogwarts, com as lembranças ainda sendo revistas pela sua mente em alerta interno, Harry pensou ter escutado alguma coisa, algo que não havia percebido por durante quase toda a manhã que se passava. Aquilo estava parecendo uma gargalhada. A grande gargalhada que se ocultava em sonhos infantis, quando crianças sem pai nem mãe corriam para longe sem sair de suas camas frias e sem ninguém a mais. Era ela, que vinha de mil sorrisos insanos de diversas pessoas que poderia ver pelas ruas do mundo, pessoas que não conhecia, mas que na sua mente ganhavam personalidade e se descontrolavam para serem monstros sem limites. Tudo para pegá-lo e o destruir por completo. E aquele som vinha mais uma vez invadir os seus ouvidos, e fazer os seus olhos chorarem. Como qualquer criança o faria.
__________Principalmente uma criança sozinha no mundo.
__________E muitos lapsos de memória se quebravam e se fundiam entre seus olhos. Visões sem sentido, palavras malditas, sensações de mal-estar, e acimas de todas a pior das sensações.
__________Ausência. Inexistência. Não-ser.
__________Assustou-se, seus olhos piscavam rapidamente, e não-lágrimas não-caíam, pois ele já podia lembrar-se da voz, e soube que era a primeira vez que escutara aquela. Seus olhos sonolentos e ainda cheios de pó da sala antiga vigiavam todo o lugar, tudo pelas paredes até o chão. E ele não pôde deixar-se enganar pela presença de um ponto branco lá no alto se movendo veloz.
__________Foi então naquele momento em que achou ver a sua Edwiges voando em direção ao corujal, ‘...Realmente estou tão perto assim de lá?...’. Assim sua vista alcançou o foco na coruja, e percebendo que ela não batia asas descobriu que na realidade ela estava flutuando para a torre das corujas.
__________Com muita ânsia e desejo de encontrá-la não somente para saber se havia conseguido entregar as cartas aos dois melhores amigos Harry a seguiu. Escondendo-se detrás de qualquer objeto grande o suficiente para isso, ele avançou em silêncio com a respiração segura. E a sua mente intrigada não parava de ser questionar:
__________‘Por que flutua?’, Seus olhos não eram capazes de enxergar, mas por sobre Edwiges existia uma figura enorme envolta em uma invisibilidade própria, incapaz de sentir compaixão por qualquer outro ser, porque para com ele ninguém teve sequer pena.
__________Estavam a poucos passos do corujal, subia escadas com força, e sem se exaltar, para não fazer barulho, quando Harry ouvira mais uma vez o mesmo som de gargalhada, Edwiges estava a uma certa distância. Harry não se aproximou muito, desconfiando de qualquer tipo de magia, mas mesmo assim, junto à gargalhada, sentiu um frio percorrer toda a extensão da sua espinha dorsal. Não conseguia mais se mover. E o ser invisível estava já a voltar lá de cima onde havia gaiolas na torre, pelo mesmo caminho, o qual Harry estava a subir.
__________Era óbvio, Harry não o estava vendo. Mas mesmo sem poder usar o seu sentido mais importante, o medo tomou conta do seu corpo. De alguma forma Harry soube. Seus sentidos estavam alerta demais. Naqueles instantes, quando bem antes dele passar por ali. Harry instantaneamente fora puxado do caminho e escondido. Tal corpo invisível passou e não o viu.
__________Harry não falava, sua pele estava branca, mais branca que cera, estava absolutamente anestesiado com o que acabara de acontecer. Tremia dos dedões dos pés até as pontas dos cabelos espetados. Foi então que criou coragem e se virou, para saber quem o tinha puxado e porquê, mas... Não havia ninguém.
__________O salvador não ficou para receber os devidos agradecimentos, os quais tinha direito. Harry que não entendera nada do que tinha acontecido, e ainda temendo encontrar algo inesperado foi-se para o corujal em alerta total.
__________Edwiges realmente estava lá. Dentro de um ninho construído na parte central da ampla sala das gaiolas. Harry a pegou, e viu que não trazia nenhuma correspondência. Ela estava visivelmente cansada, e resolveu não importuná-la com perguntas sobre a entrega das duas cartas. Levou-a consigo no colo, até a Torre da Grifinória, para onde pretendia voltar e descançar.
