Adeus



N/A: Quero avisar que há uma grande parte em itálico no meio do capítulo e esta cena contém imagens de sangüinolência e violência... Quem não quiser ler, basta pular a parte em itálico... Já estão avisados... Divirtam-se com o cap...
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Capítulo 37 – Adeus

Harry abriu os olhos e notou instantaneamente que estava em uma caverna. O chão pedregoso sobre suas costas lhe incomodava levemente, mas não o suficiente para obrigá-lo a trocar de posição. Alguém havia dobrado um pano e colocado sobre a sua cabeça, como um travesseiro. Seu corpo estava dolorido em cada parte que Harry se lembrava de possuir e não se lembrava de ter estado mais cansado. Sentia como se seu cérebro latejasse, provocando-lhe uma desagradável sensação de tontura, mesmo deitado. Tudo o que podia fazer era observar o teto da caverna, iluminado por uma luz bruxuleante que significava que haviam acendido uma fogueira ali dentro. Ouvia palavras sendo sussurradas em algum lugar ali perto e talvez se pudesse concentrar-se, conseguiria entender o som que chegava aos seus ouvidos. Respirou fundo algumas vezes tentando desanuviar sua mente, que insistia em trabalhar lentamente. E depois de alguns instantes de concentração, o garoto começou a distinguir as palavras que chegavam até ele. As vozes eram de Rony e Hermione e eram palavras sussurradas num tom baixo e preocupado.
-E eu o proíbo terminantemente de ir até lá, Ronald Weasley. Ele está confuso com as lembranças que Harry o ajudou a recuperar e provavelmente foram lembranças bem desagradáveis. Você viu o estado dele?
-É claro que eu vi o estado dele, Mione. E também vi o patrono. Nunca tinha visto um patrono tão grande...
-Nem tão ameaçador. – completou Hermione. – Fique quieto um instante, vou ver como o Harry está.
-Tudo bem, mas eu vou até o riacho pegar mais água.
-OK.
Harry ouviu os passos abafados da amiga se aproximando e fechou os olhos por puro reflexo. Tentou permanecer o mais imóvel possível e teve que se lembrar de respirar, pois havia prendido a respiração automaticamente. Sentiu os dedos dela tocarem de leve a sua face, acariciando sua bochecha. Foi um contato rápido, mas que Harry conseguiu aproveitar. Era bom sentir alguém fazer carinho daquele jeito. Muito bom. Em seguida, a mão morna da garota afastou os cabelos da testa de Harry e ficou pousada ali, aparentemente checando se o rapaz estava com febre. Ao tirar a mão, a garota acariciou de leve a cicatriz em forma de raio e murmurou para si mesma:
-Quem diria que algo tão pequeno quanto isso pudesse causar tantos estragos como uma Guerra. – Hermione suspirou e Harry sentiu uma gota de líquido quente pingar em sua bochecha. A garota conseguiu reprimir um soluço tremido, mas Harry pôde entreouvi-lo. Outro suspiro e Hermione se afastou.
Harry não tivera coragem de abrir os olhos na presença dela. Sentira as bochechas queimarem com o carinho da amiga. Mas ele estava errada. O que causara estragos não fora sua cicatriz, e sim ele próprio. Harry sabia disso. Passos soaram, vindos de fora da caverna.
-Ele está bem agora. – a voz de Hermione voltou a sussurrar, ligeiramente mais distante. – A febre baixou.
-Ah, que bom. Assim que ele acordar vamos perguntar a senha do comunicador para que possamos entrar em contato com a Ordem. – sussurrou Rony de volta. Com tal argumento, Harry não pôde mais se fingir de adormecido e abriu os olhos. Tentou falar para chamar a atenção dos amigos, mas sua garganta estava seca. Virou a cabeça com dificuldade na direção dos amigos e os observou. Estavam do outro lado da fogueira, à beira da saída da caverna. Rony estava sentado em uma pedra e bebi água em um cantil e Hermione... Hermione estava olhando pra ele. A garota o observava fixamente, quase sem piscar os olhos. Ao notar que estava sendo observado tão profundamente pela amiga, Harry não pôde reprimir um sorriso tímido, do qual se arrependeu depois, devido à dor nos músculos de sua face. Ao notar o sorriso de Harry, Hermione mexeu a cabeça para vê-lo melhor. Aparentemente o fogo que os separava atrapalhava sua visão e, só então ela notou que ele estava acordado.
