Dor e Solidão - III
[III]
Acordou com os raios de sol batendo em seu rosto, passando a esconder-se debaixo dos lençóis e edredons e rindo de sua própria infantilidade. Não havia motivos para rir, ele sabia, mas muito menos havia motivos que fizessem com que ele chorasse. E era isso que importava.
Hoje era o dia do início do resto da vida dele. Ele faria questão de fazer tudo ser diferente, ele teria todas as pessoas que afastara de volta, teria sua vida social de volta – passeios, boates, programa com os sobrinhos. Seria a pessoa que há muito estava esquecida, a pessoa que aproveitava todos os segundos, ao máximo. Seria o Ron por quem Hermione se apaixonara, mais que tudo.
Levantou-se de um pulo. Correu para o banheiro bagunçando ainda mais seus cabelos, precisava de um banho para realmente acordar e encarar a realidade que mudara de uma hora para outra, bruscamente, mas, ao menos dessa vez, ele mesmo quisera essa mudança.
Cantando alto o hino dos Cannons – como fazia com seu pai em dias de jogo -, seu ânimo já lhe pareceu melhor do que em anos. E o dia só prometia: A Toca, brincadeiras com os sobrinhos e uma coisa que ainda não estava muita certa, mas que ele sabia que precisava fazer. Algo que ele devia ter feito há muito tempo atrás, mas que, até ontem, lhe faltara coragem.
Tremendo de frio ao sair do banho, agarrou-se a toalha o mais rápido que pôde, secando primeiramente o rosto e os cabelos que caíam em seus olhos. O cheiro de Hermione que estava presente na toalha invadiu-o e seu coração falhou uma batida.
Descendo lentamente a toalha de seu rosto e deixando apenas seus olhos de fora, encarou-se no espelho. O que viu fez com que seu coração falhasse uma outra batida. Sabia o que fazer de sua vida em relação a tudo, menos ao que era mais importante: Hermione.
Se a realidade seria assim a partir de agora, com Ron sozinho, era melhor que ele se acostumasse o quanto antes, ou seu coração pararia a qualquer momento. Ao contrário do que fizera, dessa vez iria respeitar a decisão dela.
Se ela quer espaço, tempo, ou até mesmo romper tudo, é isso que eu também quero.
Decidido a tentar esquecer que se encontrava sozinho agora, jogou a toalha no canto do banheiro e foi para o quarto com o corpo molhado, mesmo com frio. Pegou a primeira calça jeans de cima da pilha, uma boxer qualquer e vestiu-as. Dirigiu-se a cozinha para preparar o café da manhã e percebeu que não sabia fazer nada. Seria apenas chá.
Colocando a água para ferver, ouviu uma voz chamando-o. Uma voz inconfundivelmente feminina. Dela? Foi até o encontro da voz e encarou a lareira, estupefato. Lá estava a cabeça de uma mulher que ele nem ao menos conhecia.
- Sr. Weasley? – ela perguntou quando o homem finalmente dirigiu-se à sala.
Ele balançou a cabeça, consentindo. Olhou bem para a mulher na sua frente, gostaria de saber o que ela estava fazendo em sua lareira. Erguendo uma sobrancelha para ela, decididamente intrigado, pôs-se a esperar o que ela tinha a dizer.
Pôde perceber, depois de algum tempo, que as coisas não iriam tomar seu rumo tão cedo. Toda vez que a mulher enchia os pulmões de ar, prestes a falar e o encarava, tudo desandava. Ela olhava para baixo, visivelmente vermelha e constrangida. Sem entender o motivo, decidiu-se por perguntar.
- Algum problema Sra. ...?
- Toarphis. Srta. Hellene Toarphis. – ela conseguiu dizer, ainda evitando olhar para Ron diretamente.
- Certo... – ele assentiu. – Mas então? Algum problema?
Ele pode ver que ela sorria, sem graça, sem encará-lo. Ele olhou-a mais intensamente, decidido a ter uma resposta.
- Ah, senhor, me desculpe. Realmente me desculpe... Mas não pude deixar de reparar em suas roupas. Ou, bem... na falta delas... – ela concluiu completamente vermelha agora.
