The world of "Gray"

- Ele está irritado? – perguntou Sirius que esperava em pé no corredor. James respirou fundo novamente:

- Irritado nem arranha a superfície... – murmurou. – Ela está melhor?

- Lily e Molly estão com ela... – informou ele. – Porque ele está tão arredio?

- Ele sabe que nós não estamos contando algo... Ele não sabe o que é, mas... Ele sabe... – comentou James retirando os óculos e apertando os olhos. Um sinal de visível cansaço que o amigo logo percebeu:

- Venha... Lupin está lá em baixo junto com Peter... – disse Sirius apoiando uma das mãos no ombro do amigo e guiando-o escadas abaixo.

Silêncio reinava na mesa da cozinha, enquanto os quatro ponderavam os últimos acontecimentos. James observou o copo vazio na mesa. Sua cabeça doía violentamente e uma sensação de completa inutilidade se apossara dele. Sentia-se terrivelmente mal por ter mentido para o filho... Mesmo sabendo da necessidade de tal, a culpa continuava.

- Pelo menos eles estão bem... – murmurou Peter.

- Ela provavelmente se torne um lobisomem pro resto da vida... – apontou Sirius com um ar penoso.

- Ainda sim. – concordou Lupin. – Poderia ser pior.

- Você acha que ele desconfia de algo? Quero dizer...

- Harry não é estúpido Peter. – cortou Sirius com um tom óbvio.

- Eu não sei, eu não sei... – murmurou James curvando-se e apoiando a cabeça por entre as mãos... – Eu odeio ter que mentir para ele...

- Você sabe o que isso significa não é James? – começou Sirius com um ar mais sombrio. O amigo voltou-se para ele. Mas quem respondeu foi Lupin:

- Há um traidor na Ordem. – falou ele. A perspectiva não era agradável, e James não foi o único a demonstrar desconforto com a idéia... A verdade era que aquele grupo estava reunido a tanto tempo, que era no mínimo doloroso imaginar que um deles havia traído Lily e James...

- Ficar aqui não é mais seguro... – continuou Sirius.

- Eu sei. – falou James com feição taciturna. – Mas Harry vai voltar para Hogwarts, e por agora ele está seguro...

- Você já falou com Lily? – perguntou Peter.

- Não... Mas eu sei o que ela vai dizer...

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- Querida você tem que beber isso... – pediu Molly novamente. Hermione pode ouvir uma voz meio familiar ao abrir os olhos vagarosamente. Um líquido amargo e viscoso desceu pela sua garganta causando uma ânsia de vômito que jamais sentira. Era como se seu corpo inteiro pedisse que despejasse aquele líquido de volta no copo.

- Não... – murmurou com um gemido.

- Hermione é normal que seu corpo rejeite, mas você tem que tomar... Faça um esforço, vamos... – pediu Lily.

- Ela precisa de um hospital Lily... Os arranhões, eu acho que ela perdeu muito sangue... – comentou Molly apontando para as bandagens no torso da garota.

- Eu sei, mas... Ela... Nós não podemos levá-la. – retrucou Lily em resposta, e sentando-se na beira da cama forçou o resto da poção na menina. Hermione tossiu com força sentindo suas costelas doerem ao esforço...

- Pronto... Tudo bem... – confortou Lily. Acomodando-a novamente no travesseiro. Hermione sentiu uma mão quente acariciando seu rosto...

- M-mãe...? – murmurou ela. As duas observaram a menina balbuciar algo sem muito sentido.

- Pobre garota... – comentou Molly. – Como nós vamos contar a ela que...

- Ela só precisa de descanso... – acrescentou Lily desviando os olhos da cama e levantando-se. – Amanhã nós conversamos com ela, Lupin pode ajudar...

Ambas observaram Hermione adormecida por um momento, até que Molly sacudiu a cabeça e com um tom mais prático murmurou:

- É melhor eu descer... Já está amanhecendo mesmo, com certeza os meninos vão estar com fome...

