"Great Expectations"
- Você vê alguma coisa? – perguntou Sirius parando próximo à uma arvore nos terrenos do castelo. A escola estava fechada, mas ainda sim, não era possível aparatar dentro dos portões... Motivo pelo qual tanto ele quanto Lupin cuidavam em percorrer a distância do povoado até Hogwarts...
- Não... – respondeu Lupin observando a colina que jazia frente aos dois. No topo, beirando o lago, estava Hogwarts... Ou pelo menos o que havia restado dela. A visão da escola destruída daquele jeito, por si só já era perturbadora o suficiente. Isso acrescentado À tensão da situação tornava tudo ainda mais intenso, e de certo modo surreal.
Mais de uma vez, durante os últimos meses se perguntara o que Albus seria capaz de fazer para que o que planejara não fosse por água abaixo... E ainda sim não conseguia se forçar em acreditar que ele poderia causar qualquer mal a Harry. Mas. Ali eles estavam não? Perseguindo Dumbledore, que por sua vez havia seguido Harry. Isso... Toda aquela confusão já havia ultrapassado o ponto da compreensão, visto que ele próprio estava prestes a enfrentar quem por tantos anos considerara de absoluta confiança.
Lupin tinha experiência suficiente para saber que nada na vida era preto e branco... Entretanto, se fosse necessário para ele julgar... Não queria pensar... Não comentara nada com Sirius... Mas sabia que Dumbledore não era o vilão da história.
Não concordava com os seus meios, mas não podia tirar(por mais que desejasse), a razão de seus fins. Afinal... Se não fosse Harry, quem poderia ser?
- Remus! – chamou Sirius acordando o amigo que parecia completamente disperso em devaneios. – Olhe! – disse apontando para uma parte das ruínas.
- O que foi aquilo? – questionou Lupin ao ver uma luz vermelha iluminar a Ala sul por um momento, e então fenecer.
- Ele já está aqui. – murmurou o amigo. E Lupin observou enquanto um impulso e determinação extra tomava conta do amigo. - Você acha que ele...? – começou adiantando o passo, a varinha em punho e uma expressão receosa no rosto. Lupin calou-se por um momento, até que respondeu:
- Provavelmente. – havia uma única razão pela qual Dumbledore nada fizera para impedir a vinda dos garotos para ali. Era distante e reservado o suficiente... Ele havia entregado Harry a Voldemort de bandeja. E se ele já não estivesse ali, provavelmente estava a caminho.
Considerou se não deveria recusar-se a falar a verdade à Sirius. Sabia que viria a hora em que Harry teria que enfrentar Voldemort. Dumbledore, simplesmente a estava adiantando, de seu jeito. Entretanto, depois de tudo por que o amigo havia passado... Não tinha certeza de como ele encararia mais uma perda. Ele, ao contrário de Sirius, sentia que certa resignação, ou mesmo aceitação quanto ao destino do garoto já havia se instalado. - adiantando seu passo para alcançar Sirius, Remus não pode deixar de assimilar completamente a certeza daquilo tudo.
Não era justo...
- Nós estamos muito longe... – reclamou Sirius com óbvia frustração. Não havia nada que eles pudessem fazer. Corriam o mais rápido que podiam... Entretanto, colina acima, isso não era necessariamente de grande valor. A impressão que ele tinha era de que cada segundo perdido contava como minuto. Uma sensação de impotência lhe acompanhava desde que descobrira a verdade sobre a profecia. E agora, era como se aquele sentimento houvesse aumentado ainda mais, e não havia nada que ele pudesse fazer para impedir aquilo. Se o afilhado jamais precisara de sua ajuda, agora precisava mais que nunca. E por mais que uma vozinha amarga e mórbida anunciasse o contrário em sua cabeça, Sirius recusava-se a acreditar que pela primeira vez, não havia nada que ele pudesse fazer...
- Espere. – pediu Lupin parando. Com os ouvidos atentos, ele observou ao redor. Tinha certeza de que ouvira um barulho de passos. Sirius não parecia estar decidido a chegar à escola, com ou sem barulhos. Remus estendeu o braço fazendo sinal para que o amigo parasse.
- O qu... Nós temos...
- Shsh. – pediu. – Então, Sirius também ouviu. Passos, nos galhos jogados pelo chão da floresta. Comensais. Provavelmente... Sabia que eles estavam a caminho, entretanto, contava coma esperança de que durassem mais tempo para chegar...
