Cinderella Errada
"Cinderella Errada"
Fracos, mas resplandecentes, raios de sol, entravam por todas as janelas e entradas do castelo de Hogwarts, eliminando qualquer indício de escuridão, que pudesse esconder-se nos mais recônditos cantos ou lugares, nos inúmeros compartimentos, espalhados pelos sete andares, que a escola suportava, e pelas infinitas torres que eram capazes de tocar no céu limpo e azul, como desse dia.
Estava uma manhã bela e sonolenta.
No dormitório feminino do quinto ano, as raparigas viravam-se de costas para a janela, que se encontrava com a cortina mal fechada, ou, então, colocavam as fofas almofadas de penas, em cima da cabeça, para impedir qualquer contacto com a luz do sol, que tornava-se, a cada minuto, mais forte.
Os muitos que tinham ido ao baile, da noite anterior, estavam ainda demasiado cansados, para tentarem, ao menos, abrir os olhos, para ver, através da janela, a relva fresca e verde, regada pelas pequenas e finas gotas de orvalho, que brilhavam à luz do sol, e as águas do lago, onde se via uma silhueta imensa, pertencente à lula gigante.
Mas não para Lily.
Como houvera prometido a si mesma que iria a Hogsmeade, nessa manhã, com o propósito de agradecer à idosa, da loja sem nome, por lhe ter enviado o vestido e todos os outros acessórios e poções, Lily não esperou que os ponteiros do grande relógio, pendurado na parede oposta à sua cama, indicassem as nove horas da manhã.
Vestindo-se o mais depressa que podia, e o mais silenciosamente, para evitar perguntas maldosas da parte de Shondra e Gina, e, pondo uma mala verde escura, pequena e ligeira, cujo conteúdo eram alguns livros e poções, ao ombro, Lily saiu, rapidamente, do dormitório, em bicos de pés. Com um último sorriso e olhar, dirigido às camas das duas gémeas, Lily fechou a porta do dormitório.
O Salão Comum estava quase vazio, à excepção de James Potter e Sirius Black e um grupo de primeiranistas, que olhavam atentamente para um jogo de xadrez mágico, em que participavam dois colegas do mesmo ano.
James e Sirius, ao ouvirem os passos leves dela, nas escadas em caracol, que davam aos dormitórios femininos, olharam, instantaneamente, para ela.
Um pouco corada, com as recordações da noite anterior, Lily evitou, ao máximo, o contacto de olhares com James, e saiu do Salão, esperando que este não tivesse reparado a súbita mudança de cor na sua face.
- Quem era aquela?- perguntou Sirius, olhando para o lugar onde estivera Lily, poucos segundos antes.
- Não sei... Acho que é uma amiga de Remus... Porquê?- perguntou James, voltando a atenção para Sirius.
- Bem... Ela é ruiva e tem olhos verdes! Pode ser uma das nossas candidatas a Cinder-Qualquer coisa!- disse Sirius, olhando para o amigo.
- Sirius! Nós já falamos sobre isso!- disse James, retomando à leitura do seu livro, esperando que Sirius não tocasse mais no assunto.
- Desculpa lá! Não eras tu que, hoje de manhã, não parava de falar nessa tal... Cinderilie!
- É Cinderella, Sirius! C-I-N-D-E-R-E-L-L-A!- soletrou James, um pouco cansado da incapacidade do seu melhor amigo, em decorar um nome.
- Sim... Essa! Mas não é verdade?- perguntou Sirius, cansado.
- Sim, é verdade... Também era impossível não falar nela, depois de tudo o que aconteceu...- disse James, fechando o livro e olhando para as labaredas de fogo, na lareira.- Ela era... especial! Era fantástica e misteriosa... Foi como se tivesse aparecido do nada! Ela diz que eu já a tinha visto... Mas é impossível eu tê-la visto. Como é possível ela ter-me passado despercebida?!
- O retorno do Shakespeare apaixonado!- disse Sirius, apoiando a cabeça numa mão.- O que ela te fez?! Uma lavagem ao cérebro?!
- Eu não sei o que se passou... Mas ela era tão diferente de todas as outras raparigas! Ela não me obrigou a dançar, ou algo parecido! E a nossa conversa não era sobre como eu era popular e engraçado e como ela estava apaixonada por mim desde sempre, ou, que maquilhagem é que colocou, para ir ao baile! Foi uma conversa completamente normal! Entre dois seres humanos! Normal!- disse James, olhando para o amigo.
