Capítulo 4



Suspirou, sentindo-se doer por dentro outra vez.

Sabia que era mais atraente, mais popular e interessante do que o outro. Infinitamente mais.

Era um fato: qualquer pessoa em sã consciência, mesmo que desconhecesse a rixa entre eles e não se sentisse compelida a escolher um lado, afirmaria sem nem precisar pensar: James conquistaria facilmente o coração de qualquer garota, ao passo que o outro... Mas nada daquilo importava. Porque era com o maldito outro que Lily passava seus dias. Era a ele quem ela procurava em cada aula conjunta. Ele quem conhecia seus segredos, quem possuía a dádiva de ouvir sua risada tão próxima, de poder apenas estar ao lado dela.

James abriu a janela, sentindo a brisa fresca da primavera agitar seus cabelos e praguejou baixinho, sentia-se cada vez mais frustrado. E... jamais admitiria para ninguém, mas muitas vezes temia, lá no fundo, naquelas noites escuras onde todos os pesadelos pareciam criar vida, temia que, por mais bem-apessoado e rico e popular e tudo que fosse... temia se ela não preferiria o outro. E tremia. O ódio que sentia por Snape transformava-se cada vez mais em algo irracional. Não costumava pensar muito na hora, mas, Aluado, certa vez, disse-lhe temer aonde o amigo poderia chegar. Aluado era tão sensato. Mas não conseguia deixar de sentir ciúmes. E inveja. E odiar Ranhoso. Com todas as suas forças. Era como se o outro estivesse tomando posse de algo que era dele, James, por direito. Maldito fosse.

"Então", James sobressaltou-se com a porta que se abriu de súbito, e a voz alta de Sirius despertou-o quase que completamente de seus devaneios. "Em qual ruiva de olhos verdes e gênio ruim estamos pensando essa noite?"

"É assim tão óbvio?", James perguntou, com voz de sofredor, embora já soubesse a resposta; porque à medida em que odiava Ranhoso não podia deixar de, igualmente, amar Lily. O que sentia era tão grande que, aliado à indiferença que ela dedicava a ele, acabava por deixá-lo sem saber como reagir. Sabia apenas que, todas as vezes em que a via, sentia-se tomado por algo tão intenso que só conseguia pensar em colocar pra fora, ou explodiria.

"Pega aí, relaxa um pouco", James apanhou no ar a garrafa de cerveja amanteigada que Sirius lhe atirou, e deixou-se cair sobre a cama.

"Não sei mais o que fazer, cara", James desabafou, depois de beber metade de sua cerveja em um gole só.

Fazia no mínimo uns dois anos que a conversa sobre garotas não versava sobre outra que não fosse Lily Evans, no que dependesse de Pontas. Tudo começou com o que parecia ser só mais uma garota na vida dele, apenas mais uma simples atração que, como logo se descobriu, não era correspondida. James, logicamente, não fazia o tipo de se abalar com um não, e insistiu. E à medida em que insistia, apaixonava-se cada vez mais, a ponto dela se tornar quase tão importante na vida dele quanto os outros três amigos. Quase tão presente na vida deles, ainda que por meio apenas dos planos e elogios e declarações que ouviam por ela. Não se passava um único dia sem que James tocasse em seu nome. Enfim, Sirius, assim como Remus e Peter, já deveriam estar de saco cheio com aquela insistência, e, o que era pior, uma insistência que não dava resultado algum.

E estariam. Se não fossem Marotos. Amigos até o fim, sempre lá para o que qualquer um deles precisasse. Era o que os unia, afinal, não era? O que os aproximara no início. Sirius sentou-se na cama, deixou a garrafa de lado e, muito sério, começou:

"Acho que não tentamos o suficiente."



*


Aquele encontro jamais deveria acontecer.

Cada mínima etapa de seu plano, tão longa e cuidadosamente elaborado, devia ser seguida à risca; e não poderia haver espaço para o improviso. O plano já era arriscado por si só.

