Under the carpet...
Harry observou enquanto a paisagem mudava significantemente. Os pastos e bosques foram dando lugar a casas e logo em seguida prédios. O que significava que se aproximavam de Londres cada vez mais. Pensou Harry com um alívio. Ele observou seu reflexo no vidro embaçado. Sentia-se mais tranqüilo agora. Sabia que não demoraria muito para que chegassem até Grimauld Place. Pelo menos quanto a isso não havia muito que se preocupar, não mais... Entretanto, havia ainda os outros, dos quais ele não tinha notícia alguma...
A essa altura, imaginava ele, a Ordem provavelmente os estava procurando, com sorte e auxílio de Tonks, já os teria encontrado... Assim esperava.
Ele sentiu um peso no seu ombro direito e voltou os olhos para menina recostada do seu lado. A pelo menos uma hora atrás ela havia caído no sono. Ainda tinha a tez extremamente pálida. Harry não gostava de pensar no assunto, mas sabia que havia uma grande possibilidade de que ela carregasse conseqüências daquele ataque pro resto da vida. E por isso, se mostrava o mais simpático possível com a situação dela...
Entretanto, não podia deixar de esconder o fato de que tinha a sensação de que deveria ser culpado por aquilo tudo. Talvez estivesse viajando completamente, mas... Se não muito se enganara, aqueles comensais o conheciam muito bem, para que aquele fosse outro ataque aleatório. E pior ainda, lembrou com uma sensação horrível percorrendo-lhe o estômago, aquela mulher... Ela lhe pedira para se entregar. E ele se recusara, talvez se não o tivesse...
Ela se mexeu levemente. Ainda dormia, e Harry a manteria assim. Eles já não se davam muito bem, imaginava como as coisas seriam se ela compartilhasse o mesmo ponto de vista dele...
- Vocês têm alguma notícia?
- Não. – respondeu Sirius observando o amigo caminhar de um lado para o outro da cozinha. – Você tem que se acalmar James...
- Não me diga pra me acalmar Sirius! Ele é meu filho! - retrucou impaciente.
- Eu sei disso, mas ficar assim não vai ajudar!
- Claro que não! Eu deveria estar procurando por ele agora mesmo!
- Você sabe que é perigoso demais. Além do mais, a Ordem está cuidando disso James! – explicou Sirius pela quinta vez, procurando manter a calma, entretanto, estava tão preocupado quanto o amigo.
- E porque você não está lá fora? – questionou agressivo.
- Eu tenho que cuidar pra que vocês não vão. – o amigo resmungou o que pareceu ser um palavrão.
- Nós achamos Tonks, e o resto deles... – murmurou James. – Porque eles não estavam juntos...?
A porta se abriu de repente e Lupin entrou ladeado por Peter, ambos extremamente agoniados.
- O que?! – questionaram ambos. Sirius se levantou.
- Nós ainda não achamos os dois... Mas...
- Mas o que Remus? - perguntou Lílian que só agora se levantava do que parecia ser algum tipo de transe. Tinha o rosto lavado de lagrimas.
- Houve um incidente... Em Bree.
- Bree? – repetiu ela descrente. – Mas... Bree é...
- Um condado trouxa, nós sabemos... Uma mulher foi encontrada morta... Há uma chance de eles terem passado por lá. Isso se... – James observou o amigo e ele se calou.
- O lugar é próximo de onde o ônibus foi achado... – acrescentou Peter parecendo absolutamente nervoso.
- O que Dumbledore disse? – perguntou James.
- Não havia ninguém lá. – respondeu Lupin após um momento. Lily revirou os olhos e James surtou irritado.
- Então porque você...?!! – Sirius levantou-se interrompendo o amigo:
- James se acalme! – exigiu ele.
- Não me peça para me acalmar quand...! – mas ele parou ao ver que Sirius observava Lily caminhar rapidamente até a porta e sair. James se voltou para ele novamente, e então para os outros dois. Obviamente ela era o motivo pelo qual Sirius o alertara.