- Por favor, James! Não paras de falar nessa rapariga! Já é uma tortura ter que te estar a ouvir! E olha que eu sou teu amigo! Ah! E já para não falar que até sonhas com ela acordado! E tu não me deixaste dormir, durante toda esta noite. Passaste, mais que metade da noite, em suspiros! E as poucas horas em que tiveste a dormir, foi só a murmurares coisas como: “Quem és?!” ou “Diz-me o teu nome?!”. O que ela te fez, afinal?!
- Desculpa, Sirius... Mas é inevitável, para mim, não falar na rapariga por quem me apaixonei... E nem sei o nome dela!!!
- Sim... Mas tens o sapato, não é?- perguntou Sirius, com o objectivo de dar alguma esperança ao amigo.
- Tenho... Mas agora só tenho o sapato de cristal, como recordação! Porque é que tudo o que ela faz assemelha-se a um conto de fadas?- perguntou-se James, olhando, novamente, para a lareira, como se esta pudesse-lhe responder a algo.- Quem me dera ter alguma pista sobre quem ela é!
- Outra vez?- perguntou Remus, que aparecera atrás da poltrona, onde estava sentado James.
- Outra vez...- disse Sirius, mas depois olhando para James, disse de uma forma simpática:- Quem pensas que terá sido?
- Esse é o problema! Eu não sei!- disse James, revoltado, e levantando-se da poltrona, começou a andar às voltas.- Não tenho mais nenhuma pista! Ruiva, olhos verdes, Gryffindor... E o sapato, que pôde servir a quase metade das raparigas de Hogwarts!
- James... Não existem assim tantas raparigas de cabelo ruivo e olhos verdes, em Gryffindor! Experimentas o sapato que ela deixou cair, em todas as candidatas possíveis a Cinderella, até servir em uma delas. Depois, pronto, tens a tua Cinderella e, possivelmente, o final feliz, que vês na maioria dos contos de fadas que lês, com um amor para o resto da vida! O quanto difícil é que isso pode ser?
- Pensas que já não pensei nisso...?- perguntou James, zangado, não pelo amigo, mas consigo próprio, voltando a sentar-se na poltrona.
- E, então? Qual é o problema?
- O problema, Sirius, é se o sapato servir a mais que uma rapariga... Ou pior! Se ponho o sapato na Cinderella errada...
- Mas eu tinha a certeza que era aqui!- disse Lily, espreitando pelo vidro da loja sem nome, sentindo um leve arrepio.
A montra encontrava-se vazia, tal como tudo o que se encontrava lá dentro.
- Mas para onde ela foi?- perguntou-se Lily.
A rua estava vazia. De repente, sai um homem um pouco magro e com um aspecto deplorável, de um dos becos. Vestia roupas muito sujas e esfarrapadas.
- Desculpe! Sabe para onde foi a dona desta loja?- perguntou Lily ao mendigo, esperando que ele lhe pudesse ajudar.
O homem olhou de uma forma lunática para a loja, e quando olhou para Lily, com os seus olhos grandes e cinzentos, começou-se a rir. Aquilo só fez Lily sentir-se um pouco enjoada, pois os dentes do homem estavam muito amarelados e alguns lascados.
- Qual é a piada?- perguntou Lily, olhando para a loja, para ver se tinha-lhe escapado algo.
- A piada é que a senhorita deve estar maluca!- riu-se o homem.
“Olha quem fala...” pensou Lily, sem evitar.
- Mas porquê?- perguntou Lily, começando a ficar aborrecida com a situação.
- Porque essa loja está desabitada já à mais de vinte anos! Ninguém a aluga ou a compra! Pensam que está amaldiçoada por um espírito malévolo!- disse o senhor, olhando ameaçadoramente para Lily, e, ainda a rir-se, desceu a rua até ao Três Vassouras, onde tentou entrar, mas sendo impedido pela dona do confortável bar, a Madame Rosmerta, que o afugentou com um espanador.
- Vinte anos?! Mas não é possível!
Lily espreitou, mais uma vez, para a loja. Olhando à volta, para se certificar que ninguém estava a observar, Lily tentou abrir a porta, não com muita esperança, pois, obviamente, estava fechada à chave.
Porém, para sua surpresa, a porta abriu com um suave clic.
A loja continuava tão poeirenta como da última vez em que tinha entrado nela. Todas as prateleiras estavam vazias. Nem havia rasto das poções ou livros de contos de fadas, expostos no dia anterior.