Todavia... estava abrindo uma exceção. Suspirou, contrariado. Estava abrindo uma exceção, e não faria nada para voltar atrás. Se pensasse bem, aquela falha tivera início há muitos anos, quando fora incapaz de prever que a presença de Lily o afetaria tanto. Não havia nada o que pudesse fazer agora. Mas... ponderou, não havia motivo algum para tanta preocupação. Seria apenas um breve encontro inofensivo, onde poderia aproveitar alguns míseros instantes da presença daquela garota fascinante antes de retornar para sua vida de trevas e fantasmas. Porque ele merecia. Seria sua recompensa por um tempo extremamente longo de desgraça. Sua recompensa, e não a de seu equivalente em outras épocas ou realidades. Simplesmente precisava vê-la. Viva, ali, em sua frente, ouvir sua voz, sentir a presença dela, seu carisma, sua vida. Era mais forte que ele, mais forte que seus objetivos, qualquer lógica.

Ansioso, sentia a boca ainda mais seca do que normalmente, por causa das tantas poções que era obrigado a tomar, agora. Abria e fechava as mãos sem se dar conta. Em tudo o mais, porém, permanecia imóvel como uma estátua. Estava chegando ao fim, podia sentir. Suas energias estavam cada vez mais baixas, as seqüelas de batalhas, cada vez piores. Justamente por aquele motivo era que precisava fazer as coisas acontecerem entre os dois. Mas precisava, antes de qualquer coisa, controlar a ansiedade. Havia, por exemplo, se descontrolado ao atacar Snape há alguns dias. Porque estava começando a ficar um pouco desesperado. Era mais do que necessário fazer, finalmente, com que ficassem juntos; ou então, até poderia morrer, mas não descansaria em paz. Respirou fundo, colocando em ordem os pensamentos inquietos. Precisava se controlar, usar a razão, em vez da emoção. Desviou a atenção para o mundo à sua volta: um espetacular fim de tarde de primavera. Um perfume suave de flores e grama era trazido pelo vento, que balançava suavemente os galhos da árvore sob a qual se encontrava, de quando em quando derrubando a seus pés uma minúscula flor azulada. O céu tingia-se de laranja e rosa-choque, e até ele, por breves segundos, conseguiu sentir-se tocado por tamanha beleza. Fechou os olhos, aspirando o ar fresco e perfumado. Como sentia inveja daqueles seres despreocupados e ignorantes do que estava por vir... ah, se pudesse ter uma segunda chance... mas era por isso que estava ali, de certa forma, não era? Suspirou outra vez. Então, seu coração começou a bater mais rápido: era ela. Ainda a dezenas de metros de distância, mas perfeitamente reconhecível para ele. A visão dela varreu de sua mente todos os problemas e preocupações; subitamente, era como se existisse apenas para contemplá-la, adorá-la.

Era tão inacreditável vê-la viva, executando cada pequeno ato banal, em vez das imutáveis lembranças ou fotografias: aproximando-se cautelosa, olhando para todos os lados, o semblante sério e preocupado, mas, ainda assim... carregando algo de fresco e de chama que jamais se apagava.

Deu um passo à frente, saindo da sombra densa da árvore, à qual parecia se mesclar, e se revelou quando ela estava próxima o suficiente. Quando o viu, ela fez a última coisa que ele esperava que fizesse: sorriu. Como se saudasse um velho amigo, como se estivesse muito satisfeita em encontrá-lo ali, alguém que ela mal conhecia, alguém que se recusava mesmo a dizer seu nome ou quem era. Como se fosse algo a que estivesse habituado a fazer, ele simplesmente lhe sorriu de volta. Mas os músculos da face se distendendo rigidamente lembraram-no de que aquele era o primeiro sorriso verdadeiro que dava em anos.

"Você veio...", foi tudo o que ele conseguiu dizer, em voz emocionada.

"Estava mesmo me perguntando por onde é que o senhor andava!", ela comentou, animada. "Como tem passado, senhor...?"

Ele murmurou qualquer coisa em resposta. Palavras não eram importantes quando ele ficava sabendo que ela... pensava nele. Mas a sensação de contentamento logo foi substituída por uma outra, de sombria amargura: ela não devia pensar nele. Não devia nem cogitar a hipótese de que existisse. Era simplesmente errado; ela deveria se concentrar apenas em sua relação com Severus Snape, naquela realidade, e sequer imaginar qualquer outro futuro.

