Vows and Promises
Uma atmosfera de excitação tomava conta do dormitório quando ele acordou. Murmúrios e vozes mais agitadas que o normal trouxe-lhe a sensação de que estava deixando algo relativamente importante escapar. Que dia era hoje...?
Tateando pelos óculos na cabeceira da cama Harry murmurou um palavrão num sobressalto quando a claridade da janela atingiu-lhe o rosto:
- Bom dia! – cumprimentou uma voz grave e incomodamente alegre. Colocando os óculos, Harry fitou o motivo do seu choque matinal e grunhiu em resposta:
- Rony. – seu tom denotava claro mau humor. Rony, entretanto, não pareceu notar tão absorto que se encontrava na aparentemente infundada euforia.
- Belo dia! Olhe! – Harry franziu o cenho. Que diabo...? Não que o amigo costumasse ser um poço de amargura, mas ainda sim... Ele estava definitivamente deixando algo escapar.
Certo, então, talvez sua mente não estivesse exatamente nas melhores condições nos últimos dias.
Sua cabeça estava confusa com a última conversa que tivera com Lupin. Sem contar que a certeza de que seus pais realmente estavam escondendo algo muito além do que os três haviam praticamente arrancado do professor era no mínimo frustrante.
E havia Hermione.
Ele gostaria de ser capaz de convencer a si mesmo que não ocupara muito tempo ponderando sobre o que a garota dissera. Mas aquilo era pura e irrevogavelmente uma mentira. Na realidade, grande parte da sua frustração estava relacionada com esse fato.
E apesar de não saber o que fazer sobre o fato em questão, sabia que precisava fazer alguma coisa para mudar aquela situação. Por que...
Bom, ele não sabia exatamente o porquê, mas em algum ponto entre amizades conjuntas e ataques de lobisomens... Algo mudara. Harry não sabia exatamente como, ou mesmo o quê, mas o que quer que fosse ele não estava disposto a abrir mão daquele novo aspecto do relacionamento entre ele e Hermione.
Entretanto, o fato de que os dois se encontravam atualmente na condição de cumprimentos não-verbais... Sua situação não era das melhores.
Harry foi completamente arrebatado de tais pensamentos quando ele e Rony atingiram o salão principal e um misto de palmas e encorajamentos assaltou-lhe os ouvidos.
Ele piscou confuso. Voltando-se para o amigo, observou-o sorrir num misto de excitação e nervosismo novamente. Toda a mesa da Grifinória exclamava e assobiava claramente fora de controle.
- Bom dia! – cumprimentou Giny. Mas Harry não deu ouvido. Hermione estava ao seu lado, e apesar de manter-se em silêncio ela claramente percebera a sua presença. Giny continuou alheia a expressão da amiga quando Harry postou-se em frente a ela. – Então, quadribol hoje hãn?! – Harry voltou-se de Hermione para Giny num gesto brusco.
Oh. Merda.
Um momento de silêncio seguiu-se até que ele respondeu procurando disfarçar ao máximo o fato de que ele - capitão do time – havia esquecido completamente do jogo daquela manhã:
- Hoje, er... É um dia com quadribol... Certo. – atestou Harry apontando o óbvio. Giny parou a meio caminho de uma travessa de torradas e Rony fitou o amigo incrédulo:
- Você esqueceu! – murmurou a garota. Hermione ergueu os olhos e fitou-o pela primeira vez. Uma expressão de preocupação na face.
Ok, então essa não funcionou.
- O que? Claro que não! – desconversou Harry.
- Você esqueceu o jogo? Você?! – atirou Rony, e pelo seu tom obviamente esquecer uma partida de quadribol era um pecado mortal.
- Eu não esqueci! – argumentou Harry agora se sentindo desconfortável com a atenção, não de Giny, ou Rony, mas de Hermione que o fitava com uma expressão curiosa. Realmente...
Ela estava bonita hoje. Vermelho realmente lhe caía bem... – divagou Harry antes que pudesse se conter. E sacudindo a cabeça voltou a atenção para a comida, acrescentando em defesa:
- Eu não esqueci. O fato só... Escapou da minha mente. Por alguns momentos...
- É! Isso se chama esquecer! – rebateu Giny tão indignada quanto o irmão.
- Sério cara... – comentou Rony em seguida. – Onde você está com a cabeça esses dias...?
Harry não respondeu. Mas seus olhos recaíram inadvertidamente sobre Hermione mais uma vez. Corando ela baixou os olhos e fitou o prato em silêncio.
