Baile de Máscaras
"Baile de Máscaras"
Um débil, mas belo arco-íris, começara a formar-se, um pouco para lá do lago, nos grandes terrenos de Hogwarts, cujas águas cintilavam misteriosamente, hipnotizando qualquer um, que olhasse para estas.
Através da única janela do dormitório feminino, do quinto ano, da equipa de Gryffindor, Lily pôde, finalmente, concluir, que a chuva passageira, que houvera começado já a alguns minutos atrás, tinha cessado, por completo, deixando vestígios de mais um dia esplêndido, e uma noite, certamente, ainda mais, para todos os que iriam ao baile de máscaras, nessa mesma noite.
- Lily Evans! Vem já até aqui. Imediatamente!- gritou Shondra Spitz, de dentro da casa de banho, numa voz irritante e histérica, fazendo Lily Evans suspirar, muito profundamente.
- Mas não para mim...- murmurou Lily, tristemente, dando uma última olhadela aos belos jardins, e dirigindo-se, depois, à casa de banho, onde encontrou Shondra a segurar um verniz para as unhas, de um rosa choque.
- Preciso que me pintes as unhas dos pés! Nunca tive jeito para as pintar... E depois eu e a Gina queremos que vás a Hogsmeade buscar os nossos fatos para o baile. Está no nosso nome... - disse Shondra, sorrindo falsamente para Lily, e metendo, com alguma brutalidade, o verniz na mão da ruiva.- Vamos. Preciso de me despachar!
Shondra e Gina Spitz eram duas irmãs gémeas, incrivelmente egoístas, e, possivelmente, as mais vaidosas de toda a Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts. Toda a sua beleza devia-se, sobretudo, às grandes quantidades de maquilhagem, que recebiam, todos os fins de semana, da mãe e tinham pintado o cabelo de um loiro arruivado, no seu terceiro ano, em Hogwarts. Os olhos eram cinzentos, levemente esverdeados. Não eram muito altas, mas estavam quase a sofrer de anorexia, tais eram as dietas que elas as duas faziam, cada vez que tinham uma grama a mais no seu peso...
- Vê lá se não te enganas, porque se não obrigo-te a pintá-las todas novamente!- disse Shondra, deitando-se confortavelmente na sua cama, e colocando os pés em cima do colo de Lily que, entretanto, sentara-se numa cadeira.
Desde o seu segundo ano, que Lily era obrigada a submeter-se às ordens das gémeas Spitz. Tudo começou, quando elas as duas, as irmãs Spitz, descobriram o segredo mais bem guardado de Lily, e, então, elas não descansaram até fazerem chantagem com a ruiva e, em troca de total obediência às ordens de Shondra e Gina Spitz, Lily teria o seu segredo bem guardado. Ela ainda não deslindara a forma como elas tinham descoberto, mas sabia que ninguém o poderia saber, pois poderia prejudicá-la a ela mesma. Nem mesmo Remus Lupin, o seu melhor amigo, tinha conhecimento desse segredo, apesar de estar sempre a insistir com Lily, para esta lho contar.
- Acabei- disse Lily, ao acabar de pintar a última unha do pé de Shondra.
- Óptimo! Agora, já sabes! Vai buscar os nossos fatos a Hogsmeade. E não te esqueças... Está no nosso nome. Aproveita e traz, também, algumas poções para o cabelo da Gina... Ela tem-no um bocado esquisito, desde esta manhã!- pediu Shondra, enquanto colava pequenas estrelas pratedas, em algumas das unhas.
- O.K...- disse Lily, virando as costas a Shondra, e saindo do quarto rapidamente, antes que pedisse mais alguma coisa.
- Ah! Espera! Sê uma boa menina e traz-me mais uma base! Apareceu-me uma horrível borbulha esta manhã e não há meio de disfarçá-la.- disse Shondra, afastando um bocado os dedos para ver o resultado final das suas unhas.
- O.K...
Ao descer as escadas em caracol, até ao Salão Comum dos Gryffindor, Lily viu Helen e Julianne, duas outras raparigas com quem Lily, Shondra e Gina partilhavam o dormitório, a falarem, muito entusiasmadas, sentadas nas duas confortáveis poltronas perto da lareira.
Possuíam as duas cabelo castanho, uma com ele liso e outra com ele em caracóis perfeitos. Pelos vistos, ainda não se tinham ido preparar para o baile, pois ainda usavam o uniforme da escola, tal como Lily: Saia de pregas preta, camisa branca, gravata e manto preto, com o símbolo da equipa.
Lily tinha cabelos ruivos, a caírem em ondulações até ao meio das costas, mas que estavam, no momento, presos, muito desajeitadamente, no alto da nuca. Possuía uns belos olhos verdes esmeralda e era muito elegante.
Ela era até uma feiticeira muito atraente, não fosse a sua incrível capacidade de esconder essa distinta beleza, de todos os que se encontravam à sua volta, tornando-se, desta maneira, uma criatura invisível, claramente impopular, que adorava ler contos de fadas e sonhava ser escritora um dia, e, na maioria do tempo, ignorada por todos os seus colegas, à excepção de Remus Lupin, o seu melhor amigo de sempre.
Também, era difícil de imaginar como Lily tornara-se amiga de um rapaz tão atraente como ele. Para várias raparigas apaixonadas por Remus, era ainda muito díficil acreditar na amizade entre ambos.
Eles apenas tinham-se reunido umas quantas vezes, durante duas semanas, um com o outro, para um trabalho de Herbologia, já à dois anos atrás, e, após essas duas semanas, tinham-se tornado amigos inseparáveis. Remus tinha cabelo castanho e olhos cor de mel. Possuía um terrível segredo, que só Lily e um grupo de amigos mais chegados de Remus sabiam. Mas, para além desse segredo, Remus era um rapaz, não só muito inteligente e muito simpático, como também muito responsável e maduro, para um rapaz da idade dele.
- Vamos lá buscar os fatos para a menina Spitz e a menina Spitz...- murmurou Lily, logo ao descer da carruagem, que era conduzida por criaturas invisíveis, e que a levara até Hogsmeade.