- Eu ajudo. – ofereceu Lily acompanhando a mulher. Mas Molly virou-se em seguida:

- Oh, querida você não precisa, de verdade... Por que você não descansa um pouco hãn? – sugeriu com um tom suave.

- Não! E - eu estou bem... Sério... – Molly encarou-a pouco convencida e ela respirou fundo argumentando com uma nota de desespero na voz. - Eu só preciso manter a mente ocupada... Por favor... – Molly pareceu considerar:

- Bom... São muitas bocas para alimentar... – Lily deu um pequeno sorriso.

De fato... Harry acordou naquela manhã, pelo menos fisicamente, sentindo-se recuperado... Claro, apesar de todos terem voltado para casa, no balanço geral as coisas poderiam estar bem melhores que aquilo. Só a briga que tivera com seu pai valeria por todo o mau humor que Rony tentara arrancar dele ao entrar no seu quarto com um ar extremamente aliviado no rosto. O qual ele agradeceu plenamente. E depois, preparado e esperando que o ar de felicidade do amigo fosse sumir e se transformar em completa revolta com relação a ele, Harry contou o ocorrido com Granger na floresta. Não fazendo jus a sua expectativa, Harry observou enquanto a feição do amigo ia de um ar aliviado para outro triste e preocupado:

- Minha mãe me contou... – murmurou. – Eu não falei com ela ainda... Ela está dormindo.

- Então... Você...

- Lupin me disse que você acha que é culpa sua...

- Bem... – começou Harry tateando uma resposta.

- Não foi culpa sua... – cortou Rony sentando-se na cama ao lado do amigo. – Se não fosse por você ela nem estaria aqui... – ponderou Rony.

- Bem, eu... – tentou Harry novamente.

- Eu sei que Bellatrix disse aquilo tudo e tal, mas... Mesmo que seja verdade, não é culpa sua, certo?

- Certo... – murmurou Harry levemente confuso pela súbita eloqüência vinda do amigo. Talvez ele estivesse deixando a irmã influenciar demais sua cabeça...

- Por falar nisso... – recomeçou ele. – Você falou com seu pai?

- Sim... – respondeu Harry sentindo o mau humor voltar com toda a força.

- E? – incentivou Rony obviamente curioso.

- Ele negou. – respondeu Harry. – Bem na minha cara. – acrescentou sentindo a irritação aumentar. Rony pareceu ter notado:

- Vamos... – desconversou. – Minha mãe preparou o café, eles estão lá em baixo. Harry levantou-se e caminhou até o biomo começando a se vestir. – Então, você ainda não contou como saiu de lá... – incentivou Rony com uma ponta de excitação na voz. Harry sorriu.

- Querida, passa essa tigela pra mim, por favor... – pediu Sra. Weasley. Harry entrou a tempo de ver Giny levantar-se com uma tigela vermelha nas mãos e entregar nas mãos da sua mãe, que ao vê-lo entrar na cozinha acompanhado de Rony.

- Como você está se sentindo? – perguntou ela puxando-o para um abraço.

- Bem... – respondeu num murmúrio abafado pelo abraço. – Er.. Mãe! Eu estou bem... – repetiu Harry.

- Venham... Nós preparamos o café. – Harry caminhou e sentou-se à mesa com os outros.

- Então...? - questionou Giny abaixando o tom de voz.

- Giny deixa o cara em paz! – reclamou o irmão.

- Eu só quero saber o que houve lá... – insistiu a garota curvando-se sobre a mesa e aproximando-se de Harry. – É verdade que Hermione foi atacada? – Harry observou a menina e Rony voltou-se para seu prato com ar sério.

- É... – respondeu Harry também sério. Giny levou as mãos ao rosto horrorizado.

- Oh! Lupin disse que ia conversar com ela, eu não achei que era tão sério... Ela deve estar arrasada... – foi vez de Harry desviar os olhos. Era confortante saber que o amigo não o considerava culpado pelo ocorrido, mas de algum modo ele ainda não se sentia livre do peso nos ombros...

