Capítulo 7 (falta revisar)



Ele a preocupava cada vez mais.

Só deus sabia o quanto.

Fazia-a lembrar-se de si mesma quando tinha aquela idade. Antes que fosse forçada a se dobrar e engolir seu orgulho. Eileen Snape imaginava se, dessa vez, nesta nova história, o futuro traria algo de bom. Não podia ignorar o sobrenome "dele" em si mesma e no garoto, recordando-a a cada dia, a cada instante de um (e outro, e outro) passo em falso. Da mesma forma, não podia agora evitar amá-lo. Seu Severus.

Ela suspirou, melancólica, batendo com o cigarro no parapeito da janela e observando as cinzas se desprender, flutuar e então, se desfazer no ar, apanhadas por uma mínima corrente de ar. Pensou como seria maravilhoso... diabos, não. Não maravilhoso. Ideal. Correto. Justo. Era uma mulher muito além do maravilhoso, ou muito aquém. De novo, só deus sabia tudo o que havia passado, todas as batalhas que travara, dentro de fora de si mesma, por ele. Fosse o que fosse, nada jamais seria "maravilhoso" outra vez. Enfim, como seria justo se uma mínima corrente como aquela apanhasse Severus e o levasse na direção contrária à qual ela fora arrastada.

Porque o amava demais para vê-lo repetir sua própria história: abrir mão do que poderia vir a ser por uma ilusão, algo apenas momentâneo. Eileen duvidava seriamente que seu filho algum dia se apaixonasse por uma trouxa, houvera aquela menina em Spinner's End, mas isso fora há muito tempo, com certeza deveria ter conhecido garotas de sangue-puro em Hogwarts, então, estava razoavelmente tranqüila quanto às possibilidades de sua história vir a se repetir. Mas, ela suspirou outra vez e deu uma longa tracada em seu cigarro, já quase no fim, mas. Severus vinha se tornando a cada ano mais distante dela, mais fechado em si mesmo. Era como se ela nem mesmo existisse para ele. E como nunca fora exatamente exemplar em Legilimência, não havia meios de saber o que se passava dentro dele. Anos haviam se escoado desde a última vez em que ele demonstrara fragilidade, contara-lhe seus temores, ou simplesmente a abraçara. E, cada vez mais, guardava seus segredos e a si mesmo apenas para si; como se ela, na ânsia de de o proteger, de o fazer enxergar as coisas tais como eram, o sufocasse. Pois bem. Talvez seu amor fosse mesmo sufocante. E doentio. Afinal, ela nunca fora uma garota ou uma mulher normal. Talvez seus sentimentos fossem mesmo distorcidos, talvez até, estivesse enganada quanto ao "amor". Talvez fosse apenas um desejo de vingar-se do destino. Mas não era, ela pensava logo em seguida. Porque pensar no pequeno Severus a enchia de algo tão grande que doía, e era uma dor boa e confortante e lancinante demais para se passar apenas por uma fria vontade de se provar. Mas de uma coisa Eileen Prince tinha certeza, ela pensou, jogando fora o resto do cigarro e limpando as mãos na saia desbotada e preparando o coração para a tensa e frustrante recepção a Severus, cujos passos já se faziam ouvir no cômodo ao lado. Tinha certeza, e lutaria com unhas e dentes se fosse preciso, para que seu único filho desperdiçasse seus talentos e seu potencial como ela própria fizera dezessete anos atrás.


*


"... ainda não há nenhum indício dos culpados. A princípio, trabalha-se com a hipótese da ação de Comensais da Morte, seguidores de Aquele-que-Não-Deve-Ser-Nomeado, cujos feitos vêm-se sucedendo numa escala crescente de ambição e ousadia. O Diretor Albus Dumbledore, porém, sustenta que sua escola encontra-se muitíssimo bem protegida contra qualquer tipo de ataque - embora nossas fontes confirmem um ataque aberto a outro aluno ainda na semana anterior.

Não se deve ignorar o fato de o segundo estudante atacado pertencer à casa da Sonserina, cuja fama não é a de produzir exatamente bruxos bondosos. Talvez Dumbledore devesse olhar para dentro do próprio estabelecimento para encontrar o autor do crime.

Por último, correm boatos de que os pais da vítima, membros de uma de nossas famílias mais antigas e tradicionais, entraram em confronto direto com o Professor Dumbledore. Os pais, no entanto, preferiram não dar nenhuma informação a nossos repórteres, limitando-se a anunciar que seus advogados cuidarão de tudo."


O Sr. Prince terminou de ler a matéria (em voz alta, para que todos à mesa pudessem apreciá-la), colocou o jornal de lado e esfregou as mãos, satisfeito. "Quero só ver como é que aquele Dumbledore vai fazer pra escapar dessa. Que lição, que lição!"