"Está... tudo bem?", Lily perguntou, fazendo-o cair em si e notar que ela havia se aproximado alguns passos. Ela franzia a testa, preocupada, observando-o atentamente com a cabeça levemente inclinada.

Durante as poucas semanas desde que o vira pela primeira vez, sua aparência se tornara ainda pior; parecia ainda mais frágil e alquebrado. Ele havia emagrecido de forma alarmante; e sua pele tornara-se mais seca e envelhecida, aproximando-se da aparência do pergaminho. Ele parecia, mais do que nunca, estar seriamente doente... e a doença avançava cada vez mais, consumindo-o, e parecia não haver nada que pudesse impedir.

"Sim, está", ele murmurou meio seco, virando-lhe as costas e afastando-se dela, para que não se aproximasse mais, evitando assim tanto que sua identidade pudesse ser descoberta - ela era muito viva - como, ainda mais importante, não conseguisse mais resistir a ela.

Seus passos o levaram para perigosamente perto da Floresta Proibida, mas aquilo não pareceu incomodar Lily. Seguiu-o, ainda preocupada.

"Tem certeza? Tem certeza de que não precisa de uma Poção Revigorante? Ou outra coisa mais forte?"

Ele suspirou e estacou, de repente, não querendo mais evitá-la, se entregando, deixando-a se aproximar.

"Tenho, Lily. Possuo todas as poções de que necessito, muito obrigado."

Ela nada respondeu, continuou apenas fitando pensativa as costas magras cobertas por uma longa capa negra, feita de um tecido caro. Não conseguia compreender de onde é que vinha o misto de emoções que a assaltava em relação àquele homem: ternura, piedade, compaixão. Mesmo que ele tivesse escolhido não se revelar, algo nela dizia que não era por maldade; vindo dele, sentia apenas uma bondade meio distorcida, e desespero, e angústia.

"Me deixa te ajudar", ela sussurrou.

O som da voz dela fez as determinações dele se partirem, tão facilmente quanto uma frágil bolha de sabão estourando. Inspirando profundamente, ele girou nos calcanhares, ousando olhar naqueles olhos perigosos.

"Apenas continue do lado dele, Lily, e estará ajudando. Muito mais do que imagina."

Ela sacudiu a cabeça, confusa.

"Não entendo. Por quê? Por que ajudar Severus é tão importante...?"

"Saber que, deixando-o, ele se perderá nas Artes das Trevas, arrependendo-se somente quando for tarde demais, não é motivo forte o suficiente?", o homem perguntou de forma muito suave.

"Claro que é. O que não entendo é... porque é tão importante... para o senhor?"

"Apenas é", o homem suspirou.

"Não pode me dizer o por quê?"

Ele sacudiu a cabeça, frustrado.

"Não. Ainda não."

Ela revirou os olhos.

"Não sei pra que tanto mistério", ela disse, e sorriu.

Ele não pôde fazer nada exceto sorrir outra vez. Ela era... carismática. Não existia palavra que a descrevesse melhor. Era impossível conhecê-la e não se deixar envolver. O silêncio caiu; não um silêncio constrangido, mas aquele silêncio confortável que surge, às vezes, entre duas pessoas que se conhecem muito bem. Lily era tão fantasticamente diferente de qualquer outra pessoa que ele havia conhecido em toda sua existência... era uma injustiça enorme que não pudesse festar com ela, no final, era doloroso não poder ter aquela presença em sua vida. O suspiro lastimoso que escapou dos lábios dele pareceu dar vida às estátuas em que ambos haviam se transformado.

"Quem é você?", ela sussurrou, como se tivesse medo de quebrar o encanto que se formara entre eles.

Ele hesitou um instante antes de responder e então, as palavras cascatearam por seus lábios:

"Uma sombra. Uma lembrança. Uma promessa. Alguém que foi ao inferno e voltou."