Ele olhou-se. Esquecera completamente que estava em frente a sua lareira vestindo apenas suas calças. Hermione e a fome haviam varrido tudo de sua cabeça.
- Ah, não. Eu que peço desculpas, por favor. Esqueci completamente... – as orelhas vermelhas dele comprovavam o constrangimento. Dirigiu-se ao sofá e sentou-se, puxando uma das enormes almofadas para o colo. Olhou para a mulher na lareira. Por mais que os dois estivessem passado por um momento realmente delicado não podiam deixar de sorrir agora.
- Bom, começando... – ela sorria. – Sou a secretária do chefe do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos, no Ministério, o Sr. Phillip Wood. – tomara agora uma postura extremamente profissional. – O Sr. Wood escutou com atenção muitos candidatos que estavam dispostos a serem empregados no Ministério, mas nenhum se mostrou realmente capaz de exercer o que o cargo exigia. – Ron olhava para a mulher atentamente, ouvindo cada palavra, mas não tinha a mínima idéia do que aquilo poderia ter a ver com ele. – Até que, conversando com seu filho sobre o trabalho, ele ouviu falar de você. – ela sorriu novamente e ele pode perceber o quão bonita Hellene era.
- De mim? – ele perguntou surpreso.
- Sim, Sr. Weasley, do senhor. Olívio Wood conversou com seu pai sobre sua paixão por quadribol... – o coração de Ron pulou - ... e, especialmente, pelo Cannons... – ele já sorria abertamente para mulher – então pediu para que eu o contatasse, o mais rápido possível, para saber se o senhor está interessado em almoçar hoje com ele. Ele diz que não há necessidade de ir se o senhor realmente não o quiser, mas insiste que eu diga que só falarão de negócios se estiver interessado.
Ron ria, sentado no sofá. Não estava acreditando no que estava ouvindo. E também não fazia idéia do que se tratava o cargo, mas... Era um sonho. Um sonho adolescente, ele sabia, mas ainda assim um sonho. Quadribol e seu time... Chudley Cannons.
- E então...? – a mulher o encarava. Ele não havia dito uma palavra desde que ela terminara de falar, apenas sorria, sentado no sofá. – Posso marcar na agenda do Sr. Wood um compromisso para o almoço?
- ‘Tá brincando! – Ron se levantou sorrindo, jogando a almofada para qualquer canto da sala, deixando seu tórax novamente à mostra. – É claro que a senh... Quer dizer, senhorita - e sorriu – pode marcar!
- Certo então... – ela dizia feliz, vendo a felicidade do homem agora em sua frente, sorrindo e olhando para ela. Também não pôde deixar de reparar em seu corpo, em como era definido e musculoso. “Ah, o quadribol...” – ela pensava, mas logo repreendeu-se. Estava ali a trabalho. – Marcado para as 13:00 horas no Caldeirão Furado. Combinado?
- Combinadíssimo! – ele dizia, seu sorriso crescia a cada minuto que passava.
Ouviu-se um barulho na porta. Ron e Hellene viraram a cabeça no mesmo momento, ambos com sorrisos enormes e ela visivelmente constrangida pelos trajes de Ron. Encararam Hermione. Ela olhava para os dois com um leve quê de dúvida e, lentamente, sua sobrancelha esquerda foi levantando.
Ron ergueu-se de um salto. Correu em direção de Hermione e a abraçou.
- Você não vai acreditar! – ele dizia agora que já havia soltado a mulher, passando a mão por seus cabelos ruivos, bagunçando-os mais ainda.
- Então está marcado, Sr. Weasley. – dizia Hellene novamente com seu tom profissional, encarando Hermione com um ar superior. – Até breve. – ele virou em direção a lareira, sorriu e acenou com a cabeça, despedindo-se. Hellene desapareceu.
- Mione! Você não vai acreditar no que acabou de me acontecer! – ele dizia, andando de um lado para o outro, mal acreditando na conversa que tivera ainda há pouco. – Você lembra do Wood, não lembra? Então, ele...
