A Boa Ação de Malfoy
A Boa Ação de Malfoy
As duas semanas seguintes não foram as mais agradáveis. Hermione tentou, sem sucesso, fazer com que Rony e Harry se reconciliassem. Os dois permaneciam impassíveis, embora ela percebesse plenamente como sentiam a falta um do outro. Dividia-se entre os dois e irritava-se profundamente com a teimosia de ambos em continuarem sem se falar.
— Eles são muito burros! — ela reclamou para Gina, certa noite na sala comunal. — Eles sabem que vão voltar a se falar, então por que não acabar logo com isso?
— Ah, Mione, não culpe Harry. Você sabe muito bem o que é brigar com o Rony...
Hermione deu de ombros. De qualquer maneira, Rony não era a única coisa que atrapalhava a vida de Harry. A escola inteira parecia sentir raiva dele, pelo mesmo motivo que o amigo. Antes da aula de Poções de sexta-feira, Malfoy e seus amigos apareceram com distintivos que diziam “Apóie Cedrico, o verdadeiro campeão de Hogwarts”, e depois mudavam para “Potter fede”. Pansy Parkinson, uma das amigas de Malfoy, ria escandalosamente.
— Muito engraçado — Hermione disse, com sarcasmo.
— Quer um, Granger? — Malfoy perguntou. — Mas não toque na minha mão, acabei de lavar e não ia querer que uma sangue-ruim a sujasse...
Harry subitamente sacou a varinha e apontou-a para Malfoy, que sacou a sua no mesmo instante. Antes que Hermione pudesse tentar impedir, os dois se atacaram.
— Furnunculus! — gritou Harry.
— Densaugeo! — gritou Malfoy.
Os dois conseguiram desviar dos feitiços. Hermione mal vira Goyle ser atingido pelo de Harry quando foi atingida pelo de Malfoy. Sentiu uma dor agonizante nos dois dentes da frente, e percebeu que eles cresciam assustadoramente.
— Mione! — era Rony, que viera socorrê-la.
Em pânico, o garoto não fez muito mais do que pousar a mão em seu ombro e observá-la choramingando. Do outro lado, nasciam terríveis furúnculos em Goyle. Snape chegou nesse momento, querendo saber que algazarra era aquela na porta de sua sala. Malfoy acusou Harry de ter atacado Goyle, e Rony, furioso, acusou Malfoy de ter atacado Hermione, e a obrigou a mostrar os dentes, agora já abaixo da altura do ombro.
— Goyle, ala hospitalar — disse Snape, sem se alterar. — Quanto a você, srta. Granger, — virou-se ele, com desdém. — não vejo diferença alguma...
Hermione desvencilhou-se de Rony e saiu correndo em direção à ala hospitalar, às lágrimas. Os dentes continuavam a crescer, dolorosamente. Madame Pomfrey não perdeu tempo com perguntas quando a viu chegar. Fez o contrafeitiço para que os dentes parassem de crescer, e deu-lhe um remédio.
— Depois de algumas horas, isso permitirá que eu os reduza novamente. Mas por enquanto você precisa repousar.
Neste momento Goyle entrou, com aqueles furúnculos horrorosos.
— Mas o que está acontecendo nesta escola hoje? — disse Madame Pomfrey, admirada, indo tratar de Goyle. Fez para Hermione um sinal com a mão para que ela deitasse.
Foi difícil encontrar uma posição em que os dentes não atrapalhassem, e Hermione imaginou que seria um tédio enorme ficar ali deitada por “algumas horas”. Acabou dormindo, porém.
Quando acordou, havia alguém em pé ao seu lado. Um sorriso iluminou o rosto de Rony quando ela abriu os olhos. Já estava quase escurecendo.
— Lembra quando você ficou parecendo um gato? — disse ele, rindo. — Agora parece um esquilo!
— Já acabou a aula?
— Há horas... Acabei de jantar no salão principal.
— Claro que você tinha que ir comer antes de vir me ver.
— Ah, eu procurei você na mesa enquanto comia.
— E Fleur Delacour na mesa ao lado, provavelmente... — ela murmurou, baixinho.
— Quê?
— Deixa pra lá.
— Quando é que você sai daqui, hein?
