INTO THE FIRE



- Onde agente está?

- Perto... – murmurou Harry.

- Quão perto? – insistiu Rony.

- Perto Rony! – rebateu impaciente, e afastando o amigo do seu cangote, visto que ele agora se dobrava sobre o mapa para saber onde estavam. – Calma!

- Você tem certeza que esse é o caminho? – Harry parou. Rony esbarrou em suas costas, desprevenido.

- Rony eu sei o que eu estou fazendo! Eu já fui lá antes.

- Eu sei! É só... – Harry sentiu a irritação esvair-se ao perceber o motivo da agitação do amigo. – Já passou da meia noite... Ela deve estar...

- Eu sei. – cortou Harry. Não gostava de pensar muito sobre aquilo... Mas a verdade era que mesmo depois de ouvir do amigo que ele não o deveria, ainda sentia uma pontada de culpa cada vez que revivia o acontecido... Talvez, talvez esse fosse um dos motivos pelo qual ele não estava disposto a ir. E ainda sim... Ele estava ali. E mesmo o porquê disso, não parecia exatamente claro para ele...

- Então... Quando agente chegar lá, o que agente vai... Quero dizer... – recomeçou Rony. Obviamente, na urgência de prestar auxílio à amiga, ele não havia calculado muito bem como faria isso... Harry ponderou por um instante:

- Eu não sei... – respondendo com honestidade. – Eu suponho que talvez... Nós, nós devêssemos esperar, certo? Até ela... Até eles acordarem. – corrigiu.

- Certo. – respondeu Rony após um momento de silêncio.

Nenhum dos dois falou mais nada o resto do caminho. Harry conhecia o túneo, já estivera ali antes... Era uma das passagens que levava até os terrenos fora dos portões do colégio, e segundo o mapa, iria direto para a Casa dos Gritos. Provavelmente o mesmo caminho que Lupin havia tomado com Granger...

- Aqui... – murmurou ele apontando a varinha e mostrando uma elevação no chão de terra batida. Rony aproximou-se apontando a sua própria varinha e iluminando o local ainda mais. Logo na frente havia uma espécie de alçapão. O cheiro de madeira velha e apodrecida havia tomado conta do local, e exceto pela luz que vinha das varinhas dos dois, não havia nem sinal de presença alguma lá.

Houve um momento, breve, no qual Harry se perguntou se havia realmente alguém ali dentro, dado o completo silêncio do lugar. Ambos, ele e Rony, pareceram ter tomado com cautela a calma que se apresentava na sala mofada e antiga da casa. Pelo menos o que a fresta do alçapão lhes permitia ver...

Então, um rachar de madeira, abafou o som de pegadas vindo de perto. Até que dois pares de patas preocupantemente peludas e grandes entraram em seu campo de visão. Um lobisomem marrom escuro acabara de descer as escadas, e agora caminhava pela sala fungando o assoalho. Harry recuou alguns centímetros quase que involuntariamente. E um espasmo vindo do seu lado direito indicava que Rony provavelmente estavam com o mesmo pensamento: ele era enorme... Grande demais para ser ela... Mas se aquele era Lupin...

- Cadê Hermione? – murmurou Rony.

Shh! – cortou Harry. Mas um movimento brusco vindo de cima chamou sua atenção. O lobisomem voltou-se para a origem do barulho, eles.

Com a sensação desconfortável de que o faro do animal o levaria direto a eles, Harry recuou mais um pouco ao ver o par de patas se aproximarem ainda mais...

Aquilo seria ainda mais complicado do que ele esperava. Se Lupin pretendia continuar ali, como eles iriam passar? E mais importante ainda era se eles realmente deveriam dar continuidade aquilo... Pelo sim, pelo não, tanto Harry quanto Rony, mantiveram-se parados até que um uivo, agudo e distante soou fracamente pela casa. Harry voltou-se para o amigo, que também o encarava.

Mas eles não pareciam ter sido os únicos a quem o uivo chamara atenção. O lobisomem rapidamente pôs nas patas traseiras e farejou o ar, completamente alheio aos dois. E então, após alguns segundos no movimento, apoiou-se nas quatro patas e correu até a porta trancada e com um forte baque, abriu-a saindo rapidamente.

Rony considerou se deveria sair por alguns segundos... Mas visto que o silêncio continuava ele empurrou o alçapão, fazendo com que Harry soltasse um palavrão de indignação.

- Rony! – resmungou Harry em seguida. – Espere...

- Vamos! – disse simplesmente. Exceto pelo fato de que ele mantinha a sua varinha em punho, qualquer um que o ouvisse diria que os dois estavam prestes a afagar um cachorrinho...