- Quem era ela? – Hermione perguntou seca, mas Ron nem ao menos escutou-a. Continuava de um lado para o outro, realmente empolgado com a notícia.
- ...falou com o pai dele sobre mim! Eu vou para o Ministério conversar com ele! Mione... os Cannons! Cannons!!
Ela queria sorrir, mas sabia que o que seu rosto transmitia estava longe disso. Não entendia toda a sua euforia e alegria depois de tudo que acontecera entre eles. Será que aquela mulher era a responsável? Seus olhos pousaram sobre a lareira e a imagem da mulher sorrindo voltou a sua mente.
Cabelos negros e lisos num coque, olhos vivamente negros, óculos de ar profissional, dentes bonitos, lábios bonitos, sorriso bonito... Bonita. Bonita!!!
Seus olhos se estreitaram. Como ele podia estar falando com uma mulher bonita assim? Com esse sorriso?
Assim como Ron não ouvira Hermione, ela também não ouvia uma única palavra do ruivo. Uma raiva descomunal estava tomando conta de seu corpo, como ele podia fazer isso? Logo hoje! Em que ela resolvera voltar atrás, declarar seu amor a ele.
Encarou-o. Ele a olhava, ainda sorrindo, parecia esperar uma resposta. Ela forçou um pequeno sorriso e perguntou:
- O que disse?
- Ah, Mione! – e ele abraçou-a mais uma vez sorrindo. – Obrigada! Deve estar tão eufórica quanto eu, não? Sei que sempre torceu por mim! – ela o olhava, intrigada. – Mas, como havia dito: veio buscar o resto das suas coisas?
Ela quase caiu para trás. Não tinha a menor importância agora?
- Não, não vim...
- Ah, certo... – disse ele, não conseguia pensar no que ela estava fazendo ali, mas sua felicidade também não deixava com que parasse para isso. – Bom, eu não vou almoçar em casa, como você já deve ter percebido... – ela espantou-se com o modo tranqüilo que ele falava sobre isso. – Bom, fique a vontade. Você sabe que a casa é sua. – ele deu um beijo na testa de Hermione e correu para o quarto, cantando alto o hino do seu time.
Olhou para as costas definidas de Ron e jogou-se no sofá mais próximo. Suspirou alto. Aquilo definitivamente não estava tomando o rumo que ela queria.
Ron voltou do quarto, com o mesmo sorriso lindo e contagiante, colocando uma blusa branca.
- Mione, eu to indo para A Toca. Quer ir? Quero passar lá, ver minha mãe, meus irmãos, meus sobrinhos... Comer também! – ele sorriu – Nossa, não sabia que era difícil preparar o café... Então, vou passar lá antes de almoçar. Ah, como eu estou animado! Vai comigo? Vai ficar aqui? Na verdade... Se você não veio pegar suas coisas, veio falar comigo? Ah, desculpa Mione, eu nem te dei atenção... – ele sentou-se ao lado dela no sofá.
- Não, não vim falar com você... – ela mentiu. – Imaginei que seu café seria um horror e vim ajudar. – eles riram. – Mas você já tem outros planos, não?
- Bom, não se você não quiser... Eu não preciso comer n’A Toca, sabe? – e sorriu como uma criança para ela.
- Ok, ok! Eu preparo seu café! O que quer? Ovos? Bacon? Panquecas?
- Tudo! – ele respondeu feliz, puxando-a pela mão em direção a cozinha.
~*~
A cozinha estava uma bagunça. Ron quisera ajudar Hermione e a preparar o café e acabou apenas atrapalhando. Riram e se divertiram bastante sujando um ao outro, rindo da dificuldade de Ron de quebrar os ovos, virar o bacon, deixar a massa da panqueca no ponto.
- Anda, Mione. Sabe, eu sou um bruxo! Posso usar magia!
- Não, Ron, já disse. Você tem de aprender! Sem magia, mocinho. – ela dizia apontando o dedo sujo de farinha para ele.
- Ah, Mione... Eu não ligo de aprender. Você poderia ficar vindo aqui todo dia, não? Sempre nos divertiríamos, viu?