Lily caminhou, com algum receio, até ao balcão. Olhou para trás. A porta estava encostada.
Atrás do balcão estava a cadeira de baloiço, com um livro branco depositado em cima. Umas letras muito bem desenhadas na capa, a azul claro, diziam o nome do livro.
- Cinderella...- murmurou Lily, apoiando-se em cima do balcão para apanhar o livro.
- Tu não podes estar aqui!- disse uma voz forte atrás de si.
- Desculpe!- disse Lily, apertando o livro contra o seu peito.- É que... Ontem deixei o meu livro cá!
O homem olhou desconfiado para Lily, que, por sua vez, lembrou-se, de repente, que a loja estava abandonada, supostamente, já à mais de vinte anos.
- É que, ontem, o meu gato entrou aqui, sem querer, e tive que andar atrás dele! E deixei cair o meu livro.- disse Lily, deixando o homem ver o livro.
- Tudo bem! Pode ir! Mas, para a próxima não venha com o gato para aqui!- disse o homem, sorrindo, e deixando Lily sair da loja.
Suspirando muito profundamente, Lily virou as costas ao homem e voltou para o castelo, com o livro debaixo do braço.
- Tens a certeza?
- Tenho!- disse Sirius.- Não te preocupes! Vais encontrar a tua Cinderella sem problemas!- disse Sirius.
James olhou para a lista, que segurava na sua mão, com alguma relutância e preocupação. Na letra certa de Sirius, podia-se ler:
Lista de raparigas possíveis a serem Cinderella:
- Angela Fair;
- Shondra Spitz;
- Gina Spitz;
- Amiga ruiva de Remus;
- Anne Chandler;
- Bertha Lam;
- Colocaste a Bertha Lam na lista?!- perguntou James, olhando para o amigo.
- O que tem?- perguntou Sirius, olhando em volta. Estavam sozinhos no Salão, além de um grupo de primeiranistas, que se divertiam a jogar xadrez mágico. Remus e Peter tinham ido à biblioteca, para irem buscar um livro de feitiços, que Remus precisava, para o exame de Transfiguração desse ano.
- O que tem?! O qu... Só podes estar louco, Sirius! Ela anda no segundo ano! Segundo! Ela tem doze anos e eu quinze, quase a fazer dezasseis! Pensas mesmo que foi ela?!
- O.K.! O.K.! Tu é que estiveste com ela, não eu!- disse Sirius, pegando na lista novamente e riscando o nome de Bertha Lam.- És mesmo esquisito!
- E quem é a Anne Chandler?!- perguntou James, desconfiado, ignorando o último comentário do amigo.
- Bem... Essa também podemos riscar...-disse Sirius.
- Sirius!
- Bem... Digamos que é... mais nova do que a Lam...
- Puseste uma rapariga do primeiro ano na lista?! Pensas que sou o quê, Sirius? Um... Um...
- Está bem! Poupa as palavras! Mas o que queres! Ela também é ruiva!
- Mas tem olhos azuis!
- E o que tem? Era de noite! Podes não ter visto bem!- disse Sirius.
- Eu posso usar óculos, Sirius! Mas não sou cego!- disse James, tirando a lista das mãos de Sirius.- E esta Fair?
- Está descansado... É do quarto ano! Tem cabelos ruivos e olhos castanhos esverdeados...
- E as Spitz?
- São duas irmãs gémeas do quinto ano... Já as deves ter visto! Essas não passam de certeza despercebidas!- disse Sirius.
- Sim... Mas espera... Se são gémeas, como saberei qual delas é a Cinderella... Se servir o sapato, é claro...
- Não sei... Mas pensa no lado positivo! Podes sempre partilhar uma delas comigo... São as duas completamente fogo!- disse Sirius, vendo as gémeas Spitz descerem as escadas em caracol e endireitando-se, logo, na poltrona, para apreciar melhor as raparigas.
Shondra olhava em volta, supostamente, à procura de alguém, enquanto que Gina olhava para Sirius, que lhe piscara o olho.
- Sabes... Tu estás a meter-te com uma das candidatas que poderão ser a minha Cinderella!- disse James, olhando para Gina, que acenava a Sirius, disfarçadamente.
- Sim... Mas se essa tal de Cinderelie...
- Cinderella...- corrigiu James.
- Isso... Se ela gosta mesmo de ti, não iria meter-se com outro rapaz qualquer, pois não?- perguntou Sirius, que, vendo Gina a curvar-se para apanhar algo que deixara cair, “sem querer”, inclinou a cabeça, já que a gémea tinha uma saia, nessa manhã.
