Avada Kedavra
Tanto ela quanto Snape ficaram visivelmente constrangidos com aquele ato impulsivo. Logo Hermione o soltou e caminhou até a janela, muito corada. Depois de alguns minutos, ele se levantou e foi até ela.
- Espero que agora compreenda porque eu sou capaz de lançar uma maldição imperdoável.
Ela permaneceu calada, olhando para os terrenos de Hogwarts. Não sabia o que dizer.
- As pessoas foram muito cruéis comigo ao longo dos anos. A única maneira que encontrei para me vingar é torturar pessoas que não têm nada a ver com isso.
Ele fez uma pausa e cruzou os braços. Nem podia acreditar que estava falando aquelas palavras, principalmente para Hermione. A garota virou-se para ele.
- Eu entendo – sussurrou ela.
E realmente entendia. Nada que ela vivera poderia ser comparado ao sofrimento pelo qual Snape tinha passado durante a vida.
- É preciso ter sofrido muito para ter coragem de lançar uma maldição imperdoável. Por isso eu espero que você nunca seja capaz de lançar uma.
Ele lançou um último olhar para a garota e deixou a sala em silêncio.
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A noite caiu fria naquele dia. O barulho do vento batendo nas janelas era constante e assustador, por isso Hermione preferiu ficar no velho armazém, onde não havia janelas. Não demorou muito para que Snape aparecesse.
Ele cumprimentou a garota com um aceno de cabeça e sentou-se num barril suspirando longamente. Parecia muito cansado quando tirou suas botas e jogou-se na cama improvisada no chão.
Hermione pensou quando seria a hora de perguntar aonde ele ia todos os dias e o que fazia por lá. Mas ainda não era o momento, afinal Snape estava sendo muito gentil com ela, confiando suas memórias mais secretas à garota. Ela se aproximou dele e sentou-se do seu lado. O homem abriu os olhos e franziu a testa.
- Ahn... eu só queria agradecer pelo que você fez hoje – disse ela, um pouco embaraçada pelo olhar do professor.
Ele se ergueu e sentou-se ao lado dela.
- Eu não fiz nada – falou Snape, balançando os ombros.
- Fez sim. Você me mostrou sua vida e eu imagino que isso seja muito difícil.
Snape olhou para o lado e confirmou com a cabeça. Hermione continuou a olhá-lo agradecida.
- E ainda fez isso para que eu conseguisse lançar a maldição Cruciatus.
- É, mas devemos esquecer esse assunto. Chega de maldições imperdoáveis.
- Por que? Eu prometo que vou me esforçar mais nas próximas aulas...
- Escute, o problema não é você, sou eu. Não quero ser o responsável por colocar o ódio em seu coração. Esse é um caminho sem volta.
Os dois se olharam por alguns instantes. Hermione quebrou o silêncio.
- Eu quero aprender essas maldições. Quero que você me ensine a odiar.
Snape ficou olhando para ela incrédulo, até que começou a rir. Riu de um jeito que ela nunca tinha visto, talvez nem ele mesmo se lembrava da última vez que rira daquele jeito.
- O que foi? – perguntou Hermione com a mão na cintura.
- Ora, não se ensina alguém a odiar!
Ele levou a mão à barriga de tanto rir, com dificuldade para respirar. Hermione continuava olhando para ele furiosa.
- Se é possível ensinar alguém a amar, também é possível ensiná-la a odiar.
Snape parou de rir e olhou para a garota. Ficou constrangido sem saber exatamente o motivo, então virou-se e deitou novamente. Hermione ficou olhando para as costas dele fixamente, esperando uma resposta.
- Ok, você venceu. Amanhã retomamos as aulas.
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No dia seguinte, os dois seguiram juntos para a sala de aula. Snape tirou novamente o morcego da gaiola e o prendeu no parapeito da janela. Hermione estava mais relaxada que da última vez, mas continuava apreensiva e evitou olhar para o pobre animal.
Snape percebeu o nervosismo da garota e tentou acalmá-la.
- Você não é obrigada a fazer isso.
Hermione ergueu os olhos para encarar seu professor. Ela estava confiante.
- Não. Quero ir até o fim.
Snape assentiu com a cabeça e teve que se esforçar para não sorrir. No fim a garota estava saindo melhor que o esperado. Ele esperou que ela erguesse a varinha, mas a garota continuou parada.
- O que foi? – perguntou Snape.
- Quero olhar primeiro. Faça o feitiço antes.
Ele ficou um pouco chocado com o pedido da garota, mas achou plausível. Se ela não pudesse agüentar sequer olhar para o animal sendo torturado, então realmente não conseguiria fazer o feitiço.
Snape ergueu sua varinha em direção ao morcego e gritou:
- Crucio!
O morcego recomeçou a se debater e Hermione logo sentiu-se mal novamente. Ela segurou o braço do professor e escondeu sua cabeça no ombro do homem, que evitou olhá-la. Com a mão que não segurava a varinha, ele segurou uma das mãos dela, dando apoio para que ela tivesse coragem de abrir os olhos.
A garota olhou para o morcego com alguma dificuldade, mas logo reparou numa coisa curiosa: o animal estava sofrendo bem menos que da última vez. Ficou pensando qual seria o motivo dessa mudança, mas não chegou a nenhuma conclusão, pois Snape logo cessou o feitiço.
- Muito bem – disse o professor. – Você está pronta para a próxima fase.
Ela suspirou e lançou um olhar de pena para o pobre animal que o Snape fazia acordar mais uma vez.
- Não sei se serei capaz de lançar o feitiço...
- Nada disso. Você ainda precisa ver mais uma coisa antes de tentar.
Hermione olhou para ele com uma expressão de dúvida, se perguntando o que o homem tinha em mente. Para assombro da garota, ele posicionou-se atrás dela e a envolveu com seus braços fortes.
Ela sentiu as bochechas corarem com essa proximidade do professor, mas o calor que seus braços provocavam ao a envolverem era muito agradável. Ele segurou as duas mãos dela e fez com que elas segurassem firme a varinha. Ergueu então os braços da garota mirando o morcego recém-recuperado da tortura.
Snape também estava um pouco atordoado pela posição em que se encontrava. Os espessos cabelos da garota corriam pelo seu queixo e exalavam um cheiro maravilhoso. Ele tentou se concentrar no que estava fazendo e estreitou os olhos quando fitou o morcego.
Hermione tremia e não sabia se era porque o professor estava tão próximo dela ou porque já imaginava o que ele estava por fazer, mas não teve muito tempo de pensar. O homem enchia o peito para gritar o último feitiço que aquele miserável animal veria...
- Avada Kedavra!
O morcego caiu com um baque surdo no chão, ao mesmo tempo que Hermione perdeu os sentidos nos braços de seu professor.
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