Ao andar pela rua principal, passou pelo Três Vassouras, que transbordava um confortável calor e alegria, e dirigiu-se a uma loja chamada Moda Mágica, onde encontraria decerto as máscaras reservadas para as gémeas.
Ao entrar na loja, Lily quase ficou sem conseguir respirar, tal era a quantidade de raparigas da escola, a tentar chegar ao balcão, para ir buscar a sua respectiva máscara. Com muita dificuldade, e passado um longo tempo, Lily conseguiu chegar ao balcão, onde estavam duas raparigas muito atarefadas, a tentar atender a todos os pedidos.
- Desculpe... Eu venho buscar dois fatos para Shondra e Gina Spitz...- disse Lily, com alguma dificuldade.
- Sim! Sim! Vou buscá-los... Espere só um momento!- disse a senhora, desaparecendo por uma porta atrás do balcão.
Passado alguns minutos, ela voltou, trazendo consigo dois grandes embrulhos, que depositou em cima do balcão.
- São estes... Elas já pagaram e no papel dizia que uma tal Evans vinha buscá-lo... É você?
- Sim! Obrigado...- disse Lily agarrando nos dois embrulhos e fugindo rapidamente da loja.
Lily, então, foi em busca da loja de poções, onde, certamente, encontraria a indicada para o cabelo de Gina.
Ao entrar no Boticário Wilt, Lily correu logo em busca da poção.
Quando encontrou, finalmente, uma prateleira intitulada por Poções de Beleza, Lily subiu a uma pequena escada, que estava encostada à estante, para alcançá-la, porém, quando já tinha a poção na mão, escorregou, com um pequeno grito de surpresa.
- CUIDADO!- gritou alguém, ao fundo.
- Apanhei-te!- disse a pessoa que agarrou Lily, antes desta embater, com toda a força, no chão de pedra fria.
- Obrigad...- começou Lily por dizer, mas não conseguiu terminar, pois o seu coração disparou ao olhar para quem a salvara de uma ida à Ala Hospitalar.
James Potter sorria-lhe, enquanto ainda a segurava ao colo.
O moreno era a paixão de Lily, desde que esta o conhecera no seu primeiro ano, em Hogwarts. Era também, por acaso, um grande amigo de Remus, juntamente com o Sirius Black e Peter Pettigrew. Os quatro formavam o grupo dos Marotos, o grupo mais popular de toda a Escola de Hogwarts.
James Potter e Sirius Black eram os mais bonitos e atraentes, sendo seguidos por Remus. James jogava na equipa de Quidditch de Gryffindor, como seeker, era inteligente e muito atraente. Tinha cabelos negros sempre todos despenteados e olhos cor de avelã. Sirius era o mais galanteador, não deixando de ser também inteligente e muito atraente, e sendo, também, muito independente de todos, principalmente da família, que tanto odiava. Tinha cabelos negros, muito bem penteados, a caírem-lhe para os olhos cinzentos azulados, e possuía um corpo, que já revelava algum desenvolvimento nos músculos. Já Peter era, para ser sincera, um caso perdido. Não era assim tão atraente como os amigos, e as escassas boas notas que recebia, deviam-se, sobretudo, aos seus amigos. Era muito dependente deles e podia-se encontrá-lo sempre a rondar um quadro, que, se fizessem cócegas à única pera pintada no quadro, dava passagem às cozinhas, no mesmo piso onde se podia encontrar o Salão Comum dos Hufflepuff.
- De nada!- disse ele, colocando Lily no chão.- Devias ter mais cuidado... Principalmente quando à por aí muitos rapazes...
- Como?- perguntou ela confusa, olhando para James, que se agachara, entretanto, para apanhar a poção que Lily deixara cair, durante a queda, mas que ainda se mantinha intacta, e os dois embrulhos que continham as máscaras de Shondra e Gina.
- Estavas de saia! É muito perigoso estares a subir escadas de saia.- disse ele, olhando do rótulo da poção para um dos embrulhos, que se encontrava um bocado aberto, de forma a ver-se um pedaço do fato, e olhando para Lily, ergueu uma sombracelha, e perguntou:- Isto é para ti?
- Sim... Quer dizer... Não. É para uma colega minha que me pediu para vir buscá-lo, já que está demasiada ocupada a preparar-se para o baile...- disse Lily, pegando na poção e nos embrulhos e dirigindo-se ao dono do boticário, que a olhava com uma expressão de apreensão.- Bem... Eu tenho de ir. Adeus!
- Até logo!- disse James, indo ter com Sirius e Peter, que se encontravam envoltos numa conversa, sobre a poção que tinham na mão, na estante ao fundo do boticário.
- Acho que não!- disse Lily, tristemente, pensando em como não poderia ir ao baile nessa noite.
Após algumas horas em busca da base que coincidia com a pele de Shondra, Lily pôde, finalmente, respirar fundo.
Contudo, enquanto descia a rua para voltar para a carruagem, Lily deparou-se com uma montra muito pequena, mas com algo que cativou o olhar da ruiva.
Lá, na montra, estava um belo vestido, de um verde igual ao dos seus olhos. Começava desde o peito, bem justo ao corpo, e acabava nos pés, alargando desde a cintura. O decote e a borda do vestido tinha, bordados, pequenos cristais dourados. Aos pés do vestido estava um par de sapatos dourados, com alguns pormenores em verde, e pareciam ser de cristal, juntamente com umas luvas verdes, que combinavam com o vestido, uma máscara dourada e uma pequena tiara de ouro.
Mesmo em frente do vestido, estava exposto um livro muito velho intitulado por O mais Belo Conto de Fadas. Lily estranhou. Não tinha escrito o nome do autor, nem na capa, nem na lombada.
Ao olhar para cima, Lily também pôde ver que a loja não tinha qualquer nome.
- Que esquisito...- murmurou Lily, olhando em volta.
Todas as pessoas que passavam por ela, pareciam não estar a vê-la, mas não foi a isso, que Lily não achou estranho. O que achou estranho, foi o facto de nenhuma rapariga que passava, ter olhado, ainda, para a montra, para ver aquele precioso vestido.