- Contigo nunca se sabe, Sirius!- disse James, olhando reprovadoramente para Sirius.
- O que foi? Ela provocou-me!- disse Sirius, vendo o olhar do amigo e desviando logo o olhar das elegantes pernas da garota.
- Pensei que tinhas um caso muito sério, com uma tal rapariga chamada Leslie Adams.- disse James, vendo a expressão do rosto de Sirius mudar, ao ouvir o nome.
- E se tenho!- disse ele, afastando o olhar da Gina, e olhando para o ar.- Essa rapariga também é fogo! E olha que é difícil apagá-lo... Se não fosse tão inteligente, a minha Leslie estava agora aqui comigo agarrada a mim, neste Salão!
- Só tu mesmo!- disse James, rindo-se.
- E agora que falaste nela... Vou, imediatamente, procurá-la! Estou com umas saudades daquela boca...!- disse Sirius, correndo para fora do Salão.
- Só ele!- riu-se James, mas voltando a olhar preocupado para a sua lista.- Qual delas serás, Cinderella?
- Então o que aconteceu?- perguntou James, vendo que Sirius aparecera pelo quadro da Dama Gorda a dentro, mais cedo do que era esperado, com uma expressão carrancuda no bonito rosto.
- Fiz as pazes com a Leslie, mas... Voltámos a zangarmo-nos...- disse Sirius, sentando-se, novamente, na poltrona.
- Porquê?- perguntou James, curioso, mas já sabendo o que viria a seguir.
- A madame Pince, apanhou-nos em “posições escandalosas”- disse Sirius, imitando o que a bibliotecária tinha dito, na sua voz fina e implicante.- “Isto não se admite! Já são dois meninos crescidos! E vêm para um lugar reservado apenas para o estudo e para a leitura silenciosa, para fazerem estas posições escandalosas! Na biblioteca da escola!!! Vocês são uns levianos! Uns indiscretos! Vou, imediatamente, comunicar aos vossos chefes de equipa, o que aconteceu aqui”. E quando ela disse “levianos” tenho a certeza que o significado implicava tudo o que a palavra queria dizer!
- Eu disse-te que ela tinha uma paixão por ti!- riu-se James.
- Quem? A madame Pince? Só podes ter enlouquecido!- disse Sirius.- O pior é que a Les ficou chateada comigo e disse que, desta vez, era definitivo... Acabámos! Já não bastava ela ter-me apanhado aos beijos com a Spitz...
- ...e com a apanhadora de Ravenclaw!
- E rodeado por tantas raparigas no baile de máscaras! Mas também ela teve a ousadia de me provocar! Dançou, durante toda a noite, com o Remus!
- Bem... Também não admira! Não resistes a um “rabo de saia” que te passe à frente! E depois ainda queres que ela te perdoe!
- Isso é que é ser amigo?- perguntou Sirius.- Mais valia ter falado com o seboso Snape!
- Desculpa! Não queria ofender-te... Mas pensa no lado positivo, Sirius! Vocês estão sempre a voltar!- disse James.
- Não sei... Vindo da Les, nunca se sabe!
- Vais ver... Na próxima semana, vocês já devem estar agarrados um ao outro, como se não tivesse acontecido nada! É o que acontece sempre!
- Bem... Mas não vai haver “próxima semana”...
- Como?- perguntou James, confuso.
- Estamos de férias! Onde andas com a cabeça James?- perguntou Sirius, batendo na testa de James, ao de leve.
- Imagina!- disse James, revirando os olhos.
- Já percebi... Mas, agora, o problema é a Les! E o pior é que ela ainda me pode arranjar para aí um cubano ou um dominicano...
- Ela vai de férias para um país tropical?!- perguntou James, e vendo Sirius acenar a cabeça, acrescentou, logo de seguida:- Então, é melhor despachares-te! Só tens até amanhã de manhã, para resolveres tudo... E ainda por cima, nesses países tropicais, é só homens bronzeados e musculosos... E as raparigas adoram isso...
- Nem me lembres! Mas está descansado... Temos detenção hoje à noite...
- E...?
- E, eu vou estar com a minha Les, na biblioteca a catalogar os livros...
- Que romântico! Nem vais ter tempo para lhe dirigir a palavra!- disse James, olhando confuso para o amigo.
- Tu nem me deixas acabar! Bem... Eu, Sirius Black, tenho sempre um plano na manga!