James seguiu atrás da esposa. Lupin respirou fundo e Peter sentou-se no local onde antes Lily estava:
- E agora? – questionou ele. Pergunta que passava pela mente de todos ali.
De fato, não havia muito que eles pudessem fazer. Sair e procurar por eles mesmos seria perigoso demais. Entretanto ficar ali enquanto Harry estava em algum lugar possivelmente em perigo... Não era uma idéia que eles aceitassem facilmente. Portanto, a frustração de James era facilmente entendida, considerando que era seu próprio filho...
- Lily... – James observou a mulher parada no corredor. Ela estava prestes a sair. – Querida você não pode... – e estendendo a mão ele pousou-a no ombro dela que se manteve parada frente à porta. Ela respirou fundo:
- Como nós deixamos isso acontecer? – murmurou ela.
- Nós... Não é... – ele gostaria de poder confortar a esposa dizendo que não era culpa deles, mas a verdade era que ele próprio se sentia daquela forma. – Ele vai ficar bem...
- Você não sabe disso James... – ele pode ver que a mulher estava prestes a chorar novamente. E com um sorriso interrompido, ela se voltou encostando a cabeça no ombro do marido que a abraçou.
Um barulho de passos veio do andar de cima. Ambos caminharam até a sala em tempo de ver Molly e Arthur descendo as escadas. Lily limpou o rosto com uma das mãos e perguntou:
- Como eles estão? – Molly deu um pequeno sorriso com um ar aliviado:
- Dormindo...
- Alguma notícia? – falou Arthur caminhando em direção ao casal acompanhado pela mulher. Houve um momento de silêncio até que James respondeu fracamente:
- Não... – O alívio na expressão da mulher sumiu no mesmo instante. Ambos sabiam que tanto ela quanto Arthur sempre haviam considerado Harry como um filho, e agradeciam a preocupação... Molly caminhou em direção a Lily com um ar apaziguador:
- Querida... Se algo de grave houvesse acontecido nós já saberíamos... – disse ela procurando demonstrar o máximo de serenidade e abraçado a amiga. – Venha... Eu vou fazer lhe um chá... – e levando-a de volta para a cozinha as duas deixaram a sala.
Um barulho agudo e metálico chegou aos seus ouvidos e ele abriu os olhos antes semi-cerrados. Harry observou a menina do seu lado. Ela estava acordada. Entretanto sua aparência não era muito boa. Ela retribuiu o olhar com uma expressão nula, enquanto se acomodava vagarosamente na poltrona ao lado da sua.
- Você está bem...? – ela não respondeu. Apenas respirou fundo e fechou os olhos lentamente abrindo-os de novo em seguida. Harry tomou como um sim.
Hermione observou a paisagem da janela. Harry se voltou para o lado oposto. Eles estavam em King’s Cross. O trem havia acabado de parar e ela aparentemente havia notado o mesmo.
- Nós temos que descer... – falou Harry levantando-se e dando uma espiada no corredor. Estava vazio. – Vamos... – murmurou ele fazendo um esforço para ajudar a garota a se levantar. – Espere... Você não pode ir assim... – observou ele tirando a jaqueta e pondo ao redor dela. Sair caminhando por Londres com alguém sangrando do seu lado além de moribunda como ela estava não seria exatamente o que Harry chamaria de passar despercebido. Com sorte, eles chegariam a Grimauld Place antes que escurecesse...
Sirius observou o relógio acima da porta da cozinha. Eram quase sete e meia da noite. Já faziam mais de doze horas que Tonks havia sido encontrada, junto com Giny e Rony. Entretanto não havia sinal algum dos outros dois. Não podia nem começar a imaginar o desespero em que se encontravam Lily e James agora. Ele próprio estava alguns poucos minutos de jogar as ordens expressas de Dumbledore e sair junto com os amigos em busca do afilhado...
Uma badalada. Sete e meia.
- Já chega. Nós vamos... – começou ele, mas Lily o interrompeu levantando-se:
- O que foi isso? Vocês ouviram isso? – Peter se voltou para a amiga:
- Foi a badalada Li...