— Acho que hoje, ainda.
— Bem, eu vou indo para a sala comunal... Vejo você depois.
Ele saiu, e Madame Pomfrey apareceu em seguida.
— Sente-se, querida.
Hermione obedeceu, cuidando com os dentes enormes. A enfermeira tinha na mão um espelhinho, que segurou na frente dela, dizendo: — Vou reduzir os seus dentes com a minha varinha; quero que me mande parar quando estiverem do tamanho certo.
Hermione observou, agradecida, os dentes diminuindo. Se antes sentira dor, agora a sensação era uma espécie de cócega. Os dentes chegaram ao tamanho normal, mas Hermione permitiu que Madame Pomfrey os diminuísse um pouco mais. Eles sempre tinham sido um pouco compridos, e seus pais, que eram dentistas, nunca a tinham deixado recorrer à magia para diminuí-los. Quando a enfermeira parou, ela contemplou os novos dentes no espelho; estavam muito melhores agora. Malfoy fizera algo de bom, afinal.
No dia seguinte, Hermione encontrou Harry no café da manhã.
— Recebi uma carta de Sirius — ele contou. — Ele ficou preocupado, quer conversar comigo. Pediu que eu desse um jeito de ficar sozinho na sala comunal no dia vinte e dois, à uma da madrugada, junto da lareira.
— Bem, caso as pessoas não se deitem espontaneamente até lá, teremos que pensar em alguma coisa — ela retorquiu, pensativa.
— É, mas o que você acha que ele vai fazer, será que ele vai vir até a escola?
— Claro que não, você ficou doido? Ele não pode vir até a escola. Além do mais, se ele disse para você ficar junto da lareira, é óbvio que vai conversar com você através dela, com pó de flu.
— Como o sr. Diggory fez? Aquele dia, durante as férias, para chamar o pai do... — ele hesitou, antes de rosnar: — do Rony.
— Exatamente, é uma maneira rápida de comunicação. É rápido, fácil e não chama tanta atenção como viajar pela rede de flu. Mas como foi a aula de Snape ontem, afinal, depois daquela confusão?
— Bem, ele deu detenções a mim e ao Rony.
— Ao Rony?
— Pois é. Você achou que ele ia dar uma detenção ao Malfoy? Só imagino o que ele irá mandar a gente fazer... e ele ainda ficou irritado porque eu saí no meio da aula.
— Mas para quê?
— Foram me chamar para fazer a “pesagem das varinhas”. O sr. Olivaras veio examinar as varinhas dos campeões para ver se estavam em boas condições. Você comprou a sua dele também, não?
— Claro... Me lembro como se fosse ontem, tive que testar tantas...
— É, eu também. — ele pareceu lembrar-se de algo que o animou e o desanimou em seguida, fazendo-o desistir de comentar.
— O que foi?
— Nada, só lembrei de uma coisa... Que o Rony gostaria de saber.
Hermione franziu o cenho e mordeu o lábio, irritada com a primeira coisa que lhe passou pela cabeça: Fleur Delacour.
— Agora diga. Começou, vai ter que terminar.
— Bem... É sobre Fleur Delacour. A varinha dela tem um fio de cabelo de veela dentro, que era da avó dela. Portanto, ela realmente é, em parte, veela, como o Rony tinha dito.
Ela colocou o copo de suco de abóbora sobre a mesa com um pouco mais de força que o necessário.
— Bom, então por que você não aproveita que obteve essa informação tão relevante para fazer as pazes com ele? Aí vocês ficam conversando sobre ela o dia inteiro e eu continuo cuidando da minha vida em paz.
— Por isso que eu não queria contar a você.
— Que diferença faz? Você contou!
— Você pediu, Mione.
— Você poderia ter tido a delicadeza de me informar que era algo totalmente sem utilidade prática para a minha vida antes de me contar.
— Mione...
Ela levantou os olhos; era Rony quem estava em pé ao seu lado. Ele olhou feio para Harry, que devolveu o olhar. — Só queria saber se você estava melhor, mas já estou vendo que está.