__________Harry andava, mas não se importava com nada além daquele animal aninhado em seu peito, era ela quem o havia salvado e era ela quem fazia a sua ligação com o mundo dos bruxos. Se não fosse aquela coruja branca suas cartas não voariam distâncias longínquas. Seus olhos amarelões piscavam vagarosamente sem se quer dar-se ao trabalho de ver o mundo. Edwiges sofrera muito. Harry não sentiu, entretanto uma das suas asas estava machucada. Ela fora pega. Pela tempestade e por mais alguém. Alguém que sabia exatamente todos os passos que Harry haveria de serguir.
__________E este alguém não era Dumbledore.
__________No entanto por alguns minutos, Harry finalmente viu o que seus olhos omitiam enxergar. E na sua cabeça surgiuram dúvidas. Por muito pensou que estava no caminho certo, mas... Começou a ficar tonto. As paredes não tinham base. O teto parecia desabar. O chão tremia. E havia uma eterna ventania fervente vindo em sua direção. Harry ameaçava desmaiar; e infelizmente o seu corpo não tinha mais forças, suas pernas bambas, e seus pequenos braços fracos, nada conseguiu segurá-lo e ele se deixou abater. Seu corpo seguiu adiante em direção ao chão. Não tinha voz para pedir por ajuda, e suas forças eram somente para sair dali, com Edwiges presa em seu colo. A coruja o bicava no peito incitando-o a se levantar e prosseguir.
__________No entanto seu corpo não mais agüentou o peso do que estava sentindo e caiu como se estivesse em um poço sem fim. A luz não mais chegava aos seus olhos, e os seus ouvidos não podiam mais sentir o silêncio. A sua pele deixou o tato morrer. E a sua respiração ofegante não tinha chances de sentir o mísero aroma da morte.
__________Tudo o que Harry sentia eram os seus maiores temores.
__________E nada poderia melhorar. Absolutamente nada.
__________‘O que houve? Por que não a trouxeram logo?’, Berrava Madame Pomfrey, uma senhora de espírito jovem e inquieto, loira e de olhos tremendamente azulados, com suas pomposas vestes bruxas de cores claras, bordados metalizados com o emblema de Hogwarts em seu avental.
__________‘Por favor, nós a trouxemos assim que pudemos.’, Dumbledore argumentava com Malkin ao seu lado concordando em tudo.
__________‘Venham, venham logo por aqui! Ela precisará de muitos cuidados. Sinto ser um problema de choque.’, Disse com a varinha em mãos e controlando as macas e faixas, a fez ser solta sobre um enorme colchão fofo de uma cama solteirão. A partir de então Cassie estava sob cuidados especiais de uma enfeimeira de Hogwarts. Pomfrey era bastante experiente e nada poderia deixar de curar.
__________Alvo possuía um olhar calmo como se nada tivesse realmente acontecido com sua pessoa, e ele sabia bem no fundo que era isso mesmo que acontecera. Não fora com ele que tudo estava ocorrendo. E tais coisas deveriam cessar. Caso não, muitos episódios iguais a esse poderiam voltar a acontecer.
__________Os boatos eram da mais pura verdade.
__________Os boatos de más línguas que proferiam mil feitiços.
__________E da recepção da enfermaria os olhos azuis sob os óculos de meia-lua-crescente vigiavam o corpo deitado envolto em lençóis ser curado. E por detrás daquela cor azul uma outra também fazia o mesmo, mas ela não queria ver nada sem motivo.
__________Ela queria resultados. Respostas rápidas.
__________E faria tudo no intervalo de um instante.
__________Quando acordou, não havia ninguém por perto. Quanto tempo havia se passado, ele não sabia. Sentiu-se enjoado, quase vomitara, mas se manteve, ao máximo que podia, alerta. Edwiges em seu colo ainda estava a dormir, parou de tentar acordá-lo com bicadas havia tempo, ela também sentia tudo. A cada passo que era dado, Harry ficava mais e mais tonto, cambaleava e tentava andar encostado nas paredes, que balançavam como cordas bambas em precipícios. Para não cair no chão, para poder cuidar da sua Edwiges. Harry não estava mais agüentando, sem vergonha e sem consciência do que estava fazendo, Harry chorava de medo pelo que poderia acontecer com Edwiges e consigo próprio. Ele estava no limiar dos efeitos do lugar.
__________Conseguira em um relance da mente ver o que se projetava a sua frente, era uma porta, de madeira com adornos de metais, e correntes a enfeitando. Jóias também, mas isso Harry não percebeu. Jogou-se nela e batia com as mãos, fortemente. Todos poderiam ouvir.