Os passos aceleraram do mesmo modo que se aproximaram. Não podia enxergar nada, mas dada à rapidez com a qual eles se moviam... Pareciam estar correndo.
Pareciam ser dois... Dois? Talvez... Não via nada, e não podia arriscar ser pego antes de chegar até Harry. Então, tanto ele quanto Lupin, cuidaram para que pudessem se afastar o máximo possível do barulho. Com sorte e alguns atalhos, chegariam até os garotos primeiro.
Harry sentiu suas pernas cansarem de tanto correr. Entretanto, a força do braço da amiga puxando o seu ainda forçava-o a manter o pique com o qual haviam saído do castelo. Não imaginava que Hermione pudesse correr tanto. E ainda sim, talvez ela fosse movida puramente por desespero, enquanto que ele sentia-se completamente entorpecido com os últimos acontecimentos. Tentava raciocinar... Mas a coisa toda parecia ter fugido do seu controle havia muito tempo...
- Harry! Não... Por favor... – pediu a menina ofegante, ao sentir que o amigo havia reduzido o ritmo. Uma urgência frenética de tirá-lo dali o mais rápido possível havia e apoderado dela... Sua cabeça estava confusa, distorcida... Havia Rony, eles tinham que ajuda-lo. Não sabia como, ela não sabia como... Não sabia nem como os dois iriam sair dali, estavam no meio do nada!
- Vamos... – murmurou Harry, sem muita certeza do que saía de sua própria boca. Ainda tinha a imagem do amigo caído na mente. E se os comensais chegassem...? O que eles fariam? Uma súbita sensação de desespero começou a tomar conta dele... Eles precisavam de ajuda. Mas... – Harry parou.
- Harry! – exclamou Hermione. Como ele não havia pensado naquilo antes? Seu choque tinha sido tamanho que ele perdera o veio do raciocínio lógico por alguns minutos.
- Nós temos que ir. – cortou Harry. Hermione observou o amigo. Não era isso que eles estavam fazendo? – Londres... Nós temos que voltar. – disse Harry. Eles precisavam de ajuda... E ele sabia de quem. Voltando-se para Hermione ele puxou-a pelo braço e desatou a correr em direção ao povoado. – Sirius, nós precisamos de Sirius!
Sirius percorreu os corredores do castelo, a varinha em punho e Lupin logo atrás. Os dois seguiam para a ala sul. Entretanto, a maior parte do castelo estava em ruínas, e chegar até lá não foi uma tarefa exatamente fácil...
O corredor era longo e estava completamente escuro. Um silêncio Avesso pairava no local. Apesar do alívio de não encontrar... Bom, ausência de todos eles era no mínimo estranha...
- Sirius! – exclamou Lupin correndo em sua frente e abaixando-se em um ponto. E então ele viu. Um corpo, estendido no chão junto ao amigo. Não soube distinguir bem a expressão de Lupin, mas... Um desespero crescente... Sentindo o coração saltar-lhe pela boca, Sirius acelerou os passos e antes que piscasse novamente já se aproximara do amigo que se mantinha curvado sobre o corpo. Não... Não podia ser... Aquele era Harry...?
- Não... – sentiu-se murmurar aproximando-se do garoto. Sua mente estava difusa... Até que ouviu a voz de Lupin meio que distante, arrancando o de seus pensamentos:
- Rony! – chamou Lupin com a voz rouca.
- Rony...? – Sirius agachou-se ao lado do amigo. Seus olhos percorreram dos cabelos vermelhos para o rosto sem expressão. Não era Harry... Ele tinha os olhos fechados, ele estava...?
- Ele está morto...? – perguntou ao observar Lupin checar-lhe o pulso. Não podia negar o imenso e arrebatador alívio que sentiu ao notar que aquele não era Harry, mas sim Rony. Entretanto, aquele era Rony...
- Não... – respondeu Lupin, também parecendo tão aliviado quanto ele próprio. – Mas... Eu, eu acho... – recomeçou ao observar o estado do garoto. – Ele precisa de um hospital... – concluiu Lupin, visto que Rony continuava desacordado...
- Remus... – iniciou Sirius levantando-se e olhando em volta. – Onde está Harry? – perguntou. A preocupação que sentia antes, e que havia sido desviada para Rony voltando com toda a força.
Lupin fitou o amigo. Podia notar a imensa preocupação dele. De fato... Se Rony estava ali... Onde estava Harry, e mais importante, ele estava bem? Ou Dumbledore havia chegado e...