- Ah, claro... – dizia ela ironicamente. – Vou virar seu elfo doméstico? Cozinhando e limpando a casa para você? De jeito nenhum, Weasley. – e passou o dedo sujo no nariz dele. Ele sorriu e a encarou. Limpou o nariz com simplicidade e baixou os olhos.
- Que foi?
- Nada... Deixa para lá. – ele virou-se e começou a arrumar a bagunça com a varinha.
- Não, Ron... Fala. – ela o segurou pelos ombros e fez com que ele a encarasse.
Eles se encararam por alguns segundos e então ela riu.
- Que houve? – ele agora perguntava sorrindo também, por ver a cara dela.
- Você não limpou direito seu nariz... – ela sorriu e levou a mão esquerda ao nariz do homem, afim de limpá-lo.
Num movimento rápido, Ron segurou a mão dela e levou-a a boca. Fechou seus olhos e beijou sensualmente seus dedos, lambendo-os e mordendo-os ocasionalmente. Hermione estava estática olhando para seus dedos na boca de Ron. Seu coração queria saltar pela boca e ela fazia muita força para manter-se em pé.
Ele abriu os olhos e percebeu que Hermione encarava-o com os olhos arregalados. Lentamente foi soltando a mão dela, deixando que ela a retirasse de lá o mais rapidamente possível, mas não foi isso que aconteceu. Ao invés de descer sua mão, Hermione a ergueu mais um pouco, segurando o rosto de Ron. Olharam-se por uma fração de segundo e então suas bocas se juntaram, sedentas por beijos. Ron levantou Hermione pelo quadril e colocou-a sentada na mesa, ficando entre as pernas da mulher.
Os beijos estavam cada vez mais intensos e apaixonados. Até que Ron se afastou, bruscamente, passando a mão descontrolado pelo cabelo.
- Mione... Me desculpa, por favor, me desculpa. – dizia ele olhando assustado para ela.
- Ron, eu... – ela tentava falar.
- Eu sei, você pode vir a me odiar. Mas por favor, tenta me entender... Não é nada fácil pra mim. Me desculpa... – ele ia dizendo cada vez mais rápido.
- Ron, me escuta...
- Olha, a gente se fala depois. Eu estou me sentindo horrível, um aproveitador. ‘To indo para a casa da minha mãe. – longe, encarou Hermione nos olhos. – Eu amo você.
CRACK!
- Eu também amo você, seu idiota! – ela bufava de raiva. Em três movimentos com a varinha arrumou toda a bagunça e aparatou em sua casa alugada.
~*~
Ron olhou para a casa que trazia tantas lembranças. Sorriu, feliz. Correu para a porta dos fundos, onde sabia que sua mãe estaria, já preparando o almoço. Bateu na porta duas vezes e entrou.
- Será que eu ainda sou bem vindo aqui? – disse sorrindo.
Surpresa, Molly parou de descascar as batatas e olhou para o seu filho.
- Ah, Roniquinho! – correu para seu filho e abraçou-o, fazendo com que ele ficasse sufocado.
- Ah, mamãe, ‘tá tudo bem... – ele dizia rindo, mesmo que sua mãe o abraçasse com muita força.
- O quê? Roniquinho aqui em casa?
- Não, Fred, claro que não. – dizia Jorge. – É o Roniquinho da mamãe.
- O docinho de abóbora.
- O presentinho açucarado de Merlin.
- Ah, calem a boca vocês dois! – disse Ron, mas não estava sério. Abraçou os irmãos rindo. – Cadê o Josh? Estou com saudades dele...
Fred, Jorge e Molly se entreolharam, mas nada disseram. Ron não percebeu.
- Ele está na sala com a Angelina. Tentando brincar com a Anny, mas ela só quer brincar de babar em cima dele por enquanto... – “Hey!”; dizia Jorge; “E essa brincadeira já é muito desenvolvida para a idade dela, ok?” – Mas vai lá. Ele vai gostar de ver o tio “Xissa”.
- Tio “Xissa”? – perguntou Ron sem entender.
- É, ele não liga mais para o pai “Om”. – e fez uma cara de quem realmente sentia muito por isso.
