Uma morte e um reaparecimento
Harry chorou. Suas lágrimas pareciam fogo na pele. Seu rosto queimava. Seus olhos doíam muito. Mas a dor de seu rosto não era nada comparada com a dor de todo seu corpo. O feitiço Crucio era muito conhecido por ser uma Maldição Imperdoável, que causava muita dor. Tanta dor, que a pessoa ia preferir a morte a aturar cinco minutos dessa dor agonizante. E por mais que Harry já tivesse passado por isso, não era o mesmo que antes. A dor parecia pior. Muito pior. Os pais de seu amigo Neville haviam sido torturados até ficarem loucos. Harry se contorcia no chão achando que não escaparia de uma morte agonizante. Seu fim estava próximo.
-Você sempre achou que ia me vencer, não? Menino Potter? – Voldemort falou em tom confiante, com seu olhar vidrado em Harry caído ao chão. – Meus comensais estão lá fora matando seus amigos, não restará nada de nenhum de vocês. E eu matarei “o menino que sobreviveu”, e todos me obedeceram. E todos terão medo de mim!
Ele gargalhou alto, e sua gargalhada ecoou pela casa abandonada como se fosse um canto preparatório para a morte que Harry esperava ansioso, pois queria que toda aquela dor acabasse. Voldemort o fitou, com sua varinha na mão, ainda apontando para Harry, olhou em seus olhos. Se Harry não achasse que estava enlouquecendo de tanta dor, diria que Voldemort tremeu ao olhar fundo em seus olhos.
-Sabe garoto, que você é muito parecido com seu pai, mas carrega os olhos de sua mãe. Na noite em que fui te matar, para acabar com aquela profecia, não foi difícil matar seu pai. Claro que ele lutou até o último para salvar você e sua mãe. Você deve ter herdado essa mania de grandeza, em salvar os outros, dele... – Nessa hora Harry se lembrou de que seu pai havia salvado Snape na adolescência, e esse não fora capaz de salvar Dumbledore. E agora Snape estava morto. A dor estava piorando. Harry tentava lutar contra ela, mas parecia impossível.
-...Já sua mãe, essa sim foi difícil de matar. – continuou Voldemort. – Eu nunca antes havia visto olhos como aqueles. Eu já conhecia seus pais. Já haviam me enfrentado antes. Mas não dei importância, pois estava em pleno poder e eles não me afetavam em nada. Depois de saber da profecia, eu consegui que Rabicho, que agora está morto, pois eu o matei, me levasse até vocês. Pensava que ia conseguir matá-los com muita facilidade. Mas sua mãe resistiu até o fim. Ela... – Harry gritou. Seu grito foi uma mistura de horror, medo e raiva. A dor era horrível. – Ela me olhou com aqueles olhos verdes implorando que eu não matasse seu filho. Nunca senti pena de ninguém, mas sua mãe despertou em mim algo que eu nunca consegui compreender. A matei com a sensação de alívio de não ter que olhar para esses olhos que estão aqui na minha frente de novo. Você sabe o porquê disso?
A dor diminuíra, Voldemort estava fazendo uma pergunta a Harry e queria uma resposta. Harry acabara de ouvir que Rabicho morrera. Queria uma resposta pra isso também. Tinha raiva de Rabicho, pois havia provocado a morte de seus pais, mas o que faria Voldemort matar seu braço esquerdo?
-Minha mãe me amava...– Harry começou a falar, sentindo muita dor. – Mas acho que você não sabe o que é amar. Ela sentia por mim um amor que você jamais sentirá. Jamais saberá o significado dele, pois duvido que exista outra coisa além de ódio em seu coração...
A reação de Voldemort era melhor do que Harry previra. Ele estava usando aquilo que aprendera com Dumbledore. Que o amor de sua mãe o havia salvado da morte quando bebê. Agora adiava um pouco sua hora crucial. Por mais que a dor não deixasse ele ver, ou ouvir direito, ele achava que a batalha entre os comensais e a Ordem continuava lá fora, na escuridão. A noite já caíra, pois a casa escurecera. Seria um feitiço? Voldemort parecia aborrecido com o quê Harry dizia:
-...Minha mãe usou um feitiço muito antigo para me proteger. – Se ele ia morrer não fazia mal contar isso a Voldemort. – Um feitiço que envolve laços muito fortes com quem se ama...