Gertrude Prince tomou um gole de seu chá, contraiu os lábios e então disse:

"Não devemos nos alegrar com a desgraça alheia, Horácio", tentando parecer reprovadora, mas havia um indisfarçável brilho de satisfação em seus olhos frios quando Snape passou por ela na Sala de Jantar naquela manhã.

Ele dirigiu-se até a cozinha para apanhar uma xícara. Não tinha lugar posto à mesa porque, oficialmente, ele não existia ali. Enquanto abria o armário e pegava uma xícara (de louça comum, ao contrário das louças finas que o restante da família utilizava), ouvia as vozes se altercando no cômodo ao lado, despejando suposições e mais suposições a respeito do misterioso caso do aluno que fora encontrado por Hagrid em vias de atirar-se no lago. E o que parecia ser um simples ato de rebeldia tornou-se muito mais preocupante quando, horror dos horrores, descobriu-se que o garoto estava sob o efeito da Maldição Imperius. Snape sentou-se à mesa e se serviu de chá sentindo um misto de excitação e medo. Claro que não havia motivo para este último; quem sequer desconfiaria dele? Certificara-se de não estar sendo observado, tinha certeza. E não houvera tempo suficiente para se fazer uma investigação a fundo entre os alunos; quando estes regressassem a Hogwarts, dentro de dois meses, todo o caso provavelmente já teria sido esquecido. Com sorte, os Black resolveriam tirar ambos os filhos da escola, e ele teria um idiota a menos com que se preocupar.

Severus se perguntou por um momento o que aconteceria se resolvesse abrir o jogo. Contar, ali mesmo, naquela hora, quem havia sido o autor daquele feitiço. O que fariam os avós? Continuariam fingindo que ele não existia ou passariam a... admirá-lo? Uma pequena corrente de excitação atravessou seu corpo.

"Sei quem foi", deixou escapar, ansioso, antes que pudesse se conter.

Sua mãe olhou surpresa para ele por cima da xícara de chá. Era um trato, mais que isso, uma condição que lhe fora imposta por Gertrude Prince para que ele pudesse permanecer ali: jamais se manifestar. Jamais forçar a avó a se lembrar que possuía um neto mestiço, fruto de uma burrice sem tamanho da filha. Que um Prince havia dado um passo em falso tão gigantesco. Assim, pela primeira vez em anos, a Sra. Prince demonstrou que sim, que tinha conhecimento de uma quarta pessoa à mesa, e lançou um olhar do mais frio desdém para Severus, então se ergueu, dando por encerrado o café da manhã, e deixou a sala. Notando que havia atraído a atenção dela, ele ainda insistiu, ergueu a voz para que ela ouvisse:

"Mas eu sei, por que..."

"Severus", a mãe cochichou, em tom de repreensão, sob o olhar curioso do avô. Mas logo até mesmo seu pequeno público se desfez, porque a avó já bradava de outro cômodo qualquer, chamando pelo avô e deixando-o a sós com a mãe, fitando-a supresa, e apática, e um pouco enfurecida. Ele supirou, deixando os ombros caírem.

Estava simplesmente tão cansado de não ser ninguém.


*

A primeira carta chegou exatamente uma semana depois do início das férias. Ele reconheceria aquela letra em qualquer lugar. Fez o envelope, ainda fechado, em pedaços; depois, atacou-o com a varinha, colocando fogo no pergaminho rasgado. Perigoso. Muitíssimo perigosa a forma como seu coração parara de bater ao ver seu nome escrito na letra dela naquele envelope; e muitíssimo perigosa a forma ansiosa, sedenta, com que se atirara à carta. Por sorte, lembrou-se a tempo da traição dela. Então, respirou fundo, e voltou a dedicar-se com mais vontade do que nunca aos seus estudos. Forçava-se a recordar com frequência da sensação de ser humilhado; e de "Evans" o ignorando a partir de então. Raiva e vingança eram seu combustível. Venceria.

Mas ele já deveria saber: ela não desistiria fácil. Dois dias depois veio a segunda carta. Que teve o mesmo destino da primeira e de forma ainda mais enfática. Então, cartas começaram a chegar diariamente. Todas eram devidamente estraçalhadas e queimadas, com fúria crescente. Por que não o deixava em paz? Por que insistircom aquelas malditas cartas que traziam seu nome na letra dela e seu perfume e... Malditas cartas que o tentavam. Que faziam, pouco a pouco, das lembranças dela mais fortes e persistentes ainda que a humilhação. Ele fechava os punhos com força, toda a força e ódio do mundo. Não se desviaria outra vez.