Sirius afastou-se dando alguns passos para trás. Lupin ainda observava Rony, e estava prestes a pedir a ajuda do amigo para carregá-lo quando um barulho oco soou chegando aos seus ouvidos.
- O que foi isso? – perguntou levantando os olhos e fiando Sirius que havia se afastado alguns metros.
- O qu...? – Sirius virou-se num repente. Havia batido em alguma coisa. Uma superfície fria e dura. – Eu bati em alguma coisa. – murmurou Sirius em resposta, estendendo a mão e tocando no nada. Nada, não havia nada lá. Ou seus olhos o estavam enganado, ou ele havia perdido o juízo. – Remus.
Lupin levantou-se e se aproximou do amigo. Franzindo o cenho, ergueu a varinha e pediu que ele se afastasse. Sirius o fez. Com um gesto rápido de varinha, Lupin murmurou um encantamento.
Por um segundo ou mais, Sirius esperou pelo resultado. E nesse tempo, nada ocorreu exceto silêncio. Era como se o feitiço houvesse atravessado o que quer que aquilo fosse... Mas então, um barulho ressonante, ensurdecedor, fez se ouvir no corredor, vibrando, uma luz forte violeta voltou pelo mesmo lugar por onde fora... Iluminando o local ofuscando seus olhos. Num gesto rápido e instintivo ele abaixou-se. E então tudo escureceu novamente, como se nada houvesse acontecido.
- O que diabos...? – resmungou ele preocupado. Agora eles realmente precisavam sair dali. Qualquer um num raio de quilômetros seria capaz de achá-los depois daquilo...
- É um escudo... – murmurou Lupin, com os olhos fixos no alvo. Não tinha muita certeza se deveria se sentir aliviado ou preocupado agora... Entretanto, sabia que Harry estava vivo. Pelo menos por enquanto...
Voltando-se para Rony num repente, ele começou a carregá-lo. Sirius se mantivera parado por um segundo.
- Sirius! – chamou. – Me ajude... Nós temos que voltar para Londres. – disse apressadamente.
- E Harry?! – insistiu Sirius. Eles tinham que ir atrás do afilhado... – Nós temos que ajuda-lo!
- Ele está bem! – respondeu Lupin. Sirius ajudou-o a levantar o corpo de Rony inerte. – Hermione ainda está com ele... – acrescentou. Eles tinham que sair dos terrenos do castelo o mais rápido possível.
Além do fato de que Rony precisava de auxílio... Lupin sabia que Hermione conseguira deter Dumbledore por um dado momento, mas... Muito em breve, aquilo não seria mais suficiente, e ela não tinha capacidade para esquivar-se dele novamente...
Lupin adiantou o passo. E ainda sim, havia Voldemort. Que a essa altura, Lupin duvidava não saber que Harry escapara da proteção da Ordem há muito tempo... E apesar de ser de grande ajuda, não havia muito que ela, ou mesmo ninguém, pudesse fazer para impedi-lo de achar Harry.
Harry bateu com força na porta de madeira. Ouvia a respiração pesada de Hermione ao seu lado. Não fazia idéia de quanto caminhara até ali, mas sabia que tinha sido bastante... Pelo menos o suficiente para cansar-se terrivelmente.
Entretanto, dado o fato de que deveriam chegar a Londres, chegar até ali não contava muito... Estavam a pé. E a não ser que conseguissem alcançar uma estação, ou o Noitebus, ou qualquer outro meio de locomoção, tanto ele quanto Hermione estariam presos naquele vilarejo até que Dumbledore, ou... Voldemort. – pensou com nervosismo.
Esperando para que a porta da charneca se abrisse, Harry voltou-se para a amiga. Hermione observava o caminho pelo qual os dois vieram... Sua mente estava longe, Harry sabia. E entre todas as preocupações que lhe acometiam agora, tais como a segurança da amiga e a sua própria... Havia uma que persistia em transpor todas as outras... Rony.
Hermione observou os trilhos de trem que os dois haviam seguido... Por um breve momento, durante aquela noite, uma resignação e certeza a havia preenchido... Tinha um objetivo: tirar Harry dali, tirá-lo dali o mais rápido possível... Mas agora...
Uma sensação de impotência familiar havia se restabelecido dentro ela. A compreensão esmagadora de tudo quilo que estava acontecendo nos últimos dias... Dumbledore, e a sua traição. Rony. Harry, e... A profecia... Tudo. Estava saturando a sua mente, e deixando-a completamente perdida e sem noção, de nada...