-...Tem haver com o sangue da família... Agora entendo porquê sua tia trouxa estava tão envolvida nisso. Seu sangue te protegia. Sua mãe morreu por você. Era a última coisa que eu poderia imaginar naquela época, que seu sacrifício selaria um vínculo, um laço forte demais para ser quebrado. Ela usou magia muito antiga. E eu devia ter matado ela antes disso, mas seus olhos suplicantes não deixaram.
-Por quê não deixaram? Como foi que você matou Rabicho, ele sendo o SEU servo? Minha mãe não tinha nada haver com você!
-Sua mãe era bonita e jovem. Uma bela mulher. Não era fácil matar uma mulher com uma beleza tão rara. Olhos claros. Acho que eu fiquei atraído por seu olhar suplicante. Mas ela era uma sangue-ruim. Mereceu morrer. Rabicho me traiu, também mereceu morrer.
-Como assim?
-Ele foi vigiar você e seus amigos na pensão que vocês estavam aqui nessa cidade. Mas o idiota confundiu o seu quarto com o da sua amiga sangue-ruim. Ele FINGIU confundir, pois ele sabia seu quarto. Ele me mentiu, mesmo sabendo que sou bom legilimense.
-Por quê ele mentiria? – as costelas de Harry pareciam estar moídas pela dor que não cessara, Voldemort diminuíra, mas não parara com o feitiço.
-Ele quis te proteger Potter. Você salvou a vida dele uma vez. Ele retribuiu.
Harry aproveitou o silêncio que se fez para ajeitar seus óculos, mas Voldemort deve ter pensado que ele ia fazer alguma outra coisa, e então o atirou contra a parede. Se Harry achava que não tinha quebrado nada, agora ele tinha certeza que várias costelas haviam se quebrado. Urrou de dor, e rastejou até o canto. Ele não podia morrer assim! Não era justo! Não depois de tudo que já passara para, quem sabe, trazer paz ao mundo dos bruxos! Ele dera esperança para muitas pessoas. Não podia morrer! Não depois de tudo que passara! Toda a sua vida passava como um filme na tv. Sua infância sofrida na casa dos tios, com seu primo. A descoberta de que era um bruxo. Os amigos novos que havia feito. Os segredos que foi descobrindo, pouco a pouco, sobre sua família e sua vida. O espelho de Osejed. A primeira batalha com Voldemort. As aventuras com Rony. Será que o amigo ainda estava vivo? As brigas de Rony com Mione, que o faziam rir. O padrinho que ele não conhecia. A família que ele teve, quase sem saber, os Waesleys. O quadribol, o Torneio Tribruxo. A morte de Cedrico. A Armada de Dumbledore. A morte de Sirius, e a morte de Dumbledore pelas mãos de Snape. E tinha a Gina, que havia feito ele esquecer de tanta coisa, enquanto estavam juntos... Será que ele merecia morrer assim? Perder tudo que lhe importava e morrer?
Olhou para o lado oposto da sala comprida e estreita em que estava, lá havia uma prateleira. Nela havia uma caixa comprida, uns 45 cm, e estreita. Só podia estar lá. Mas como ele iria pegar? Não podia se mexer, pois Voldemort não parava de fitá-lo. Ele tinha que resgatar sua varinha. Mas como?
-Mas o que é isso? – Voldemort olha para trás e se depara com Neville, que havia acabado de aparatar.
-Harry! Não vou te deixar sozinho!
-Seu... – Voldemort furioso aponta a varinha para Neville. – Não dê mais nenhum passo!
Mas Neville não o escutara, enquanto Harry tentava se erguer do chão temendo o pior, seu amigo atravessava a sala correndo ao seu encontro, mostrando uma coragem que ele jamais tinha visto.
-Harry? Você está bem? – Perguntou Neville, pegando pelo braço esquerdo de Harry, que se apoiou nele.
-Sim.
-Vocês dois vão morrer agora!
Os dois se abaixaram, Harry sentiu seus ossos estralarem. Precisava de sua varinha. Era agora ou nunca. Concentrou-se. E mentalmente: “Accio varinha”. A caixa cai no chão, e a varinha vem em sua direção. “Isso, Vai!” Mas...
Voldemort a pega no ar, Harry cai no chão.
-Pensou que ia conseguir? – ele alisa a varinha com os dedos finos e brancos como um papel. – Não, não menino Potter... Não.
