Você fere, você conforta
Capítulo 8 Você fere, você conforta
Sem mais delongas, aproveitem!
- E agora chamaremos a oradora da turma deste ano: Gina Weasley
Ela se revirava na cama, sem entender.
- Boa noite a todos – se viu dizendo – É uma honra estar aqui em frente a vocês...
Tão familiar
- Hogwarts foi parte de nossas vidas...
Tão confuso
- ... E nada disso seria possível sem o apoio de todas as pessoas que nós ajudaram: nossa família – ela encarou os ruivos na primeira fila – nossos amigos – encarou Hermione -...
Tão real
E então, a porta ao fundo se abriu com um leve rangido e ela o viu. Aquela figura que ela jamais seria capaz de esquecer.
- É Harry Potter! – correu o murmúrio pelo salão
Harry ficou em pé, no meio do corredor entre a multidão que assistia a cerimônia, apenas a encarando. Ela prosseguiu, prosseguiu a fala que era para ele.
-... e todas as pessoas que amamos. – ela disse, a voz firme como sempre – À todos aqueles que fizeram sentirmo-nos especiais, que nos deram oportunidade de retribuir, que nos amaram, nos respeitaram, nos tiveram como seus, nos protegeram, nos salvaram...
Harry sorriu para ela.
- Esta é uma vitória nossa...de todos nós. E além de tudo que já aprendemos, gostaria de deixar uma última lição a todos nós. Devemos aprender que juntos...
Ela encarou Harry nos olhos e, mesmo de longe, podia ver o brilho verde expandir-se.
- ...juntos, podemos fazer qualquer coisa... Obrigada.
As palmas invadiram todo o salão enquanto ela saía do posto e ia comemorar com o restante dos colegas enquanto a bruxa esguia os declarava formados.
Ela abriu os olhos e encarou o quarto escuro, sentindo-se zonza. Segundos depois, atordoada, foi tomada pelo sono.
Olhou envolta no enorme salão, procurando-o. Uma chuva de ruivos caiu sobre ela, abraçando-a, parabenizando-a. Ela agradeceu a todos, mas não conseguia prestar atenção em mais nada. Se não tivesse ouvido as pessoas do salão dizendo o nome dele, poderia ter apostado qualquer coisa que fora apenas uma ilusão...mas não...ele estava ali...estava ali em algum lugar.
- Gina, querida, vá tirar essa toga, suas colegas já estão indo se trocar. – disse Molly – Vista seu vestido e desça para jantarmos.
- E depois... – disse Fred
- ...Baile – completou Jorge
- Mas... – começou Gina – mas onde...
- Relaxe – sussurrou Hermione – Ele vai aparecer de novo.
- Vai logo, Gina, estamos com fome – disse Rony empurrando a ruiva para fora do salão.
...
Ela estava descendo as escadas a caminho do salão. Já podia ouvir as conversas animadas dos colegas e suas famílias. O vestido amarelo arrastava no chão, os sapatos já começavam a machucar seus pés..
Foi então que o viu, próximo a uma enorme janela que dava para os jardins, mais lindo do que nunca nas vestes pretas a rigor, segurando um pequenino ramo de flores cor de rosa recém colhidas.
- Eu...não tive tempo de comprar um presente – disse ele.
Gina sorriu, aproximando-se dele devagar e pegando as flores. Os olhos verdes brilhavam, um brilho que ele só tinha para ela.
- Você veio – disse ela ao que ele entendeu como um “isso basta”.
- Eu...eu não podia...tinha que vir.
O sorriso dela se alargou ainda mais e, sem se conter, ela tirou os cabelos rebeldes dele da testa, observando a cicatriz em forma de raio.
- Obrigada – disse Gina – Significou muito....
Ele tomou fôlego, tentando controlar-se o máximo possível. Então, apoiou um braço na parede e sentiu as mãos dela alcançarem a lateral de seu corpo, causando-lhe arrepios.
- Para mim também.
E então, sem ligarem para o fato de que ali ao lado, no salão principal, estavam centenas de pessoas cujas bocas eram tão grandes que fariam as fofocas chegarem até Voldemort, eles aproximaram os lábios e beijaram-se.
Abriu os olhos e sentou-se na cama com a respiração ofegante.
- Eu já sei, droga!! – exclamou ela com raiva, sem conseguir controlar as batidas do próprio coração.
