Primeiras Impressões
CAPÍTULO 2 – PRIMEIRAS IMPRESSÕES
- O que há com você? – ele perguntou, enquanto tirava uma mecha de cabelo dos meus olhos. Eu bebia o suco de abóbora que ele havia trazido, tentando pensar no que fazer com relação ao que estava acontecendo. – Está tão estranha...
- Cansaço... – respondi friamente, assustada demais para pensar em qualquer outra resposta.
Ele se levantou da cama, indo em direção ao armário e pegando uma enorme jaqueta de pele de dragão.
- As crianças estão desesperadas para brincar na neve. Você vem? – ele perguntou enquanto colocava a jaqueta. Sacudi a cabeça negativamente.
- Não esqueça que vamos almoçar na Toca hoje. Harry também vai estar lá, não me deixe esquecer de levar o presente dele. Até daqui a pouco.
Forcei um sorriso, e ele saiu. O que estava acontecendo? Que lugar estranho era esse? Eu ansiava por respostas e não consegui ficar parada. Levantei-me e abri o guarda-roupa: nenhuma das minhas capas azul-celeste, nenhum dos meus cachecóis alaranjados, nenhuma das minhas roupas estava ali! Mas havia alguns vestidos coloridos e compridos, e algumas capas escuras e desbotadas, porém caprichosamente arranjadas em grandes cabides. Me arrumei da melhor maneira que pude, e desci as escadas rumo ao que devia ser a sala. Pequena, porém confortável. Ao lado da lareira havia uma árvore de Natal com alguns papéis de presente jogados ao seu redor. Do lado oposto dois sofás de frente para um pequeno televisor compunham o charme do aposento, e em cima de uma estante estavam colocados dois porta-retratos. Caminhei até eles, como se aquelas fotos pudessem me dar alguma explicação mais concreta sobre o que acontecia. Em um deles, Rony ria equilibrando as duas crianças em seu colo. No outro estava uma foto mais antiga: Rony vestido com um terno bege e um cravo na lapela ao lado de uma mulher bem mais baixa que ele, trajando um lindo vestido pérola. Os dois sorriam. Quando percebi exatamente do que se tratava, o porta-retrato escorregou de minhas mãos, caindo diretamente no chão. Recolhi imediatamente os pedaços de vidro quebrados, e recoloquei a foto no lugar, ainda sem conseguir acreditar que a bruxa de vestido pérola era eu.
- Ok Hermione, se acalme. Você tem certeza de que tudo isso não passa de uma brincadeira de mau gosto! – eu falava em voz alta tentando me convencer de que minhas palavras eram verdadeiras, enquanto dava voltas e mais voltas pela sala. Olhei pela janela e vi que Rony e as duas crianças estavam na metade de um boneco de neve.
- Pó de Flu! – continuei – Preciso de pó de flu! Deve estar em algum lugar por aqui... – corri até a lareira, e encontrei a pequena caixinha escondida na lateral. Olhei mais uma vez para fora, e parecia que a brincadeira estava apenas começando. Peguei um pouco do pó e coloquei minha cabeça dentro da lareira. No momento em que me preparava para joga-lo, ouvi um barulho atrás de mim. Gina estava parada, de costas.
Antes que ela pudesse ter qualquer reação, recoloquei o pó de flu em seu recipiente ao lado da lareira, e esperei que ela notasse minha presença. Quando finalmente se virou, foi com um sorriso que me encarou.
- Olá Hermione. Como passou a noite de Natal?
“Confusa”.
- Uh... bem. Bem, obrigada.
Não pude deixar de reparar em como estava linda: os longos cabelos ruivos se misturavam à capa vermelha que ela usava, valorizando ainda mais o brilho de seus olhos. A vontade que tive foi de correr e abraçar a amiga que eu não via há tantos anos, mas que nunca se esqueceu realmente de mim. Ao contrário do irmão, Gina sempre me mandava cartões no Natal e em meus aniversários.
- Vou chamar Rony. Precisamos ir para a Toca, mamãe está esperando. E antes tenho que passar no Beco Diagonal. Esqueci o presente de Harry na Garatujas. E por falar em presentes... – sua voz pareceu adquirir um tom especialmente contente – adivinhe quem me deu isto.
Ela então ergueu uma das mãos, mostrando o pulso. A luz que emanava do objeto em seu braço reluzia, e me aproximei para poder ver melhor. Tratava-se de uma pulseira dourada, com o nome dela escrito com fios de prata flamejantes. Eu nunca havia visto algo tão lindo em minha vida.
- Não vai me dizer que Harry te deu isso? Vocês...
- Hermione, você sabe que Harry não teria sensibilidade suficiente para comprar um presente desses nem se fosse para a própria mãe. – e aqui sua voz pareceu hesitar. – você não vai acreditar quem comprou isso pra mim!
Realmente eu não conseguia imaginar. Ao ver que eu não responderia à sua pergunta implícita, ela concluiu:
- Gregory Tompkins!
Pela reação de Gina ao perceber que eu não demonstrei nenhuma emoção, eu acredito que deveria saber de quem se tratava. Mas nunca havia sequer ouvido o nome do pretendente.
- O Gregory, Hermione. Que trabalha com a gente na livraria!
“Trabalha com a gente? Livraria?”
- Livraria, Gina? Isso é demais! – eu perdi a paciência no momento em que Rony entrava com as crianças, os casacos cheios de flocos de neve – Será que alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? – gritei. Para minha surpresa, Rony falou com a voz mais doce que eu já ouvira:
- Calma, Hermione, é apenas neve. – e com o toque de sua varinha, o chão se limpou. – não precisa ficar nervosa.
- Não precisa ficar nervosa? – Minha intenção era continuar gritando, despejar toda a raiva que eu sentia por não saber o que acontecia ao meu redor em Rony. Afinal, ele era o responsável por essa situação desagradável. Mas o rosto sobressaltado das crianças me encarando não permitiu, e me senti envergonhada. – Francamente, Ronald...
Não consegui falar mais nada, nem mesmo para tentar dissipar o clima ruim que havia se formado. Gina foi a primeira a se manifestar:
- Vou ao Beco Diagonal buscar um presente que esqueci. Encontro vocês mais tarde na Toca.
- Uh... vou com você, Gina. – eu não suportaria ficar mais um minuto olhando para a cara de bobo do Rony. Antes de aparatarmos, ouvi uma fina voz infantil comentar:
- Mamãe nunca gostou de viajar por flu, não é?
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