__________Não veio ninguém. E a porta continuava, fechada.
__________‘...Será que só eu vejo uma porta?...’, ‘...Será que é uma parede disfarçada de porta?...’, ‘...Será que está trancada?...’, Harry estava com sua mente mergulhada em diversas dúvidas. E cada vez mais ele não parava de chorar, chorava não mais por ele, mas unicamente por sua Edwiges, que estava ardendo em febre.
__________Harry, mesmo com os ventos que se corriam por onde estavam, suava. Mas por um instante, Harry pôde ver algo que parecia ser como uma miragem. Aquilo se mostrava ser um imenso animal, reluzia bronze, prata e ouro de sua pele. Quando Harry o olhou, o animal começou a andar. Harry não possuía muitas forças, mas aquele animal emanava luz, e arriscou tudo tentando segui-lo. As suas pernas estavam com câimbra e ele não mais as sentia. Seus dedos das mãos também estavam a começar o formigamento. Ele não tinha condições de prosseguir, estava deixando de sentir Edwiges nas mãos, e uma dor aguda se iniciou somando-se as outras. Ele não mais estava de pé. Seus joelhos bateram com força no chão. E o animal pareceu ouvir, mas não deixou de andar. Um lampejo solitário o atingiu, Harry pensou estar sozinho mais uma vez. Seus olhos tentavam ver além do animal. E nada era visto. Só a imaginação poderia criar uma saída.
__________No entanto, o animal, que pretendia sair dali, parou.
__________Harry pensou que o tinha visto mover a cabeça parecendo chamá-lo. Ele não mais agüentava. De emoção, de joelhos, arrastou-se, seguindo-o, com Edwiges desmaiada em seu colo. Porém o animal fez um barulho como se fosse uma ordem. Harry parou o obedecendo, e devagar subiu, em companhia de Edwiges, às suas costas. Agarrou-se na sua enorme crina e dormiu como se nunca antes tivesse dormido, com Edwiges enlaçada em seus braços, não mais com febre.
__________A partir dali Harry não se recordou de mais nada do ocorrido, percebeu que tinha desfalecido, não tinha ido a lugar nenhum, mas estava com Edwiges.
__________Na noite do dia anterior, aconteceram muitas coisas e disso a leitora já sabia. Seus olhos haviam visto tudo o que estava para acontecer antes, e juntamente a isso também viu mais, muito mais além. A garota centauro estava sob suas quatro patas sentada e seu dorso erguia-se para os céus olhar. Seus olhos emitiam a tristeza eterna. E seus cabelos emulsionavam ao sabor do vento noturno. Suas mãos fechadas em punhos. Filetes de sangue corriam em linhas das palmas trancadas até o chão de terra seca.
__________Ali não chovera. Tal qual em todos os domínios de Hogwarts.
__________E o céu estivera limpo naquela noite.
__________Tanto que uma previsão fora feita.
__________Não se pôde saber somente de uma coisa. Se haveria ou não a morte daquela pessoa.
__________E Napoli tentava se concentrar e evitar que seus pensamentos fluíssem para ele. Ele, que do canto dos seus olhos podia ser visto. E que ainda a olhava com lágrimas nos olhos. Um olhar incisivo. Ele via as estrelas também. Os dois deveriam trabalhar juntos.
__________Um vendo as estrelas e outro sonhando com elas.
__________Aquela aldeia foi palco de muitos bons tempos. E eles não podiam negar isso. Foi ali o primeiro contato com os astros. E foi ali também a maior das dores.
__________Quando eles viram pela primeira vez o futuro que os reguarda. Quando eles viram o que iria lhes acontecer. E viram que pelas suas ações haveria diferença que as estrelas se encarregariam em alterar o destino escrito em forma de lembranças e devaneios na mente perturbada de um garoto que simplesmente não tinha destino para ser mudado. Pobre coitado, aquele que rege o destino do mundo todo.
__________Seus olhos internos não poderiam acreditar que todo o universo estava esperando por uma resposta vinda daquelas situações, e que o mundo inteiro haveria de esperar para que tudo pudesse retornar ao seu curso comum e certo. As estrelas são o reflexo dos olhos do Destino, e tudo poderia ser visto por aqueles que as sabiam ler. Esses eram poucos, mas o mundo ainda provinha de alguns seres capazes.
__________Muitos estavam aplicando os seus dons para resolverem as próprias vidas, alguns para guiar outrem do jeito que acreditavam ser o bem, ou o melhor. E ainda havia raridades que solitariamente faziam o bem, o bem maior. Não o bem individual, e tampouco o bem grupal, para a sociedade. Mas, sim, o bem, no mais puro que tal palavra possa adquirir de sentido.