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Hermione abriu os olhos e observou o cômodo à sua volta. Por um breve e extremamente agradável momento ela custou a relembrar a situação em que estava e as circunstâncias sobre as quais estava presa e não havia como se soltar... Por não mais que dois segundos, até que a realidade lhe atingisse de modo rápido e cruel. Lupin havia lhe visitado no dia anterior, e explicara o que havia acontecido... E que por sinal ela própria apesar do considerável esforço não conseguiu lembrar... E mais importante e mais devastador... As conseqüências daquilo. Como ela faria agora? Largar Hogwarts? Não, ela não podia fazer isso...

Lupin lhe assegurara que assim como ele ela poderia muito bem concluir seus estudos e ter uma vida normal depois daquilo... Com algumas adaptações obviamente. Mas... Ainda sim, e seus pais? Como eles aceitariam o fato de que a filha deles era agora um monstro? Se ela estava surtando daquele jeito, imagina como seus pais não ficariam...?

Ela gemeu. As coisas poderiam ficar piores? Pelo menos ela não estava morta.. Ou aleijada, ou sei lá... O que quer que fosse pior que se tornar um lobisomem antes de atingir a maioridade. Considerando o fato de que provavelmente não havia lá muitas coisas que se encaixassem nessa classificação...

- Mione? – Hermione levou as costas da mão até o rosto e limpou-o num gesto rápido ao ouvir uma batida de leve na porta. Rony entrou:

- Oi... – disse ela forçando um pequeno sorriso.

- Como você está...? – perguntou ele caminhando até uma cadeira e sentando-se ao lado da amiga. Rony olhou para trás, obviamente esperando por mais alguém que não havia entrado no quarto.

- Eles disseram que eu vou viver... Apesar de não parecer... – acrescentou franzindo a testa em dor ao se ajeitar nas cobertas. – O que foi? – questionou observando a porta. Potter apareceu e parou no vão aparentemente e estranhamente (pelo menos para ela) desconcertado:

- Oi... – murmurou ele. – Eu ouvi que você está melhorando... – murmurou ele meio sem saber o que dizer.

- Bom... Eles ainda estão me afogando em sopa então... – comentou Hermione sem graça.

- Você... Hum. – pigarreou. – Você se lembra de alguma coisa? – Hermione piscou. Não, não lembrava de muita coisa... Por que ele estava perguntando aquilo? Não era suficiente que ela já soubesse o que tinha de saber?

- Não... Quero dizer... Mais ou menos. – tateou ela. Houve um momento de silêncio, até que Rony respirou fundo recomeçando.

- Olhe... Lupin disse que você pode ficar boa se...

- Rony... – tentou Harry antes que o amigo dissesse alguma besteira. Pois, ele podia não conhecer a menina muito bem, mas em sua opinião ela parecia no mínimo desconfortável.

- Tudo que agente tem que fazer é...

- Rony. – cortou Hermione. – Eu sei disso. – disse ela simplesmente. Não tinha paciência para aquilo. Sabia que Rony tentava ajudar, mas de algum modo a frustração pela sua própria situação era maior agora. – E eu não quero falar sobre isso, ok?

- Certo... - Rony parou. Hermione respirou fundo e recomeçou num tom mais ameno:

- Olhe... Eu sei que você que ajudar, mas... – ela parou procurando a melhor maneira de explicar aquilo. – Eu só preciso de um tempo... Pra absorver isso, isso tudo...

E ele o fez. Hermione sabia que pelo menos em termos de sentimentalismos seu amigo não era exatamente um primor, mas... Dadas às circunstâncias, pelo menos ele compreendera a parte que correspondia a não tocar no assunto. E ele não era o único. Era como se a atmosfera na casa estivesse se acalmando frente ao fato de que por mais triste que aquilo fosse, não havia nada que pudesse ser feito no momento, exceto continuar a viver normalmente. E aquilo valia para ela própria, com certeza.