- Não se preocupem. Eu estou bem! Sério. – comentou Harry mais para si mesmo que para os amigos, mas assim como ele, nenhum dos dois pareceu inclinado a acreditar... – O que...? Eu estou bem! De verdade! Vão em frente, eu encontro vocês no campo. – acrescentou Harry pondo um sorriso no rosto. – Vão! – e erguendo-se caminhou portões à fora.
Rony adiantou o passo em direção às arquibancadas visivelmente espumando. Realmente... Talvez Harry tivesse sido um pouco mais convincente em afirmar que não havia nada de errado com ele se não se recusasse a deixar o vestiário. Agora, mesmo que seus colegas de time não soubessem exatamente o motivo daquela súbita mudança na atitude do garoto (ou soubessem e preferissem não comentar) Rony não possuía uma atitude tão sutil...
Razão pela qual ele seguia agora para as arquibancadas. Honestamente! Primeiramente ele decidira ignorar completa e totalmente toda aquela tensão que pairava entre os dois nas últimas semanas. E francamente preferia assim. Ele não era estúpido, ou pelo menos tão insensível quanto Giny gostava de apontar... Ele sabia, todo mundo sabia na verdade.
Bom, exceto Harry e Hermione.
Mas agora... A coisa toda havia se tornado pessoal.
E ele precisava de ajuda. Ele precisava dos Marotos, todos eles.
(...)
Talvez não Peter.
Harry se reergueu do banco onde fitava o armário em silêncio. Realmente...
Ele estava bem.
Foi isso que ele disse a Rony e Giny durante o café. E a Kátia quando ela veio buscá-lo. E agora... Ele só precisava de um tempo para pensar, pôr as idéias em ordem... Mas ele estava bem, sério. Não havia muito com o que se preocupar – racionalizou prontamente – afinal ele havia pegado o pomo. Nada diferente aí... Pelo menos nada do que eles pudessem reclamar.
Então ele não estava necessariamente comemorando, grande coisa. O que não significava que ele não estava satisfeito... Quadribol não deixava de ser menos importante por isso. Realmente.
Ele estava bem.
- Onde ele está? – murmurou uma voz vinda de fora. Harry parou a meio caminho da camiseta e voltou-se para a porta. O tom de voz era familiar, entretanto... Por mais que se esforçasse não conseguia encontrar um motivo plausível para que seu pai estivesse ali...
- Ele está escondido. – murmurou Rony em resposta.
- Por quê? – novamente Harry sobressaltou-se ao reconhecer a voz do padrinho.
- Eu já disse por quê! – insistiu Rony com um ar impaciente. – Ele está doente! Ou algo assim...
- Ele não está doente... Honestamente. – interpôs Lupin em tom compreensivo. Os quatro estavam mais próximos agora. Caminhando até a porta Harry abriu-a num gesto brusco:
- Pai?
James observou o filho em silêncio. Ele não parecia doente. Talvez Remus estivesse certo sobre a falta de tato de Ronald e a real razão pela qual, segundo o garoto, Harry estava agindo “estranho”. A esse pensamento ele meramente sorriu em silêncio.
- Viu? Eu disse! – confirmou Rony encostando-se na parede e abrindo caminho para Lupin e Sirius. – Escondido...
- Eu não estou escondido! – retrucou Harry levemente ofendido. – O que está acontecendo aqui? – exigiu ele apanhando a camiseta novamente e vestindo-a em silêncio.
- Rony disse que você não está se sentindo bem. – aqui Harry fitou o amigo que desviou o olhar.
Harry voltou-se então para o padrinho. Um ar extremamente divertido tomava-lhe a face. Qualquer que fosse o motivo pelo qual eles estavam ali, certamente parecia entretê-lo o suficiente. Harry sentiu o estômago dar uma guinada desconfortável. O que exatamente Rony havia dito?
- Nós só estamos preocupados com você filho... – voltando-se para o pai, que havia se acomodado em um dos bancos Harry formulou mentalmente inúmeras razões pelas quais ele preferiria dispensar a preocupação do seu pai... Entretanto ele segurou a língua e apenas respondeu friamente:
– Eu estou bem. – disse caminhando em direção ao tênis e sentando-se para calçá-lo.
Um momento de silêncio seguiu-se no qual Sirius voltou-se para Rony com uma expressão questionadora. Não perdendo a troca de olhares, Harry emendou:
- O que você disse a eles? Eu estou bem! – insistiu encarando o amigo por sobre o tênis. Rony teve a decência de corar antes de replicar aparentemente encurralado:
- Eu só disse a verdade! Você está todo estranho! – exclamou o rapaz num misto de exasperação e embaraço. – Quero dizer... – tateou agora se voltando para os três adultos que observavam a cena em silêncio. – Ele se esqueceu do jogo!