*

Em uma noite muito quente, em que dormir era impossível e só lhe restava revirar-se sob os lençóis, Severus lembrou-se subitamente do homem. Com um pequeno sobressalto, sentou-se sobre o colchão duro, abraçando os joelhos ossudos e fitando a noite estrelada lá fora. Tenso, preocupado, sem nem saber muito bem porquê.

Parecia fazer tanto tempo. Parecia ter sido uma outra pessoa que chegou a acreditar, por um instante, e mais, que realmente poderia escolher a segunda opção. Havia acreditado tanto que chegara mesmo a escolher, e agora, descobria quanto tempo havia perdido. Seu rosto se contraiu num esgar de raiva. De que lhe adiantara ter escolhido se ela tinha lhe virado as costas na primeira dificuldade? Que tipo de relacionamento duradouro era aquele? E pensando bem, as tais escolhas do homem eram muito óbvias, não eram? Severus se dava conta agora, analisando toda a situação. Se tivesse aberto os olhos antes, teria mesmo descoberto por si próprio. Não podia ter as duas ao mesmo tempo. Era óbvio demais. Não havia nada de sobrenatural naquilo. Então, não havia nem mesmo o que temer daquela aparição idiota e deformada.

Deitou-se outra vez, e sorriu, satisfeito. Seu futuro jamais parecera tão claro e definitivo.


*


Pouco a pouco, Snape foi voltando a se sentir em segurança. Voltando a se sentir ele mesmo outra vez, o que sempre fora: solitário, auto-suficiente, devendo sua lealdade apenas a si mesmo e às Artes das Trevas. Conhecia agora a sensação real de voltar para casa, sua casa, seus livros, sua vida. Se em algum momento tivera algum delírio sobre se desviar do caminho que lhe estava destinado, ver-se cercado pelos objetos e sensações familiares (o sobrado imponente - os Prince não eram assim tão ricos nem tão tradicionais, mas passavam longe da pobreza e eram sangue-puro, afinal -; a enorme biblioteca com uma seção inteira destinada às Artes das Trevas; um apoio velado a Você-Sabe-Quem; o desprezo dos avós e aquela sombra de ser humano que era sua mãe) serviu apenas para esmagar tais delírios. Fazê-lo ver o quanto eram frágeis, apoiados em bases tão sólidas quanto fumaça. Aquelas semanas com Lily, agora, pareciam ter sido algo que ocorrera há séculos, em outra vida, com outra pessoa. Raramente pensava nela (raramente se permitia). E quando o fazia, era sempre para encobrir rapidamente as doces lembranças com a sensação degradante daquela última humilhação.

Aquele último confronto com os quatro malditos havia matado, eliminado, exterminado o que quer de bom que pudesse ter havido dentro dele algum dia.

Definitivamente.

Inclusive seus sentimentos em relação a ela. Sentimentos de toda uma vida.

Mas fora bom para lhe abrir os olhos. Agora, ele não mais se permitiria distrair de seu objetivo maior. Agora, seria apenas Snape, o estranho, o que um dia se provaria melhor e mais forte do que todos. Até mesmo a ela. Que bela mentirosa era. Onde foram parar todas as belas promessas e sentimentos quando ele se tornara a grande piada de Hogwarts? Lily que se danasse. Às vezes se perguntava o que o tal encapuzado diria se soubesse que desistira dela. O que faria. Teria ele a cara de pau de entrar ali e usar uma Imperdoável outra vez? Ele que tentasse; Snape andava agora mais preparado do que nunca.

Apurou os ouvidos. A casa estava silenciosa havia pelo menos meia hora, mas cuidado nunca era demais. Principalmente com aquela... megera Getrude Prince. Talvez devesse esperar mais alguns minutos antes de sair. É, esperaria. Às vezes tinha vontade de mandar a avó para o inferno. Aí seriam apenas ele, a mãe e o avô, que não era assim tão ruim, apenas submisso demais à Megera Prince. Ele até deixava, muito ocasionalmente, quando a mulher não estava olhando, um galeão ou livro de Artes das Trevas para Snape, escondido debaixo de uma almofada do sofá, incentivando-o discretamente a seguir aquele caminho. Como ele poderia recusar? Estava impregnado em seu sangue. Fosse como fosse, o avô não devia se submeter à megera daquela forma. Snape pensava que, se algum dia se casasse (por poder ou algum outro interesse qualquer), jamais se deixaria dominar.

