Imperius
Hermione abriu os olhos com dificuldade. Não conseguia enxergar direito, tudo estava muito desfocado. Ela virou a cabeça para o lado e pode identificar uma lareira acesa, de onde vinha um reconfortante calor. Próximo à lareira estava um homem de semblante preocupado. Ele pegou uma chaleira que estava sobre o fogo e despejou a água quente dentro de um caldeirão, adicionando a ele algumas ervas cortadas com precisão.
Após misturar três vezes o conteúdo do caldeirão, Snape mergulhou uma pequena colher de madeira na poção e a retirou quando estava cheia, caminhando devagar até a cama onde estava deitada sua aluna.
Os olhos dela continuavam entreabertos, surpresa que ele recebeu com um quase imperceptível sorriso no canto da boca. Colocou a mão livre atrás da cabeça da garota e a ergueu um pouco, fazendo com que ela tomasse a poção.
Quando a recolocou na posição inicial, Hermione sorriu para seu mestre e caiu em sono profundo mais uma vez.
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O outono avançava sutilmente do lado de fora do castelo, mas o lado de dentro continuava frio e sem vida como sempre estivera desde que ele tinha chegado ali no começo do verão. Entretanto, Snape não podia dizer o mesmo sobre ele próprio. Estava preocupado com algumas coisas importantes, outras talvez nem tanto, mas tudo aquilo que atormentava sua mente poderia atrapalhar sua missão com tanta intensidade que talvez tudo tenha sido em vão.
Ele fechou o grande livro que estava tentando ler desde a noite anterior e descansou sua cabeça sobre as mãos. Não conseguia mais se concentrar em seu trabalho, não podia mais pensar na missão. Estava preocupado demais com ela para pensar em qualquer outra coisa.
Levantou-se rapidamente e levou o livro até o velho armário da sua sala de aula nas masmorras, onde estava até então. Desde o dia em que Hermione desmaiara naquela sala de aula, Snape passava horas e horas na sua antiga sala de aula para poder cuidar dela melhor, pois a garota descansava inconsciente no quarto do professor que ficava ao lado.
Quando voltava do armário que ficava no extremo da sala, ele esboçou um sorriso aliviado. Hermione estava de pé, bem diante dele, parecendo perfeitamente saudável outra vez.
- Olá – disse ela, muito jovialmente.
- Bom dia. Vejo que melhorou.
Ela concordou com a cabeça e se aproximou do homem, que fez sinal para que ela se sentasse numa das cadeiras da sala, fazendo o mesmo logo depois.
- Parece que estamos quites agora, não? – Hermione sorriu enquanto fitava o professor.
Ele não entendeu de imediato, franzindo a testa. Só depois que compreendeu que ela se referia à ocasião tinha livrado-o da morte, há cerca de um mês. Continuou sério e olhou-a profundamente.
- Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
- Como não? Eu te salvei, você me salvou. É isso aí.
- Você me salvou da morte. Eu apenas te curei de um desmaio. Minha dívida continua, assim como nossas aulas.
Hermione suspirou e olhou para o chão. Só estava brava com a teimosia do professor, porque no fundo não cabia de alegria por continuar tendo aulas com ele.
- Certo, você venceu. O que vou aprender hoje?
Snape levou a mão ao queixo e ficou pensativo por alguns segundos.
- Você já viu tudo que precisava ver e saiu-se muito bem. Está pronta para começar a executar os feitiços.
A garota olhou assustada para ele. Mesmo depois de tudo aquilo, ainda não tinha certeza se estava preparada.
- Mas não se preocupe – disse ele, percebendo a agitação da menina. – Vamos começar pelo mais simples. Acredito que você já conheça a maldição Imperius.
Ela concordou com a cabeça.
- Sim, mas nunca a usei.
Snape deu uma leve risada. É claro que a garota nunca havia executado uma maldição imperdoável.
- Tem alguma coisa que você queira saber sobre ela?
- Hum... Não sei... – apesar de nunca ter feito, sabia muito sobre a maldição, pois havia lido vários livros sobre isso nas férias. – É realmente verdade que uma pessoa sob a maldição Imperius não lembra nada do que fez depois que fica livre dela?
Snape ficou satisfeito. Era uma pergunta plausível e mostrava que a garota finalmente começava a duvidar dos livros.
- Tenho a impressão de que essa é uma pergunta cuja resposta só pode ser obtida por experiência própria.
Ele fez um sinal pedindo para sua aluna se levantar e que pegasse sua varinha.
- Tente lançar a maldição em mim e eu te digo se é verdade.
Hermione franziu a testa e bufou.
- Por que sou sempre eu que tenho que lançar em você? Lance em mim primeiro que EU te digo como é!
E colocou sua varinha sobre uma das mesas, esperando que o professor agisse.
Snape ficou confuso com aquela reação. Nunca poderia imaginar que ela confiasse tanto assim em alguém como ele.
- Imperio!
Ele observou a luz sair de sua varinha e atingir o peito da garota com algum receio. Hermione ficou parada e com o olhar perdido, como se esperasse ordens de alguém para agir.
Snape aproximou-se dela lentamente. Sabia também pelos livros que essa maldição tinha o efeito de esquecimento nos bruxos em que era aplicada, mas ele tinha suas dúvidas. Já vira muitos feitiços causarem diferentes efeitos dependendo do bruxo em que eram utilizados. O único jeito de descobrir era testando e perguntado para sua cobaia logo depois.
Estava fazendo todas essas reflexões bem próximo da garota, que parecia indiferente à presença dele pela primeira vez. Snape ficou observando-a cautelosamente enquanto erguia a própria mão trêmula. Fechou os olhos para nunca lembrar que fizera isso e colocou sua mão sobre o rosto macio e jovem da menina, acariciando-o lentamente.
Olhava para aquele rosto angelical com profunda devoção. Nunca tinha apreciado tanto assim a imagem de uma mulher...
Foi nesse momento que ele parou e abaixou sua mão rapidamente, afastando-se dela. Lembrou-se de algo que quase sempre esquecia: ela não era uma mulher, era apenas uma garota.
Virou-se novamente para ela e apontou a varinha em sua direção.
- Finite Incantatem.
Hermione cambaleou e apoiou-se na mesa para retomar o equilíbrio. Dessa vez Snape não foi ao seu encontro para ajudá-la. Ele estava mais frio e distante do que nunca.
- E então? Lembra-se de alguma coisa? – perguntou com o antigo tom grave que não usava há muito tempo, mas agora tinha um quê de medo em sua voz.
Hermione passou a mão pela nuca e franziu a testa, tentando lembrar-se de alguma coisa.
- Não... Não lembro de nada.
Snape assentiu com a cabeça e logo saiu pela porta da sala sem dizer nada, deixando sua aluna sozinha.
Ela encostou-se na parede e, com um discreto sorriso, levou sua mão até o rosto e tocou a parte onde a mão do professor estivera há pouco.
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