-Harry? – a garota se levantou e se aproximou em passos largos. Se abaixou ao lado do rapaz de olhos verdes e passou a mão de leve pela topo de seus cabelos rebeldes. – Você está bem?
Harry tentou falar, mas sua garganta seca o impediu. Pegou ar e sussurrou uma palavra ininteligível.
-Desculpe, o que disse? – perguntou a garota, aproximando seu ouvido da boca de Harry para que quando ele falasse, ela pudesse ouvir. Harry fechou os olhos, sentindo o perfume que desprendia do pescoço ou do cabelo dela, ele não sabia dizer. Mas o perfume era bom. Muito bom. Então abriu os olhos e sussurrou a palavra novamente.
-Água. – Harry quase não conseguiu ouvir sua própria voz de tão baixa e rouca que ela estava.
-Ah, claro. Rony me dê seu cantil, rápido. – disse ela. Rony que já estava ajoelhado ao lado dos amigos, alcançou algo às suas costas e depois entregou para Hermione. Ela destampou o saco de couro que guardava a água e colocou uma mão na nuca de Harry, levantando sua cabeça de leve para que ele pudesse beber. Quando o líquido tocou a língua de Harry, o garoto sentiu um alívio intenso. A água escorreu pela sua garganta ressecada e Harry se sentiu incrivelmente melhor. Depois de alguns goles, conseguiu se sentar, com a ajuda dos amigos.
-Justiça. – disse Harry, a voz ainda um pouco rouca, mas num volume normal. – É a senha do comunicador da Ordem. – Não tinha idéia de como sabia aquilo, mas a questão era que sabia.
-Beleza. – comemorou Rony puxando o comunicador da Ordem de algum lugar às suas costas. – Valeu mesmo, Harry. – O ruivo abriu o comunicador redondo e dourado. – Vou falar com eles agora mesmo. Justiça. – O pequeno objeto emitiu um bip e um chiado leve e depois silenciou.
-Você deve chamar o nome de alguém especificamente, Rony. – explicou Hermione.
-Ah tá. Entendi. Remo Lupin. – outro chiado no comunicador e um rosto sombrio apareceu no pequeno espelho do aparelho. – Lupin?
-Rony? Ah Meu Deus... Onde vocês estão? – a voz de Lupin chegava aos ouvidos de Harry como uma benção. Tudo o que o rapaz queria era saber se Gina estava bem, ir embora dali e, talvez dormir por uns três dias seguidos na sua cama no dormitório da Grifinória.
-Remo... vocês acharam Gina? Vocês estão com ela? – perguntou Rony apressadamente.
-Acalme-se. Ela está bem. Já foi levada para Hogwarts. Nada demais aconteceu a ela. Estava com alguns cortes, mas nada mais sério do que isso.
Rony ficou tão feliz que começou a rir, caindo sentado no chão pedregoso da caverna. Hermione pegou o comunicador e começou a conversar com Lupin. Harry sentiu seu estômago dar um salto de alívio. Suspirou.
Harry pegou o cantil ao seu lado e bebeu mais um longo gole de água fresca. Ainda sentia-se levemente tonto e achou que um pouco de ar puro lhe faria bem. Levantou-se com dificuldade e caminhou até a saída da caverna, se apoiando nas paredes. Rony, que ainda ria de se acabar no chão, e Hermione, que conversava concentrada com Lupin, sequer perceberam sua saída.
Ao chegar ao lado de fora da caverna, respirou fundo e bebeu mais um gole da água do cantil. A tontura passou por completo e Harry observou as estrelas. Sentiu-se levemente nostálgico. Nunca fora muito de ficar olhando a natureza, mas começou a gostar de fazê-lo depois de seu primeiro ano em Hogwarts. Sempre que ia à casa dos Dursleys, olhava a lua ou observava as estrelas, pensando se seus amigos também o faziam enquanto pensavam nele. Ficava pensando em Hagrid e Dumbledore e se eles estariam apreciando as estrelas e a lua através do teto encantado do Salão Principal. Com o passar do tempo e a ameaça constante de Voldemort pairando sob sua cabeça, Harry passou a apreciar tais momentos de contemplação, pensando que poderia ser a última vez que tinha a oportunidade de olhar as árvores, ou o pôr do sol, ou mesmo a lua e as estrelas.