- Nós precisamos de um quarto... – murmurou Harry aproximando-se do balcão.
- Certo... – a mulher voltou-se de Harry para Hermione. E então para Harry novamente. Ele notou que a mulher demorou-se por uns segundos nas roupas dos dois. Estavam completamente enlameados, ambos... Notando a desconfiança da mulher, Harry adiantou:
- As chaves? – apressou ele com ar impaciente. O local era pequeno e antigo. Não muito diferente do resto do que mais parecia uma vila que uma cidade propriamente dita...
- Quarto dezoito. – disse a mulher em resposta.
Estendendo um molho de chaves colocou-as no balcão. Harry apanhou-as e voltando-se para Hermione que parecia totalmente alienada à atenção recebida por parte da recepção, pegou-lhe a mão e seguiu escadas acima.
Com uma rápida olhada no que parecia ser um bar, Harry observou sem muita demora o quão trouxa o local era. A passagem dos dois passara completamente despercebida, o que já era um imenso alívio... Um murmúrio comum indicava a normalidade do lugar. Era como se tudo ali fosse desconecto da realidade... Era difícil para ele assimilar o quão alienados todos ali estavam da realidade de sua situação. Estavam tão perto de Hogwarts, e de Hogsmead, mas ao mesmo tempo tão distantes de tudo que era mágico...
Não fazia sentido... – ele caminhou até a porta. Um número talhado em preto na madeira identificava o local. Girando a chave na porta, Harry se pegou imaginando se a ignorância deles com relação àquilo tudo não era preferível ao conhecimento da verdade que ele tinha... Talvez... Fosse melhor assim...
Hermione caminhou até a cama e sentou-se. Não se lembrava de ter tantos pensamentos e sentimentos correndo pela sua mente e seu corpo ao mesmo tempo... Estava cansada, mentalmente, fisicamente. Assustada, magoada, completamente perdida... E acima de tudo, sentia-se absolutamente inútil. – Baixando a cabeça ela apoiou o rosto nas mãos e sentiu duas lágrimas quentes escorrerem pelo rosto e caírem no assoalho antigo e empoeirado do quarto.
Harry observou do outro lado da janela, estava próximo de amanhecer, apesar da escuridão que ainda se instalava lá fora. Correndo os olhos pela rua estreita, Harry certificou-se de que ela estava vazia antes de virar para fitar Hermione. Estava prestes a sugerir começar a pensar em uma forma de voltar para Londres, quando seus olhos recaíram sobre a amiga.
Ela estava de cabeça baixa. E pelo ligeiro fungar que ouvia, com certeza chorava. Se em algum momento durante aquela noite ela demonstrara o máximo de segurança e determinação, estava óbvio para Harry que o completo oposto havia se apossado dela e ela cedera ao desespero.
Tateando algo em sua mente para acalmar a amiga, ele caminhou até ela ajoelhando-se:
- Hermione... – mas então ele parou. O que poderia dizer? Como ele poderia dar garantias a ela quando ele próprio não tinha certeza de nada?
- Eu... – murmurou ela. Harry reteve o impulso de dizer algo e observou a garota que ainda mantinha a cabeça baixa. – Eu não ajudar... Eu...
- Mione não...
- Eu sinto muito... Eu não... – ela parou. E após um momento continuou com um ar desolado. – Eu não posso te ajudar... Foi por isso...? – Harry piscou, ela não fazia sentido algum...
- Hermione eu n...
- Foi por isso, você... – murmurou Hermione sem dar ouvidos à interrupção. – V-você não disse... Você foi embora, e... N-não...
Harry calou-se. Sabia do que ela estava falando... Também sabia que aquilo não fazia sentido algum...
- Não... Herm...
- O qu...? Você contou a Rony, você...
- Hermione. – pediu Harry, mas ela continuou:
- Eu teria ido com você... – Harry piscou. Ela parecia ter perdido completamente o controle, e começava a chorar copiosamente.
- Eu sei... Isso n...
- Você não queria? É isso? Por que... Se, não! – insistiu ela com o rosto lavado em lágrimas, visto que Harry fez menção de interrompê-la. – Não... E - eu... – tateou ela em busca de uma explicação, qualquer explicação. Ela só precisava entender o porquê daquilo tudo, porque as coisas tinham chegado até aquele ponto... Afinal, eles eram amigos! Certo? – Nós, eu... Nós não éramos amigos...? Por quê? Por q...?