Algo na voz e nas palavras dele fizeram surgir nela os sentimentos mais conflitantes. Lily queria abraçá-lo, obrigá-lo a tomar um banho longo, quente e reconfortante, mandá-lo à Madame Pomfrey e debulhar-se em lágrimas. Aquela estranha afeição que brotara, do nada, dentro dela, de repente explodia com intensidade assustadora, e não lhe parecia absolutamente certo que aquele homem, fosse quem fosse, se encontrasse ali, naquele estado. Como se notasse a disposição de espírito instável na qual ela se encontrava, e porque estavam avançando por um terreno perigoso, ele tomou as rédeas da situação:

"Fale, Lily."

"Falar o quê?"

Ele sacudiu a cabeça.

"Apenas fale comigo. Conte-me sobre você, sua vida... Qual sua cor preferida?"

Ela riu, franziu a testa, surpresa com a pergunta inusitada.

"Verde. Mas por que...?"

"Apenas quero saber. Mas fale, Lily. Fale mais. Conte-me sobre sua vida", ele pediu novamente.

"Minha vida não é tão interessante assim", ela disse, com um muxoxo. "Quer dizer, fazer mágica... é fantástico! Mas não deve ser novidade alguma para o senhor."

Ele negou com a cabeça. Olhou na direção dela, sem nada dizer, e ela falou. Falou sobre sua rotina no castelo, sobre suas matérias preferidas, Feitiços e Poções, sobre as amigas, sobre o que pretendia fazer quando terminasse Hogwarts (idéias que mudavam a toda semana), sobre o quando, lá no fundo, ainda se maravilhava com Mundo Mágico exatamente da mesma forma como havia sido no primeiro dia.

Ele sorriu. Então, pediu:

"Me conta mais sobre você e ele."

"Severus?"

Ele assentiu com a cabeça, dando mais alguns passos em direção à Floresta. Ela, mais uma vez, o seguiu, pensativa. Uma ruga entre as sobrancelhas. Suspirou.

"Ele foi o primeiro. Bruxo. Foi tão especial no começo. Como um irmão. Mas aí... as coisas começaram simplesmente a se desintegrar."

Com as costas apoiadas no tronco da árvore, como se lhe faltassem forças para continuar de pé, o homem deixou-se escorregar lentamente até cair sentado entre as enormes raízes que se enterravam no solo. Ela o imitou, com infinitamente mais delicadeza, sentando-se de forma graciosa sobre a grama muito verde.

"Acho que a maior decepção da minha vida... foi quando descobri o quanto a gente é diferente. Foi... o começo do fim da minha inocência. Ainda lembro como se fosse ontem, do mundo perfeito e ingênuo se desmoronando. Até então, Sonserina e Grifinória não eram mais do que casas diferentes, faces diferentes, apenas, da mesma escola. Mas não demorou muito pra eu descobrir a verdade... porque agora, tinha outros pontos de vista sobre esse mundo. Depois de um tempo, ele parou de negar e, com isso, admitiu, mesmo sem nunca me dizer, esse... amor doentio por essas malditas Artes das Trevas, essa história idiota de sangue-puro... nem ele mesmo é um! Eu não entendo. Não que faça diferença pra mim... Mas pra ele, faz, e muita. Ele... se importa com o que os amigos dele pensam sobre a gente, eu sei. Amigos", ela repetiu, com desdém. "Não se pode chamar aquilo de amigos."

"Lily", ele gemeu, "o que eu vou lhe dizer agora é... muito sério. Mas preciso ser sincero com você." Ela assentiu. Ele seguiu em frente: "Pode ser que ele... jamais abandone as Artes das Trevas por completo. Consegue entender isso? Como você disse, é como um vício. Um amor que está enraizado nele. Algo que não cabe a ele desprezar, que vem da criação que ele teve, da personalidade dele... de tantos lugares. E de lugar nenhum. Algo que puramente existe."

Pela expressão de uma supresa não tão bem-vinda no rosto dela, Lily jamais havia pensado naquilo antes.

"Imagino que não será fácil permanecer ao lado dele, nesse caso."

Ela enterrou o rosto nas mãos por um breve instante. Então, sacudiu negativamente a cabeça.