Não era lua cheia, mas mesmo assim, ela iluminava todo o céu. Haviam nuvens claras no céu e a luz lunar passando por elas lhe dava a sensação de estar observando uma pintura feita num teto imensamente grande que cobria sua cabeça.
De repente, Harry se lembrou que nem Susan e nem Guilherme estavam por perto. Lembrou-se que nem mesmo chegara a perguntar a Rony ou Hermione onde eles estavam. Pensando bem, não deveriam estar longe. Quando foi beber mais um gole da água fresca do cantil, percebeu que este estava vazio. Harry olhou ao redor, em busca de algum indício que indicasse onde estava o riacho onde Rony fora encher o cantil. O som de água, não tão próximo assim, parecia vir de algum lugar por ali. Seguindo o som da água, Harry entreouviu as vozes de Guilherme e Susan. Não querendo interromper a conversa do casal, Harry parou atrás de alguns arbustos, apenas ouvindo suas vozes.
As palavras que diziam quase não se sobressaltavam ao som da água corrente do rio ao lado deles. Harry pôde ver por entre as folhagens que estavam sentados na curva do rio, Susan com os pés dentro d'água e Guilherme abraçando os joelhos. A aparência do garoto era a mais esquisita e, agora já comum ao ponto de vista de Harry, excêntrica possível. Apesar de o garoto estar de costas para Harry, o moreno de olhos verdes podia notar seus cabelos brancos e as muitas tatuagens negras de formas arredondadas e pontudas em todo o corpo de Guilherme. A voz do garoto estava exaltada e a voz de Susan estava contrastantemente calma.
-Você não viu o que eu vi. – disse Guilherme veementemente. – Não sabe as coisas que eu fiz!
-Sim, eu sei. Você me contou, embora talvez não se lembre. Não se preocupe, você foi inocentado.
-Eu não estou preocupado se eu fui ou não inocentado. EU MATEI UM HOMEM!
-Em primeiro lugar, abaixe seu tom de voz para falar comigo, Guilherme. Entendo que esteja exaltado. É como se vivesse tudo isso pela primeira vez e, acredite quando lhe digo, você não reagiu de modo muito diferente na outra primeira vez. Entretanto, eu sou sua namorada, melhor amiga e confidente, então supõe-se que não haja necessidade de explicar esse tipo de coisa, mas explicarei mesmo assim: você confia em mim e pelo que me consta, sempre confiou. Você me contou o que fez, apesar de eu não aprovar sua atitude na época, mas logo que eu descobri a verdade, eu te perdoei. A verdade é: era você ou ele. Pelo que se sabe, o tal do Avery ia matar você. Foi autodefesa. Você não teve culpa.
-Você não entende. Eu fui atrás dele com a intenção de matá-lo. E foi o que eu fiz, não importa o que tenha ocorrido. – Murmurou o garoto, erguendo os olhos para a lua brilhante.
-Não seja cabeça-dura, Guilherme McKinnon. Você deve se lembrar que já discutimos esse assunto o suficiente em Hogwarts. Você fez o que tinha que fazer e ponto final. Ninguém o culpa por isso.
-Tudo bem. Posso até não ter culpa nisso, mas e quanto ao resto?
-Que resto?
-Quando Harry entrou na minha mente, me lembrei de um monte de coisas que eu fiz e gente com quem falei. Gente estranha. Muito estranha, para não dizer coisa pior.
-Essa gente estranha a que você se refere são os seus amigos. – Censurou Susan.
-Quer dizer que eu tenho um amigo que é dono de uma loja na Travessa do Tranco? – ironizou Guilherme. – Imagino que nossa amizade seja muito forte.
-Pra falar a verdade, não. Não chega a ser uma amizade, está mais para uma relação de negócios. Mas é graças a esse tipo de relação que você obtém informações em primeira mão para a Ordem.