- Espere... Agente não pode... – mas o amigo já percorrera a sala, e Harry não via outra solução senão segui-lo.

Rony caminhou até as escadas seguindo em direção aos quartos com Harry em seu encalço. Alguns entulhos bloqueavam a maior parte do corredor, exceto por uma porta logo à direita, a primeira porta que Harry avistou assim que alcançou o amigo no topo das escadas. Rony entrou, e ele o seguiu.

- Olhe... – apontou ele. Harry observou o canto do quarto, uma mochila cinza estufada se encontrava no canto do quarto. Ela ainda jazia fechada.

- É...?

- De Hermione, é sim... – confirmou Rony abaixando-se e apanhando a mochila.

- Mas então...? – recomeçou Harry voltando-se para a porta.

- Talvez ela também tenha saído... – Harry voltou-se para o amigo:

- Então...? O que agora? – Rony pareceu considerar por alguns segundos. – Você não está pensando realmente em ir atrás deles está? – questionou incrédulo. Rony observou-o por um momento impaciente, e respondeu em seguida:

- Não. – disse ele. – Eles vão voltar pela manhã...



- Hermione. – repetiu Lupin dando um leve sacolejo na face da garota.

Hermione abriu os olhos.

Uma luz forte e ofuscante cegou-lhe por um momento, e então, as copas de algumas árvores entraram em foco alguns metros acima dos dois. Hermione tateou o chão ao seu redor por um momento. Estava claro que havia passado a noite fora da casa... Mas... Não se lembrava de absolutamente nada...

Lupin observou enquanto a garota piscava aparentando confusão.

- Agente passou a manhã toda procurando por você... – murmurou ele. – Você consegue levantar?

- Sim... – murmurou Hermione. Sentindo o braço ser puxado pelo professor, uma dor aguda a fez gemer. – Nós...?

- Rony, e Harry. – Hermione pareceu surpresa e ao mesmo tempo irritada. – Eu sei... Quando eu voltei pra Casa dos Gritos eles estavam lá. Eu vou ter uma conversa com os dois... – acrescentou demonstrando também insatisfação.

Hermione abaixou os olhos e observou a sua roupa, sentindo um grande alívio ao checar que ela estava inteira. Levara algumas horas para cuidar daquele feitiço, e uma pequena ajuda de Sra. Potter, mas pelo visto valera à pena... Olhando em volta, ela levantou-se com ajuda.

- Meu ombro... – murmurou ao sentir um ardor novamente.

- Você deve ter se ferido sem querer... Eu sinto muito em dizer... Mas isso é meio que comum. – explicou ele num tom meio que de desculpa enquanto os dois caminhavam de volta à casa dos gritos.

- Eu não consigo me lembrar de nada... – comentou Hermione cambaleante. O professor estendeu o braço e ela se apoiou novamente.

- É normal... – disse ele. Mas Hermione não estava prestando atenção, seu olhar voltou-se para uma poça de sangue prateado que jazia próximo a uma das árvores. – Não se preocupe... Eu receio que tenha sido eu...

- Ah... – murmurou ela simplesmente, sentindo um imenso alívio tomar conta de seu peito.

- Eu vou falar com Hagrid mais tarde...

- Então... É isso? – continuou ela ao avistar o contorno da casa abandonada. – Vai ser assim...? Quero dizer... Eu não lembro de nada. Como você sabe se ninguém se machucou? E os alunos? Não é perigoso...? – desembestou ela sua cabeça remoendo de perguntas.

- Calma...! – cortou Lupin, apesar de não ter sorriso algum na face. – Não tem como saber... Nunca tem... – e após ver a expressão desapontada e completamente absorta da menina continuou. – Eu tentei me prender uma vez, com correntes... Acabei acordando lá em baixo no vilarejo... Ao lado do Três Vassouras pra ser mais preciso...

Hermione observou-o por um momento. Aquilo era para confortá-la, certo?

- Você pode tentar se quiser... Afinal, você é menor, mais fraca, nunca se sabe...

- Ok...

Os dois entraram pela porta aberta da casa. Um barulho de passos se fez ouvir até que Rony apareceu nas escadas com um saco de salgados nas mãos:

- Você a achou! – exclamou com a voz enrolada. Potter apareceu logo em seguida, com sua mochila nas mãos apesar de manter-se calado. Os olhos de Hermione foram das mãos de Rony, para as de Potter, e então para Lupin que jazia em pé ao seu lado. Voltando-se novamente para os dois falou num tom seco:

- Rony! Você não devia estar aqui!

- Nenhum dos dois deveria estar aqui! – acrescentou o homem absolutamente irritado.

- Eu vim ajudar... Você! – retrucou Rony parecendo ofendido com a ingratidão.