- A quem o dizes!- disse James, apoiando a cabeça numa mão, e olhando para o amigo, esperando que ele dissesse logo o que estava a planear fazer.
- Vou levar uma varinha falsa para entregar à McGonnagall, e depois uso a minha, para catalogar os livros, num segundo, para eu e a minha musa termos um tempinho para nós os dois!
- É melhor teres cuidado... A McGonnagall não é para brincadeiras, quanto a esses assuntos!
- Como queiras! Mas, mudando de sujeito... Já te decidiste acerca da tua Cinderella?
- Já!
- E...?- perguntou Sirius.
- Vou fazer o enunciado agora!- disse James, levantando-se, no mesmo momento em que entrava Remus e Peter.
- Isso é o James que eu conheço!- disse Sirius, levantando-se da poltrona e seguindo James, até ao centro do Salão Comum.
Lily entrava no castelo, enquanto observava a capa do livro, que encontrara na loja, abandonado.
Não conseguia abrir o livro, pois tinha uma espécie de fechadura na lombada.
Agora era só encontrar a chave certa que o pudesse abrir!
- Lily! Ainda bem que te encontro!!!- disse Remus, fatigado, de tanto estar a correr, logo ao encontrar a amiga.
- O que aconteceu?- perguntou Lily, olhando desorientada para Remus, já que estivera tão absorta nos seus próprios pensamentos, desde que saíra da loja, em Hogsmeade.
- O... O Jam... James... está à procura... da Cinder... ella! No Salão Comum...- disse Remus.
- O quê?- perguntou Lily, não percebendo o que Remus dizia.
Depois de ter retomado o fôlego, Remus disse muito urgentemente.
- O James vai experimentar o sapato em todas as raparigas ruivas de Gryffindor... E tu és uma delas... Tens que ir para lá, imediatamente!- disse Remus, puxando a Lily pelo braço.
Lily correu, então, pelo corredor, até alcançar o quadro da Dama Gorda, que guardava a entrada para o Salão Comum dos Gryffindor. Depois de ter dito a palavra secreta para entrar, Lily deparou-se com uma imensa multidão. Todos os pertencentes a Gryffindor tinham aparecido para ver quem era a misteriosa Cinderella, por quem James estava apaixonado.
Lily viu James a subir a uma mesa, para todos o puderem ouvir. Numa das mãos tinha um pergaminho, levemente amarrotado.
- Desculpem! Podem-me dar atenção?- perguntou James.- Obrigado! Eu queria chamar quatro raparigas, que poderão ser a rapariga que eu encontrei no baile! Eu não sei o nome dela, mas tinha cabelo ruivo e ainda deixou cair este sapato de cristal!
Todos olhavam para o sapatinho, que James erguera no ar.
- A quem couber este sapato de cristal, poderá, se quiser, é claro, ser minha namorada.
- O que ele está a falar?- perguntou Lily, olhando para Remus.
- O Sirius disse-lhe para fazer uma lista de raparigas que ele achava que poderiam ser a Cinderella, para depois experimentar o sapato.
- Mas ele pode-se enganar! O sapato pode servir a mais que uma rapariga!
- Eu sei! Mas tu não lhe deixaste mais nenhuma pista, Lily!- disse Remus.- Cabelo ruivo... Olhos verdes... Recordações de uma noite mágica... E um sapato! É o que ele tem, Lily!
- Podiam chegar aqui a Gina Spitz, Shondra Spitz, Angela Fair e a amiga ruiva de Remus?- perguntou James, lendo os nomes da lista.
Então, as quatro raparigas dirigiram-se até James, que descera da mesa.
Lily ainda tentou colocar-se em primeiro lugar, na fila, mas Shondra empurrou-a para o fim.
A primeira a experimentar o sapato foi Angela. O sapato cabia.
- Angela?- perguntou James, esperando uma resposta da rapariga, que o olhou com algum pesar e preocupação.
- Desculpa, James. És muito simpático, mas não sou eu a Cinderella que procuras. Neste momento, eu namoro com o Diggory, de Hufflepuff!- disse Angela, suficientemente alto, para todos do Salão, ouvirem.
- Eu disse-te!- disse uma rapariga de cabelos pretos, presos, metade em cada lado da cabeça, a um rapaz de cabelo castanho, que ficara, entretanto, muito triste.
- Afinal, não era um rumor!- disse outro rapaz.