-É... o que? – surpreendeu-se o garoto.
-Sim. Você tem muitos amigos... hum... escusos, por assim dizer. Mas é graças a eles que você obtém informações sobre o submundo da magia e informa a Ordem.
-Quer dizer que eu... sou uma espécie de... traficante de informações? – perguntou Guilherme chocado.
-Claro que NÃO! – brigou Susan. – Não seja bobo. Você não vende informações para a Ordem. Você as passa, com o intuito de ajudar a derrubar Voldemort.
-Hum... e quanto à minha aparência? – perguntou Guilherme se olhando na água do rio.
-O que tem ela? – perguntou Susan, se fingindo de inocente. Guilherme lhe lançou um olhar mal-humorado.
-O que tem ela? O que tem ela? Você só pode estar brincando. Num momento tenho os cabelos lisos e negros e olhos castanhos e no outro momento tenho cabelos brancos e espetados e olhos vermelhos e um monte de tatuagens que não sei como vieram parar aqui.
-Ah... isso. – disse a morena, parecendo se lembrar do que ele estava falando.
-Sim, é isso. – uma pausa onde nem Guilherme e Susan falaram. – E então?
-Hum... e então o que? – perguntou Susan, surpresa.
-O que há de errado comigo? – Exasperou-se Guilherme. – Por que minha aparência muda tão facilmente?
-Em primeiro lugar, sua aparência não muda facilmente, é preciso que você esteja realmente chateado para que isso aconteça. Em segundo lugar, por que você acha que eu saberia?
-Você mesma me disse que é minha namorada, melhor amiga e confidente, então você deve saber.
-Certo, eu sei. – Susan deu um suspiro rascante. – À princípio, seu tio acreditava que sua aparência mudava devido a feitiços incontroláveis. Você sabe quando um garotinho não consegue controlar seus poderes? Pois é... No início ele achava que era este o caso. Ele comentou que quando você era criança isso acontecia com freqüência, então ele levou você até o St. Mungus e foi constatado que você é um Metamorfomago tardio. Ou seja, que ainda não consegue controlar seus poderes de variação corporal. Como os poderes dos bruxos se desenvolvem até que completem 17 anos, isso não é tão raro. É apenas incomum, pois a maioria dos metamorfomagos aprende a controlar seus poderes naturalmente durante o início do seu aprendizado em magia e...
-Quer dizer que eu... sou um metamorfomago? – perguntou Guilherme surpreso. – Eu não me lembro disso...
-Bem, você não deveria se lembrar mesmo, já que nunca soube desse fato.
-Eu não... antes de perder a memória eu não sabia disso?
-Não. Seu tio contou ao Max e o Max contou à minha mãe e minha mãe me contou. Mas seu tio pediu para que todos nós guardássemos segredo.
-E porque isso? – perguntou Guilherme, meio irritado.
-Não faço idéia. – respondeu Susan, dando de ombros.
Um silêncio repentino se instalou entre o casal. Harry permaneceu quieto, apenas observando-os. Guilherme se deitou na grama, o corpo seminu esticado na relva, os braços atrás da cabeça, observando as estrelas.
-Ah é... – disse Susan repentinamente, assustando o garoto que observava o céu. – Parabéns pelo seu patrono. Foi incrível.
-Ah... certo. – Guilherme sorriu de leve para a garota, ao perceber qual o assunto que ela iniciara. – Obrigado.
-De nada. Mas eu achei realmente incrível. Nunca fui boa com o patrono e estava quase desacordada quando você apareceu para nos salvar. Ah... antes que eu me esqueça, obrigado por nos salvar.
-Ah... quê isso. – Harry conseguiu notar que o rapaz deitado na grama estava sem graça. – Não foi nada.
-Não foi nada? Foi o patrono mais... mais... mais incrível que eu já vi.
-Obrigado. – agradeceu Guilherme sem jeito.
-Que animal era? Não consegui ver direito do ângulo em que eu estava.
-Um urso. – resmungou Guilherme, dando um sorriso tímido.
-Sério? Eu sabia que era grande, mas não imaginava que fosse um urso. Bem legal, Gui.
-Obrigado. – agradeceu o garoto de novo.