Ron riu. Seus irmãos eram o máximo, mesmo que completamente malucos.
Encaminhou-se para a sala. Logo viu as crianças no tapete. Anny engatinhando, tentando fugir de Josh e ele atrás dela com uma galinha de borracha na mão. Angelina e Milla – mulher de Jorge, medibruxa-chefe – conversavam no sofá.
Assim que avistou o tio, Josh esticou os bracinhos curtos e foi, meio cambaleante, em sua direção.
- Xissa! – Ron riu, não era uma brincadeira dos gêmeos. As mulheres no sofá viraram e o avistaram.
- Ron, que bom te ver! – dizia Angelina. – Não consegui esbarrar com você ontem, no aniversário da sua mãe. A Gina me disse que a Mione passou mal e você teve que levá-la para casa.
- Pois é... – ele concordou, tentando parecer convincente.
- Mas está tudo bem com ela, não? Ela está na cozinha com sua mãe? Estou morrendo de saudades dela! – Milla interveio.
- Ah, não ela não está lá... – mas ao ver as expressões preocupadas nos rostos das cunhadas acrescentou: - Mas já está tudo certo, ela já está se sentindo bem.
Josh, que já havia alcançado o tio, puxava incansavelmente sua calça jeans agora.
- Xissa! Xissa!
- Angelina, o que é “Xissa” afinal? – ele disse rindo, pegando Josh no colo.
- Ah, isso... – ela disse rindo. – Desde que provou Delícia Gasosa ontem esqueceu do Torrão de Barata que Fred sempre dava a ele.
- Ah, o “papai Om”... – ele lembrou rindo.
- Quê disse? – ela perguntou.
- Nada, nada... – ele respondeu rindo. – Brincadeiras do Fred.
- Sempre, não? – perguntou Angelina ironicamente, mas sorrindo. E virou-se para Milla, voltando a conversar.
Olhou para Josh e mexeu no nariz do sobrinho. Ele rapidamente segurou a grande mão de Ron entre seus dedinhos, num sorriso meio desdentado. Olhou para Anny, sentada no tapete, olhando para o tio como se ele tivesse salvado sua pele do “maluco da galinha de borracha”. Foi até a sobrinha e sentou do seu lado, apoiando Josh em seu colo. Ela pareceu não gostar muito e tentou engatinhar para perto da mãe, mas Ron pegou-a pela barriga e a sentou em sua outra perna. Ficou brincando com as duas crianças por um tempo indeterminado, até que sua mãe o chamou.
Deixou as crianças novamente no tapete, onde Anny já saia o mais rápido possível de Josh. Virou-se para Milla.
- Milla, se não for fazer nada, eu queria conversar com você antes do almoço, pode ser?
- Claro, Ron, sem problemas.
- Ok. – e dirigiu-se para a cozinha.
- Que foi, mãe? - sentou-se numa cadeira qualquer e começou a beliscar a comida que já estava sendo posta na mesa.
- Deixe a comida, menino! – Ron parou na mesma hora. – Onde está Hermione?
- Em casa. – ele disse cabisbaixo. Sabia, mais cedo ou mais tarde sua mãe ou sua irmã viriam perguntar sobre ela.
- Como assim em casa? Pela primeira vez em todos esses anos eu vejo você aparecer aqui porque realmente deseja, sorrindo, sem parecer estar sendo forçado por Hermione. Parece que você está feliz, meu filho. E sei que ela também deve estar assim. A Mione é uma menina que encan...
- Não, mãe. Ela está na casa dela.
Molly parou de falar abruptamente. Virou e encarou seu filho.
- Como assim na casa dela? Aquela casa é de vocês! Ou ela te expulsou de casa?? Ah, Ronald! O que você fez?
- O quêêê??? Mãe, eu não fiz nada! – por que sua mãe confiava mais no julgamento de Hermione do que o do próprio filho?
- É claro que fez, ela não é maluca! E te ama! Não te expulsaria de casa te amando se você não tivesse feito algo realmente, mas realmente ruim...
- Ela não me ama. – ele disse triste. – E, mesmo que amasse, não faz mais diferença agora.