- Você esqueceu? – comentou James fitando o filho atentamente. Ele o conhecia suficientemente bem para saber que alguma coisa muito importante estava ocupando a cabeça do garoto a ponto de fazê-lo desligar-se de quadribol assim...
- O que fez você esquecer o jogo? – questionou Sirius mais incisivamente.
- Você quer dizer “quem”... – comentou Lupin calmamente, apesar de ser palpável o divertimento com o qual ele estava encarando a situação.
- Eu não esqueci! – defendeu-se Harry indignado e recusando-se prontamente a ignorar o comentário do se professor. – Ok, talvez eu tenha esquecido... – admitiu após alguns segundos, e pressionando as têmporas acrescentou. – Porque isso é tão importante de qualquer forma?
Era a vez de Rony mostrar-se absolutamente ofendido:
- Viu?! – apontou ele acusatoriamente. – É disso que eu estou falando! Quero dizer... Primeiro era até divertido! Sabe? – explicou ele. – Então começou a incomodar... Agora é só assustador! E é culpa dela!
Harry fitou o amigo lívido de raiva. Estava claro que o garoto parecia completamente dividido entre avançar no pescoço do rapaz à sua frente e desaparecer de absoluto embaraço.
- Ah! – exclamou Sirius, mas fosse qual fosse o comentário sarcástico que viria a seguir foi cortado por James que se voltou para o filho de modo apaziguador:
- Então isso é sobre uma garota...?
- Claro que é! – cortou Rony.
- Claro que não! – rebateu Harry apesar de seu tom trair o seu nível de convicção. Obviamente, tal fato não passou despercebido:
- Ele está mentindo. – comentou Sirius. Harry voltou-se para o padrinho e então para Remus e seu pai em seguida. Ambos pareciam concordar.
- Obrigado! – retrucou fitando o amigo sarcasticamente. Rony deu de ombros num gesto de desculpas.
- Então de que garota nós estamos falando especificamente? – recomeçou James.
- Nenhuma! – respondeu Harry prontamente. Mas Rony interpôs mais uma vez:
- Hermione. – ele fitou o amigo e após alguns segundos encarando-o com um ar letal, sentou-se no banco novamente com um ar derrotado.
- Vocês brigaram ou o que...?
- Ele está apaixonado. – concluiu Lupin erguendo as sobrancelhas e fitando o garoto atentamente.
- Eu...! – Harry não teve muita certeza do por que titubeara quando na realidade pretendia revidar.O fato era que a hesitação em responder já era uma resposta mais que suficiente, visto que seu padrinho meramente comentou:
- Merlin, Harry... Eu preferia que você estivesse doente.
Ok, então, talvez aquilo fizesse um pouco de sentido. E só agora Harry era capaz de ponderar sobre a ironia da sua situação. Não que ele se preocupasse – pelo menos até então – com a profundidade dos seus relacionamentos. Ou mesmo com a idéia que os outros tinham dele devido a isso...
Mas agora ele ligava. E mais importante, ele fazia questão. E as coisas não seriam tão preocupantes e - francamente, desconcertantes – se aqui, ele estivesse generalizando.
Mas não.
Ele se preocupava com o julgamento que Hermione fazia dele, e esse era o único pensamento que ocupava a sua cabeça no momento.
Harry atravessou os corredores a passos largos. Abrindo mão da comemoração que ele sabia estar em andamento na torre da Grifinória, ele seguiu em direção à biblioteca.
Ele gostava de considerar que entre seu pai, Sirius e Lupin, garotas não eram exatamente um dos seus principais problemas... Mas novamente, a peculiaridade da maneira com a qual Hermione lhe afetava recaía sobre ele. E esse fato por si só fazia com que ele se sentisse completamente perdido em como lidar com ela.
Talvez Giny estivesse certa. Talvez ele só precisasse encontrar a garota certa. O problema era que só agora ele começava a perceber que essa garota era Hermione. A questão era convencê-la disso...
Hermione fitou o pergaminho em silêncio. Sabia que a comemoração pela vitória contra Corvinal estaria à todo vapor á essa hora. E ainda sim escolhera seguir para a biblioteca. Na realidade, mais cedo, escolhera não acompanhar o jogo. Mas esse resquício de autocontrole e resignação desapareceu em algum momento durante o café-da-manhã...
Ele estava um tanto disperso aquela manhã. E o aquela história sobre esquecer o jogo...? Realmente...
Ele havia esquecido?
Talvez o que ela havia dito o afetara mais do que ela esperava. Ou talvez ela estivesse muito esperançosa... De qualquer forma, o fato era que ela havia perdido a última hora e meia divagando e manejara meio parágrafo do seu trabalho de Poções...