__________Ajuda, eram aqueles que ajudavam, aqueles que melhoravam.
__________No obstante existia, mesmo assim, umas dessas raridades que se desviavam do caminho do bem. E o que é tudo o que não é bem?
__________Eram eles tais seres maldosos, que destroçavam vidas em piscar de olhos. E que disseminavam mais rápido que pensamentos. E contaminavam o mundo com suas idéias errôneas e indisciplinadas. Suas idéias de bem individual ou de bens de sociedades desiguais, criando vítimas a cada instante, e cemitérios gigantes passaram a cobrir planícies inteiras.
__________E o que eles viram...
__________Aquilo que os mais assustou foi que dentro de pouco tempo todo o mundo seria um só platô da morte.
__________E lápides com muitos nomes adornariam toda a superfície da Terra, que passaria a ser toda cinza vista do espaço. Nem mais a Grande Muralha da China seria vista.
__________Não existiria nada para viver. Nem aqueles muitos seres de perversidade, nem eles viveriam. Ninguém.
__________E dali em diante o destino não seria mais necessário.
__________Os centauros vivem em uma sociedade devéras organizada. Mas naquele período tudo e até eles sofriam com o caos. Napoli pensava em como poderia fazer para que tudo o que vira não se tornasse realidade, e repensou sobre o que havia feito na tarde passada. Firenze também vira muita coisa, mas nada se comparado ao que ela sentiu. Ela simplesmente tinha sentimentos mais seguros com aqueles que conhecia. Tudo era símile, porém nada era igual para os dois. E eles desejavam do fundo de suas almas poder acertar pelo menos naquela vez. E não ter de ver tudo o que as estrelas lhes havia dito se tornar realidade.
__________Firenze estava leve, havia confessado, mas ainda existia uma pequena dúvida em seu coração. E ela teimava em não querer sair dali. E ele a dizendo: ‘...Por que justo agora? Justo agora quando esse mundo deve sofrer tal punição? Por que só agora Ela foi resolver deixar de ser tão inóspita?... Eu não A entendo... Ego... Esse é o Seu ponto fraco... E Ela cairá por causa disso... A não ser que... Talvez... Talvez Ele faça isso... Eu espero que seja capaz...’, A sua cabeça girava em cíclicas questões esperando que o acaso lhe enviasse alguma das respostas, mas nada chegou até ele naquela noite.
__________O céu estava terrivelmente límpido naquela noite. E as estrelas como se nunca tivessem brilhado explodiam em luzes, freqüências de fluxo, que nunca foram captadas por nenhum dos maquinários trouxas, aqueles centauros viram ali.
__________Nada chegaria a ele com certeza.
__________‘Vê alguma coisa de diferente, Napoli?’, A sua voz estava fria e áspera, ela havia conseguido feri-lo, mas fora para seu próprio bem.
__________‘Não...’, Respondeu quase sem falar. Ela não conseguia mais dirigir a ele a sua voz. E ele percebera, e mesmo assim não se aventurou em mais uma investida, ela falara sério. Ela não o amava. ‘...Ou talvez...’, pensava ele, ‘...Talvez ela possa ainda ter algum resto de amor por mim...’.
__________Para os amantes a esperança é a última que morre.
__________Mas mesmo assim ela ainda morre.
__________Harry sentia muita dor. Estava escuro. E não havia som algum. ‘...Poderia ter saído dali com vida?’, Perguntava-se muitas vezes em pensamento. Ele não sentia as mãos, e tampouco as pernas. Só sabia que estava respirando normalmente. E que havia um vento frio bem diferente daquele fervente que o envolvia em tal lugar.
__________Harry estava em um dos muitos leitos da enfermaria, Madame Pomfrey possuía uma inigualável expressão de delinqüência voltada diretamente para os seus olhos, culpando-o por se deixar adoecer, se machucar, ou qualquer outra coisa que afetasse a sua saúde.
__________Como se ela abominasse comportamentos de risco, sua mente a fazia lembrar de situações inesperadas para o momento, coisas perigosas lhe brotavam a memória.
__________Harry não estava sozinho ali, nem por Edwiges nem pela Madame Pomfrey, porquê ao seu lado estava, para sí, a pessoa mais confiável de toda a Hogwarts. Ao seu lado estava o estimado e preocupado Diretor de Hogwarts, o feiticeiro, Alvo Dumbledore.
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