- É claro que ama! Não teime com a sua mãe, menino! E como assim não faz diferença? Amor sempre faz diferença! – ela dizia balançando freneticamente o pano de prato.
- Mãe, dá um tempo com esse papo de amor, ok? Foi você que veio dizendo que “só amor não basta”, pra começar!
- Porque não basta mesmo, meu filho! A prova disso é a sua relação com a Mione! Eu sei que vocês se amam! Mas olhe, adiantou? Ela te colocou pra fora de casa mesmo assim.
- Mãe – ele respirou fundo -, ela não me colocou para fora de casa. Ela saiu de casa.
- O QUÊ?? – Molly gritou – Você deixou que ela fosse embora?? Eu não te dei educação não, Ronald? Hein? Hein? – e ia batendo com o pano de prato em Ron, em partes do corpo diferente. Fazendo com que os braços erguidos dele em modo de defesa pouco adiantassem.
- Mãe! Pára com isso, pára com isso! – ele disse se levantando e se afastando dela. – É claro que eu não deixei que ela fosse! Você acha que eu adorei ter visto minha esposa saindo de casa? Terminando tudo comigo? Indo embora da minha vida? – ele tentou conter as lágrimas, mas não conseguia.
- Ah, meu filhinho... – Molly foi até ele e o abraçou, acariciando seus cabelos. – Não, é claro que não pensei nisso, me desculpe... – ela segurou o rosto do filho entre as mãos. – Mas o que aconteceu, então?
Ele baixou os olhos para o chão e, numa voz que não parecia a dele, respondeu a mãe:
- Ela foi embora. Eu tentei fazer com que ela ficasse, viria morar aqui ... – “Isso.” Dizia Molly. – Mas ela não quis, disse que não precisava... Ela já havia alugado uma casa e iria para lá. Buscaria uma vez ou outra as coisas na nossa casa... – ele suspirou fundo. – Ah, mãe... Eu a magoei tanto... – e voltou a chorar.
Molly o abraçou novamente, sentindo o quanto seu filho estava sentindo por tudo isso.
- Você estava certa. Ela estava certa. Eu me fechava, me afastava de todos... E acabei afastando-a de mim também. Ahh, mãe... Não queria isso, eu não enxergava desse jeito.
- Eu sei, meu filho, eu sei... O amor que você sente por ela é algo que todo mundo pode ver, está na cara que você nunca quis magoá-la.
- E ela sabe disso, mãe? Se todos percebem, por que ela não percebe? – ele perguntava no ombro da mãe.
- Você sabe, ela sempre precisou de mais do que os outros. Mais informações, mais detalhes, mais demonstrações. Você foi duro com ela meu filho, dê um tempo para ela pensar em tudo. Tão forte quanto o seu amor por ela, é o dela por você.
Ele sorriu, fraquinho. Os olhos um pouco vermelhos.
- Anda! Desfaça essa cara de choro! Hoje eu quero ver meu filhinho feliz! Com o mesmo sorriso que entrou hoje aqui em casa pela porta da cozinha.
Nesse momento Gina entrou na cozinha.
- Mãe, tem alguma coisa para eu beliscar, o bebê está morren... – e parou quando viu Ron. – Oi, maninho. – foi até ele e beijou-lhe a bochecha.
- O bebê, hein? – perguntou Ron rindo.
- Ele está em fase de crescimento, precisa comer. – ela disse sorrindo e puxando uma cadeira ao lado do irmão. – Mas mãe, tem algo?
- Claro que tem! – Molly disse feliz colocando um prato de tortinhas de abóbora na frente deles.
- Ah, que delícia! – disse Gina massageando a barriga.
Ron ficou olhando para a irmã e um sorriso sincero tomou conta dos seus lábios. Gina, que estava com a boca cheia e mais duas tortinhas na mão, perguntou:
- Que foi? – e alguns pedacinhos caíram de sua boca. – Desculpe. – ela riu e tampou a boca com a mão vazia.
- Você está linda. – ele disse.