Harry parou cruzando os braços sobre o peito e observando a garota em silêncio. Podia sentir o olhar de Madame Pince nas suas costas. Não podia culpá-la. A última visita que fizera à biblioteca não havia sido exatamente sutil. Na verdade, agora que se encaminhava em direção à mesa onde Hermione estava sentada ponderava se a mulher estava considerando expulsar os dois dali com antecedência. Só por precaução.
Ainda em silêncio, Harry sentou-se calmamente ao lado da garota. Sentindo alguém se aproximar, Hermione ergueu os olhos do papel à sua frente e fitou Harry em silêncio.
- Oi... – cumprimentou ele sentindo um tom de nervosismo escapar a contragosto. Hermione notou, murmurando em resposta:
- Oi. – respondeu em um tom levemente confuso. Só agora Hermione percebia que havia algo de diferente na sua atitude.
Era sábado. Então ele estava usando um par de jeans um tanto surrado e uma camiseta verde escura. Seus cabelos estavam molhados. Claramente havia acabado de tomar banho, ela podia sentir o cheio de sabonete.
Mas, algo mais... Ele estava tenso, brincando nervosamente com o tinteiro que se encontrava na mesa. Aquele era um Harry que ela suspeitava jamais ter visto antes...
E ele era simplesmente adorável.
- Não é a conquista. – disse ele em voz baixa. Hermione piscou:
- Hãn...?
- O que você disse... Antes. Sobre mim... Nós, eu quero dizer. – tateou ele. E antes que ela pudesse argumentar ele continuou. - E a um tempo atrás, talvez... Talvez você estivesse certa, mas agora... Eu... Isso é diferente! – continuou ele em voz baixa. Hermione fitou-o em silêncio. – Não é a conquista. É você! E... E, e os seus pulsos fracos e magrelos... E como você tentou encher McLaggen de bolachas com eles... – e aqui, Harry começou a sorrir involuntariamente. – E o seu cabelo...
- Meu cabelo? – cortou Hermione, um tom de clara suspeita na voz.
- Tem esse jeito de... Cair assim... – estendendo a mão ele apanhou um cacho que havia escapado e atravessava o seu rosto, pondo-o gentilmente atrás da orelha. Hermione sentiu o rosto começar a violentamente. E apesar dos dois estarem falando em pouco mais de sussurros, ela tinha a sensação de que todos os olhos estavam sobre eles agora.
- E você é muito mandona. – apontou ele factualmente. – E eu não sei por que isso é uma coisa boa, mas é... – Hermione manteve-se em silêncio, ela tendia a se exceder um pouco. Às vezes...
- Isso não é... Eu não estou tentando nada... – apressou-se ao notar que ela continuava em silêncio fitando-o com uma expressão que ele não conseguia compreender muito bem. - Eu só queria que você entendesse ou... Acreditasse, realmente... Quero dizer... – ela ainda não respondera, e ele meramente acrescentou - Eu, er... Certo. Eu já vou, então... A festa...
- Certo...
- Você vem...? – arriscou ele erguendo-se com um ar esperançoso. Hermione observou-o completamente contemplativa em seus movimentos. E sem raciocinar muito bem, ainda absorvendo as últimas palavras do garoto, respondeu:
- Eu... Ok.
Ela encarou a parede do quarto abandonado, absorta em pensamentos.
Um cheiro acre e pesado pairava no local e a sensação de desconforto tomava conta dela enquanto fitava silenciosamente uma enorme mancha amarelada no papel de parede esverdeado do cômodo. Todo o lugar cheirava a mofo.
Não gostava de Grimmauld Place, nunca gostara. Fato era que provavelmente nenhum deles sentia-se confortável naquela mansão. Nem mesmo – ou especialmente - Sirius...
Lily ergueu-se da cama na qual se encontrava caminhando em silêncio até a porta do quarto. Parando com a mão direita sobre a fechadura ponderou sobre a conversa que tivera com o marido, e os fatos que se sucederam à mesma...
Mais de uma vez tocara no assunto com James. E mesmo que evitasse pensar na relutância do marido – menos por saber de sua insatisfação com a idéia que o desejo impulsivo de proteger o filho – ela própria tinha dúvidas sobre a segurança do plano.
Dumbledore os havia alertado, claro, de que o sucesso do plano jazia justamente na escolha daquele que guardaria o segredo... E essa era a razão pela qual Eles se encontravam ali. A razão pela qual ela se encontrava sozinha em um quarto abandonado era outra.
