Enfim sós...
Snape acordou.
Ligeiramente atordoado pela sensação de sonho que ainda o rondava, olhou à sua volta. Decididamente, aqueles não eram seus aposentos nas masmorras, então, esperou alguns segundos, até que seus olhos se acostumassem com a luz quase inexistente, enquanto tateava cuidadosamente à procura da varinha.
Então, se lembrou, e um sorriso dançou em seus lábios.
A madrugada já estava no fim, e uma luz muito tênue começava a entrar pela porta, estrategicamente voltada para o nascente. Do lado de fora, os sons que haviam lhe acordado eram estranhos, mas não pareciam constituir alguma ameaça. Logo identificou o som melancólico dos violinos ciganos – tão cedo? – enquanto tinha a impressão de que um pequeno grupo caminhava entre as carroças.
A luz da manhã, filtrada pelas cortinas que serviam de porta, veio recair sobre o corpo de mulher ao seu lado, e ele a contemplou longamente, recordando com prazer o momento em que entrara ali, pela primeira vez trazido pela mão dela. Todo o barulho da festa ficara lá fora, pois eles não se importaram com mais nada ou ninguém.
Por vários minutos, haviam se fitado em silêncio, iluminados por pequeninas lâmpadas orientais cujas chamas de tom rosado perfumavam suavemente todo o interior preparado especialmente para aquela noite. Até que, num ímpeto, Snape ergueu Sarah nos braços, caminhando lentamente até o leito, que as ciganas pouco antes haviam coberto de pétalas perfumadas. Seus gestos eram tão delicados, que parecia ter medo de quebrá-la como se fosse feita de vidro, ao deitá-la ali, em meio às flores, e se ajoelhar ao seu lado, embevecido. Entre acanhada e ansiosa, Sarah sorriu para ele, um sorriso que pareceu ter o poder de incendiá-lo de paixão. Então, se beijaram, deixando de lado toda a reserva, as peças que cada um vestia se amontoando ao chão, enquanto mãos e bocas se buscavam, sôfregas, corpos a se unirem num único e formidável ritmo apaixonado...
Snape se lembrava apenas de tê-la visto sorrir, sentido a ponta de seus dedos passear pelo seu peito, antes de adormecer profundamente.
Agora, ela é que demorava-se num sono sereno, mas Snape não se importou, pois tinha certeza de que nunca se cansaria de olhá-la. Mas a luz do sol nascente alcançou seu rosto, ele notou tarde demais, e Sarah abriu os olhos.
Ela piscou várias vezes, parecendo incrédula, depois sorriu e se espreguiçou languidamente.
- Bom dia, meu amor! – ele disse
- Bom dia! – ela respondeu com doçura e riu com vontade – Vou ter que me acostumar logo a te ver do meu lado, quando acordar.
- Por que? Não gostou de me ver aqui? – ele tinha um tom levemente ameaçador, mas só por brincadeira.
- Seu bobo! É que... estou acostumada a dormir sozinha. Isso é novidade pra mim...
- Ainda bem! – ele exclamou, rindo.
Sarah o fitou em silêncio, indecisa se concordava ou brigava com ele. Então, percebeu a movimentação lá fora e pareceu levemente triste.
- O que foi?
- O pessoal... Já estão indo embora. – ela explicou – Não ouviu os rapazes? Estavam retirando os vestígios da festa, como é costume. Daqui a pouco, Hagrid estará ajudando-os com os cavalos, e eles partirão.
- Você preferia partir com eles?
- Não. Meu lugar é aqui. Desde o primeiro momento, eu soube, em meu coração, que Hogwarts era o meu lar. Só não sabia que era por sua causa. Por isso sofri tanto, esses anos todos, imaginando que...
Snape não a deixou continuar. Beijou-a suavemente. Depois, comentou com o olhar perdido em algum ponto distante:
- Sabe, a música que tocavam me lembrou o baile que tivemos, há dois anos... Em determinado instante, tocaram um desses ritmos latinos, um tango, eu acho. Então, fechei os olhos por um minuto e me vi dançando com você, ali no meio do salão principal. E você parecia tão real que, por um minuto, acreditei que tinha realmente voltado... Quando descobri que só imaginara, meu Deus, podia ter matado qualquer um que aparecesse à minha frente! Aliás, quase fiz isso!
Sarah riu, tentando imaginar quem poderia ter sido essa quase vítima, mas ele não disse mais nada, voltando a beijá-la docemente.
Mas o movimento lá fora cresceu, sinal de que realmente, já atrelavam os cavalos para partir. Ela se sobressaltou, imaginando que a manhã já avançara mais do que pensava.
- Não temos que dar aulas, hoje? – fazendo menção de se levantar, ela o encarou – Vamos nos atrasar!
- Calma! Está tudo sob controle. Temos professores substitutos até demais, os alunos podem até escolher!
Sem entender, ela o fez se virar e se debruçou sobre ele, acariciando-o displicentemente, sem perceber em seu rosto o efeito que seu gesto causava nele, e perguntou o que queria dizer com isso.