Olhou no relógio. Já eram quase 11 da manhã. Levantou-se e começou a procurar alguma coisa para vestir dentro do armário, ainda chateada com as lembranças que vieram a sua mente. Ela não as queria mais.
Batidas na porta a fizeram parar. Provavelmente Molly querendo acorda-la.
- Já estou acordada – disse com raiva.
- Desculpe – disse uma voz masculina
- Harry? – perguntou ela desejando que fosse qualquer um, menos ele.
- Oi – disse ele abrindo a porta – Você está bem?
- Claro – disse Gina irônica – Meu cérebro explodiu e eu esqueci até mesmo quem eu sou, mas porque isso alteraria meu bem estar, não é mesmo?
Harry a observou virar as costas e continuar revirando o guarda-roupas.
Então fechou a porta do quarto e não disse nada, apenas aproximou-se dela e tocou em seu ombro.
Gina afastou-se.
- Vá embora – disse ela.
- Não – disse ele repetindo o gesto anterior, ao que levou um empurrão e acabou por cair sobre a cama desarrumada de Gina.
- Já disse pra ir embora – repetiu Gina indo até a porta e abrindo-a, indicando a ele o caminho a seguir.
Harry levantou-se da cama e foi até a direção que ela apontava, mas, ao invés de sair pela porta, fechou-a novamente.
- Que parte de “vá embora” você ainda não entendeu? – disse Gina com raiva, empurrando um Harry resistente para fora.
Mas ele não saiu. Apenas aproximava-se cada vez mais dela, na medida em que ela tentava afasta-lo. Gina começou a soca-lo sem parar, a fim de tentar expulsa-lo, deixa-lo o mais longe de si quanto podia, exatamente como as malditas imagens que lhe vinham à mente quando, tudo que ela queria, era que ficassem longe.
Ele ficou ali, imóvel, suportando os fortes socos da ruiva enquanto ela perdia as forças e, finalmente, só lhe restassem as mãos vermelhas e as lágrimas. Então abraçou-a, sentindo-a agarrar-se a si, como se necessitasse disso mais do que qualquer outra coisa.
Ficaram ali por mais tempo do que poderiam contar, em silêncio, enquanto ela deixava as lágrimas caírem; lágrimas de frustração, desejo, amor. Ele permaneceu calado, lutando contra a própria curiosidade, apenas afagando os cabelos vermelhos dela e vendo-a derramar mais lágrimas do que, provavelmente, o fizera em toda sua vida.
Gina não costumava chorar. Harry a vira daquela maneira apenas uma vez, quando fora possuída por Voldemort, quanto estava envergonhada, suja, humilhada. Quando era uma garotinha de onze anos vivendo o primeiro amor. O que a fizera sentir-se tão mal quanto naquela época, para que tivesse a mesma reação?
Ela continuava abraçada a ele, embora agora tivesse parado de chorar e só lhe restassem alguns poucos soluços.
- Porque? – disse ele com a voz falha
- O que? – perguntou ele
- Porque eu fico tento esses sonhos?
- Você...lembrou de mais alguma coisa? – perguntou ele ansioso.
Gina soltou um som que ele não sabia ser riso ou mais um soluço.
- Para a coleção Harry e Gina.
Harry ficou estático. Mais uma lembrança. Mais uma! E sobre eles...
- Lembrou de algo sobre...nós?
- De que adianta? – disse ela ainda abraçada a ele – De que adianta se é só isso?
- Você vai lembrar de tudo – disse ele afastando-se dela alguns milímetros apenas para que pudesse encara-la – Você vai lembrar...
- Então que eu lembre de tudo de uma vez! – disse ele irritada - Para que ficar vendo essas coisas? Porque não me lembro do resto? De tudo?!
Tenho que ficar vendo partes de como éramos pessoas apaixonadas ao invés de saber do que ainda não sei. Porque isso está acontecendo, afinal?
- Eu não sei, Gina – respondeu ele limpando algumas lágrimas dela – Mas sei que você vai lembrar de tudo na hora certa e que eu estarei aqui enquanto esta hora não chega e quando chegar.
Gina fechou os olhos, como se as palavras de Harry a tivessem ferido.
Agarrou-se firmemente a ele, na esperança de que aquilo pudesse tirar-lhe a dor que causara. Mas Harry jamais conseguiria, pois boa parte do sofrimento da jovem em seus braços devia-se, justamente, ao fato dele estar ali, naquele momento, confortando-a, ainda que ela tivesse feito tudo para mantê-lo longe.
