"Some doors to cross"
Fazia algo como três horas desde que a última gota de suco da jarra “batizada”, que obviamente Hermione não descobrira qual era havia sido tomada. O fato era que a maioria dos convidados se encontrava agora sob o efeito da poção. O que, se não fosse extremamente preocupante, seria, segundo Giny, visceralmente engraçado:
- Pelo menos a poção serviu de algo. – sussurrou Giny ao ouvido da amiga.
É... Pensou Hermione, de fato, ambos, Lupin e Tonks já havia sumido da festa há muito tempo. E algo dizia a ela que os dois não haviam exatamente deixado a casa... Só por via das dúvidas – anotou mentalmente – ela se manteria ali por enquanto...
Sra. Weasley, havia posto a mesa da cozinha nos jardins, motivo pelo qual, todos agora, (exceto alguns obviamente) estavam sentados no gramado descansando após o jantar... A noite já ia longe e a atmosfera no local estava exageradamente “leve” quando James se levantou após falar algo no ouvido da esposa:
- James não! – protestou a mulher apesar de manter um sorriso no rosto. Todos os olhares se voltavam agora para os dois:
- Vamos Lily! – instigou Sirius sorrindo com o apoio de todos. James se levantou e puxou a mulher pelo pulso.
- Só uma música... – pediu ele.
- Que música? – brincou ela, visto que realmente não havia música alguma tocando.
- Isso pode ser resolvido! – retrucou Sr. Weasley com um aceno de varinha. No instante seguinte uma música lenta pode ser ouvida pelos jardins. – Molly?
- Oh!! – ovacionaram ambos Fred e Jorge arrancando risadas de Harry e Rony.
- E você Sirius? – brincou Charlie. – Onde está Remus nessas horas? – brincou ele. Todos caíram na risada.
- Bem, ele está certamente melhor que eu!- retrucou Sirius sorrindo também. Todos riram ainda mais abertamente. – Pegue outra cerveja Peter! – acrescentou sem seguida passando mais uma garrafa para o amigo que estava ao lado. – Você está muito calado!
De fato, ele estava calado... Pensou Hermione após o comentário. Pettigrew estava sentado em uma cadeira na beirada da varanda, com a garrafa passada por Sirius em uma das mãos, e os olhos nos casais que dançavam logo à frente. Na realidade... – repensou Hermione com um pouco mais de atenção. – Seus olhos se voltavam para um casal...
- Você já notou como...? – começou ela cuidando para que ninguém exceto Giny a ouvisse.
- Já. – cortou ela, que também observava o homem. – Estranho né?
- É... Quero dizer... Você acha que...? – sugeriu Hermione num tom desconfortável.
- Com certeza. – afirmou a menina séria e sem esconder uma ligeira indignação. – Eu nunca gostei muito dele pra falar a verdade... – acrescentou olhando em volta logo em seguida. As duas estavam distantes o suficiente do resto do pessoal.
- E Potter? Ele não faz nada? – perguntou Hermione.
- Qual? – questionou Giny confusa. – Harry notou uma vez... Seria estúpido se não notasse... Ele não ficou muito feliz não.
- Compreensível... – comentou Hermione.
- Eu sei! Quero dizer, eu fiquei e ela nem é a minha mãe... – concordou Giny. Visto que a amiga continuava atenta, ela continuou – Mas quando ele falou pro pai... Bem, ele ficou furioso.
- E como os dois ainda são amigos? – questionou Hermione com um ar de surpresa.
- Não, não... Ele ficou furioso com Harry! – sussurrou Giny de volta. – Eles nunca comentaram nada... Mas se você me perguntasse, eu diria que O pai dele dá muita confiança a algumas amizades... Nada contra Sirius ou Lupin claro! – corrigiu em seguida. – Mas ele... Ele é tão...
- Estranho. – completou Hermione.
- É...
- Harry veja se você se lembra dessa... – falou James mudando a música com um aceno de varinha.
- Eu não sei... Talvez... – acrescentou depois de um tempo. – Por quê?
- Seu pai e eu costumávamos cantar pra você antes de dormir... – explicou a mulher.
- Diga a eles como você fez com que eu me apaixonasse por você... – Lily sorriu revirando os olhos.
- Eu sorri para ele... – disse Lily.
- Cuidado com os sorrisos garotos. – ambos Harry e Rony riram.
- Depois de dar uma tapa na cara dele. – acrescentou Sirius. Todos sem exceção caíram na gargalhada.
- Não! Não foi assim! – rebateu Lily se defendendo.
- Na verdade foi... – retrucou James.