Sem hesitar e sem conseguir resistir, Lily entrou na loja. Estava um bocado escuro, mas Lily ainda conseguia distinguir os vários objectos.
- Boa-tarde...! Está alguém aí?- perguntou Lily, olhando em volta.
A loja aparentava estar vazia.
Lily dirigiu-se a uma das prateleiras, cobertas por uma camada grossa de pó, onde se encontravam uma enorme variedade de poções. Havia para fazer crescer o cabelo, para fazer um penteado rápido e bonito, entre muitos outros. Noutra prateleira, com algumas teias de aranha, havia maquilhagens muggle e mágicas, de todas as espécies, cores e feitios. Livros de contos de fadas enchiam uma prateleira muito longa, que ocupava uma parede inteira. Mas parecia que o único vestido da loja, era mesmo aquele exposto na montra.
Lily depositou os dois embrulhos em cima do balcão, carregado de pó, junto com as pequenas embalagens que continham a base e a poção do cabelo e encaminhou-se silenciosamente para a montra.
A parte de trás do vestido era composta por uma espécie de espartilho, que prendia com pequenas tiras douradas. Lily ergueu a mão para tocar no vestido. Era tão suave... Tão delicado e leve... Parecia que o vestido não era nada pesado, apesar das várias camadas que este possuía, com o objectivo de dar mais volume.
Lily então pegou no livro. A capa estava um pouco roída pelos ratos, mas continuava ilustre. Era dourada e as letras do título estavam ainda fortemente gravadas a prata. Decidiu abrir o livro...
- Deseja alguma coisa, menina?- perguntou uma voz calma, atrás de Lily, fazendo esta saltar de susto.
- N-Não, obrigada... Desculpe por estar a mexer nas suas coisas... Não queria.- disse Lily, olhando para uma idosa, com os cabelos muito brancos, presos num elegante nó, no cimo da nuca, com uns olhos de um azul safira.
- Não faz mal. Vejo que gostou do que está exposto na montra...- disse a idosa, sentando-se numa cadeira de baloiço, atrás do balcão.
Lily apressou-se a tirar os embrulhos e as embalagens de cima do balcão, mas a senhora ergueu uma mão e disse para deixar ficar.
- Sim... Muito... Mas, infelizmente, não posso comprar... Deve ser muito caro.- disse Lily, olhando, sonhadoramente, para o vestido.
- Sabe... Às vezes, o que é bonito, nem sempre é caro...- disse a senhora, olhando também para o vestido.- Mas se quiseres eu posso vender-to por um pequeno preço!
- Oh, não! Muito obrigado, mas não...
- Porquê? Não gostou?- perguntou a senhora, sorrindo a Lily.
- Sim... Muito... Mas o vestido deve ser vendido pelo seu preço merecido.- disse Lily, tristemente.- Mas, posso levar o livro.
- O livro. É claro. Eu ofereço-lho, se quiser...- disse a idosa, levantando-se da cadeira, e pegando no livro para o colocar num saco.
- Não sei... Eu tenho ainda umas moedas. Posso pagar!
- Deixe estar, menina...
- Evans. Lily Evans.- apresentou-se ela.
- Lily... Um belo nome, de facto. Bem, eu vou oferecê-lo à mesma. À muito tempo que não ofereço nada a ninguém! Podes ficar com o teu dinheiro.- disse a idosa, fazendo um sorriso misterioso.
- Muito obrigado por tudo... Adeus!- disse Lily, saindo da loja.
- Ou, até logo...
- Porque é que demoraste tanto tempo! Estamos à tua espera já à uma hora!- gritou Gina, logo quando Lily entrou no dormitório.
Helen e Julianne já se estavam a maquilhar à frente de um espelho, enquanto que Gina estava sentada na sua cama, a tentar ajeitar o seu cabelo com uma escova.
- Desculpa... É que a loja das máscaras estava cheia e tive que andar à procura de uma poção para o teu cabelo e...
- A minha base?- perguntou Shondra, saindo apressadamente da casa de banho.
- Está aqui- disse Lily, entregando a base a Shondra.
- Óptimo! Era mesmo esta!- disse Shondra, experimentando a base na borbulha.- Estás dispensada! Mas volta às oito horas!
- Sim. A tua poção...- disse Lily, colocando a poção na mão de Gina, que, realmente, tinha o cabelo um bocado esquisito, já que metade do cabelo estava suspenso no ar, para o lado direito.
- Muito bem...- disse Gina, indo a correr para a casa de banho, mas continuando a resmungar.- Aquela estúpida da Adams vai ver o que lhe acontece, se se atrever a enfeitiçar o meu cabelo novamente...
Depois de colocar os fatos das outras duas em cima da cama de cada uma, Lily saiu do quarto.
Num passo certo e acelerado, Lily apressou-se a chegar ao dormitório masculino do quinto ano, onde esperava encontrar Remus, mas quando entrou, encontrou-o vazio.
- Onde ele estará?- perguntou-se Lily, deitando-se numa das cama, e abrindo o livro que comprara, para se entreter, enquanto ele não chegava.
Lily ficou estática. Era normal encontrar o nome do autor na primeira ou na segunda página do livro, mesmo por cima ou por baixo do título. Mas aquele era diferente. Apenas tinha o título, com algumas fadas, em movimento, à volta.
Lily encolheu os braços e passou à página seguinte. Mas não havia página seguinte. Todas as folhas posteriores estavam em branco.
- Será um diário?- murmurou Lily, mas era impossível, porque, então, não teria aquele título.
- Lily? O que fazes aqui?- perguntou uma voz da porta, fazendo a ruiva esconder imediatamente o livro.
- Remus! Vim ver-te... Como estás?- perguntou Lily, sorrindo ao amigo que trazia consigo um grande embrulho castanho.- O que trazes aí?
- Estou bem, obrigada... É a minha máscara! Onde está a tua?- perguntou Remus, de forma curiosa, pois a amiga não trajava qualquer espécie de máscara.
- Eu não vou, Remus...- murmurou Lily, baixando a cabeça.