-Você não devia ficar ouvindo a conversa dos outros, Harry. – sussurrou uma voz feminina ao ouvido de Harry. Harry sentiu seu coração saltar dentro do peito e um arrepio percorrer sua espinha na velocidade da luz. Era Hermione. Aquela voz era indiscutivelmente dela. E a melhor parte era que ela estava encostada contra as costas de Harry, para que pudesse sussurrar ao pé do seu ouvido. Aquele contato era de enlouquecer. Harry sentia o calor do corpo da garota contra as suas costas nua. Sentiu as bochechas pinicando e esquentando, demonstrando que estava bastante sem jeito.
Quando finalmente Harry se virou para a garota, ela lhe sorria. Um sorriso bondoso que lhe dizia claramente que ela não se importava se ele estava ou não escutando uma conversa alheia. Ela se aproximou e por um milésimo de segundo, Harry achou que ela iria beijá-lo, pois ela moveu a boca na direção de seu rosto, mas no último instante, desviou os lábios para a orelha de Harry, para lhe sussurrar mais algumas palavras:
-Venha comigo, precisamos conversar. – quando Hermione lhe sussurrou isso, Harry fechou os olhos, momentaneamente entorpecido pelo perfume da garota. Como ela conseguia estar perfumada depois de passar horas no fundo de um lago? Harry não sabia e tampouco se importava.
Hermione pegou Harry pela mão e o guiou por entre as árvores até a entrada da caverna.
-Onde está o Rony?
-Ele finalmente conseguiu pegar no sono. Ele estava preocupado com a Gina, mas agora está tudo bem.
-Que bom. – começou Harry, mas foi interrompido pela garota.
-Eles já estão vindo, Harry. A Ordem está a caminho pra nos buscar.
-Sério? – perguntou Harry sem acreditar. Estava contente em ouvir aquilo. – Isso é realmente muito bom.
-Não é? – sorriu a garota. Ela parou um instante e então, sem aviso, se jogou sobre Harry, dando um abraço de quebrar as costelas. – Fico feliz que tudo tenha corrido bem nessa expedição. Fico feliz que esteja bem, Harry.
O garoto apenas aproveitou os braços da amiga ao redor do seu pescoço. Fechou os olhos e respirou fundo.
-Eu também, Mione. Eu também.

***

Harry passou o dia seguinte inteiro na Ala Hospitalar de Hogwarts. Segundo Madame Pomfrey, o abuso da Legilimência poderia ter causado sérios danos tanto a Harry quanto a Guilherme. No entanto, como fora Harry quem conjurara e mantivera a ligação mental, era ele que estava sem energia.
As férias começariam dali a três dias e Harry não se sentia satisfeito em perder seus últimos dias em Hogwarts na Ala Hospitalar. Infelizmente ele não tinha opção, como dissera Madame Pomfrey quando ele reclamou.
-Quem mandou ficar fazendo feitiços muito poderosos? Agora agüente as conseqüências e descanse, Potter. – brigou Papoula Pomfrey. A enfermeira caminhou pela enfermaria e sumiu em sua sala.
Harry bufou, movendo seu olhar para o familiar teto da enfermaria. Já era noite lá fora, ele sabia. Sentia o ar fresco que entrava por uma janela aberta não muito longe do leito onde estava deitado. Suspirou profundamente. Sentia-se aliviado por todos estarem bem, por todos terem voltado sãos e salvos daquela expedição fracassada. Ficou feliz ao saber que Gina já estava em casa. Ela fora mandada antes do fim das aulas para a Sede da Ordem, onde estava em observação.
Harry sentiu a mente começar a divagar. O sono o abraçou lentamente e antes que se desse conta já havia adormecido.

***

Harry conhecia aquele corredor. Era localizado em Hogwarts. Um corredor que já percorrera mais vezes do que gostaria. O corredor que levava diretamente até a gárgula na porta da sala de Dumbledore. E naquele momento era ainda mais importante encontrar Dumbledore e lhe contar seu sonho. Seu sonho com Voldemort. Dumbledore precisava saber.