- Você está sangrando. –apontou Harry, mostrando o braço da garota que se voltou para ele como se só o notasse agora:

- Eu... O qu...? – e voltando-se para o braço, sentiu um ardor novamente. Lupin pareceu notar o ferimento, acrescentando em seguida:

- Vamos... É melhor nós voltarmos. – e assim eles fizeram.

Hermione precisava de cuidados, e tanto Harry quanto Rony pareceram notar que mais que nunca, não deveria passar por cima da autoridade do professor. E logo viriam a perceber que estavam absolutamente certos...

- Vocês não deveriam estar lá! – murmurou ele num tom de repreensão.

- Mas... Nós queríamos ajudar! – rebateu Rony. Harry observou o amigo chocado. Ele dissera “nós”?

- Vocês tiveram sorte que não se machucaram de verdade, ou mesmo acabaram mordidos! – reclamou num sussurro.

- Mas...

- Ouch!! – exclamou Hermione do outro lado da enfermaria, onde Madame Pomfrey cuidava do seu ferimento.

- Não se mexa querida. – pediu a mulher impassível. Com uma olhada no canto do aposento, onde Lupin reclamava com os garotos, Hermione ponderou.

Com certeza, eles não deveriam estar lá... Entretanto, imaginava como não desconfiou que Rony fosse aparecer lá mesmo depois dela ter lhe dito que não... Mas Potter... Rony provavelmente o forçara a ir, mas ainda sim... Por aquela ela realmente não esperava... Claro que não deixaria transpassar quão surpresa estava, mas mesmo assim.. Até que fora um gesto meio que...

- Os pais dos dois vão saber disso. – tanto Harry quanto Rony fizeram menção em revidar, mas Lupin não pareceu disposto a ouvir. – E, vão receber detenção! Por uma semana. – ninguém disse nada.

Harry sabia tão bem quanto o amigo que detenção com Lupin não era realmente detenção... Lembrava de um castigo que recebera de Snape, (por razão nenhuma para variar) na qual Lupin ficara responsável por vigiá-lo. Duas horas antes de o castigo terminar, Harry já se divertia mais que o suficiente... Para uma detenção, claro. –acrescentou mentalmente, cuidando para que o professor não apanhasse o sorriso que se formara em seu rosto.

- Você está bem? – Harry pode ouvir a voz do amigo.

Rony insistira para que eles levassem a menina de volta ao quarto, e ainda parecia ressentido que ela não estava disposta a compartilhar o acontecido. Harry tentou mais de uma vez desvencilhar-se dos dois, mas o amigo insistira, então... Por mais deslocado e intruso que se sentisse, acompanhara a garota assim como ele...

- Sim... Eu suponho. – respondeu Granger. – Quero dizer... E - eu não me lembro de muita coisa... – acrescentou, Harry pode notar o quão desconfortável a garota estava.

- Lupin disse que é normal. – disse ele a guisa de conversa. Ela não respondeu, parando em frente ao seu quarto e entrando após se despedir brevemente. Aparentemente ele não era o único que achava a situação no mínimo estranha...



- Eu não vou lá. Vai você.

- Vai lá. – insistiu Lilá.

- Eu estou lendo.

- Hermione! – exclamou Parvati.

- Ou tentando... – murmurou irritada.

- Não custa nada...

- Se é surpresa porque eu devo ir perguntar? – questionou Hermione. Lilá revirou os olhos, mas quem interpôs foi Giny:

- Agente tem que saber se ele vai fazer alguma coisa. – insistiu.

- Você é irmã dele. Você sonda. – rebateu Hermione depois de uma olhada de esguelha para a escada.

- Mas a idéia foi sua! – retrucou exasperada. – Além do mais ele vai desconfiar...

- Então eu já fiz suficiente. – resumiu Hermione voltando sua atenção ao livro que tinha nas mãos. Giny voltou os olhos para o canto oposto da comunal.

Era sábado... O último jogo da temporada havia acabado de encerrar, e a comunal da Grifnória estava abarrotada de alunos comemorando o título. Quatrocentos e cinqüenta a trezentos... Normalmente ela estaria celebrando a vitória sobre Sonserina com excitação, entretanto... Hermione como sempre não costumava tornar as coisas mais fáceis.

Dois dias atrás a menina viera falar com ela, e propor uma surpresa em comemoração ao aniversário do irmão. Obviamente vindo de Hermione, Giny não poderia dizer que se sentira menos que surpresa, considerando a idéia... Mas, justamente por se tratar dela, resolver aceitar sem pestanejar, não... De modo algum... Até porque era uma ótima idéia, e não era sempre que se conseguia a permissão do monitor-chefe para aquilo...