- Porque não?
- Tu sabes perfeitamente porquê...!- suspirou cansada.
- Se estás a falar das irmãs Spitz, mais uma vez, tenho que te dizer que tu não és escrava de ninguém, e, sobretudo, delas, pois ainda estamos a viver num país de liberdade de escolha...- disse Remus, virando-se para a amiga, e olhando-a confuso.- Não te percebo, Lily! Não eras tu que as achavas fúteis e egoístas e desnecessárias de serem ouvidas!
- Sim! E acho...! Mas...- Lily não conseguiu continuar.
- Mas o quê?- perguntou Remus, ficando desesperado.- Pensava que não guardavamos segredos um ao outro, Lily!
- Eu sei. Mas...- hesitou, mais uma vez, Lily.
- Estás a ver! Sou o teu melhor amigo e nem sequer és capaz de me contar a razão pela qual és obrigada a obedecê-las!- disse Remus, num só fôlego e revoltado.
Lily sentiu-se, por momentos, mal consigo própria, por estar a esconder uma grande verdade de si própria, a um grande amigo como Remus. Mas nem ele poderia saber essa verdade.
- Está descansado... Não é nada de importante!- mentiu Lily, desviando os olhos dos de Remus.
- Por acaso não tem nada a ver com a tua, já muito antiga, paixão pelo James, pois não, Lily?- perguntou Remus, sem evitar sorrir.
- Claro que não!- exclamou Lily.- Claro que não! Achas mesmo! Claro que não é por isso... Bem... Eu tenho de ir ter com a Gina e a Shondra!
- Lily! Espera!- gritou Remus, correndo atrás de Lily, que abrira a porta do dormitório e começara já a descer as escadas.
- O que foi, Remus? Eu tenho que me despachar!- disse Lily, parando a meio da escada, vendo que eram já oito horas da noite.
- Olha, eu vou esperar por ti, até às nove e meia da noite, aqui, no Salão Comum, O.K.?- perguntou Remus, olhando seriamente para a amiga.
- Para o quê?- perguntou confusa, Lily.
- Porque tu vais ao baile, Lily! Nem que eu te obrigue! Tu precisas de te divertir! Estás sempre metida naquele dormitório, sem ser quando vais, com muita dificuldade, para as aulas!
- Eu nem sequer tenho fato!- disse Lily, revirando os olhos.
- Isso arranja-se... Devemos encontrar qualquer coisa no armário, que podemos transformar em algum vestido de noite bonito!- disse Remus, já entrando no dormitório.
- Mas...
- Nada de “mas”, Lily. Se tu não estás aqui às nove e meia da noite, vou eu buscar-te ao dormitório! E nem penses sair do dormitório!
- Não vai ser muito difícil obedecer-te!- disse Lily, sarcasticamente, colocando as mãos na cintura.
- Estou a falar muito a sério!- disse ele, mais uma vez.
- O.K.! O.K.! Como queiras...
- Finalmente! Por onde andaste!- resmungou Shondra, guardando um espelhinho de bolso em cima da mesinha de cabeceira, e levantando-se da cama.
Shondra estava mascarada de dançarina de ventre, tal como a irmã, mas Gina em tons de azul e Shondra em tons de rosa. Usavam as duas pequenos véus de seda a taparem-lhes a face, com as cores a condizerem com as dos respectivos fatos. Tinham as duas também colocado pequenos brilhantes no meio da testa, em forma de lua minguante e os cabelos estavam presos numa longa trança, por baixo de um véu que ia até ao fim das costas.
Mas Lily não lhes prestava atenção, pois, ao entrar no dormitório, quase teve um ataque cardíaco.
Enquanto tinha estado com o Remus, no dormitório dos rapazes, o dormitório delas parecia ter sido trespassado por um furacão em fúria, tal era a barafunda de roupas e maquilhagem.
As roupas estavam penduradas nos varões e espalhadas pelas cinco camas, juntamente com as maquilhagens e cremes para a pele. Também haviam revistas de beleza e de conselhos, espalhadas no chão, e alguém, com a pressa de se preparar para o baile, esquecera-se de fechar a torneira da água quente da banheira, pelo que parecia que tinha ocorrido um pequeno maremoto, na casa de banho.
- O que aconteceu?- perguntou Lily, com a boca escancarada.
- Ouve uma pequena disputa! E como a Gina foi a última a tomar banho, deve ter-se esquecido de a fechar... Mas está à vontade para limpar tudo... Fica bem!- riu-se Shondra, a sair, apressadamente, pela porta do dormitório, deixando Lily sozinha.
Com lágrimas nos olhos, Lily pegou em todos os cremes e maquilhagens espalhadas pelo chão e pelas camas, e dirigiu-se para a casa de banho, onde os organizou, em cima da bancada de pedra. Seguidamente, Lily pegou numa esfregona, que alguém fizera aparecer, no canto da casa de banho, e começou a limpar a grande poça de água, já que Shondra tirara-lhe a varinha, para se certificar de que a ruiva não fazia nenhuma magia, para se despachar. Depois de se certificar que tudo estava devidamente organizado na casa de banho, voltou ao quarto.
Começou por reunir todas as revistas e ordenou-as na prateleira de uma estante colocada ao lado da porta do dormitório e, logo de seguida, pegou nas roupas e esteve uma meia hora a ver de quem pertenciam.
- Lily! O que estás a fazer?
- Remus! Como entraste aqui?- perguntou supreendida Lily, virando-se do lugar onde estava, para olhar o amigo, que segurava, numa mão, uma vassoura e, na outra, a sua varinha.
Estava vestido completamente de preto, além dos pequenos pormenores vermelhos que a capa tinha na borda. Usava, também, um chapéu negro, que deveria ter sido difícil de enfiar na cabeça, por cima de todo aquele cabelo com gel, e uma máscara negra, que tapava a zona dos olhos.
- Pela janela...- disse ele sorrindo à amiga.- Sabes... Os rapazes podem ser mais arrumados do que estas raparigas!