Um vento frio percorreu o corredor, fazendo a espinha de Harry gelar. Não era um frio qualquer. Era como se o medo de algo terrível penetrasse em sua pele como agulhas incandescentes. Harry parou de andar. Já podia divisar o contorno da gárgula na semi-obscuridão do corredor. Sentindo-se mais aliviado, deu um passo apressado e quase caiu. Seu pé derrapou em algo que sujava o chão. Ao olhar para baixo, o estômago de Harry gelou. Uma poça de sangue pegajoso e vermelho-brilhante marcava um circulo quase perfeito no chão de pedra. Harry seguiu o sangue com os olhos e quando encontrou sua origem, deu um passo atrás, horrorizado. Seu estômago embrulhou e ameaçou botar todo o jantar para fora. Pregado à parede de pedra do corredor estava Neville Longbottom. Havia um profundo corte de um lado a outro de sua garganta, criando um colar vermelho que escorreu por seu corpo para o chão. Seu rosto sem vida mantinha uma expressão de dor e horror. Harry não soube o que fazer. Precisava avisar Dumbledore. Deus às costas à Neville e pôs-se a caminhar mais rapidamente pelo corredor, encontrando mais corpos pelo caminho. Seu tênis deslizava pelo chão coberto de sangue humano. Harry tentava em vão não olhar os cadáveres. Simas, Dino, Lilá, Parvati, Padma, Justino, Ana, Colin, Denis, Luna, todos mortos, os corpos espalhados ao longo do corredor. Como Dumbledore podia não saber de tal massacre?
Harry praticamente corria agora. A gárgula se aproximou rapidamente e Harry parou à sua frente, sem saber a senha. Como iria entrar sem a senha? Talvez algum dos amigos mortos no corredor soubesse a senha antes de ser assassinado. Quando Harry se virou para o corredor cheio de corpo, se deparou com um corpo novo que havia surgido ali. Estava pendurado em um lustre que Harry nunca notara até aquele momento. Era uma garota ruiva, com rosto pálido e sardas. Estava amarrada pela garganta ao lustre e seu ventre estava aberto, fazendo o sangue escorrer abundantemente para o chão de pedra.
-Gina...
-Harry... – sua voz estava rouca e parecia extremamente doloroso para ela falar. – Por quê? Por que você não nos salvou?
-Gina... eu não sabia... eu só...
-Você nos deixou morrer, Harry. – disse uma voz atrás de si. Quando Harry se virou, viu Susan caminhando em sua direção. A garota fora decapitada. Sua cabeça se equilibrava medonhamente no pescoço cortado.
-Não eu...
-Por que, Harry? - Rony havia aparecido. Caminhava com uma espada fincada no peito.
-Você não pôde nos salvar, Harry? – perguntou Guilherme se aproximando. Ele tinha grandes e profundos cortes no rosto, deixando-o irreconhecível; um de seus olhos castanhos estava furado. – Por que não nos disse? Não teríamos confiado em você...
-Não, eu não...
-Eles estão certos, Harry. – aquela era a voz que Harry não queria ouvir desde que vira Neville preso à parede: Hermione. Se virou na direção dela. Ela acabara de sair do escritório de Dumbledore. Estava intacta. Usava uma camisola branca semi-transparente e caminhava de uma forma que parecia flutuar sobre o chão vermelho-sangue. Logo atrás dela vinha Voldemort, segurando a Espada de Slytherin apontada para a garota. – Você não pode vencê-lo se tiver medo de nos perder. Tem que fazer o que for necessário.
-Não... eu jamais arriscaria a vida de vocês... eu nunca...
-Você não vai me derrotar dessa forma, Harry. – disse Voldemort sorrindo cruel. – Serei bonzinho e te darei uma escolha. – Voldemort empurrou Hermione para a frente e Dumbledore surgiu ao lado dela. Ele estava impassível, com seu olhar brilhante e seus óculos de meia-lua dourado. – Escolha quem deve viver: seu querido professor Dumbledore, a quem você admira e o único que pode me derrotar ou Hermione, a sangue-ruim por quem você se apaixonou. Quem vive e quem morre, Harry?
-Eu não... não quero escolher... – o pânico tomou conta do peito do rapaz. Não queria fazer aquela escolha.
-Você tem que escolher, Harry. – disse Hermione calma.
-Você tem que escolher, Harry. – disse Dumbledore calmo.