Neville tenta agarrar Harry pelo braço, mas ele se desvencilha permanecendo no chão.
-Harry não seja bobo! Deixe a varinha! Vamos!
-Agora eu já sei! A varinha é um pretexto! Eu posso derrotá-lo sem ela!
-Do quê você tá falando?
Sem Harry poder responder, Voldemort ataca Neville.
-Crucio!
Neville começa a contorce-se e gritar de dor. Harry levanta-se. Voldemort arregala os olhos.
-Como você ainda pode se levantar?
-O sacrifício de MEUS PAIS, de MEU PADRINHO, e de DUMBLEDORE não será em vão. Assim como o sacrifício que fizeram os pais de Neville não será. Solte-o! – e com toda raiva que jamais sentira, Harry gritou. – SOLTE-O!
Neville ficou em pé. Parecia bem, apesar de assustado, parecia admirado com o que Harry acabara de fazer. Voldemort encarava Harry de frente. A batalha começara.
-Se é um duelo que você quer ter... Então terá!
Harry sabia que não precisava mais de sua varinha. Era como se ele descobrisse a magia dentro de si, como se ela já estivesse ali o tempo todo. Queria antes dar um tempo, a dor em relação as suas costelas estava passando. Mas era bom cessar de vez. Perguntou:
-Antes quero que me responda uma coisa. Por quê Snape enganou Dumbledore, todos esses anos? – essa pergunta martelava na cabeça de Harry, e Snape não podia mais responder isso.
-Simples: Ele nunca enganou Dumbledore. Você nunca soube diferenciar as coisas, não Potter? Quando eu tentei pegar a Pedra Filosofal, também o acusou, e ele era inocente, tanto que tentou me impedir de alcançar a pedra. Snape é bom em oclumência. Mentiu sobre ser fiel a mim, e estar enganando a Dumbledore. Era o oposto. Só fui saber que ele me traia quando ele morreu, pois Draco me contou.
-O que houve com Draco?
-Ele está com a mãe, lutando lá fora nesse momento. Não matou Dumbledore, mas eu o perdoei por enquanto...
-Mas então por quê Snape matou Dumbledore? – era o só o que Harry queria saber.
-Segundo Draco, ele ia morrer, por causa da poção que ele tomou para achar minha horcrux. Não ia fazer diferença morrer antes ou depois, ia? Parece que ele implorou ao Snape que o matasse no lugar de Draco, pois não queria manchar o garoto. Sempre preocupado com os alunos! Aff! Snape cumpriu a última ordem de seu verdadeiro mestre: Dumbledore. Mas me enganou dizendo que fez, porque EU queria. Draco me contou a verdade, pois eu percebi que a horcrux fora destruída por Snape, que havia desaparecido, obriguei ele a me contar.
Harry mal acreditava no que ouvia, esquecendo o presente voltou ao passado. Sempre acusando Snape. Ele sofrera muito na infância e adolescência. Tornara-se um homem sozinho, autoritário, e frio. Mas ainda assim inteligente. Havia sido fiel a Dumbledore. Salvara a vida de Harry e de Draco, morrendo. Agora Harry precisava duelar com Voldemort. Precisava evitar que mais pessoas morressem. Para ele seria a batalha final. “Nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver”. Dependia de Harry, vencer ou não essa batalha.
Olhando a varinha de Voldemort apontada para seu peito, desejou que sua varinha estivesse com ele. Mas aceitou sua missão. Em pé, apesar das costelas quebradas, encarando Voldemort nos olhos, conseguiu ouvir Neville sussurrar:
-Vamos embora Harry! Por Favor! Os outros lá fora estão preocupados com você...
Harry sentiu o ar diferente, e antes que o feitiço ataca-se Neville, empurrou o amigo contra a parede. Voldemort conseguira ouvir Neville falando, lendo sua mente, pois seria impossível ouvir com todo o barulho da batalha sendo travada lá fora. Harry percebeu o feitiço e o bloqueou com um simples olhar. Voldemort estava usando legilimencia. Harry bloqueou seus pensamentos, estava usando oclumência.
-Como você está fazendo isso, garoto? Como bloqueou meu feitiço “Estupefaça”?
-Acho que todo o ódio que sinto, me deixou mais forte. Não deixarei mais ninguém morrer em vão por sua causa.
-Seu amigo vai pagar por sua ousadia! – Grita Voldemort apontando a varinha para Neville.