- A quem o dizes... E eu é que convivo com elas todos os dias. Mas como sabias que esta era a janela do nosso dormitório?- perguntou desconfiada, fazendo o amigo ruborizar.
- Bem... É que... Foi o Sirius, sabes... Ele conhece a localização de todas as janelas dos dormitórios femininos de Hogwarts. Menos de Slytherin, é claro. Até a da casa de banho das monitoras... Mas não fiques a pensar mal dele... É que ele já teve tantas namoradas que não é de admirar.- disse Remus, envergonhado.
- Credo... Então isso quer dizer que terei que ter mais cuidado quando frequentar a casa de banho das monitoras?- riu-se Lily.
- Tu frequentas a casa de banho das monitoras?- perguntou Remus, olhando muito admirado para a amiga, que se ria.
- Remus! E quem não a frequenta? Eu, por exemplo, vou todas as noites de lua cheia para lá ou quando tenho um grave problema por resolver- respondeu Lily, continuando a separar as roupas.
- L-Lua cheia?- engasgou-se Remus.
- Remus, está descansado. Apenas gosto de ir especialmente nas noites de lua cheia, porque são nessas noites, que o luar entra pela janela e relaxa-me!
- A lua cheia não me relaxa!- murmurou Remus, olhando para o chão, nervoso.
- Remus! O que é que falamos sobre esse teu problema? Nada de nervosismo e de tristezas! Tu ficaste assim, apenas por teres sido mordido por um lobisomem... Isso não muda a verdadeira pessoa que existe dentro de cada um de nós! Tu és lindo, inteligente... Ser lobisomem nunca te afectou! E não é agora que te vai afectar, amigo!- disse Lily, abraçando Remus, que afagava o seu cabelo.
- Obrigada. Quando falo contigo sobre este meu problema parece que não é o pesadelo com que eu tenho de lidar todas as noites de lua cheia.- disse Remus, olhando para os brilhantes olhos verdes da amiga.- É por isso que te considero quase como uma irmã...
- Obrigada... E acho que, também, te preferia como irmão do que a idiota da Petúnia!- riu-se Lily, agarrando num monte de roupa dobrada, pertencente a Shondra.
- Espera! Não é preciso fazeres isso... Eu faço.- Disse Remus, e com um gesto de varinha, todos os montes de roupa, voaram até aos armários das respectivas donas.
- Obrigada, Remus...- disse Lily, olhando em volta, para se certificar de que estava tudo devidamente arrumado.- Mas, agora, diz-me lá, o que vieste cá fazer...
- Não te lembras? Vim buscar-te para vires comigo ao baile!
- Bem, tu é que não te lembras que nem sequer tenho um fato suficientemente bonito e decente para ser exposto neste baile!- disse Lily.
- Então, o que faz uma coruja em cima da tua cama com uma enorme caixa ao lado dela?- perguntou Remus, olhando curiosamente para algo atrás das costas de Lily.
- O qu...?- mas Lily não continuou, pois, ao virar-se, pôde certificar-se, por ela mesma, o que Remus tinha dito.
Estava, realmente, uma enorme coruja branca com dois grandes olhos azuis safira, em cima da sua cama, que, ao lado, depositara um embrulho grande com cores entre o dourado e o prateado. Depois de ver que Lily reparara no embrulho, a coruja levantou vôo, e saiu pala janela aberta atrás de si.
- O que é, Lily?- perguntou Remus, olhando por cima do ombro da amiga, enquanto esta acariciava a caixa, com a curiosidade a crescer dentro de si.
- N-Não sei...- murmurou ela, observando a caixa.
- Estás à espera do quê, então? Abre-a!- incentivou o amigo, sentando-se na cama, à espera que a ruiva abri-se a caixa, para revelar o seu conteúdo.
Quando Lily abriu-a, deixou cair a tampa da caixa, tal era a sua surpresa.
- Mas isto é...
- Um vestido para o baile, Lily! Estás a ver... Agora já podes ir!
Na caixa estava, não só o vestido, como também as luvas, a máscara e a tiara que Lily vira na montra da loja sem nome, em Hogsmeade. Também havia algumas poções. Preso ao vestido estava um bilhete:
Querida Lily;
Lembra-te que as mais belas coisas não se compram. A beleza exterior pode-se comprar, mas a tua beleza interior nunca se comprará. Considera este vestido como algo que te pertence. Representa a tua paixão pelos contos de fada, que nunca deixará de existir. Vai a esse baile e dança toda a noite... Felicidades.
- Não... Isto não é apenas um vestido para o baile. É o vestido que vi em Hogsmeade!- disse Lily, dando o bilhete a Remus, para este lê-lo, e tirando o vestido da caixa, e apreciando cada detalhe.
- O que estás a falar?
Então, Lily explicou tudo o que acontecera, desde que fora a Hogsmeade até ter voltado para a escola, com Remus sempre a ouvir atentamente. Mas, sem saber porquê, Lily não mencionou o livro que comprara.
- Bem... Isso é tudo muito misterioso, não é? Achas que esta mulher tem alguma coisa a ver com a tua paixão pelos contos de fadas?- perguntou Remus, sentado na cama de Lily.
- Não sei...- murmurou Lily, andando à volta do quarto.- Eu pelo menos não lhe disse que gostava de contos de fadas...
- Se calhar, é a tua fada madrinha e tu não sabes...- gozou Remus.
- Não digas uma coisa dessas, Remus... Eu gosto de contos de fadas. Mas não sou louca por eles!
- Tudo bem! Tudo bem... Mas vamos lá preparar-te para o baile, O.K.?
- Não sei se posso, Remus... Imagina que a Shondra ou a Gina apanham-me?- disse ela, mordendo nervosamente o lábio inferior.- Ou ainda pior... As duas!
- Está descansada... Isso não vai acontecer! Tens também ali uma máscara!- disse Remus, apontando para a caixa.
- Sim... Mas e se elas aparecem aqui no dormitório primeiro do que eu?
- Muito bem... As Spitz disseram-te a que horas é que voltariam do baile?- perguntou Remus.