Rony olhava-a como se ela o estivesse apunhalando pelas costas. Dirigindo-lhe um olhar indignado, ela disse:
— Será possível que eu preciso tomar dois cafés da manhã, um com cada um? — ela levantou-se, alternando o olhar entre os dois agora. — Talvez vocês queiram organizar um horário, por exemplo; eu tomo café e janto com o Harry nas segundas, quartas e sextas e com o Rony nos outros dias. Quando tomar café e jantar com um, almoço com o outro. — Harry olhava-a, sem expressão. Rony encarava os próprios pés. — Ah, francamente!
E saiu, irritada, resmungando: — Fio de cabelo, fio de cabelo... Grande coisa!
No meio da semana seguinte, Hermione trabalhava em seus deveres de casa, à noite, quando Rony irrompeu pela sala comunal, trazendo um exemplar do Profeta Diário. Aproximou-se dela, com os lábios crispados em raiva, e disse, sacudindo o jornal:
— Estou entendendo tudo... Vejo que eu sobrei, não é? Por que não me contou?
— Boa noite para você também, Ronald. Você pode fazer o favor de me contar o que foi que eu fiz agora?
Ele folheou raivosamente o jornal até a página que queria e começou a ler, com uma raiva mal controlada escapando por entre as palavras:
— “...Harry Potter finalmente encontrou carinho em Hogwarts. Seu amigo íntimo Colin Creevey diz que o garoto raramente é visto sem a companhia de Hermione Granger, uma linda menina nascida trouxa que, como Harry, é uma das primeiras alunas da escola.”
Ele abaixou o jornal, encarando-a como quem exige uma explicação. Ela franziu o cenho, e estendeu a mão para que ele lhe entregasse o jornal.
— Meu nome apareceu no jornal, é? Que interessante. — ela pegou o jornal vagarosamente, sustentando o olhar dele. — Rony, o que você quer que eu diga? Eu acho que você sabe que eu não tenho nada além de amizade com o Harry, assim como Colin Creevey não é amigo íntimo dele e assim como ele, infelizmente, não é um dos primeiros da escola. Alem do mais — ela procurou o nome do jornalista responsável pela matéria, e viu que seu palpite estava correto. — todo mundo sabe que Rita Skeeter adora inventar. Seu pai mesmo disse, não é?
— Sim, mas...
— Acho que você devia ir fazer os seus deveres de casa, sabia? Você fica andando sozinho por aí, sem ter com quem conversar ou o que fazer, e começa a ter idéias malucas e a acreditar em coisas absurdas. Agora me deixe em paz, se não for muito incômodo.
Bichento apareceu do nada e começou a avançar em Rony, como que para espantá-lo. Ele saiu sem dizer mais nada e nem tentar recuperar o jornal.
Infelizmente, a matéria de Rita Skeeter teve grande impacto em Hogwarts. O que era para ser uma matéria sobre o Torneio Tribruxo acabou saindo como uma biografia exageradamente dramática de Harry, em que os outros campeões mal eram citados. Hermione ouvia insultos pelos corredores, gente que dizia que ela não era boa o suficiente para Harry. Pansy Parkinson chegou a se descontrolar uma vez. Quando passaram uma pela outra, Pansy gritou:
— Linda? Ela?
Hermione não se incomodava muito com isso, mas Harry estava a ponto de explodir. Ela dizia para ele não se importar com o que dissessem, e tentava ocupar a mente dele com estudo; ele estava indo muito mal no feitiço convocatório que o prof. Flitwick estava ensinando, então ela insistia em ler com ele a teoria. Para tanto, passavam longos períodos na biblioteca.
Quem também passava longos períodos na biblioteca, regularmente, era Vítor Krum. Hermione irritava-se com a presença dele, mas principalmente com a presença do pequeno fã-clube que o perseguia; um grupinho de garotas dando risadinhas bobas e escondendo-se atrás das estantes para espiá-lo.
— Francamente, ele nem é bonito! — cochichou com Harry, certo dia.
Mas estava mentindo. Havia algo no perfil de Krum que chamava-lhe a atenção, apesar de que ela preferisse contentar-se com a idéia de que ele era um idiota, uma estrela deslumbrada, e seguir com sua vida sem se lembrar que ele existia. Ela imaginava que o que a atraía nele era algo que não existia, algo que ela pensara que tinha visto nele quando ele subira ao camarote, na final da Copa Mundial de Quadribol, com o nariz ensangüentado. De qualquer maneira, a presença dele e de suas seguidoras na biblioteca a impediam de concentrar-se.