Entretanto... Hermione achava que viver a vida “normalmente” não era exatamente um conceito que se encaixava na mente de Sra. Weasley. – uma nota que ela fez questão de acrescentar mentalmente ao observar o prato de sopa descansando na mesa ao lado de sua cama. – Comer. Definitivamente um aspecto importante de uma vida normal. Poder andar pela casa também seria uma ótima pedida... – considerou em seguida. – Sem contar claro, com o fato de que aquele era o terceiro dia de aula que ela perdia, absolutamente ultrajante...

Hermione desvencilhou-se das cobertas e pôs os chinelos.

Depois de ter sido pega em flagrante por Sra. Potter tentando persuadir Rony a levar um pouco de macarronada para ela no quarto Hermione fora terminantemente proibida de ir além de torradas. Segundo eles: por estar em “fase de recuperação”.

Resumindo: Fome. Ela estava com fome. Simples assim... Já não era o suficiente ter Potter ladeado por Fred e George enchendo a sua paciência pelo fato de que ela estava praticamente implorando por comida de verdade...

Estendendo o braço Hermione levantou-se, apanhou o roupão e amarrou-o na cintura.

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- Ele está orgulhoso de você. – Harry voltou-se e encarou o padrinho. – É extremamente enfadonho, pra falar a verdade. – ele não disse nada. Não havia comentado sobre a discussão que tivera com o pai, mas suspeitava que ele já houvesse compartilhado o episódio com os amigos... Era sempre assim mesmo...

- Certo... – murmurou a guisa de resposta. O sentimento com certeza não era mútuo...

- Olhe... – recomeçou Sirius que obviamente notara a expressão do afilhado. - Eu entendo o porquê de você estar agindo tão irritantemente... – Harry franziu a testa em desagrado extremamente ofendido. – Mas... – continuou antes que Harry emitisse qualquer som. – Ele é seu pai, e só quer o melhor pra você assim como sua mãe. – Harry levantou-se até a despensa em busca de uma cerveja amanteigada.

- Que belas férias... – resmungou. Não só ele quase havia acabado morto, como se sentia um completo estúpido sendo tratado feito uma criança de dez anos de idade pelos pais... E pra completar, Sirius dera pra lhe dar sermões dignos de sua mãe. Justo ele que sempre estivera do seu lado...

Não tinha exata certeza de quando a relação dele com seus pais se tornara uma questão de lados... E essa não era uma concepção que agradava a ele de modo algum. Mas sabia também que ia longe a época em que ele acreditava na ladainha que era empurrada goela abaixo para justificar tudo de estranho que acontecia na vida dele... Apanhando duas garrafas, Harry voltou para a cozinha onde todos esperavam pelo almoço.

- O que está havendo? – perguntou Harry ao entrar novamente ao encontrar o amigo sorrindo. – Ela não devia estar na cama? – questionou ele ao ver Granger em pé na porta da cozinha. Rony acenou afirmativamente enquanto Giny sorria ao lado dele.

- Mas meu amor você precisa ficar deitada! – insistiu Sra. Weasley. Hermione rebateu ainda mais teimosa:

- Eu estava deitada! Eu passei os últimos três dias deitada! – argumentou Hermione. – Se eu ficar mais meia hora deitada... – tateou ela obviamente procurando algo que se encaixasse com a urgência da situação. – Minhas pernas vão atrofiar e eu vou perder a capacidade de andar!

- Eu queria que a língua dela atrofiasse... – murmurou Harry para o amigo que riu mais ainda.

- Eu ouvi isso! – resmungou Hermione ofendida.

- Hermione, você devia estar descansando, sério... – tentou Lupin apesar de ele próprio ter um ar divertido.

- Eu já descansei! – rebateu ela. – Além do mais... Não é justo vocês me matarem de fome lá em cima enquanto todo mundo come frango aqui em baixo! – insistiu ela batendo o pé. – Eu quero frango! Eu exijo frango!

- Ela está morrendo de fome? – comentou Giny franzindo a testa.

- Não... Não, realmente... – respondeu Rony.