- Bom, é uma história comprida... Além do mais seu pai mereceu. – explicou se voltando para Harry que parecia chocado, apesar de chocado não escondia a risada zombeteira.
- A verdade é que vocês dois não se davam muito bem quando mais novos... – comentou Lupin com um sorriso saudoso.
- Bem... Nós tivemos nossas desavenças... – disse James ainda sorrindo.
- É assim que você chama? – brincou Sirius sob risadas de todos.
Hermione sorriu ao último comentário voltando olhos de relance para o oposto da mesa. Seu olhar se encontrou com o de Potter, que estava sentado ao lado do padrinho, por um momento, virando o rosto quase que instantaneamente, Hermione pigarreou levemente com um desconfortável corado no rosto. O que...? Por que ele estava encarando-a?
- Ele está te encarando... – murmurou uma voz feminina no seu ouvido. Hermione virou logo em seguida, era Giny.
- O que? Quem...? – questionou Hermione, ligeiramente distraída alguns minutos depois. Giny sorriu zombeteira, com um divertimento mal disfarçado:
- Você sabe quem. – respondeu.
- Eu... Não sei. – mentiu respondendo um pouco mais rápido do que gostaria, e voltando a atenção para Peter que agora lutava para contar o que parecia ser uma tentativa falha de piada.
- Eu estou dizendo... Eu conheço esse olhar. Eu já vi esse olhar...
- Pare. – sibilou Hermione cortando a garota antes que dissesse alguma besteira. Giny sorriu abertamente.
- Eu só estou dizen... Ouch! – reclamou a garota franzindo a testa. – Pra quê isso? – sussurrou apalpando o antebraço onde havia acabado de levar um beliscão. Mas Hermione não ficou para responder, levantando num salto e com um ligeiro franzido na testa seguiu para a cozinha em silêncio.
- E então ele diz: “Ah sim! Ela acabou de passar.”. – concluiu Rabicho após alguns minutos de falatório. Um momento de silêncio se seguiu às suas palavras.
- Ah... Engraçado! – mentiu Rony após um momento, com um sorriso ligeiramente amarelo, seguido de murmúrios de apoio. E se voltando para o amigo murmurou. – Você entendeu essa?
- Hãn? – respondeu Harry desviando a atenção para o ele num tom vago.
- Você estava ouvindo?- perguntou Rony meio ofendido com a falta de atenção do amigo. – Harry voltou os olhos para sua esquerda mais uma vez, visto que sua atenção havia sido desviada novamente. – Esquece você não perdeu nada mesmo... – acrescentou Rony, que agora olhava para o mesmo local que o amigo em busca do que lhe tomava a atenção de tal modo. – O que você está olhando?
- Nada. – respondeu Harry desviando o olhar sem dar mais explicações. Rony o encarou por um momento em silêncio:
- Certo... – murmurou com um franzido na testa.
- Eu vou buscar mais bebida... – disse Harry se levantando sem muita demora e seguindo para a cozinha.
- Lâmpada... – murmurou Hermione enquanto tateava pelas paredes da cozinha em busca de m interruptor. Entretanto ela tinha quase certeza de que poucos ali naquela casa jamais tinham ouvido falar de tal coisa, enquanto Sr. Weasley ficaria deleitado se algum dia ela o explicasse... Parando em frente ao que pareceu ser um armário estendeu a mão para a maçaneta e girou.
- Oi. – o local se iluminou de súbito fazendo Hermione piscar os olhos lacrimejando.
- O qu..? – começou a garota se virando. – Oh... Er, oi. – respondeu ela segurando a garrafa de cerveja amanteigada que tinha em uma das mãos com os olhos ainda no garoto à sua frente.
- Você precisa de ajuda? – perguntou Harry dando um passo à frente em direção à menina.
- Ah... Não, não eu estou bem... – retrucou voltando-se par o armário novamente em busca de outra garrafa. Pegando as duas, ela as pôs na mesa e apanhou mais outras duas num movimento repetido.
“Ele ainda estava lá. Porque ele ainda estava lá? O que ele queria?”. – um pigarro cortou seus pensamentos.
- Parece que você vai precisar de ajuda com isso... – repetiu ele apontando para a mesa, onde pra surpresa dela própria, havia pelo menos umas oito garrafas de cerveja. E caminhando em direção a ela, que se afastou alguns passos instintivamente.
- Eu não preciso de ajuda... – retrucou ligeiramente rude, se arrependendo logo em seguida. Ele estava tentando ser prestativo. Só isso, certo...? Sendo prestativo, e essa era a parte mais estranha...
Harry sorriu com um ar divertido.
“Ele estava rindo dela? Porque ele estava rindo dela?”.