No último sábado antes da primeira tarefa, houve uma visita a Hogsmeade. Hermione combinou com Rony que iria encontrá-lo no Três Vassouras, e convidou Harry para ir também. Ele recusou-se, porém, a ir encontrar Rony.
— Eu vou, mas não quero ver Rony de jeito nenhum. Além do mais, vou com a minha capa da invisibilidade, não quero que ninguém me incomode...
Hermione não gostava de andar com Harry quando ele estava com a capa, pois não sabia para onde olhar quando estivesse falando. Além disso, as pessoas a olhavam com estranheza por estar falando “sozinha”. Mesmo assim, aceitou as condições de Harry. Queria tirá-lo um pouco de dentro do castelo, para ver se o humor dele melhorava um pouco.
Depois de irem à Dedosdemel, onde comeram muitos doces, foram ao Três Vassouras, depois de uma certa dificuldade que Hermione teve em convencer Harry de que eles não precisavam sentar com Rony. Ele foi dirigindo-se a uma mesa vazia enquanto ela foi pedir as cervejas amanteigadas.
Madame Rosmerta dirigiu-lhe um olhar esquisito quando ela disse que queria duas, como se perguntasse o motivo, já que ela não estava acompanhada. Hermione não gostava dela, justamente por que Rony gostava. Como Fleur Delacour. E quantas pessoas mais ela passaria a detestar por causa dele? Quando pensou nisso, o viu sentado em uma mesa com Fred, Jorge e Lino Jordan, não muito longe. Aproximou-se dele apressada, enquanto Madame Rosmerta servia a segunda caneca, e cochichou:
— Estou com Harry, ele está com a capa. Vou sentar com ele.
Rony fez uma cara de total desagrado, mas não disse nada. Ela voltou para pegar as bebidas e foi até a mesa onde achou que Harry estava. Tateou com o pé para ver se ele estava ali.
— Ai, Mione! — ele sussurrou.
— Você não me deixa outra escolha.
Hagrid e Olho-Tonto Moody apareceram em seguida. Hagrid acenou para ela, mas Moody cochichou algo com ele que o fez vir até a mesa. Moody vinha em seu encalço.
— Olá, Mione. Tudo bem com você?
— Tudo, Hagrid, e você?
— Também.
Moody abaixou-se e sussurrou:
— Bela capa, Potter.
— Prof. Moody? O seu olho... — Harry murmurou.
— Ele enxerga sob capas de invisibilidade, sim. O que já me foi muito útil, na verdade.
O olho azul de Moody dançou loucamente dentro da órbita, e Hermione tentou evitar uma expressão de espanto. Hagrid abaixou-se também e disse:
— Quero que me encontre à meia-noite, Harry, na minha cabana. Esta noite. — tornando a levantar-se, ele disse, sorrindo: — Muito bom ver você, Mione.
Os dois se retiraram do bar.
Naquela noite, então, Harry deixou a sala comunal escondido pela capa da invisibilidade, rumo à cabana de Hagrid. Como era naquela mesma noite o encontro dele com Sirius, Hermione ficou na sala comunal para ver se os colegas iam esvaziá-la até a hora marcada. Por sorte, ela não precisou fazer nada, pois as pessoas foram se deitar naturalmente.
A última pessoa foi Rony, com quem ela estava jogando xadrez de bruxo. Ele sempre ria, pois ela perdia cada partida. Era bom ver um sorriso no rosto dele, para variar o mau humor dos últimos tempos. Depois de mais uma partida, ele bocejou longamente.
— Acho que vou deitar. Você não vai?
— Vou, mas acho que mais tarde. Estou sem sono agora...
— Bem... Boa noite.
— Boa noite.
Ele subiu a escada até o dormitório. Ela ficou ali mais um pouco, esperando que Harry voltasse. Faltavam quinze minutos para a uma hora, que era a hora que ele tinha combinado com Sirius. Harry não chegava, e ela começava a cochilar na poltrona onde estava sentada. Decidiu ir deitar-se, desejando que tudo desse certo no encontro.
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