- Não! Não... Hermione, o qu... – Harry se calou.
Por várias vezes, incontáveis na realidade, ele sentiu-se culpado pelo acontecido... Entretanto, sabia que era por uma causa maior. Nunca havia parado realmente para pensar em como as coisas teriam parecido do ponto de vista dela... Ainda sim... Nada daquilo que ela dizia fazia sentido algum e estava o ais distante da verdade possível.
Movido mais por culpa que qualquer outra coisa, Harry recomeçou, sentindo que já deveria ter dito aquilo a muito tempo atrás:
- Me desculpe... – murmurou ele. – Eu devia ter dito. Eu não devia ter ido embora... Eu... Desculpe... – repetiu, ao perceber que além daquilo, não havia muito que dizer... E então, ele se aproximou e a abraçou. Ela não revidou, mas também não retribuiu.
Ele poderia justificar, listar vários motivos pelos quais ele havia feito tudo aquilo, e estes não lhe faltariam. Era sua falha, seu erro, não dela, ou de ninguém mais pra falar a verdade. Ele só queria...
- Hermione... – Ele queria que ela soubesse que se ele não havia contado, não era porque ela não importava, mas o contrário! Ela era a mais importante...
Harry voltou-se para a amiga e segurou o rosto dela com as mãos, de modo que ela pudesse ver o quão arrependido ele estava e o quão verdadeiro era aquilo que ele estava dizendo:
- Eu sabia... Eu sabia que se eu contasse, e... Você não me deixaria ir. – Hermione fez menção em interromper, mas Harry continuou. – E, se você... Se você dissesse... Se você me pedisse pra ficar, ou... Ou ir embora, pra qualquer lugar! Não! Ouça... – pediu novamente, visto que ela parecia determinada a falar. – Eu não ia pensar duas vezes... E eu iria com você... E eu não posso. Você, você entende...?
Hermione aquiesceu. Alguns segundos atrás, ela estava pronta para protelar, e argumentar a plenos pulmões, sobre tudo... Mas, agora... As palavras haviam fugido de sua mente, não havia mais o que dizer... E ainda... Não havia razão, havia? Não importava. E, se seria daquele jeito... Se teria que ser assim, então... Só havia uma coisa que... Ela...
Harry fitou a amiga por um momento. A ele parecia que havia muito ocorrendo em sua mente, visto que ela nada disse. Entretanto... Não demorou muito para que num movimento repentino ela se aproximasse e...
Hermione ainda estava sentada na cama quando se abaixou e colocando as suas mãos nas dele, ela o beijou.
Era como se Harry houvesse assistido os movimentos da garota meio que letárgico, visto que por um segundo ele não fez nada, até que... A realidade, a sensação dos lábios dela nos seus... Ele queria aquilo. Queria aquilo tão intensamente, por tanto, tanto tempo, que havia esquecido daquele desejo. De quão macios, e quentes...
Ele queria, mais... Mas, quanto mais ele a beijava, quanto mais ele a puxava para perto de si... Mais parecia que “mais” não era suficiente.
Era loucura. E se não só por ele próprio, mas pelo fato de que se ele estava completamente tomado pelo momento, ela parecia ainda mais... E foram as mãos dela que percorrendo sua nuca, e braços, afastaram seu casaco. E antes que ele próprio pudesse raciocinar...
Havia uma parte de seu cérebro, pequena, muito pequena que lhe avisava que ele provavelmente não devesse fazer aquilo. E talvez... Só talvez, ele devesse por um fim naquilo...
Hermione beijou-o novamente, arrancando qualquer pensamento de sua mente. Qualquer pensamento, idéia, ou mesmo sugestão de algo que fosse de encontro àquela sensação.
Harry se lembrava da última vez que os dois haviam se beijado... Aquilo era diferente, de tudo que ele jamais sentira em toda a sua vida. Era forte, intenso, quase devastador... Como poderia...? Algo, alguém, tão...
Não. Não havia como, definir, explicar... Ela era... Linda. Sua pele, seu toque, seu cheiro... Tudo. Ela era... Perfeita.
Harry encostou a têmpora no vidro embaçado da janela. Ainda estava escuro lá fora, o frio embaçava a o vidro, dando um aspecto esfumaçado e disforme à paisagem da rua deserta lá em baixo.
Sentado no parapeito, seu pensamento estava longe, mais longe e obscuro do que gostaria, e do que jamais admitiria para Hermione.