-Não... eu não...
-Escolha. – disse Voldemort sério, movendo a lâmina de sua espada do pescoço de um para o pescoço de outro. – Quem eu devo matar, Harry?
-Não vou escolher...
-Faça sua escolha. – pediu Voldemort.
-Não... eu nunca...
-Quem deve viver...? – perguntou Voldemort.
-Eu não...
-ESCOLHA!
-Hermione... – Harry disse rápido, as lágrimas escorrendo pelas bochechas. Na mesma hora, a lâmina desceu, cortando a face de Dumbledore ao meio. O sangue escorreu e Dumbledore apenas encarou Harry enquanto seus oclinhos de meia-lua eram partidos ao meio.
-Você me matou, Harry. – disse a voz de Dumbledore. No instante seguinte, o corpo velho do diretor desabou no chão. Harry estava ofegante, devido ao conflito interno que se passara em seu coração. Hermione ainda estava parada, imóvel, em frente a Voldemort.
-Você fez a sua escolha, Harry. – disse Voldemort. Ele sorriu cruelmente e ergueu a espada acima da própria cabeça, mirando Hermione. – Agora eu farei a minha. – e desceu a lâmina, cortando a moça ao meio.

Harry se sentou em sua cama de sopetão. Seu cabelo grudava na testa devido ao suor frio que a molhara. Seu rosto estava totalmente molhado, tanto pelo suor quanto pelas lágrimas. Observou o quarto que ocupava na Rua dos Alfeneiros. Havia chegado havia um mês à casa dos Dursleys e não via a hora de ir embora para sempre. Aquele fora um dos piores pesadelos que já tivera. Ainda podia sentir o estômago embrulhado pelo cheiro de sangue. Era como se tudo aquilo fosse real. Mas não poderia ser. Voldemort não conseguiria entrar em Hogwarts. Dumbledore estava lá e protegeria a escola. Sentindo-se mais calmo com o pensamento de que cada um dos amigos estava em sua cama naquele momento, Harry olhou para a janela aberta de seu quarto. Lá estava Guilherme, abaixado no batente, o observando.
-Você tem pesadelos com uma freqüência assustadora, Harry.
-O que está fazendo aqui? – perguntou Harry ignorando o que o amigo dissera enquanto se levantava da cama.
-Já são 11h30min da noite. Vim te acordar para se preparar. Temos que ir.
Harry olhou para o relógio. Ele tinha razão. Completaria 17 anos em pouco menos de 30 minutos.
-Nós vamos... embora? – perguntou Harry em dúvida e ao ver Guilherme confirmar com um sorriso, continuou. – Para sempre?
-Bom, na teoria sim. Mas se você quiser voltar para fazer uma visita aos seus tios, ninguém irá impedi-lo. – ficou óbvio pelo tom de ironia de Guilherme que ele estava zombando do moreno.
-Você sabe ser engraçado quando quer... – disse Harry. – Não vejo a hora de ir embora daqui para nunca mais voltar.
-Bom saber disso. Assim que der meia-noite, você será maior de idade e poderemos ir embora.
-Certo. Vou arrumar minhas coisas então. – E foi o que Harry fez. Passou longos minutos recolhendo tudo que era seu e iria levar. De modo surpreendente, suas coisas haviam se espalhado pelo quarto no mês que passara ali desde o início das férias. Haviam livros e coisas de Hogwarts por todo lado.
-Acho que é melhor não deixar nada do nosso mundo aqui, Harry. – disse Guilherme que olhava para a rua pela janela. – Mesmo que você não vá usar, leve. Nos livraremos do que quer que seja depois.
-Certo. – Concordou Harry. O moreno de olhos verdes pegou uma pilha de velhos livros escolares e jogou de qualquer forma dentro do malão. Com certeza teria que se livrar daquilo. Quando finalmente fechou o malão e se jogou na cama para descansar da intensa arrumação, Guilherme se aproximou:
-Você ainda precisa se trocar, Harry. E rápido, faltam apenas cinco minutos.