Mas, com muita surpresa, Harry viu Neville se defender muito bem do feitiço Crucio. Ele se abaixou, e em seguida apontou sua varinha para Voldemort, e gritou “Finite Incantatem”.
-Uau! – gritou Harry surpreso com a reação de Neville.
-Harry eu vou sair, mas trarei reforços!
-Ok!
Neville sai aparatando, deixando Voldemort e Harry sozinhos.
-Me dê minha varinha!
-Jamais Potter! Estupefaça!
Harry abaixa-se e grita: “Expelliarmus”. A varinha de Voldemort cai longe.
-É só isso que consegue fazer Voldemort?
Harry pega a varinha com uma rapidez impressionante.
-Accio varinha!
-Me dê isso menino!
-Reducto varinha!
A varinha explode, e fica em mil pedacinhos.
-Seu sangue-ruim!
Harry aproveita a confusão de Voldemort com a varinha, e olha para o chão. Lá está o punhal de cabo preto que atingiu Rony. Era sua chance.
-Me diga por quê matou tanta gente? – Harry puxou conversa, enquanto escondia o punhal na manga direita. Não podia deixar que Voldemort lesse seu pensamento.
-Por gosto! Eu só queria o poder e a imortalidade, cuja tal você me tirou, mas agora eu vou tirar sua vida com minhas próprias mãos... - Dirigiu-se a Harry, e conseguiu pegá-lo pelo pescoço.
Harry é erguido do chão, seu coração dispara, e ele fica com medo. Toda sua vida passa como um flash. Ele escuta a mãe: “Harry, querido, você consegue!” Procura ela com os olhos já vermelhos pela falta de ar e não acha, seu corpo parece não ter mais movimento. Esse é o meu fim? “Harry, meu filho, você consegue!” sua mãe. “Harry, filho! Você consegue!” seu pai. Harry sente mãos o acariciando, mas não vê ninguém.
Quase sem fôlego levanta a mão direita, lentamente, juntamente com o punhal, e o crava no lado esquerdo do peito de Voldemort. As mãos, em torno do pescoço de Harry, ficam frouxas. Os olhos de Voldemort parecem virar fogo. Ele larga Harry, que cai no chão com um baque. Voldemort caminha para trás e se bate com a mesa.
-Você acha que isso pode me deter? – Pergunta ele, com respiração muito fraca, e voz rouca.
-Suas horcruxes já foram destruídas. Você e só o bagaço do que restou. Você sabe disso. Está sozinho. Sua varinha já não lhe obedece. Você vai morrer logo... – Harry sentiu uma súbita pena. Mas esse era o fim daquele que matara seus pais, o fim de quem destruíra muitas famílias, o fim de Voldemort.
-Já que eu vou morrer, e eu sei disso. Você também vai garoto!
-Como assim?
-Você acha que essa cicatriz só lhe ofereceu coisas boas? Você está ligado comigo. As varinhas provaram isso... naquela batalha...
Harry achava que Voldemort só podia estar delirando por causa da perda excessiva de sangue.
-NÃO! Dumbledore disse que isso dependia de mim. A profecia só se realizaria seu eu quisesse...
-Do que está falando Potter? – seu tom de voz já estava muito fraco.
-Você superestimou a Profecia, ela só se tornou real, porque você quis!
-Era de se esperar... Está acabando meu tempo. Você venceu Harry Potter!- Voldemort riu com desdenho. - Deixou de ser um menino, tornou-se um homem...
Harry vê Voldemort fechar os olhos. Abaixa-se e ergue a cabeça dele.
Voldemort abre os olhos. Os dois se encaram. Os olhos escuros de Voldemort se contrastam com os verdes de Harry. As lágrimas, talvez as únicas vistas, de Voldemort saem com suas últimas palavras.
-Eu gostei de sua mãe, por isso demorei a matá-la. Um erro que hoje me custa à vida. Estou morrendo nas mãos de seu filho, o menino que sobreviveu, Harry Potter...
Harry constata no pulso do inimigo seus batimentos. Nada. Voldemort se fora. Só a Deusa sabia para onde. Ele o larga, com o corpo inerte no chão. Sua morte fora lenta, uma morte de trouxa. Harry sentiu alívio, agora no mundo dos bruxos tudo mudaria.