Sra. Weasley respirou fundo com uma expressão não muito satisfeita, e depois de um momento murmurou em tom de desaprovação:

- Que seja... – disse caminhando até a menina e ajudando-a a sentar-se na cadeira.

Pelo menos ela estava fora do quarto... Lembrou a si mesma uma hora depois, momento durante o qual todos estavam reunidos à mesa conversando. Se é que aquilo poderia ser considerado uma conversa. Hermione nada dizia. Um leve enfado começou a surgir dentro dela. Era óbvio o que a maioria estava pensando, mas ninguém expunha o acontecido de verdade... De fato, passara a última hora em absoluto silêncio, sem nem ao menos opinar, em nada. Entretanto, ela sabia sobre o que queria conversar... E a pessoa que poderia responder a qualquer dúvida que tivesse sobre aquilo:

- Lupin... – começou ela. Várias conversas paralelas percorriam a mesa naquele momento, não foi muita surpresa notar que o homem não a havia escutado. Pondo a garrafa de cerveja na mesa ela continuou calmamente. – Quantos anos você tinha quando foi atacado?

Houve um silêncio. Lupin voltou-se para a garota à sua frente. Ela o observava com sincero interesse e genuíno conforto em conversar sobre o assunto. Diferente dos outros a mesa, que simplesmente a observaram no mínimo surpresos com o desprendimento da garota. Considerando a pergunta por um momento, ele respondeu procurando um tom tão ameno quanto o da pergunta:

- Eu... Eu era muito mais jovem que você. – respondeu Lupin, voltando a atenção da conversa com Lily para Hermione.

- Mas... – recomeçou Hermione ainda procurando chegar aonde queria. – Como...? Você sabe quem o mordeu?

Harry observou a garota enquanto ela franzia a testa numa expressão de sério interesse. Ela estava falando sério? De verdade? Não muito certo se deveria fingir não ouvir a conversa, assim como a maioria que se sentia obviamente tão desconfortável quanto ele, Harry voltou os olhos para Rony, surpreso. Lupin não iria responder... Com certeza, aquilo devia ser desconfortável para ele certo? Mas para sua surpresa, Lupin parecia tão confortável quanto Granger:

- Lembro. – respondeu com boa vontade, apesar de Hermione notar uma sombra perpassar nos olhos dele. O que a instigou ainda mais:

- Mas... Por que você não...? – logo ficou claro que o professor já sabia aonde ela queria chegar com aquilo...

- Por que eu não fui atrás dele? – completou Lupin, e medindo as palavras, ele acrescentou num tom de explicação. – Não é tão simples assim Hermione... – ela apanhou a garrafa de cerveja amanteigada e tomou um gole. Não iria desistir assim tão fácil, ainda mais agora. Sabia que se achasse o lobisomem que a havia mordido poderia se livrar daquilo... O que não compreendia era porque depois de tanto tempo, Lupin não havia tomado nenhuma atitude, assim como os amigos de partir em busca do mesmo objetivo que ela...

- Me fale sobre Grayback. – pediu Hermione. Se antes o clima havia pesado, agora, pensou Harry, o ar podia ser cortado com uma faca.

- Hermione querida... – tentou Sra. Weasley, o desconforto tão visível nela quanto nos outros à mesa. Mas a menina não pareceu intimada, e o próprio Lupin acalmou a mulher num tom ameno:

- Tudo bem Molly... – Harry sentiu os olhos do professor recaírem sobre ele antes de se voltarem para Granger.

Harry sentiu uma pontada de culpa. Na noite anterior, visto que a menina não lembrava de muita coisa do acontecido, ela praticamente o forçara contar detalhe por detalhe do que havia se passado na floresta. Não foi uma meia hora agradável, relembrou Harry. A verdade era que o relacionamento dos dois ainda se encontrava meio que suspenso numa terra de ninguém. Pelo menos até ela se recuperar totalmente, ou até os dois voltarem para Hogwarts, o clima continuaria estranho entre os dois... Pra ser mais sincero consigo mesmo, ele até que sentia falta do tempo em que as coisas eram mais preto e branco entre os dois.