- Não! – cortou ela. Todos se entreolharam por um momento em um silêncio de dois segundos que foi quebrado por um zunido de uma buzina contínuo e insistente. E então parou.
James percorreu o olhar pela cozinha até encontrar os da esposa. Obviamente ela pensava o mesmo que ele. Claro, era um longo caminho, mas... Pelo menos explicaria o porquê de ninguém ter-los achado. Eles simplesmente não haviam esperado... O barulho soou mais uma vez. E um grito feminino e desvairado anunciou o acordar do quadro que jazia no corredor.
Ele não saberia dizer exatamente quem dos dois se moveu primeiro, entretanto o certo era que ele nunca percorrera aquela distância com tanta rapidez em sua vida. Ambos estavam no hall frente a porta em menos de dois segundos, enquanto os outros corriam para acompanha-los se juntando em um grupo confinado no estreito espaço.
Harry se afastou e observou a fachada recém surgida. Ninguém respondia. Porque ninguém respondia? Ele conhecia o endereço, sabia que estava certo... Ele passara tantos anos da sua vida confinado ali que saberia o caminho da estação até o Largo de trás pra frente... Ou talvez, sua ânsia de estar seguramente a salvo era tão grande que os segundos se estendiam em minutos e assim por diante.
A porta se abriu e Harry desceu os olhos da fachada para a porta que se movia. Um barulho muito grande e um alvoroço se seguiram até que uma maré de cabelos vermelhos tapou-lhe a visão. Sua perna estava machucada, assim como seu braço. Então o peso adicionado ao de Hermione que se apoiava em seu ombro foi suficiente para fazê-lo vacilar e estaria prestes a ir ao chão não fosse uma outra pessoa segurar a menina.
Lily se afastou. Foi quando ele pode reconhecer a própria mãe que tinha nada além de um contentamento imenso nos olhos marejados de lágrimas. Ele tentou dizer alguma coisa, provavelmente que estava bem, mas não foi rápido o suficiente, visto que uma outra pessoa mais forte que ele ou mesmo ela puxou-lhe para outro abraço. Seu pai, que murmurava algo sem muito sentido...
- Pai... E - eu est... – tentou.
- Você está bem? Machucado? Ou...
- Eu estou bem... Ouch! - exclamou ele enquanto seu pai carregava-o para dentro da casa segurando o pelo braço ferido. – Só um pouco... – retratou em seguida. Harry tentou informar que Granger estava ao contrário dele, bastante ferida. – Mas ela est...
- Hermione você está sangrando... – falou Lupin que ajudava a menina a se mover pelo corredor. Ela levantou os olhos e murmurou algo. – O que?
- Nós fomos atacados... – recomeçou Harry se desvencilhando dos pais que pararam por um momento. – Haviam... Comensais, e, e... Lobisomens... – tateou claramente tentando justificar a culpa que sentia pelo ferimento da garota.
- Ela se feriu...? Nota se. – cortou Sirius adiantando-se em auxílio de Lupin que colocava a garota no sofá.
- E - eu tentei ajudar, mas... Ele era rápido e eu não pude fazer nada eu... – balbuciou Harry.
- Não foi culpa sua querido... – murmurou Lily. Apesar de assim como os outros manter um olhar chocado.
Lupin abaixou-se observando o ferimento por baixo do casaco. Haviam três longos e profundos arranhões na pele dela. Ele respirou fundo.
- Nós precisamos fazer uma poção, rápido.
- Eu faço. – prontificou-se sua mãe.
- Vamos leva-la pra cima, para limpar o ferimento... – murmurou Sra. Weasley enquanto Sirius saía em busca de bandagens.
- James, ajuda... – pediu Lupin. Ele caminhou até o amigo e os dois carregaram a menina escadas acima.
- Eu vou informar a Dumbledore... – murmurou Sr. Weasley saindo. Harry olhou em volta. Peter ainda estava lá, ele podia senti-lo fitando-o:
- Ela vai ficar bem. – disse ele em tom sério. – Sua mãe vai preparar uma poção pra sua amiga...