- Bem... Elas disseram-me que dependia... Se fossem eleitas para rainha do baile, ainda ficavam lá até à uma da manhã... Mas como isso não vai acontecer... Mais ou menos à meia-noite!- disse Lily.
- O.K... Então, quando ouvires a anunciar o rei e a rainha do baile, já sabes que é meia-noite e tens que voltar para o dormitório.
- Está bem... Mas tens mesmo a certeza?
- Tenho, Lily. Confia em mim, está bem?- assegurou Remus, e ao ver a amiga acenar a cabeça, ele acrescentou:- Então vamos lá preparar-te para o baile!
- O.K.!- disse Lily, seguindo Remus até à caixa.
- E, de qualquer das maneiras, não és tu que acreditas em contos de fadas?- perguntou Remus, parando à frente de Lily.
- Sim...! Mas, nunca pensei que pudesse acontecer-me a mim!- declarou Lily, baixando a cabeça.
- Pois... Mas agora está-te a acontecer, não é verdade?- perguntou Remus, erguendo a cabeça de Lily, com a sua mão.- Só tens que aproveitar!
- Bem... Não completamente! Falta o final feliz...
- Com o príncipe encantado.- completou Remus, entregando a caixa com todo o conteúdo a Lily e levando-a até à casa de banho.- Despacha-te o mais que puderes.
- Sim...
Tinha já passado meia hora, em que Remus ouviu a água a cair, no chuveiro, de dentro da casa de banho, seguido pelo silêncio total, quando a porta abre-se.
- Oh, meu deus...- deixou escapar Remus, ao ver Lily.
- Estou bem?- perguntou Lily, dando uma volta à frente de Remus.
- Estás fantástica... Mas penso que não vais conseguir chegar aqui à meia-noite...
- Porquê?- perguntou Lily preocupada.
- Porque tu vais de certeza ser nomeada rainha do baile, Lily.
- Não gozes!
- Eu não estou a brincar, Lily... Estou a falar muito a sério! Vamos?
- Espera só um bocado...- disse Lily, dirigindo-se ao espelho, para ver, por uma última vez, como estava.
Logo que se deparou com a sua imagem no espelho, Lily não conseguiu acreditar que, a rapariga que lá estava reflectida, era ela.
Trajava o magnífico vestido, que deixava distinguir a sua elegância e as suas curvas. Apesar dos seus ombros estarem nus, não sentia nenhum frio. Os pequenos brilhantes dourados, deixavam transparecer o belo decote que o vestido fazia. Nos pés podiam-se ver os sapatos de cristal dourados, com um salto alto muito fino, que serviam na perfeição a Lily. Usava as luvas que acabavam um bocadinho depois do cotovelo. A máscara escondia apenas a zona dos olhos e no pescoço, Lily fizera aparecer uma fina e elegante gargantilha de ouro.
Com as poções, Lily fizera o seu cabelo, antes todo despenteado e desajeitado, preso no alto da nuca, sem qualquer brilho, ficar solto, em ondulações leves, perfeitas e brilhantes, com a pequena tiara dourada, equilibrada no alto da cabeça. Também conseguira com que a maquilhagem estivesse perfeita, ficando muito leve e natural. A sombra dos olhos começava com um verde e passava para um dourado muito brilhante. Tinha os olhos delineados com lápis preto e rímel, fazendo sobressair em muito a cor verde esmeralda que possuía nos olhos. As bochechas tinham sido sobressaídas, também, por um blush de um rosa muito doce. Os lábios tinham sido pintados com um brilhante rosado, fazendo o seu sorriso parecer mais belo e brilhante e as sombracelhas tinham sido arranjadas.
- Estou...
- Perfeita! Mas agora vamos... Não temos tempo a perder... Já são quase onze horas da noite...
- Claro!- disse Lily contente, aceitando o braço que Remus lhe estendia.- Mas tenho que descer as escadas primeiro do que tu.
- Está bem... Mas porquê?
- Logo saberás...
- Lembra-me para nunca confiar em ti!- disse Remus, enquanto Lily ria-se.
- Desculpa, mas eu pensava que sabias!
- E como pensavas que eu sabia?
- Porque tu entraste pela janela! Pensei que já tinhas tentado as escadas!
- Eu tive que vir de vassoura, porque havia ainda muitas passoas no salão, quando ainda eram nove e meia e como sabia que todas as raparigas que partilhavam o dormitório contigo já se tinham ido embora, entrei pela janela...
- Muito bem... Mas foi divertido...- riu-se Lily, recordando da cara de Remus, quando as escadas tinham, de repente, desaparecido, fazendo ele escorregar até ao chão do Salão Comum.
- Não me fales nisso...
- Espera um momento... Emprestas-me a tua capa?- perguntou Lily, parando de súbito, fronte às pesadas portas que davam entrada ao Salão Principal, de onde já saía uma música muito animada.
- Para o quê?- perguntou Remus.
- Eu não sei se consigo entrar assim desta maneira... E se me reconhecem?- perguntou Lily, dando uma olhadela às portas fechadas.
- Lily! Está descansada... Ninguém te reconhecerá! E estás linda. Não tens nada que ter vergonha ou estarnervosa.- disse Remus, voltando a colocar a capa.
- O.K...
- Mas se quiseres a capa para uma entrada fenomenal, podes estar à vontade.
- Remus! Claro que não... A última coisa que quero é ser o centro das atenções...
- Olha! Aí está uma coisa impossível... Estás linda, Lily! Só um louco é que não olharia para ti duas vezes ou ainda mais!
- Estou assim tão bonita?- perguntou Lily, olhando para baixo, para acariciar o tecido suave.
- Não... Estás muito mais! E mereces encontrar o teu príncipe encantado, hoje. Por isso, aproveita ao máximo a noite de hoje, está bem?- disse Remus, abrindo as portas de Salão.- Mas já sabes! À meia noite tens de sair dali! Se não conseguires sair antes, eu ajudo-te a distrair as gémeas Spitz...
- Obrigado, Remus! Vai ser uma noite muito divertida para variar...
Lily engoliu em seco. Estava demasiado nervosa para entrar sequer no salão.