- Por que você está fugindo de mim? – perguntou calmamente, mais calmo que o usual, enquanto observava a menina dar a volta em uma cadeira e pondo-a interpelada entre os dois.
- Eu... O que? – tateou Hermione perdendo um pouco da capacidade de assimilação. Harry deu mais dois passos, durante os quais ela afastou mais dois.
- Você... – repetiu ele analisado-a incomodamente. – Fugindo... – acrescentou sorrido ainda mais e encarando a garota. Hermione ressabiou num falso desdém:
- Eu não estou! – afirmou veemente, não tanto quanto gostaria de pensar. – Eu não estou fugind... – Hermione sentiu a voz falhar ao ver a aproximação do rapaz, pigarreando. – Er, eu... Eu estou, andando, só...
- Certo... – respondeu ele ignorando a desculpa esfarrapada da menina que começava a atingir um tom rosado nas bochechas. – Só cuidado com, a cad... – tentou avisar, mas não conseguindo em tempo.
Hermione que se afastava ainda mais, sentiu a perna encostar-se ao acento da cadeira perdendo o equilíbrio logo em seguida e caindo com um imenso estrondo no chão da cozinha e desaparecendo por trás da mesa.
Harry foi à direção da garota, dessa vez com um sorriso ainda maior no rosto. Num misto de preocupação e vontade lacerante de rir e se ajoelhou ao lado dela que estava estendida no chão.
- Você está bem? – perguntou entre risos. Apesar de ter no tom de voz um ar mais cúmplice que zombeteiro como o usual:
- Eu... – começou Hermione com um gemido de dor. – Eu estou bem... - gemeu ela, fazendo uma careta que contava o contrário. Hermione abriu os olhos ao sentir para sua surpresa o auxílio de Harry que pôs as duas mãos no seu braço ajudando-a a sentar. Seu ar estupefato pareceu transparecer ao observar o gesto partido dele, visto que ao perceber a reação, (ou falta dela) o menino parou quase que instantaneamente, com o que pareceu – pensou Hermione por um momento – certo desconcerto nos olhos.
- O que diabos foi isso? – exclamou uma voz que Harry reconheceu como sendo a de Rony, largando o braço da menina rapidamente. Hermione não demorou muito em se levantar, de fato, se moveu num salto ao ouvir vozes na cozinha.
- Ela caiu. – disse Harry a guisa de explicação. Se ocupando em sair de trás da mesa, onde o incidente havia ocorrido.
- Isso, eu... Caí. – confirmou Hermione forçando um sorriso enquanto Giny entrava na cozinha com um ar incisivo e um olhar deflagrador. Sem dizer mais nada, Hermione se apressou em silêncio para fora da cozinha.
Não foi com muita surpresa que na manhã seguinte os ânimos não houvessem lá muito animados... Com o efeito da poção acabado, tudo que sobrou foi uma atmosfera de cansaço e ligeiro desconcerto com relação à noite anterior. E apesar de alguns, tais como, Sirius (que não parecia muito incomodado com relação ao fato de que o amigo não descera para café com a prima) insistissem com irritante bom humor que os acontecimentos da noite passada deveriam ser levados “na esportiva”, a maioria estava aparentemente decidida a considerar o contrário. Motivo pelo qual, o café- da -manhã estava excepcionalmente silencioso...
Hermione se absteve de qualquer comentário sobre o ocorrido. E para sua satisfação, o mesmo principio parecia estar sendo seguido por Potter, que como ela, também não parecia muito confortável com a repentina aproximação dos dois. Apesar de tentar fazer o possível para que ela mesma acreditasse que o que quer que aquilo fora com certeza fora unilateral.
E foi assim, que ela conseguiu manter o mínimo de parcialidade, simplesmente evitando-o. Não era uma tarefa muito fácil, de fato. Considerando que ambos viviam na mesma casa, os dois últimos meses de férias foram extremamente longos. E especialmente longos quando Giny se privava de qualquer outra coisa que fizesse para tentar convencê-la de sua má noção com relação ao caráter do rapaz.
A manhã da partida veio fria e nublada. Uma atmosfera de ansiedade havia tomado conta da casa, onde Sra. Weasley corria absolutamente irritadiça de um lado ao outro da casa em busca dos últimos pertences de todos.
- Não se preocupe... – explicou Rony com um tom monótono na voz. - Sempre que voltamos pra Hogwarts é assim... – disse ele seguindo a mãe que passava agora pelas escadas trotando em busca de um par de meias de Giny.
- Ela já devia ter se acostumado por agora... – comentou Harry ao entrar na cozinha e se servir de um copo de leite. – Hermione voltou seus olhos para o jornal subindo-o à altura do rosto, de modo que sumira por trás do papel.