- Eu tive uma idéia – disse Harry a Gina depois do almoço enquanto ajudavam a sra. Weasley a arrumar a cozinha – Porque não saímos um pouco daqui e vamos ao Beco Diagonal dar umas voltas? Acho que te faria bem.
Eles haviam combinado de não contar a ninguém sobre o ocorrido naquela manhã, para que as pessoas não ficassem preocupadas. Então almoçaram como se nada demais tivesse acontecido e Harry tivera a idéia de levar Gina ao Beco Diagonal consigo, para faze-la relaxar. Ele precisava mesmo ir a uma imobiliária procurar alguns apartamentos e não pretendia contar aos amigos por enquanto, para não deixa-los alvoroçados, então, sair com Gina seria uma excelente desculpa, além de não ser nem um pouco desagradável.
- Parece bom – disse Gina – Vou me arrumar e já volto.
Ela desceu poucos minutos depois e eles foram para o Beco Diagonal.
Passaram uma tarde muito divertida, entrado e saindo de lojas, fazendo algumas compras, tomando sorvete, como se fossem velhos namorados, apenas rindo juntos das piadas um do outro. Nenhum deles lembrou-se da manhã terrível que tiveram ou da falta de memória de Gina. Eram apenas eles dois, como se nada no mundo pudesse interrompe-los.
Quando estavam na Floreios e Borrões foi que Harry conseguiu uma desculpa para fugir até a imobiliária mais próxima, deixando Gina na loja vendo alguns livros.
- “O que fazer quando perdeu a memória... – disse Gina pegando um livro na prateleira - ...vítima de um obliviate” – lamentou-se – Não, não serve.
“Feitiços para esquecer”, não. “Exercícios para quem está esquecendo”, não. “Tentando se lembrar... – citou ela esperançosa - ...do aniversário de casamento”, droga!
- Eu sei, terrível – disse uma voz atrás de si, tirando o livro das mãos dela – Eu sou péssimo com datas, talvez precise de um desses.
Gina virou-se e sorriu.
- Daniel! – disse ela – Há quanto tempo está aqui?
- O suficiente – disse ele – E então, procurando uma cura?
- Tentando – disse Gina – Mas acho que se os médicos não conseguiram, provavelmente Bianilda Korb não seria capaz – disse ela retirando da prateleira um livro intitulado “Viva melhor com lembranças de menos – tudo para esquecer os momentos traumáticos”
- É, acho que não – disse Daniel – Mas, sabe, andei pensando em você ultimamente.
- Mesmo? – disse Gina intrigada – Porque?
- Não posso me preocupar? – ironizou ele
- Você não tem cara de quem fica preocupado – disse ela
- Desse jeito você me ofende, ruiva – disse ele – Ainda assim, tenho um presente para você.
- Um presente? – indagou ela
- Pra você ver como não guardo ressentimentos – disse ele retirando um pacote do bolso da capa – Só quero que você abra quando estiver em casa, no seu quarto, sozinha.
- Porque? – estranhou ela
- Bem, digamos que seu namoradinho não ia gostar – disse Daniel
Gina estranhou.
- O que tem aí? – perguntou Gina, desconfiada. – Porque Harry não gostaria?
- Ele é ciumento – disse Daniel – Não ia gostar da idéia de ver você ganhando presente de outro.
- Ele não parece ciumento...ao menos não a ponto disso – disse Gina
- Como tem certeza? – disse Daniel – Você não se lembra de muito sobre ele, não é?
- É, certo, obrigada por ressaltar esta última parte – disse ela afastando-se dele – Dispenso o presente, estou indo.
- Hey, espera! – disse o loiro puxando-a pelo braço – Olha...lamento ter dito aquilo...não quis ofender...
- Sei... – disse ela de cara amarrada
- É sério, ruiva, foi mal – disse Daniel – Mas é que você não estava querendo aceitar o presente e eu comprei pensando em você...fiquei com raiva.
- Eu ia aceitar – disse ela – Só não entendo porque esconder do Harry.
- Já disse, ele tem ciúmes... – disse Daniel – Mas se quiser, conte. Você quem sabe. Eu só não queria causar aborrecimentos.
Gina o encarou pensativa. Em seguida, pegou o embrulho das mãos dele e guardou dentro das vestes. Talvez fosse melhor abrir em casa.
Queria agradecer a todos que leram e comentaram. Obrigada mesmo, beijos a todos e até o próximo!
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