***

Cinco minutos depois, Harry já estava pronto e ambos olhavam para o relógio, aguardando a meia-noite. Quando ela bateu, Guilherme encarou Harry com um sorriso que Harry interpretou como "Parabéns! Você agora é maior de idade. Que seu aniversário seja muito feliz, Harry!", mas que na verdade não foi dito. Tudo o que Guilherme disse foi:
-Vamos. – E lhe entregou sua Firebolt. Havia muito tempo que Harry não parava para admirar sua vassoura. Continuava linda, seu cabo brilhava muito à luz que entrava pela janela. Guilherme tirou uma miniatura de vassoura do bolso das vestes e com um floreio de varinha, ela voltou ao tamanho original. Era uma vassoura muito bonita.
-É uma Nimbus 2005. Eu queria o modelo 2006, mas só será lançado mês que vem. – disse Guilherme ao ver a fascinação de Harry pela vassoura. – Mas é claro que não chega ao nível da Firebolt. Está pronto, Harry?
-Estou. – respondeu ele e minutos depois, estavam no ar, distanciando-se em grande velocidade da Rua dos Alfeneiros. Harry freou a vassoura e olhou para trás na direção da casa dos Dursleys. Ela ainda estava perfeitamente divisível por entre as outras casas àquela distância.
-Eu falei sério quando disse que você pode voltar sempre que quiser. – Harry olhou na direção da voz e viu Guilherme também parado, o olhando. – Nós podemos vir para você se despedir deles algum dia desses se quiser.
-Não. Eles nunca foram muito familiares quando se tratava de mim.
-Apesar de tudo, são sua única família.
-Não mais. Se eu voltar eles podem correr perigo e não quero isso. Apenas vamos embora. Para sempre.
-Você é quem sabe.
Harry olhou para trás uma última vez. Achou ter visto alguém à janela do segundo andar na casa dos Dursleys. O cômodo que fora seu quarto nos últimos anos. Por um momento, pareceu a Harry haver alguém a observá-lo dali. Sacudindo a cabeça com a improbabilidade do pensamento, Harry deu as costas e acelerou a vassoura, sendo seguido por Guilherme. Mentalmente, deu adeus à Rua dos Alfeneiros e aos Dursleys. Nunca mais voltaria ali, sabia disso. Com o vento queimando seu rosto, Harry fechou os olhos e sentiu os Dursleys saírem permanentemente de sua mente e de sua vida. Sua vida trouxa acabara e Harry sabia disso. Agora, tudo o que podia e iria fazer era se entregar de corpo e alma na sua tarefa como O Escolhido.

***

Num quarto no segundo andar do número 4 da Rua dos Alfeneiros, uma figura olhava pela janela. Ainda agora vira duas pessoas se afastando velozmente da casa em vassouras. Com um suspiro de satisfação e alívio e também de dor e perda, a figura deu um suspiro e sussurrou:
-Adeus, Harry.
E quando ia saindo do quarto, Petúnia Dursley parou à porta e observou o cesto de lixo quase vazio ao lado. Lançando lá o pequeno pacote embrulhado em papel vermelho que trazia, saiu do quarto, fechando a porta silenciosamente às suas costas.

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N/A: Quem diria hein... Petúnia Dursley ia se despedir do Harry?? Não exatamente... xD O por quê de ela ir se depedir será revelado no futuro... Rs rs...
Para quem não compreendeu, Harry entrou em férias e passou um mês na casa dos Dursleys... Achei que era completamente desnecessário alongar ainda mais o cap para mostrar isso... O importante é que estamos fazendo a curva e entrando na reta final pessoal... Esse é o cap 37, e suponho que a fic não passe do 42 ou 43 e mais o Epílogo...
O que acharam do pesadelo do Harry?? Bastante sangue não?? É por que ele está preocupado com a segurança dos amigos... E antes q alguém me pergunte: Não, Voldemort não "plantou" esse pesadelo na mente do Harry, foi apenas um pesadelo comum numa mente estressada...
E então, gostaram do capítulo?? Botei meu lado sádico pra fora na cena do pesadelo... AMEI escrevê-la... Espero que tenham gostado de ler... O próximo capítulo virá sabe-se lá quando... Provavelmente no meio ou final de maio... E as cenas de sangue estão se intensificando... Espero que tenham gostado do cap... Até a próxima vez pessoal... Abs

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