A segunda a experimentar foi Gina. O sapato coube na perfeição, mas quando ela ia dizer sim ao pedido de namoro de James, Shondra beliscou-a, com muita força, deixando uma marca negra no braço de Gina. Muito zangada e a agarrar o braço, Gina foi-se sentar numa poltrona perto da lareira.
- Eu vou lá!- disse Sirius, indo sentar-se ao lado de Gina.
- Muito bem... Shondra!- disse James, um pouco confuso.
Apesar de ser irmã gémea de Gina, o sapato ficava um pouco apertado, mas Shondra conseguiu distrair James, e fez com que o sapato aumentasse ligeiramente.
- Shondra Spitz. Gostavas de ser a minha namorada?- perguntou James, ajoelhando-se.
Shondra deitou um olhar frio a Lily, antes de acenar a cabeça... afirmativamente.
- Claro que sim, James! Afinal... Fomos feitos um para o outro!
Com lágrimas nos olhos, Lily correu para fora do Salão.
Ela sabia...
Shondra sabia que ela era a Cinderella e agora estava a vingar-se por ela a ter desobedecido.
Sabia que, através de James, poderia magoá-la.
Em vez de James beijar Lily, beijava Shondra.
Em vez de abraçar e acariciar Lily, fazia isso tudo a Shondra.
O que ia magoar, consequentemente, Lily.
A chorar desconsoladamente, Lily andou a vaguear pelos corredores, sem sentido algum, até dar-se com uma porta, no sétimo andar, que nunca tinha visto, nesses anos todos em Hogwarts.
Ao abri-la, viu uma pequena sala azul. Tinha três janelas na parede da frente, com cortinados brancos, pormenorizada com pequenas luas crescentes prateadas. Havia também uma cama de dossel, que aparentava ser muito confortável, e com o mesmo tipo de cortinados que estavam nas janelas. Uma mesa ocupava metade da parede lateral, oposta à parede onde se encontrava a cama, ao pé de uma estante de livros, que chegava até ao tecto.
Lily correu até à cama, onde se deitou a chorar. As horas passavam, mas as lágrimas não paravam de cair...
- És tão idiota! Idiota! Isto é o que dá acreditares em histórias de fantasia sem fundamento... Que não são reais! Tu sais sempre magoada...
Ao deixar cair a sua última lágrima de raiva, mágoa e desespero, Lily pega na sua mala, para se ir embora, porém, um livro muito velho e pesado cai, juntamente com dois frascos de poções, que tinham vindo na caixa do vestido de noite, trazida pela coruja branca.
O livro era o que a idosa lhe oferecera na loja, quando ainda se encontrava lá.
- A CULPA É TODA TUA! LEVASTE-ME A SEGUIR UMA FANTASIA QUE NUNCA EXISTERIA!- gritou Lily, pegando no livro, furiosa, e atirando-o, com toda a sua força, contra uma parede.
Depois de embater na parede, o livro escorrega até ao chão.
Lily vira as costas, mas pisa um dos frascos de poções que caíra, fazendo-o partir-se em dois. Mas, em vez de sair um líquido, sai um anel de ouro branco, com uma esmeralda muito brilhante cravejada no meio.
- O que é isto?- perguntou Lily, tentando acalmar-se, com a própria curiosidade, observando atentamente cada detalhe do anel.
Era realmente muito bonito... Se calhar, se o tivesse usado na noite de baile, poderia ter-lhe trazido mais sorte.
Mas agora era demasiado tarde...
- Lily! Como estás?- perguntou Remus, encontrando Lily a andar por um corredor, completamente sozinha.
Lily ergueu a cabeça. O seu amigo aparentava estar muito preocupado, mas o olhar demonstrava compaixão.
Sem resistir, lágrimas recomeçaram a cair do seu rosto.
- Ele nem sabia o meu nome, Remus!!! Nem isso ele sabia!!! Ele é tão idiota!!! Como é que ele foi capaz...!!!- disse Lily, fazendo Remus abraçá-la carinhosamente, e afagando-lhe os cabelos ruivos.
- Acalma-te, Lily... Tudo vai ficar bem...
- Não, não vai...- murmurou Lily.- Não vai... Isto já não é mais um conto de fadas, Remus! Isto já não é um conto de fadas, desde que o James colocou o sapato na rapariga errada! E ele nem se apercebeu disso...
Peço imensa desculpa pelo enorme atraso mas já não volta a acontecer! -.-
Obrigada pelos comentários!!! ^^ Espero que continuem a gostar da fic e a acompanhá-la!!!
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