- Onde estão os outros? – questionou Harry num tom mais incisivo do que planejara. Esperava profundamente que Rony e Giny estivessem bem... Entretanto não poderia dizer que se esforçava para refrear a aversão que tinha pelo amigo de seu pai...
- Lá em cima. Descansando... – explicou Peter. – Nós não custamos muito a encontra-los... Mas vocês... Como você escapou? Nós estamos todos orgulhosos... – acrescentou com um sorriso.
- Lutando... – respondeu Harry com um tom óbvio e rude. O sorriso de Rabicho diminuiu consideravelmente.
- Eu imagino... Você tem muito do seu pai. – e com outro sorriso acrescentou. – É um complemento! – exclamou ao notar a feição pouco agradável de Harry.
- Então Rony está lá em cima? – cortou Harry encerrando a conversa.
- Sim...
- Certo... – respondeu ele seguindo em direção ao quarto dos dois.
Harry caminhou parou frente ao trinco. O que ele iria dizer? Claro... Considerando a amizade dos dois, Rony ficaria tão alegre em saber que ele estava bem quanto ele próprio ficara com relação a Rony... Mas e Granger? Ele também eram amigo certo? Se fosse ele? Harry não tinha certeza de como ele lidaria com o fato de ter o amigo transformado em lobisomem... Mas não era culpa dele certo? Afinal se não fosse ele a menina estaria provavelmente morta agora. Ainda sim... O que aquela mulher dissera... Talvez ele estivesse viajando demais mas, se não muito, muito se enganara, era atrás dele que eles estavam...
- Ele não vai brigar com você sabe? – Harry se voltou ao ouvir a voz do seu pai atrás de si.
- Não?
- Ele vai entender que você fez o que pôde... – confortou. – Venha... Vamos ver isso... – disse ele apontando para o ferimento no braço do filho. Harry acompanhou-o até um quarto maior com uma grande cama de casal.
- Bellatrix estava lá pai... – falou Harry ao sentar-se na cama do pai. James parou e voltou-se para o filho:
- Você a viu? – questionou com ar preocupado.
- Vi, e ela me viu. Junto com Avery... – acrescentou. – Agente escapou... – ele pode ver que seu pai não escondeu um sorriso.
- Eu estou orgulhoso. – comentou ainda sorrindo e apanhando algumas ataduras.
- Não, pai... Você não... Ela me conhecia. – James fitou o filho por um momento e levantou-se desviando o olhar:
- Isso é possível filho, afinal... – Harry respirou fundo.
- Eu sei, eu sei! Eu pareço com você. – adiantou-se Harry. Seu pai estava sério. – Não era só isso! – insistiu. Estava certo de que eles estavam lá por causa dele! – Era...
- Filho, voc...
- Ela, ela queria que eu fosse com eles pai! – exclamou Harry que sentia seu esgotamento transformar-se lentamente em irritação.
- Harry você está cansado, só precisa...
- Eu preciso que você acredite em mim! – exclamou levantando-se arredio. Arrependeu-se no momento seguinte. Nunca havia discutido com o pai antes, nem ao menos levantava a voz para ele, afinal sempre tiveram um ótimo relacionamento. E ele também parecia surpreso. Entretanto, a vontade de saber mais era maior, pelo menos agora...
- Eu já disse Harry você não tem nada com o que se preocupar. – retrucou James num tom mais severo.
- Então por que eu tenho a sensação de que vocês estão mentindo pra mim? – questionou fitando o pai, que por um tempo nada disse. E então, apanhando uma pilha com lençóis e roupas limpas estendeu para ele dizendo simplesmente:
- Vá dormir Harry, você precisa descansar. – Harry encarou-o por um momento até que virou- se deitando na cama com violência e resmungando:
- Feche a porta quando sair! - ele pôde ouvir o respirar fundo do pai em seguida um clique da fechadura.
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