"Simplesmente terá que conviver com isso", ele replicou suavemente, em tom conclusivo. "Acha que dá conta?"

"Eu... eu não sei."

"Ele vale a pena?"

"Eu só queria que... a gente voltasse a ser como antes", ela suplicou, como se coubesse apenas a ele a chave para uma mudança definitiva em Severus. "Sem nada que lembra essas malditas Artes!"

"A vida dele será eternamente um conflito entre luz e trevas. De um lado, esse vício. De outro... você. As Artes das Trevas jamais irão deixá-lo. Detesto colocar tanto sobre seus ombros, minha querida Lily... detesto a impressão de que a estou forçando a fazer algo, mas... existem coisas que não posso esconder de você."

Ela pensou por um instante.

"Tudo bem. Prefiro mesmo saber de tudo", ela disse, por fim, em tom decidido.

O homem sorriu brevemente, parecendo orgulhoso dela. Lily não o decepcionaria. Espiou-a, absorta em pensamentos, enquanto as mãos brincavam distraidamente com uma flor. Como ele gostaria que aquele momento jamais se acabasse.

"Sabe, Lily, tem algo que Dumbledore costuma dizer... não sei se já teve oportunidade de ouvir. É uma frase que se encaixa muito bem nesse caso...", então, o homem recitou, como se já houvesse repetido aquela frase à exaustão para si mesmo:"São as nossas escolhas que mostram quem somos. Não nossas capacidades, ou o que quer que seja. Mas escolhas."

"Não tinha ouvido isso antes. Mas me parece mesmo o tipo de coisa que ele diria", ela disse, ainda pensativa, fitando a flor azul.

Ainda séria, e nem um pouco alegre ou otimista, ele notou. Parecia haver algo pesando sobre ela, e ele sabia muito bem o que era. Soltou todo o peso do corpo sobre o tronco. Estava tão cansado... tudo o que queria era livrar-se daquele enorme fardo que carregava sobre os ombros e dormir. Então, ela se aproximou ainda mais, e tomou as mãos dele nas suas. E embora o choque carregado de eletricidade que se espalhou por seu corpo fosse forte o bastante para que não pudesse pretender que não existira, ele não recuou. Estava exausto. Estava morrendo. E tudo o que pedia era por alguns últimos momentos de paz, antes de ter que retornar a seu inferno particular. Queria apenas poder poder se deleitar com a tarde preguiçosa, o som da voz dela, o toque de suas mãos como seria permitido a qualquer outro ser humano. Queria saber, ao menos uma vez, como eram tais sensações. Sentiu a mão dela se acomodando sobre o lugar onde ele costumava possuir dedos. Era repugnante de se ver, até mesmo imaginar, mas ela pareceu não se incomodar nem um pouco. Ainda os olhos o fitando, como se fossem capazes de enxergar através de seu disfarce. Ainda a voz dela acariciando-o, como se fosse capaz de penetrar através de toda a dor. A risada cristalina dela ecoou pelo sonho:

"Não sei explicar. Mas me preocupo tanto com o senhor."

Era tão mais do que podia desejar. Mesmo que a amasse. Não pedia por amor, em troca. Não podia.

"Me importo."

Ele sentiu uma onde sufocante de sentimentos o invadindo. Despertando-o. Estava dando tudo errado. Ela não deveria pensar nele, não deveria sequer sonhar em amá-lo, ela deveria salvar aquele Snape, o que não acontecera de onde ele viera. E veja, ela aparentemente até já havia se esquecido de Severus. Mas agora, suas barreiras já haviam se desmoronado e ele não se recordava mais do que deveria e do que não deveria dizer; e queria que ela o esquecesse logo, e queria fazê-la pensar outra vez no seu Severus. Queria fazê-la entender toda a urgência da situação.