Mas após alguns segundos a olhar para as portas do salão, Lily decidiu-se por entrar, em vez de ficar ali a olhar.
Os professores tinham-se esmerado nesse ano para o Baile de Máscaras. Tinham colocado uma escadaria, com o corrimão envolvido em hera e com pequenas fadas de várias cores cintilantes, a descer até ao Salão, onde a pista de dança era contornada por várias mesinhas pequenas em cores entre o branco, o azul e o prateado. Ao fundo do salão podia-se ver um pequeno palco, onde dançariam o rei e a rainha do baile, eleitos pelos professores.
O Salão era apenas iluminado por velas, dando a este uma sensação de mistério no ar, pois estava levemente escuro.
Ao pôr um pé no primeiro degrau da escadaria, para descer até à pista de dança, uma outra música começara a tocar.
Parecia que o tempo tinha, de súbito, abrandado. Enquanto descia pela escadaria, várias cabeças viraram-se para ela, muito admirados. Cada passo parecia demorar uma eternidade a ser completado. Ouviam-se múrmúrios e sussurros a perguntarem quem era a misteriosa rapariga.
Aquilo era tão surreal...
Só de pensar que ela era considerada um ser invisível...
Quando chegou, finalmente, ao fim da escadaria, Lily olhou em volta. Entre vários rapazes, viu Remus que lhe piscou o olho, mesmo antes de desaparecer. Lily agarrou no vestido, para não tropeçar neste, e dirigiu-se, levemente envergonhada, até uma das mesas, em volta da pista de dança, de onde olhavam muitos, enquanto os que se encontravam no caminho, desviavam-se para lhe dar passagem. Logo ao sentar-se, o tempo pareceu ter voltado ao normal.
Ao olhar em volta, mais uma vez, encontrou Remus a dançar com uma rapariga mascarada de fada. O vestido era curto, muito branco, pormenorizado com pequenas borboletas azuis clarinhas, em movimento. Usava umas botas de cano alto, de um azul igual. Umas asas com pequenos pormenores azuis e prateados, erguiam-se das costas.
Pareciam estar muito felizes.
Desviando o olhar, Lily reparou em duas raparigas muito mal humoradas e de braços cruzados, que olhavam furiosas para um grupo de rapazes, que olhavam, por sua vez, para Lily. As duas raparigas, Lily reconheceu como sendo Shondra e Gina.
Perto delas dançavam Helen e Julianne, mascaradas, ambas, de anjo, Helen com o monitor de Ravenclaw e Julianne com um rapaz de Hufflepuff.
Todos pareciam estar a divertir-se... Menos ela. Ainda não tinha encontrado James, no meio daquela multidão toda. Tinha visto Peter perto da mesa dos petiscos e Sirius rodeado de um grupo extremamente grande de raparigas. Mas não James.
- Aceita uma dança?- perguntou alguém, vindo de trás de Lily.
Lily ergueu a cabeça para ver quem fizera a pergunta. Trajando uma máscara de príncipe encantado, mas reconhecível pelo seu cabelo negro todo despenteado, estava James Potter, esticando a mão a Lily, esperando que ela aceitasse.
- Claro...- disse Lily, verificando se tinha a máscara bem posta, e aceitando a mão que James lhe estendia.
- Pôs todos do Salão encantados...- disse ele, enquanto várias pessoas olhavam para o casal.
- Mesmo você?- perguntou Lily.
- Especialmente eu...- murmurou ele ao ouvido de Lily.- Para ser sincero, sinto-me como o príncipe encantado quando conheceu a Cinderella e apaixonou-se por ela...
Contente por ela e James partilharem o mesmo interesse pelos contos de fadas, Lily decidiu também dar a sua opinião sobre o assunto.
- Eu penso que o príncipe encantado só se apaixonou pela Cinderella, só por ela ser bonita, e não por ela ser simpática, gentil ou divertida. Quer dizer... E se as irmãs dela não tivessem sido tão feias... Se tivesse sido uma questão de beleza, ele poderia ter-se apaixonado por qualquer uma!
- Penso que tens razão, mas... Acho que, pela maneira como eu percebo a história, o príncipe apaixona-se pela Cinderella, porque ela fez com que, todas as outras raparigas à volta, parecessem vulgares... Não existissem... - sussurrou James ao ouvido dela, fazendo-a arrepiar-se.- Só tu.
- E... o que queres dizer com isso?- perguntou Lily.
- O que quero dizer é que, quando o príncipe dirigiu-se a ela para dançar, que ele já sabia como ela era na realidade. O sorriso que ela fazia indicava de como era engraçada e divertida. As suas conversas eram inteligentes, ao contrário da maior parte das raparigas, e via-se que tinha uma mente própria... E no olhar via-se de como também estava apaixonada por ele.
- Vejo que gostas de ler contos de fadas...
- Sim... Eu gosto, mas o meu pai é muito rígido e por isso diz que não me devo aventurar em mundos de fantasia, que não existem.- suspirou ele, triste.
- Eu penso que se quisermos, eles podem existir.- disse Lily.- Devias dizer isso ao teu pai... Uma pessoa pode aventurar-se no mundo da fantasia, mas com os pés na realidade...
James e Lily dirigiam-se agora até aos jardins, onde se encontravam a maior parte dos casais apaixonados. Lily sentou-se ao pé das margens do lago, sendo acompanhada por James.
- Está uma bela noite...
- Mas não tão bela como tu...- disse James, olhando intensamente para Lily.- Então, aceitas outra dança?
- Mas não há música!
- Se quisermos ela pode existir...- disse James, utilizando o que Lily tinha dito, anteriormente.
Parecia que tinham dançado durante toda a noite, muito juntinhos, apenas sendo iluminados pela prata do luar.
- Tu torces por mim nos jogos de Quidditch?- perguntou, de repente, James.
- Claro que sim!
- Em todos?
- Sim!
- Então isso quer dizer que pertences à equipa dos Gryffindor!
- Claro...
- Então, como é que eu nunca te vi?
- Se calhar, nunca olhaste realmente... Só viste...