Uma dor na cicatriz! Mas era bem diferente das outras dores... Era uma dor confortante. Sentou-se no chão com muita dor nas costas, e conjurou um espelho. Sua cicatriz estava mudando. Parecia estar enfraquecendo. Harry deduziu que ela iria sumir. Era o fim de quase duas décadas de terror a comunidade bruxa.
O corpo de Voldemort começou a se dissolver, como se fosse papel queimando. Nesse momento chegou muitas pessoas dentro da casa, Harry não conseguiu identificar nenhuma, havia tirado os óculos que estavam tortos.
Com muita dificuldade se levantou, e apoiando-se em Neville, após identificá-lo, olhou Voldemort se esfarelar. Criou-se uma fumaça onde antes estava o corpo dele, e depois de alguns segundos ela desapareceu por completo. Harry não conseguiu entender.
-Óculos Reparo! – Harry olhou para o lado, Hermione parecia bem, apesar dos cabelos estarem bastante bagunçados. Ela entregou os óculos a ele. – Você está bem? – sua voz era fraca.
-Sim. Mas e o Rony? – perguntou Harry ao colocar os óculos, mentindo estar bem.
-Ele... Ele... – Hermione parecia inexpressiva. – Ele está entre a vida e a morte. Foi levado ao hospital, mas como foi o coração...
Hermione começou a chorar. Harry temeu o que ela ia dizer.
-Como foi o coração... Ele está num estado muito delicado. Em pensar que ele pode morrer, porque tentou me salvar...
-Não pense assim Hermione! Ai!
Harry sente suas costelas quebradas.
-Eu quebrei algumas costelas, quando Voldemort me jogou contra a parede.
-Férula! Está melhor assim? – pergunta Lupin, apontando sua varinha para Harry, formam-se então curativos e talas. – Espero que assim esteja melhor. Sua batalha jamais será esquecida. Você destruiu Voldemort sozinho. Parabéns! A profecia estava certa então...
Nessa hora chegaram quase todos da Ordem, alguns machucados, com aranhões, outros mancando. Havia vários comensais presos com feitiços. Gina não se encontrava em parte alguma.
-Creio que está cansado. Vamos limpar tudo aqui e ir para nossas casas... Harry? – perguntou Lupin.
-Sim? Ah! Sim. Mas antes me diga por que Voldemort dissolveu-se? – Harry ainda não entendera toda aquela fumaça desaparecendo.
-Porque, Harry, esse é o fim pra quem tenta dividir suas almas. Esse é o fim pra quem tenta vida eterna através do mal. Tomar sangue de Unicórnio é um crime horrível. E por falar em crime, não se preocupe! Você será inocentado por utilizar o Avada Quedrava.
-Do que está falando?
-Você o utilizou meses atrás, o Ministro me disse ontem. Eu não vou perguntar a causa.
-Foi quando matei Nangini... – Harry falou mesmo assim o motivo. - Agora que me dei conta que usei uma maldição imperdoável.
-Não se preocupe. O Ministro ainda não sabe onde você está e nessa altura do campeonato, Voldemort ter sido destruído faz com que você ganhe uma Ordem de Merlim, primeira classe. Em vez de uma ordem em Azkaban.
-Entendo... – Harry riu. Suas costelas doeram.
Após alguns minutos, com tudo limpo. Harry não quis ir para casa. Queria ir com Hermione ao hospital, saber de Rony.
-Por quê você ficou aqui? Por quê não foi para o hospital Mione?
-Eu fui Harry, mas voltei, pois precisavam de reforços aqui. Conseguimos prender a maioria dos comensais.
-Você sabe onde está Gina? Eu não a vi mais.
-Está no hospital.
-QUÊ!? Ela também?
-Não Harry, ela só tá lá por causa do Rony.
Harry suspirou de alívio em saber que ela estava bem. Mas lembrou de Rony. Tinha que vê-lo.
-Vamos logo ver como está o Rony. – dizendo isso, Harry saiu da casa abandonada sentindo o vento da tempestade que estava se formando. Sentiu um arrepio. Ficou com medo que Rony estivesse morrendo. Precisava ver o amigo. E assim aparatou com Lupin e Hermione às pressas.
Chegando ao hospital, muitos comensais presos e alguns da Ordem, que estavam machucados, se dirigiram as suas devidas alas no Saint. Mungus. Harry, Hermione e Lupin se dirigiram à ala de ferimentos com coisas de trouxas. Harry não reparou em nenhuma esquisitice durante a caminhada pelo corredor. Seus pés pareciam chumbo, a cada passo ele sentia um grande peso no corpo. Os ferimentos nas costelas ele deixara para depois. Queria ver Rony agora.