- Ah, Ron! – os olhos de Gina encheram-se d’água e ela pulou nos braços do irmão, que olhou meio sem entender para a mãe. “Grávidas”, ele pôde fazer a leitura labial. – Quer sentir seu sobrinho?
Ele assentiu com a cabeça. Nunca havia sentido um bebê dentro da barriga, todas as chances que tivera com Gina durante toda a gravidez da ruiva, ele viera descartando. Era a distância do mundo que ele havia conjurado para si.
Passaram alguns minutos enquanto Gina e Ron se emocionavam juntos sentindo o bebê. Molly não parava de sorrir para os filhos, realmente feliz.
- Então, meu filho? Quer comer algo especial hoje?
- Ah, mãe, esqueci completamente. Não vou almoçar em casa hoje, tenho uma entrevista de emprego.
- Entrevista de emprego? Mas nós já temos um emprego! – disse Gina.
- É, eu sei. Mas é algo realmente tentador... E eu até estava querendo falar com Milla sobre isso.
- Vá chamá-la, então. Conversaremos logo, já que você não vai almoçar em casa. – Molly pediu.
Ele pulou da cadeira e foi correndo chamar a cunhada, também estava louco para saber de alguns detalhes.
Voltaram alguns minutos mais tarde. Angelina também os acompanhava com Josh no colo. Todos se encontravam na cozinha agora, menos Jorge, que estava colocando Anny para dormir no andar de cima.
- E então, por que toda essa euforia? – perguntou Milla se sentando na mesa e se servindo de uma tortinha também.
- Ok. – e ele começou a contar sobre Hellene e o seu recado.
- Ueh, mas e o St. Mungus, Ron? – perguntou sua irmã.
- Eu sei, por isso queria falar com você, Milla. – disse ele virando-se para a cunhada. – Desde que Voldemort foi destruído conseguimos alas do St. Mungus com nossos nomes, mas não fazemos nada realmente produtivo. Não vejo as crianças da ala pediátrica, a Gina também não tem contato com a ala dos idosos, tanto quanto a Mione na ala das mamães – apenas depois que falara sentiu o quanto a saudade de Hermione gritar em seu peito. Você acabou de vê-la, acalme-se. E continuou: - Apenas o Neville tem contato diário com a ala de feitiços irreversíveis porque pediu para realmente ser efetivado, devido aos seus pais.
- Entendo... – ia dizendo Milla. – Então você quer saber se há algum problema em aceitar um outro emprego?
- Sim. Já que nós fazemos apenas a parte social. Os eventos, premiações, etc. Sabem, eu sou muito novo para trabalhar apenas de vez em quando num hospital, e ainda de forma inoperante! – ele disse um pouco vermelho. Estaria sendo mal agradecido? – Então, é isso... Eu queria mais que um nome em algum lugar.
Milla o encarou com seus olhos cor de mel.
- Bom, não há porque não permitir. Desde que você não falte nos eventos, eles são realmente importantes... – ela revirou os olhos e sorriu. – Digo, realmente importantes para o “Todo Poderoso Chefão” lá. – todos riram. – Tudo certo, Ron. Hoje mesmo eu mando uma coruja para o Sr. Edberg falando sobre sua proposta.
- Ah, Milla! Muito brigado! – dizia ele feliz. – Chudley Cannons! – disse rindo erguendo os braços.
Alguns Weasley gritaram com ele, outros bateram palmas. Ele parecia realmente feliz.
- Bom, é melhor eu ir andando. Hora marcada para o almoço. Só queria fazer mais uma coisa... Mãe, a senhora mexeu no meu quarto desde que saí daqui?
- Não, filho. Apenas limpava, mas continua tudo no lugar.
- Ok. Muito bom, muito bom... – ele despediu-se de todos, deu um beijo na barriga da irmã e subiu as escadas correndo até seu antigo quarto.
Um mundo laranja-vivo envolveu Ron. Ele sentiu-se mais em casa que nunca. Quantas recordações haviam ali. Correu os olhos de um lado para o outro. Riu dos livros jogados, dos pôsteres de quadribol por todo o quarto e então avistou o que queria.