O fato era que ao contrário dela, Harry reconheceu o lobisomem que a havia atacado. E assim como informara à Ordem, disse a ela também quem havia sido...

- Harry disse que foi Grayback que a atacou na floresta. – comentou Sirius. Hermione voltou os olhos para Potter por um momento. Era bom saber que apesar da dificuldade que ela tivera para arrancar a verdade do garoto ele se abria tão facilmente com os outros, ainda mais quando o assunto não dizia respeito a ele... Anotou mentalmente com leve irritação.

- Grayback é um dos lobisomens mais velhos que eu conheço... – começou Lupin.

- Ele é bastante conhecido na realidade. – acrescentou James. – Seu nome está na lista de mais procurados do Ministério.

- Por quê? – Hermione voltou-se para o amigo. Rony, que também parecia bastante interessado na conversa, inclinou-se sobre a mesa, interrogativo. Harry voltou-se para o pai, também esperando pela resposta, apesar de já saber... Mas quem respondeu foi Sr. Weasley:

- Bom... – começou ele procurando as palavras para explicar aquilo ao grupo de garotos. – Existem várias coisas que fazem com que Grayback se torne tão...

- Terrível. – cortou Tonks, expondo a opinião pela primeira vez.

- Como assim? – interrompeu Hermione confusa. Atacar os outros não era o suficiente nos dias atuais?

- Grayback é extremamente seletivo no que diz respeito às suas vítimas... – iniciou Lupin.

- Ele só ataca crianças. – completou Sirius com um ar visivelmente enojado. Hermione fez o possível para esconder o choque, não foi muito bem sucedida...

- Veja... – recomeçou Lupin. – Ele ataca crianças para que possa criá-las depois. Mantê-las como proteção, uma espécie de cria...

- Mas não é só isso que faz com que ele seja tão...

- Louco? – sugeriu Tonks novamente.

- Existem certos rumores... Sobre, bom... – tateou Lily em busca de uma forma mais sutil de explicar aquela atrocidade. – Existem rumores de que ele tenha desenvolvido certa... Certo gosto por, por carne humana... – Hermione franziu a testa. Talvez, não tinha certeza, fosse o completo absurdo daquelas palavras que a impedissem de assimilar completamente seu significado, visto que quem esclareceu com aversão ao pensamento foi Potter:

- Dizem que ele se alimenta de carne humana. – completou Harry. – Mesmo quando não está transformado...

- Isso é... – começou Rony, buscando a palavra ideal.

- Doentio. – completou Giny. – E nojento e...

- Hermione... Eu entendo que você queira encontrá-lo... – recomeçou Lupin num tom de persuasão. – Mas... Você tem que entender que, quanto mais distante dele você estiver, melhor.

- Grayback atacou vocês naquela noite com o intuito de matá-los. - explicou Sr. Weasley. – Existe uma boa chance de que ele nem imagine que você esteja viva. E isso é uma vantagem, que você deve aceitar.

- Acredite... Você não gostaria de ter Grayback na sua cola. – concluiu Lupin. – E eu digo isso por experiência própria.

---

- Agente tem mesmo que ir assim? – perguntou Harry pela quinta vez. Rony sorriu, fazendo com que ele franzisse a testa em desagrado. Odiava viajar de pó de flu. Ele sabia, Rony sabia, todo mundo sabia. Era péssimo naquilo, sempre fora... Desde a primeira vez que metera a cabeça numa lareira, sempre, sempre havia um infortúnio, que o levava a prometer ser aquela a última vez que utilizaria o transporte.

- Você é só desastrado. – cutucou Giny também rindo da sua irritação.

- Qual o problema com ele? – questionou Hermione apanhando Bichento e se preparando ela própria para voltar para Hogwarts. Não deveria rir da desgraça dos outros, entretanto... Quando se tratava de Potter, raras eram as vezes que ele poderia ser pego com um ar tão inusitadamente desconfortável, o que era sem dúvida alguma, extremamente divertido.