- Impossível... Se te tivesse visto, nunca me teria esquecido de ti...- disse James, acariciando a face de Lily.- Qual é o teu sonho... O que queres seguir?
- Eu ainda não sei! É um mistério! Mas antes quero-me tornar escritora... Quero escrever um livro!
- Se quiseres uma opinião minha, podias rescrever a história da Cinderella.
- Achas?
- Acho que sim... Ficaria fantástica! Ah! Mas não te esqueças de prometer, a dares-me a honra de ser o primeiro a ler a história!
- Claro! Porque não! E tu? O que queres ser?
- Eu gostava de seguir a carreira de auror. O meu pai até me apoia, mas diz que eu tenho que me concentrar apenas nisso... Até já tentou fazer-me demitir da equipa de Quidditch!
- Bem! Mas tu adoras voar...
- Sim... Mas o meu pai, não. Ele teve um acidente em pequeno. Caiu da vassoura e esteve gravemente ferido durante semanas.
- Já o percebo...
- Mas tu gostas de voar?
- Eu nunca experimentei... Acho que tenho um bocado de medo de não conseguir controlar a vassoura...
- É fácil... Um dia ensino-te...
- Combinado! Mas, agora é melhor voltarmos para o Salão... Está-me a começar a doer os pés! Ainda não sei como a Cinderella aguentou dançar com eles durante a noite inteira, mas eu não vou conseguir!- disse Lily, enquanto puxava James pela mão.
- Já te disseram como és engraçada?- perguntou James, enquanto se ria, ao chegar ao Salão.
Lily corou levemente, mas não respondeu.
- James!- chamou alguém da mesa mais próxima. Era Shondra. Gina não estava com ela. Supostamente deveria ter ido buscar bebidas.- Vamos dançar!
- Caso ainda não tenha reparado estou a ter uma conversa com esta jovem e foi muito indelicado da sua parte interromper-nos!- disse James, fazendo Shondra levantar-se e afastar-se deles, mas não antes de deitar uma última olhadela desconfiada a Lily.- Quem era aquela?
- Uma rapariga muito mal educada!- disse Lily, esperando que ela não a tivesse reconhecido.
- E quem és tu?- perguntou ele, fazendo com que ela o olhasse nos olhos.
- Uma rapariga que veio a um baile de máscaras, com a esperança de encontrar o seu príncipe encantado...
- E ela encontrou-o...?- perguntou ele, aproximando-se de Lily cada vez mais.
- E AGORA VAMOS ANUNCIAR, O REI E A RAINHA DO BAILE!- disse uma voz muito alta, que ressoou por todo o Salão.
- Eu tenho de ir!- disse Lily, afastando-se de James.
- O que estás a falar?
- Desculpa! Mas eu tenho de ir... Obrigado pela noite de hoje!- continuou Lily, começando a correr de volta para o castelo.
- Espera! Eu nem sei quem és! Espera!
Lily correu pelo Salão com alguma dificuldade, pois todas as pessoas queriam chegar-se perto do palco, enquanto que ela queria fugir na direcção oposta. Quando saíra pelas portas do Salão, Lily começou a subir as escadas, mas alguém a impediu de continuar.
- Lily! O que aconteceu?- perguntou Remus.
- Já é meia-noite! Tive uma noite maravilhosa! Mas, não digas nada ao James sobre quem eu sou, Remus! Por favor!- disse Lily, correndo pelas escadas acima.
- Tem calma! Eu vou contigo!- disse Remus, ajudando Lily com o vestido.
- ESPERA! NÃO TE VÁS!- gritou James, que alcançara as portas do Salão.
Mas Lily já desaparecera. Desiludido por não saber, nem sequer, o nome da jovem rapariga, James voltou a descer as escadas, mas quando já estava a meio, viu um sapato de cristal, que Lily deixara cair.
- O sapato dela...- disse James, sorrindo.
- O que aconteceu, James?- perguntou Remus, que estivera à espera que o amigo chegasse.
- Tu nem imaginas o que me aconteceu!- disse James, sentando-se na poltrona à frente da de Remus.
Estiveram a falar os dois até à uma e meia da manhã. James não parava de dizer como a noite tinha sido fantástica e como conhecera uma rapariga misteriosa, mas que não sabia o nome dela, e como estava apaixonado por ela.
- E, quando ela fugiu, deixou cair este sapato de cristal!- disse James, mostrando o sapato a Remus, que o reconheceu como fazendo par do outro de Lily.
- Olha... Quem diria! Uma Cinderella em Hogwarts!- disse Remus, disfarçando o sorriso, que lhe aparecera na cara.
- Lily! LILY!- chamou Shondra, logo que entrou no dormitório.
- Pelo menos limpou o dormitório- disse Gina, vendo que tudo estava no seu devido lugar.
- Minha grandíssima idiota! Nós só desarrumámos o quarto para ela limpá-lo!- disse Shondra, zangada, batendo levemente, na testa da irmã.- LIL...!
- Sim?- perguntou Lily, saindo da casa de banho, com uma toalha a envolver o seu copo e outra na sua cabeça.
- O que estavas a fazer?- perguntou Shondra, erguendo uma sobrancelha.
- A tomar banho...
- E porque é que estavas a tomar banho?- perguntou Gina, colocando as mãos nas ancas.
- Porque eu transpirei muito, enquanto limpava o quarto...- mentiu Lily, simplesmente.
- Espero bem que sim... Porque se descubro, que foste ao baile... Podes ter a certeza que me vou vingar!- disse Shondra, virando as costas, e entrando na casa de banho.
- Podes, então, estar descansada que isso não vai acontecer!
- Toma a varinha!- disse Gina.
- Porque é que está ela assim?- perguntou Lily, disfarçadamente.
- Porque uma rapariga roubou-lhe o lugar de rainha do baile ao lado de James...
- E quem era essa rapariga?
- Não sei... Ninguém sabe! É um mistério. Só se sabe que o James está completamente apaixonado por ela... Pelo menos viasse na maneira como dançaram a noite inteira...
- Apaixonado...- murmurou Lily, sorrindo, e com um toque de magia, secou rapidamente o cabelo.
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