Em cima da mesa, impecavelmente limpo, encontrava-se um tabuleiro de xadrez. O tabuleiro que ele e seu pai costumavam jogar. Encarou as peças gastas, o tabuleiro lascado em algumas partes, mas não havia nada de material que tivesse mais valor que aquilo.
Segurou o peão que estava duas casas a frente das outras peças entre seus dedos e depois de suspirar pesadamente, colocou-o de volta na posição original: ao lado dos outros peões. Sorriu, realmente satisfeito com o feito e jogou-se no chão, ao lado de sua cama.
- O que você está procurando? – ele pôde ouvir a voz de sua mãe da porta.
- Uma caixa.
- Para quê? – ela perguntou curiosa.
- Vou guardar meu xadrez.
Silêncio.
Ron, ainda deitado no chão, virou sua cabeça em direção a mãe. Ela estava com os olhos cheios d‘água e com uma mão a frente da boca.
Ele levantou-se e abraçou sua mãe. Ela já havia caído no choro.
- Ah, Rony, fico tão feliz, tão feliz. Era a única coisa que você queria que ficasse como está, pelo o que seu pai te pediu. Você nunca deixava que arrumassem esse tabuleiro. – ela dizia emocionada.
- É, eu sei, mãe. Mas percebi que não dependo disso, não posso depender.
Ela apertou as bochechas do filho, sorrindo com os olhos vermelhos.
- Além do mais, não tenho apenas esse tabuleiro como lembrança. – ele disse olhando para o tabuleiro.
- Não, claro que não. Você e seu pai têm muitas histórias e boas lembranças juntos. Umas que me faziam até pirar. – ela disse rindo gostosamente.
- É, eu sei... Desculpe, mãe. – ele disse um pouco encabulado.
- Não, não desculpo não. Você fez o que fez com seu pai e se tornou um homem maravilhoso. Educado, fino, elegante, intelig...
- Menos, mamãe... – ele disse rindo.
- Certo. Mas não desculpo. Se vocês não fizessem o que fizeram talvez não fossem tão perfeitos. – ela disse como se encerrasse a conversa.
- Mas... – ele disse baixinho. – e se isso mudasse o destino do papai?
Não queria encarar sua mãe. Sabia que falar de seu pai a deixava realmente feliz, mas falar da morte deste era outra coisa totalmente diferente.
- Destino é destino, meu filho. – ela dizia enquanto arrumava os cabelos dele. – Nada muda o destino. Eu fui feliz com seu pai o tempo suficiente para saber que seria feliz eternamente com ele. Sei que nosso amor é algo tangível e também sei que vocês cresceram num ambiente maravilhoso, mesmo que faltasse dinheiro às vezes. E seu pai, com certeza, não gostaria de ver nenhum dos seus filhos presos a uma lembrança ruim. Principalmente o melhor presente dele.
Ron sorriu e abraçou a mãe novamente. Tudo o que ela falara era verdade.
- Vou pegar uma caixa para você. – ela saiu do quarto e voltou instantes depois com uma bonita caixa de madeira. – É melhor se apressar, não vai querer chegar atrasado ao seu almoço, não?
- Não, pode deixar. – ele abraçou a mãe mais uma vez antes dela descer.
Encarou o tabuleiro mais uma vez. Abriu a caixa um pouco mais embaixo da mesa e arrastou todas as peças para dentro dela, logo depois fechando o tabuleiro e o guardando também. Deixou a caixa em cima da cama.
- É você que arruma o tabuleiro agora e me espera, pai. – disse sorrindo.
E aparatou.
When I and my mother would desagree
(Quando eu e minha mãe discutíamos)
To get my way, I would run from her to him
(Para ter apoio eu corria dela para ele)
He'd make me laugh just to comfort me
(Ele me fazia rir só para me confortar)
Then finally make me do just what my mama said
(E finalmente fazia com que eu fizesse o que minha mãe acabara de dizer)
Later that night when I was asleep
(Mais tarde, naquela noite, quando eu estava dormindo)
He left a dollar under my sheet
(Ele deixou um dólar sob meu lençol)
Never dreamed that he would be gone from me
(Nunca sonhei que ele poderia ser levado de mim)
***
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