-Viemos ver Ronald Weasley. – disse Hermione para a enfermeira.
-Sim. Ele já está com duas visitas. Vão ter que esperar elas saírem.
-Ele já pode receber visitas, então?
-Sim, mocinha. Ele saiu do estado delicado. Está dormindo. Acordará logo pela manhã. Mas nada de visitas assim, ele precisa de um longo período de recuperação.O coração é muito frágil, por isso ele está vulnerável. Ah! Olhem, saiu uma, pode ir outra pessoa.
Harry olhou para trás. Era Gina, pálida, com cara de choro. Harry quis afagar seus cabelos, mas se conteve e apenas a fitou com um olhar de preocupação.
-Harry e Lupin, eu vou ir no lugar de Gina. Preciso ver Rony.
-Ok.
Hermione saiu a passadas largas.
-Harry... – Gina começou a chorar na frente de Harry, e ele entendia perfeitamente a dor dela. Rony era como um irmão para Harry. A dor era a mesma. Foi na direção dela. Não era mais um garoto inseguro. Havia tomado decisões que mudariam a vida dele para sempre. A abraçou. Seu ombro rapidamente ficou encharcado. E ele também queria chorar, mas parecia que lágrima nenhuma viria.
Ficou afagando os cabelos de Gina pelo o que pareceu pouco tempo para aliviar a dor que ambos sentiam.
-Eu tenho medo que ele morra... – a voz de Gina era num tom de desespero.
-Me desculpe! A culpa é minha. Eu disse para nem ele, nem Hermione viajarem comigo. Eu arrisquei a vida deles. Meu melhor amigo não pode e não vai morrer.
A sra Weasley saíra do quarto agora. Vinha em direção de Lupin, depois de falar com ele, veio abraçar Harry.
-Oh querido, que bom que está bem... – a voz dela era fraca, seu rosto era de quem tinha chorado muito. – Não se preocupe com Rony. Ele vai ficar bom, só precisa de tempo. Ainda bem que Voldemort já se foi para sempre de nossas vidas. Obrigado Harry por tudo o que você fez. Você foi muito valente querido! Hermione me contou que você se arriscou para eles poderem sair com Rony de dentro da casa. E que o relógio escondia a última horcrux. Se eu tivesse acreditado em você...
-Não mudaria muita coisa. O relógio tinha um feitiço, e alguém acabaria caindo nas mãos de Voldemort de qualquer jeito.
-Mais uma vez, Harry querido, devo-lhe uma vida. Você já salvou o Arthur e agora o Rony. – e beijou a testa de Harry.
-Vocês me proporcionaram uma família, que eu nunca tive. Já sou grato por isso. Posso ver o Rony agora? – perguntou Harry.
-Gina querida venha com sua mãe. – Gina estava do lado de Harry. – Vá Harry. Hermione está lá, coitadinha ficou muito abalada.
Harry se dirigiu ao quarto de hospital, as camas estavam vazias. Parece que naquela noite apenas Rony sofrera um grave ferimento com um objeto de trouxa.
Viu Hermione sentada ao lado de Rony.
-Oi!
-Oi! Ele está melhorando... Olha! – ela apontou com a cabeça, Rony segurava com firmeza a mão direita de Hermione. – Mas ele ainda está inconsciente. Acordará pela manhã.
-Cara, como eu queria que você estivesse bem. Nós vencemos, enfim. Nós! Porque sem ajuda de você Rony, e de você Hermione, eu não teria conseguido sozinho.
-E quem disse que eu não to bem. Vocês dois acham que um punhal me derrota facilmente. Estão enganados! – Rony falava baixinho e devagar, mas sorria com um olhar de presunção.
-Rony, meu amor! – Hermione foi até Rony e deu-lhe um selinho.
-Vou ficar mais vezes doente...
-Não brinque com isso!
-Parece minha mãe falando...
-Rony, cara! Que bom que está bem. - Harry apertou a mão de Rony.
-Dói muito minha cabeça, e o meu peito. Mas e ai, como foi que vencemos?
Harry e Hermione narraram todos os fatos. Rony ficava surpreso à medida que sabia de todos os acontecimentos.
-Mas e Malfoy? Perguntou Rony.