Apurou os ouvidos outra vez. Tudo definitivamente silencioso. Colocou os pés descalços no chão de madeira nua, tateando em busca dos chinelos.Calçou-os. Deu alguns passos, abriu a porta de seu quartinho no sótão e escutou com cuidado. Sentiu um prazer de antecipação percorrendo-lhe o corpo; estava só. Tinha a noite toda só para si. A cada porta de quarto pela qual passava, apontava a varinha e murmurava "Muffliato". No final do corredor do primeiro andar, encontrou as pesadas portas de madeira escura que encerravam as prateleiras repletas de tesouros. Mil promessas se insinuando, chamando-o de dentro das capas de couro.

Seus olhos brilharam maldosamente de antecipação.


*


Sua mãe lhe lançava olhares indagadores durante as refeições mas ele fingia não compreender. Havia muitos anos já desde que se abrira com a mãe pela última vez. Olhando para trás com mais atenção, era provável que jamais lhe houvesse feito confidências. Talvez agora fosse um bom momento: poderia dizer que a compreendia, mais do que nunca, e que fazia aquilo, ao menos em parte, por ela. Mas abrir-se, revelar intenções e sentimentos, equivalia a revelar os pontos fracos, a abrir brechas para os inimigos. Snape baixou os olhos para a sopa de cogumelos e forçou-se a comer. Continuaria se preocupando com Eileen em silêncio, e lhe dedicando uma estranha devoção distante, mas a mãe bem que poderia colaborar. Poderia não bater hesitantemente à porta de seu quarto durante as tardes quentes e abafadas e nem sentar-se à cama, tentando puxar conversa enquanto alisava a saia sem-graça de tecido cinzento. Ele respondia por monossílabos, ela por fim se calava e ele a obervava disfarçadamente quando ela não estava mais olhando para ele. Era bem magra como o filho, ou ainda mais. Trazia o rosto sempre limpo, sem maquiagem alguma, sempre fechado e carrancudo e sem-viço. Morto. Sua voz também era apática e ela o constrangia, envergonhava e confrangia. Fazia o peito doer por dentro e o deixava ao mesmo tempo deprimido e furioso, e ainda, impotente, por não saber lidar com aqueles sentimentos tão díspares. Mas ela ainda guardava no fundo dos olhos uma memória, um aviso, daquela antiga força que usara uma vez para salvar o filho e a si mesma, simplesmente abandonando o maldito Tobias no meio da noite quando Severus contava doze anos de idade. Talvez não estivesse tão morta assim, afinal. Mas o fato era que Eileen, agora, não se importava mais. Não se importava com as alfinetadas da megera. Não se importava com a aparência. Abandonara a luta. Não tinha ainda quarenta anos, mas passava por mais de cinqïuenta. Tudo por causa de um passo em falso. Ele jamais daria um passo em falso como aquele; quase dera, mas havia se recuperado a tempo. Aquilo era o que o amor fazia com as pessoas, pensou com selvageria; como pudera se esquecer?

Era uma promessa: jamais cairia naquela armadilha outra vez.

---

então. algumas de vocês devem se lembrar dessa cena com a eileen, da primeira versão da fic. não deu pra cortar, simplesmente adoro tanto essa parte - e a personagem em si <3

rapidão: to indo viajar amanhã, pra um lugar sem net, ou com net discada, o que dá na mesma =P também já tenho metade do capítulo 12 pronto, vou fazer o possível pra terminar e postar durante as férias. seee não rolar, começo de janeiro tô de volta, e a fic também ;D (também tenho que contar: me baixou o santo e to na metade do final alternativo da outra fic, pra quem acompanha =P)

reeeespostas:

thays: aah mas vc acha meeeesmo que a aparição (XD adorei isso) vai deixar barato? aguarde ;)

carla: tá pra nascer criatura mais complicada que o snape, diz aí ;D

morg: esse é pra vc, porque sei que vc gosta tanto da eileen quanto eu =P

xará: ain, o regulus virou o novo xuxuzinho, não foi? tanta dó dele depois do livro sete... ainda não sei se vou manter meus planos originais pra ele nessa fic =/ kisses =*

beca: as coisas vão melhorar daqui pra frente e olha, o maior castigo pro james seria ver os dois juntos. e vc duvida que isso vá acontecer? ;D

bizinha: seria, né, mas ela era monitora, blablabla, mas gostei da idéia e talvez a encaixe em algum lugar ;D

mary: e...eu acho que o próximo capítulo vai ser ainda MAIS triste. sorry. mas depois dele as coisas melhoram, definitivamente ;) e relaxa, comenta quaaando puder, sei exatamente qual é a sensação de mal ter tempo pra respirar (assim como compartilho da sua vontade de dar uns beliscões no sev, às vezes) =**

black fenix: erm, acho que vc não voltou =P

becca: 'brigada ;)

feliz natal, se cuidem e etc ;)

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.