Harry pigarreou por um momento e sentou-se à frente do amigo. Se fazendo de despercebido.
Ele não estava acostumado com aquilo... Era comum para ele ter um relacionamento em geral agradável com a maioria das pessoas... De fato, eram poucas vezes nas quais alguém o fazia se sentir tão desconcertado. Na realidade, não se lembrava disso jamais ter acontecido... Nem mesmo com Giny. – pensou em retrospectiva – Talvez fosse esse o motivo pelo qual ele se sentia ainda mais desconfortável e embaraçado com a situação.
Podia facilmente presumir que o fato de estar incomodado era o que o incomodava de verdade – pensou relembrando uma conversa que tivera cm o padrinho - apesar de não admiti-lo.
O terceiro apito do trem havia acabado de soar quando os seis conseguiram finalmente chegar à plataforma, escoltados por seus pais, junto com Molly, e Tonks. (Sirius não havia aparecido naquela manhã, sua falta sendo justificada devido a ter passado a noite resolvendo determinados “assuntos” da Ordem, os quais, apesar da insistência, seu pai não lhe revelara de maneira alguma).
Levemente esbaforidos, todos entraram no trem partindo em busca de uma cabine para ficar, ou naquele caso, algumas...
“Pelo menos duas...” – pensou Hermione à idéia de ter que dividir uma cabine com os outros (por outros: Potter).
- Oh, não seja estúpida... – ressabiou Giny, antes de se juntar com algumas garotas do quinto ano da Gryffindor que se encontravam na cabine pela qual passavam. Não sem antes soltar. – Pelo que eu vi vocês não pareciam tão indispostos alguns tempo atrás. – sibilou no ouvido da garota. Hermione se absteve de resposta dando as costas, mal-humorada à recente amiga e seguindo Rony de perto.
- Apesar dos curtos minutos nos quais ambos os gêmeos Fred e George se juntaram aos três na cabine, não demorou muito para que os dois se retirassem em busca de Lino Jordan, que se encontrava infelizmente, três cabines à frente, deixando um Rony extremamente indignado por ter sido abandonado em um momento de tamanha tensão...
- Então... – começou, tentando quebrar o silêncio que pairava no cubículo. – Eu, er... Eu já vou então... – disse se levantando com visível vontade de partir.
- O que? – protestou Harry levantando a cabeça rapidamente. – Por quê?
- Rondas... Foi mal... – murmurou com mal disfarçado alívio e saindo sem muita demora, deixou os dois sozinhos novamente.
- Você não deveria ir também não? – perguntou Harry sem esconder o tom esperançoso na voz.
- Eu não faço rondas. – retrucou Hermione simplesmente, sem levantar os olhos do livro que mantinha nas mãos. – Eu mando os outros fazer-las. – explicou com um tom de pesar na voz. Deixando estritamente claro que ele não era o único que se encontrava desconfortável com a situação.
- Bem. Eu sinto muito. – retrucou Harry num tom sarcástico.
- Nesse momento? Não mais que eu. – rebateu Hermione friamente. Harry respirou fundo:
- Uau. Essa vai ser uma viagem agradável. – ironizou com monotonia. Como a garota não dera atenção ao último comentário, ele prosseguiu sem se conter. – Giny me contou sabe?
Hermione manteve os olhos no livro, apesar de ter parado de ler:
- O que? – perguntou apesar de já ter uma vaga e incômoda idéia:
- Da poção... – de fato, alguns dias depois do seu aniversário, Giny havia confessado a ele e Rony sobre a poção que as duas haviam feito para ambos Lupin e Tonks. O que, gostava ele de pensar, explicava bastante... Hermione levantou os olhos por um momento, baixando-os novamente e respondendo:
- Aquilo não era pra você se é isso que você está insinuando. – disse rapidamente sentindo o rosto corar. Ela sabia aonde aquilo ia levar.
- Eu sei disso.
- Bom.
- É só que... Bem, eu não faria aquilo se... Se eu não tivesse... – começou percebendo logo em seguida a falta de tato das suas palavras, entretanto a garota simplesmente retrucou:
- Bem isso é um alívio. – Harry se calou.
- Ótimo. – retrucou ligeiramente ofendido.
- Ok. – concordou Hermione friamente.
- Que bom que isso se esclareceu. Quero dizer, eu não quero que você pense...
- Eu não iria. – mentiu Hermione cortando-o novamente.
- Certo. – encerrou Harry respirando fundo e agora definitivamente irritado, se mantendo até o regresso do amigo, totalmente calado.
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