- Porque você não quer ir? – perguntou Lilá. Hermione ponderou observando o grupo de garotos na escadaria dos dormitórios. Não diria o motivo que a impedia de ir lá, mas sabia muito bem qual era... Ou quem era. Não era difícil de identificá-lo dali... Cabelos negros e assanhados, olhos verdes e um enorme sorriso no rosto, devido ao que parecia ser um fato extremamente engraçado. A verdade era que as coisas andavam um pouco além de esquisitas nos últimos dias...
Desde a sua primeira transformação, apesar das insistências dela, as detenções de Lupin, as ameaças dos pais... Tanto Rony quanto ele haviam estado na Casa dos Gritos durante as seguintes... O que no começo era no mínimo paradoxal, se tornara estranhamente embaraçoso, visto que exceto alguns cumprimentos de praxe, se ela fazia o possível para evita-lo, ele o fazia em dobro.

- Razão nenhuma. – mentiu. Giny fitou a garota por um momento. E então observou os meninos, e então ela novamente. – O que?

- Isso é por causa de Harry? – Hermione levantou os olhos com uma relutância mal disfarçada:

- Absolutamente. – Lilá e Parvati se encararam por um momento, obviamente captando a informação com uma avidez estupenda:

- Hãn?!

- O que você quer dizer? – Giny voltou-se para as duas por um momento, e encarou Hermione novamente que rebateu impaciente:

- Nada! Ela não quer dizer nada.

- Quero sim! – insistiu com um ar incisivo.

- Não quer não! – cortou Hermione com um ar urgente, antes que Giny falasse demais novamente. E então, mudando o tom de voz consideravelmente, acrescentou o mais calmamente possível. – E já que eu não consigo ler aqui, eu vou embora... Até amanhã vocês.

Levantando-se da poltrona, Hermione fechou o livro e caminhou resoluta até a saída sumindo por trás do quadro. Giny observou enquanto a amiga ia embora com as sobrancelhas erguidas. Voltando-se para o grupo captando um olhar... Harry desviou disfarçadamente voltando-se para Rony.



- Então... Está tudo pronto? – Hermione parou com o garfo no ar e observou a garota à sua frente:

- Está sim Padma. – respondeu com um tom monótono.

- E ele não sabe de nada. – continuou a irmã num tom de confirmação.

- A não ser que alguém tenha dado com a língua nos dentes... Não.

A comida já está pronta?

- Já.

- E bebida? Vai ter bebida não vai? – acrescentou Giny com ar preocupado.

- Claro que vai. – respondeu Hermione exasperada, e em seguida acrescentou. – Que por sinal deu um trabalhão pra conseguir viu? – estava começando a se arrepender daquilo...

Se a notícia de que havia passado bebida para dentro do castelo, para uma festa que aconteceria naquela madrugada vazasse... Podia dar adeus ao cargo de monitora-chefe, ou mesmo monitora. Corrigiu-se mentalmente.

Deveria ter adivinhado que Giny não seria uma boa influência para ela.

- Você não está dando pra trás, está? – perguntou após checar a expressão dela.

- Não! Claro que não. – mentiu. Estava ficando boa naquilo... – É só que... Você não acha que esse negócio já tem gente demais?

- É uma festa! – sussurrou Padma ansiosa. Parvati a tinha convidado. Sabia que se Rony pudesse escolher não faria objeção alguma à presença dela, entretanto... Junto com ela, viera mais um grupo relativamente grande da Corvinal. Grupo este, que tanto ela quanto as garotas tiveram de arranjar um jeito de escoltar até a comunal da Grifnória... Bem distante da vigilância de Filch, claro...

Um momento de silêncio se seguiu enquanto Hermione se ocupava dos seus ovos com bacon, e as três observavam-na atentamente:

- Então... – recomeçou a menina. – Parvati me disse algo sobre você e Potter... – Hermione lançou um olhar frio a esta.

- O que Giny quis dizer? – perguntou Lilá abruptamente. Virando-se para a garota respondeu baixando os olhos em seguida:

- Nada.

- Porque... – continuou aparentemente sem ter ouvido a resposta de Hermione. – Nós pensamos que sei lá... Depois dessas férias todas e tal... Quero dizer... Você meio que podia, sei lá... – Hermione limitou-se a fitar a garota, que aparentemente captou a essência do olhar. – Nada...

- Olha só... Eles estão vindo. - avisou apontando para a entrada do salão com um tom descontraído. A conversa morreu quase que instantaneamente, e Padma desapareceu da mesma num piscar de olhos.

- O que foi? – perguntou Rony se aproximando com um ar desconfiado.

- Nada...

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