- Harry pela última vez, esse é o modo mais seguro. – insistiu sua mãe entrando na sala acompanhada pelo pai. – Harry resmungou um palavrão, cuidando para que não fosse ouvido. Rony riu mais ainda.

Caminhando até os quatro, Lily puxou Hermione para um canto:

- Você já pegou tudo? – Hermione acenou positivamente.

Ela e Sra. Potter haviam passado o dia anterior fazendo um estoque de poções para que pudesse tomar enquanto estivesse em Hogwarts. Apesar de Hermione ter garantido que ela própria sabia como fazer uma poção que amenizasse o processo de transformação, a mulher fizera questão de ensinar lhe a mesma poção que fazia para Lupin. Segundo ela, Hermione poderia (se fizesse a alteração direito claro) reduzir de uma semana para um dia o tempo em que passaria transformada. O que sem dúvida alguma, era lucro.

Hermione tinha mais duas semanas até a primeira lua cheia do mês. Não gostava de pensar sobre o assunto, mas, Lupin garantira que estaria lá com ela, afinal ele próprio se encontrava na mesma situação, então...

- Se você precisar de mais... – continuou ela. – Pode mandar uma coruja, que eu cuido disso certo?

- Certo... – respondeu Hermione agradecida. A mulher estava prestes a dar meia volta, quando parou de repente voltando-se para ela mais uma vez:

- Eles vão querer ir com você. – avisou. Obviamente estava falando dos três. Hermione não tinha muita certeza quanto à boa vontade do filho dela, mas, sabia que Rony e Giny provavelmente iriam querer estar lá. – Não importa o que eles digam... A resposta é não. Você entende isso não é? – Hermione acenou positivamente mais uma vez.

Um luz amarelada iluminou o salão. Giny havia acabado de entrar na lareira, falando em alto e bom tom o nome do destino. Harry sentiu o estômago embrulhar.

- Você quer ir primeiro? – perguntou Harry voltando-se para o amigo que deu de ombros apanhando um pouco do pó na mão direita. E seguindo para dentro da lareira, Harry observou o amigo ir em silêncio. Hermione parou ao lado dele:

- Nós não temos o dia todo, sabe? – avisou, visto que o garoto se mantinha parado. Harry sentiu um desconforto nada comum se apossar dele:

- Eu sei disso. – retrucou franzindo o cenho. E caminhando até a lareira atirou o pó no chão. – Hogwarts! – com uma guinada no estômago, Harry sentiu as labaredas percorrerem ao seu redor. Uma fumaça negra, em seguida algo sólido, bastante sólido. Uma pancada oca se fez no aposento, seguida de gargalhadas e um pigarro seco.

- Cuidado com o tapete Potter. – avisou McGonnagal. Harry levantou os olhos irritados pela fumaça da lareira da mulher. O escritório da vice-diretora estava totalmente embaçado. Seus óculos haviam caído com o baque. Uma mão estendeu-lhe o objeto, que ele colocou no rosto focalizando a pessoa que os havia entregado. Giny. Que assim como Rony, ria profusamente:

- Cara... Isso é impagável. – Harry franziu a testa. Estava de joelhos, procurando em vão limpar a própria capa quando um peso imenso pegou-o de surpresa derrubando-o de frente no chão novamente.

Hermione gemeu de dor. Apesar de sua queda ter sido amortecida por alguma coisa que ela não havia identificado muito bem... Um segundo gemido de dor fez com que ela abrisse os olhos surpresa. Um mar de cabelos negros emaranhados tapava a sua visão. Demorou mais ou menos uns dois segundos para notar que havia caído em cima de Potter... Esse parecia tão irritado, quanto ela estava confusa. Afastando-se rapidamente e olhando para cima identificou Rony ladeado por Giny, que murmurou com um sorriso debochado:

- Nah... Isso sim é impagável! – isso mesmo... Pensou Harry enquanto se refazia. Eles estavam de volta à Hogwarts, como se nunca houvessem partido... Pelo menos as coisas eram preto e branco novamente... Certo? Errado...

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