"Lily... se ainda precisa de incentivo... não vou negar que ele se incomoda com o que os... amigos pensam. Mas ainda há algo em Snape que pode salvá-lo: ele a defende, abrindo mão de sua honra, do quanto poderia crescer entre eles. Ele ainda se recusa a se entregar totalmente a esse lado sombrio, ele ainda resiste.... por você", o homem se interrompeu, erguendo a cabeça e parecendo fitar o céu através do grosso capuz. "Pelo amor que sente, ainda que distorcido, ainda que cheio de medo...", murmurou, como se conversasse consigo mesmo.

"Amor?"

"Ele a ama, Lily."

Em outra realidade, a frase a ser dita seria 'eu te amo', mas, no final, aquelas duas sentenças oblíquas se equivaliam.

"Quê?"

"Severus ama você. Não como uma amiga. Mas como um homem ama uma mulher. Este é o sentimento que o guia e guiará durante toda sua vida."

Ele então sacudiu a cabeça, parecendo cair em si. Olhou na direção dela: Lily tapava a boca com as mãos. Por cima delas, os olhos verdes apareciam, arregalados de susto. Então, o homem caiu em si e percebeu que havia, finalmente, dado o passo em falso que tanto temera. Por um momento, achou que ela fosse gritar, recusar, dizer que era loucura, que era impossível, e desprezar Severus Snape para sempre. O homem sentiu suas esperanças, seu futuro, sua paz, escorregando fatalmente por entre os dedos. Despertou instantaneamente do estado de sonho para onde ela o levara.
"Ah, droga!", ele começou a praguejar, socando o tronco da árvore com as duas mãos. Ofegou.

Ela se recompôs rapidamente e avançou para ele outra vez, preocupada. Agora, porém, ele se esquivou, colocando-se de pé, com a agilidade de um gato.

"Esqueça o que falei, Lily. Apague de sua mente."

"Eu...

Agitado, ele a fez prometer que esqueceria aquelas últimas palavras, e não as deixariam influenciar de forma alguma amizade e o julgamento que fazia de Snape. Ela prometeu, mesmo sabendo que mentia, mesmo sabendo que ele o percebia, também. Mas nem mesmo aquilo apaziguou o estado de espírito do outro. O homem levou a mão à parte de dentro do casaco, buscando a varinha. Lily pareceu perceber a intenção dele, e arregalou ainda mais os olhos. Chegou a abrir a boca para dizer alguma coisa, então, ele interrompeu aquele gesto absurdo. Caiu em si novamente. Estava realmente enlouquecendo. Apontar a varinha para ela? Como ousava? Nem que fosse para se salvar... em hipótese alguma... deixou-a cair dentro do bolso interno. Aproximou-se, segurou as mãos dela, implorou:

"Esqueça, Lily. Esqueça tudo o que ouviu nesta tarde."

Ela sacudiu a cabeça.

"Vou tentar. Mas, por favor, se acalme!"

Então, foi a vez dela fazê-lo prometer que daria um jeito de se cuidar melhor, se curar da doença que o consumia, fosse qual fosse. Ela não entendeu o sorriso torto que ele deu nem acreditou nas palavras dele; que apenas repetia que esquecesse, até mesmo que ele existia. A despedida apressada e outra vez aquele estranho desaparecimento no ar só a deixaram mais apreensiva.

Em completo estado de choque.

Lily não retornou para o castelo de imediato. Havia tanta coisa a absorver que preferiu ficar só por algum tempo. A idéia de Severus constantemente ligado às Artes das Trevas. Não era só um interesse adolescente idiota como sempre pensara - mas também, ele se abria tão pouco em relação àquele assunto, jamais poderia adivinhar que as coisas eram bem mais sérias. Era como uma doença, ela pensou, arrepiando-se.

Mas o que mais a deixa atordoada, porém, havia sido, sem dúvida alguma, a revelação final.

Não dava mais para esconder de si mesma, agora que o que ele sentia havia sido escancarado à luz do dia, por meio da boca de um estranho. Ah sim, porque ela escondera de si mesma por meses, talvez anos. No fundo, sempre soubera que aquele interesse exagerado, aquele grude, e os olhares, e a obsessão, não eram outra coisa se não amor. Preferira não ver. Fazer de conta que não sabia. E, quem sabe, esperar que passasse algum dia.