Respirando fundo e segurando suas mãos junto ao peito, ele explicou:
- Dumbledore nos deu o dia de folga, portanto, não se aflija, minha muito responsável Sra Snape. Lupin, Moody e até mesmo... Black, foram convocados para nos substituir. Dumbledore pensou em pedir à Tonks para dar as aulas de poções de hoje, mas mudou de idéia e pediu ao Moody, pelos motivos que você deve adivinhar. Quanto a Lupin e Black, vão se revezar nas aulas de Defesa, o que será de muito gosto de alguns alunos que nem preciso citar... Muito cômico, não acha? Um ex-lobisomem e um ex- prisioneiro de Azkaban dando aulas de defesa!
- E quando é que vai parar? – ao seu olhar de interrogação, Sarah explicou – Essa sua... implicância com Lupin, Sirius, e até mesmo o Harry? Quanto aos dois, eu até entendo, mas o Harry? É só um garoto, que não tem culpa dos erros que o pai possa ter cometido e nem mesmo, acredite, os seus defeitos.
Seu sorriso desapareceu por alguns segundos. Logo, porém, ele tornava a sorrir enquanto dizia, em um tom de doçura que geralmente era prenúncio de problemas.
- Isso depende... unicamente de você.
- Como assim? – ela o olhou, claramente confusa.
Num gesto rápido, ele se virou, invertendo as suas posições, mantendo-a presa ao leito com o peso de seu corpo. Então, foi fazendo um caminho de fogo com os lábios, desde entre seus seios até chegar à boca, passando pelo pescoço, pela ponta da orelha, pela face, e sussurrando as palavras entre os beijos:
- Depende de você ...deixar de uma vez por todas ...de se importar com qualquer um deles... ou qualquer outra coisa, e pensar só em mim... viver só por mim, pelo menos... quando estivermos aqui, sozinhos, sobre essa cama... Afinal... demoramos muito... pra conseguir... ficar... enfim, sozinhos o suficiente para eu fazer isso.
Ele a beijou intensamente, quase roubando-lhe o fôlego, até que ela conseguiu se desvencilhar, e empurrá-lo para cima o suficiente para respirar mais livremente, o que o assustou.
- Só se... – ela o fitou com expressão estranha – Você prometer ir mais... devagar!
Subitamente alarmado, ele se afastou mais um pouco, observando-a atentamente e perguntou:
- Eu machuquei você? Perdão, eu... me esqueci que...
- Não, não é nada disso, seu bobo! – ela riu com vontade, e sua risada pôde ser ouvida do lado de fora da carroça.
- É que... já que não precisamos nos levantar agora, e eu posso conjurar nosso café daqui mesmo, a gente não precisa ter pressa, não é mesmo? – ela o puxou suavemente, sentindo a pressão do seu corpo, aproximando o rosto do seu e sussurrando ao seu ouvido – E quero aproveitar cada minuto que temos...
O sorriso malicioso que iluminou seu rosto a tornava ainda mais irresistível, e Snape se rendeu, completamente convencido de que não havia nada mais importante a fazer nesse momento... nem nas horas que se seguiriam.
Do lado de fora, um grupo de ciganos mais idosos aguardara ainda. Então, um deles falou para o velho McGonagall, parado ao seu lado, pensativo.
- Creio que podemos dispensar o velho costume dos “lençóis”...
- Creio que sim. Não tenho dúvidas do que assinalam e, além do mais, iria chocar um pouco esses jovens, seus costumes são muito diferentes – ele apontou para os alunos que se aventuravam a atrasar o café para espiar o desmonte do acampamento – E acredito que eles não querem ser interrompidos – apontando a carroça da filha, ele piscou para o companheiro, que também piscou em resposta.
E, enquanto o sol se elevava no céu, a comitiva foi desfazendo o círculo e se encaminhando para fora dos terrenos de Hogwarts. O velho McGonagall ainda permaneceu, para se despedir mais tarde dos amigos e também da filha recém-casada. Mas a carroça de Sarah já era a única ao lado da cabana de Hagrid, que deu suas aulas daquele dia fazendo de tudo para afastar dali os alunos mais afoitos e curiosos.
Seus dois ocupantes, porém, só foram vistos do lado de fora, abraçados e esquecidos do mundo, um pouco antes do jantar, caminhando à beira do lago.
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E foi só isso que aconteceu, mais nada!
Agora, as explicações que prometi:
1 - A moeda na testa é usada pelas ciganas para se protegerem contra aqueles que têm o poder de penetrar a mente, ou, como queiram, legilimência. A moeda bloqueia a entrada do "chacra frontal".
2 - A cerimônia está o mais próximo possível de um casamento cigano, dentro do que eles permitem que conheçamos de seus costumes
3 - No salmo 121, em vez de "guarda que vela por toda Israel", as ciganas dizem "por toda a tribo".
4 - Quanto ao lençol, não se assustem: na manhã após o casamento, enquanto os jovens "desmancham" a festa, as mulheres recolhem o lençol do leito nupcial e conferem as marcas da virgindade. Então, percorrem todo o acampamento,mostrando a todos a prova de que a noiva permaneceu virgem até o casamento (e não me perguntem o que acontece se não for)
5 - Se alguém está imaginando carroções como aqueles que vemos em filmes de bangbang... achei uma foto dos carroções ciganos usados pelos que viajam pelo Reino Unido ( o nome na língua cigana é vurdon):
[img]http://www.vurdon.it/wagon.jpg[/img]
Comentários (1)
Que fic linda!!! Meus parabéns!!!!
2014-04-14