Hermione...
Seus olhos voltaram-se para a garota deitada na cama. Alguns minutos atrás, ela havia adormecido. Harry não a acordou, sabia que ela estava cansada, ele também... Não tinha certeza de quanto tempo passou observando-a, a verdade era que ele continuaria a fazê-lo se pudesse... Mas ela moveu-se lentamente, abrindo os olhos, e fechando-os novamente em seguida.
Harry levantou e caminhou até ela deitando-se ao seu lado. Não disse nada, era como se qualquer coisa que dissesse não fizesse jus ao que sentia no momento. E ao mesmo tempo, uma culpa arrebatadora tomava conta dele. Sabia que tudo que conhecia desabava lá fora, entretanto... Uma certeza, mais completa do que jamais sentira em sua vida, lhe dizia que mesmo assim... Ali, com ela, ele estava feliz.
Ele acariciou os lábios da garota gentilmente, e um sorriso suave formou-se em seus lábios. Harry não teve muita certeza se a amiga estava acordada, ou talvez... Fosse o que fosse... Ela parecia saber exatamente o que passava pela mente dele, e as palavras que ele murmurara quase inaudivelmente, visto que ainda com os olhos fechados, ela sussurrou:
- E eu amo você... – Harry não podia dizer que as palavras não o haviam afetado. A verdade era que ele provavelmente já sabia daquilo, mas... Ouvi-la... Foi uma outra gama de sensações, das quais ele não se lembrava de jamais ter experimentado antes...
Hermione abriu os olhos. Harry sorria. Pode notar um resquício de surpresa característica nos olhos do amigo. Não era a primeira vez que ela lhe captava os pensamentos...
Harry fitou-a por um momento, até que observou o sorriso de Hermione lentamente desfazer-se, então, ela encarou-o séria:
- Eu não quero que você vá. – ajeitando o lençol que cobria o seu corpo e aproximando-se dele de modo a ficarem frente a frente. Harry piscou, sentindo que seu próprio sorriso já havia sumido.
- Hermione... – começou ele, mas ela interrompeu, com um ar pedinte:
- Harry, eu sei... Eu sei que você acha que deve fazer isso, mas... Você não...
- Hermione, eu n... – mas ela apressou-se em continuar, agora adquirindo uma leve urgência no tom:
- Não! Ouça... Você não precisa! Harry, por favor... – pediu ela, sua voz tremendo levemente. Harry se afastou sentando na cama. Sabia que ela faria aquilo, e sabia que deveria estar preparado, mas era... Não, não, ele não podia.
- Pare... – pediu Harry.
- Não! Harry, por favor!- interveio ela segurando seu braço, ao ver que o amigo estava prestes a se levantar. – Você disse! Não, Harry... Você... Você disse, lembra? Você disse que se eu pedisse...
- Hermione...
- Não! – cortou ela com uma exclamação, agora parecendo realmente desesperada. – Se eu pedisse você ficaria! Lembra? Eu estou pedindo! Harry, por favor... Eu estou pedindo! Não vá, por favor... Não vá!
- Hermione, eu tenh... – recomeçou Harry, procurando segurar as mãos da amiga que apertavam seus braços com força, mas ela não queria ouvir:
- Não! – exclamou ela. Harry calou-se. – Você não tem! – acrescentou, e então, Harry observou a amiga baixar os olhos, e tremer levemente. Ela estava chorando.
Harry respirou fundo. Sabia o quão profundamente ele queria atender aquele apelo da amiga. E o desespero dela, só tornava as coisas ainda piores de se aceitar. Ela encostou a cabeça no ombro dele e baixou os braços, com um ar de derrota e exaustão. E com um tom de lamento cego, que Harry jamais ouvira dela:
- Não vá... Por favor, não... Harry, eu... – tateou com a voz embargada. – Eu tenho um mau pressentimento sobre isso... Por favor, não... – Harry levantou o rosto da amiga para fita-lo, podia ver medo em seus olhos:
- Sh... – tentou, pondo os braços ao redor dela e aproximando-se. – Não, tudo bem... Vai ficar tudo bem... – acalmou-a ele, afagando seus cabelos e puxando-a para junto de seu peito, ele acomodou-se com a garota no travesseiro novamente. E após um momento breve de silêncio, ele acrescentou:
- Eu vou ficar... – Hermione aquiesceu após alguns minutos, e então, adormeceu.
Ele não ia ficar.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!