Ou talvez – Lílian ponderou com um gesto rápido do pulso – várias outras. Numerosos eram os pensamentos que a abatiam no momento, dentre os quais, o que ela distinguia com mais certeza dentro de si era sem dúvida medo. Medo por Harry, medo por ela, por James...
Desde que ouvira de Dumbledore as palavras da profecia, e ele confirmara a suspeita de que a mesma poderia apontar para seu filho... Um estado de medo alojara-se no fundo da sua mente e ultimamente caminhara para frente de seus pensamentos bloqueando a maior parte de sua racionalidade. Vide haver insistido naquilo com o marido. E apesar de ser possível captar o orgulho ferido nos olhos do marido, ele concordou... Por ela.
A Ordem sabia. Sabia que eles estavam em perigo, os três. Especialmente Harry. E se ela escolhera apelar para que James concordasse em fugir... Realmente.
Quem poderia culpá-la? Ninguém tinha esse direito. Afinal era a sua família, seu filho...
Então, eles haviam escolhido um Fiel do segredo... Obviamente um dos Marotos e por motivos claros de segurança esse fato, somente, havia sido o único compartilhado com os membros da Ordem da Fênix, inclusive Dumbledore.
Mais de uma vez questionara se escolhera bem. Não cogitou comentar suas dúvidas com James... Verdade era que sempre que tal pensamento passava-lhe pela cabeça afastava-os com a certeza de que se havia de fato um traidor na Ordem da Fênix certamente ele não estava entre os três. E as suas inseguranças e receios não eram mais que isso. Pura e simplesmente.
Nada mais compreensível. – racionalizou tentando ignorar a incerteza com a qual o pensamento ecoou em sua mente.
- Lily. – uma voz masculina soou no corredor escuro. Ela ergueu os olhos e por alguns segundos nada foi dito, até que Lily fez menção em seguir caminho, mas o homem interrompeu-a novamente. – Não, Lily espere...
- O que você está fazendo aqui Sev? Cansou de fazer da vida do meu filho um inferno? – cortou ela sem fazer esforço algum para esconder a secura no seu tom de voz. Snape recuou um passo, mas continuou num tom firme:
- Potter se assemelha muito com o pai. – respondeu simplesmente com o ar de quem oferecia explicação suficiente. Lily rebateu irritada:
- E eu considero isso um elogio! - dando-lhe as costas continuou seu caminho em direção à cozinha, mas Snape a impediu mais uma vez:
- Espere! Não faça isso.
- Fazer o que? – interrompeu erguendo uma sobrancelha.
- Eu faço! – apelou ele. – Eu posso ser o fiel do segredo! Lily, por favor...
- O que?! Não! – por um breve segundo Lily deixou escapar a surpresa que sentia no seu tom de voz. – Eu não confio em você. – retrucou afastando-se do homem.
- Por que não?! – questionou Snape sem esconder o tom de súplica na voz. Apesar da nota de amargura confirmar que no fundo sabia a resposta da pergunta que havia feito. - Você não pode confiar neles...! Isso é... – recomeçou ele, tateando em vão.
- Vá embora! – rebateu Lily impassível. O comentário fazendo com que sua surpresa fosse substituída por indignação. – Eu não vou cometer o desacerto de confiar na pessoa errada duas vezes. – e com isso virou- se e seguiu em direção às escadas. Snape seguiu em seu encalço:
- Eu tentei te proteger! – argumentou Snape em defesa, pois sabia exatamente de que a mulher falava. – Eu não sabia que ele escolheria vocês! – insistiu Snape. – E quando eu descobri, eu apelei pela sua vida! Eu jamais ir... – Obviamente aquela não era a melhor coisa a se dizer, visto que ela cortou voltando-se num repelão:
- E meu filho e meu marido que se danem! Certo? – retrucou voltando-se de súbito. E ela logo pode reconhecer a mágoa que atravessou o olhar dele. Mas mantendo-se calado, não se defendeu da acusação. E isso mais que qualquer outra coisa a fez acrescentar. – Pergunte de novo Severus, por que eu jamais confiarei em você.
Uma pausa seguiu-se a qual ela aproveitou para alcançar o lance de escadas respirando pesadamente. Sabia que havia sido dura, mas de algum modo não se importava. Genuinamente, há anos perdera a confiança naquele que um dia havia sido seu melhor amigo. E mesmo sabendo que Severus se arrependera, mesmo sabendo que as coisas poderiam ter sido piores... Ainda sim, as conseqüências do ocorrido naquela noite ainda pediam pesadamente sobre todos eles...
Harry poderia ter morrido. James poderia ter morrido... E apesar de eles terem escapado, o futuro dos três ainda era no mínimo incerto.
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