Porque havia um grande problema, pensou, mordendo o lábio e sentindo uma lágrima quente escorrer por seu rosto. Um problema enorme. Ela absolutamente... não amava Severus Snape.


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e blah. mais algumas pequenas infos sobre "o homem" (pequenas mesmo, acreditem ;D). gostei bastante desse cap, mas acho que muita gente pode considerá-lo chato, sei lá, o que eu posso fazer, ninguém é perfeito ;D sabe, eu fico pensando se esse snape-eternamente-amando-as-artes-das-trevas não é um pouco irreal, OOC, demais. mas aí me lembro do discursinho dele no primeiro dia como professor de DCAT, no livro seis. é, acho que ele gosta MESMO da coisa, hein.

como deve ter dado pra notar, temos (mais) um nome novo pra fic: Love Will Tar Us Apart. é meio óbvio, sei lá, e nem sou grandes fãs de batizar fic com nome de música, acho meio apelativo - mas esse tem TANTO a ver e faz um sentido absurdo com o final. além disso, pra mim, joy division é o auge da deprê, o que tem muito a ver com snape e a fic (ainda é um drama, apesar dos momentos mega-fofos). então eu fiquei mais ou menos satisfeita com esse nome novo e, a não ser que eu tenha uma idéia SUPER!genial, esse será o título definitivo. até porque tinham nomes parecidos demais na praça, o que estava me incomodando.

e porque eu tenho fogo no rabo (hahah) voltei a estudar pra uma coisa aí, o que significa que, até a primeira metade de novembro, mais ou menos, vou estar meio off do mundo das fics. vou continuar atualizando essa aqui, porém, da forma mais rápida que eu puder.

reeeeeespostas!

samoa: oun, thanks! que bom que estão ficando fiéis, sou tão insegura quanto á isso, às vezes.

cedryan: aah, poxa, eu também adoro essa parte e tinham comentado sobre ela no capítulo anterior ao seu comentário, também! como eu disse, pretendo deixar, sim. acho bem reveladora, climática, blablabla.

carla: *boquiaberta* jura que você nunca se arrumou melhor quando sabia que ia encontrar alguém que tava a fim?

diana: ai, foi mal, eu queria fazer um suspensezinho e não entregar de bandeja o que era... será que ficou demais? bom, mas vc acabou pegando. e muuuito obrigada pelo review <3

ana hel: ahn, que bom que vc tá gostando E achando mais fluida, as vezes, fico com medo de só eu estar enxergando certas coisas e todo mundo me achando A loca. e não se preocupa com o que fizeram com a sua redação, no último capiútlo, os incompreendidos sempre saem vitoriosos (ahn? O.o mas é por aí, hehe). te mandei mensagenzinha, não sei se vc recebeu: LÓGICO que eu topo "betar" sua história, pode mandar =*

beca: aah que fofa, hehe <3 cara, eu TAMBÉM quero muito esse snapezinho pra mim, vamos abrir uma linha de clonagem do sev?

morgana: né, o que eu tenho pra dizer pra você depois de tanto grude via email/MSN/LJ? =P

é aquilo: fosse o snape roubando xampu por qualquer outra garota, ficaria OOC. mas aí a gente lembra que o cara passou sei lá, dezoito anos não-vivendo, tentado só reparar o mal que tinha feito a ela... aí xampu vira praticamente nada =P

lana: XD *morrendo de rir* bão, essa história eu to escrevendo pra compensar a vidinha miseráver do mestre de poções. erm, mais ou menos, porque eu sou meio má então... já vai esperando o pior *risada maligna* mas teremos muitos momentos fofos entre ele e a lily. e, talvez, uma continuação ;D

assim que tiver um tempinho pode deixar que passo lá na sua fic. beijo!

e meus sinceros agradecimentos a quem leu, mas não comentou.

se eu demorar demais pra atualizar (ou mesmo se não demorar, mas se vocês quiserem ler mais sev/lily assim mesmo), andei postando mais duas nos últimos dias, não sei se todo mundo ficou sabendo... divirtam-se:

http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=21926 (drama, curtinha)

http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=22483 (NC, enorme)

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