-Draco desapareceu. Dizem que Voldemort o matou.
-Draco? – perguntou Harry.
-Sim. – respondeu Hermione.
-E a mãe dele?
-Essa morreu tentando salvar o filho. Triste fim para o Draco, não acham?
Rony parecia pensar.
-Olha, eu não gostava nem um pouco dele. Mas não desejaria isso nem ao meu pior inimigo.
-E você Harry?
Harry estava pasmo, nunca desejara que Draco morresse na mão de Voldemort. Quando Dumbledore morreu, ele quis se vingar. Mas foi uma raiva muito diferente. Harry só sentia uma coisa:
-Pena.
-Quê?
-Eu sinto pena. Ninguém no mundo merece morrer assim. Sabe o motivo Mione, pelo o qual Voldemort o matou?
-Sei. Ele não acatou a ordem de matar você Harry.
Harry abaixou a cabeça e ficou em silêncio. Se ele pudesse, voltaria no tempo e mudaria o passado. Mas já não era mais possível. Ele fizera tudo que pudera. Que Draco descansasse em paz.
Agora que tudo já havia passado, Harry olhava o lago de Hogwarts e lembrava de cada cena e de cada detalhe da batalha final. Fora muito doloroso. O alívio que Harry sentiu em saber que Rony ficaria bem, logo se transformou em culpa em saber que matara Voldemort tarde demais, que não pudera salvar Draco. Suas costelas foram concertadas com alguns feitiços. Ele agora estava bem.
Havia se passado dois meses de todo o acontecido. Harry voltara para o fim das aulas de Hogwarts no mês de março, Rony e Hermione também. Os três tiveram muitas aulas particulares para recuperar as aulas perdidas. Com um pouco de sorte passariam nos N.I.E.M.S e poderiam seguir em frente com seus estudos. Harry ainda queria ser auror.
Os acontecimentos haviam vazado para toda a imprensa. O Profeta Diário passara os últimos dois meses publicando matérias como Harry sendo o maior Herói. Felizmente eles se convenceram de que Neville, Rony e Hermione, também tiveram muita participação com a morte de Voldemort. Por isso Harry conseguira se livrar das interrupções nos corredores na escola, quando ele precisava andar por eles. Agora Rony e Neville disputavam atenção com muitos alunos de Hogwarts.
Harry ganhara, juntamente com seus amigos, uma Ordem de Merlim Primeira Classe. Isso para Harry não valia muito. Se ele pudesse trazia as pessoas que ele mais amava de volta. Mas não podia. Resolveu esquecer um pouco tudo aquilo. Precisava achar Gina, que agora era a pessoa que ele mais amava. Levantou-se e seguiu para o castelo.
Entrando na torre da grifinória Harry só viu alguns alunos do segundo ano. Todos estavam no pátio, pois o dia estava ensolarado e muito bonito. Mas ele não achara Gina lá. Rony e Hermione estavam caminhando de mãos dadas perto do lago, ele pode ver quando subiu as escadas.
Resolveu subir até o dormitório. Entrando lá se deparou com seu malão aberto. Ao verificar, viu que nada havia sido furtado. Aquilo era muito estranho. Seu malão estava ao lado da cama, o mesmo lugar em que havia deixado. Era como se tivesse aberto sozinho.
Ao tirar um par de meias de dentro do malão, uma luz ofuscante inundou o quarto. Uma luz muito branca, a mesma luz que ele vira em um sonho que tivera há meses atrás. Algo muito estranho estava acontecendo.
Fechando os olhos, Harry enviou a mão na mala e começou a vasculhar o interior dela. Até que ele achou o que estava trazendo a forte luz. Era um espelho. Um espelho pequeno. Ele tinha quebrado esse espelho uma vez, pois estava com muita raiva, mas havia decido concertá-lo depois de algum tempo. Usara o feitiço Reparo. Mesmo assim, o espelho nunca teve utilidade.
-Harry... – era um sussurro. Uma voz familiar... Harry não pode acreditar!
-Sirius???
-Harry... – outro sussurro.
Ele olhou para o espelho. O que ele ia fazer?
-Estou aqui Sirius. – Respondeu Harry. Mas Sirius não falou mais.Sua voz tinha sido tão fraca, que ele se perguntou se não fora ilusão. A luz sumira.
-Eu vou até o Ministério.
Dizendo isso se dirigiu a saída.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!