Capítulo XX
Foi até a cozinha e comeu alguma coisa. Depois voltou ao quarto. Preferia não ficar vagando pela casa sem saber quando Harry chegaria.
No quarto de Bryan, desfez a mala do filho e guardou as roupas nas gavetas e no armário. Depois ajeitou os objetos que ele acrescentara à bagagem, coisas que, afirmara, eram indispensáveis à sua sobrevivência. Um boné e uma goles, a vassoura que ganhara no Natal e uma pequena caixa onde se encontrava seu jogo de xadrez-bruxo. Depois de alinhar todos os itens, Hermione afastou-se para examiná-los.
Seu filho. Ele era um garoto incrível. Simpático e equilibrado, raramente criava problemas. Bryan se parecia muito com seu pai, até os cabelos meio-avermelhados, mas felizmente herdara seu bom senso. Concluída a tarefa no quarto de Bryan, ela seguiu para o aposento vizinho e começou a desfazer sua mala.
Notando um rádio-relógio, ligou-o e sintonizou uma estação de músicas clássicas, trabalhando enquanto ouvia as melodias envolventes. Levara basicamente roupas casuais, peças que guardou nas gavetas dobradas como estavam. Os vestidos que levara foram pendurados no armário. Como Bryan, também levara um punhado de objetos que considerava importantes. Livros de seus autores favoritos, textos que gostaria de estudar para o curso que pretendia fazer no verão… Enquanto os empilhava sobre o criado-mudo, ela se movia pelo quarto movendo os quadris no ritmo da canção.
- Hermione.
Assustada, ela se virou e viu Harry parado na porta.
- Harry! – Um rubor tingiu seu rosto. – Há quanto tempo está aí?
- Há tempo suficiente para saber que seus quadris não foram prejudicados pela queda do avião. – Sorrindo, notou que o rubor tornava-se mais intenso. – É bom saber que você e Bryan chegaram bem.
- Obrigada. Chegamos há cerca de uma hora. – Por que o ar parecia mais quente sempre que estava perto dele?
- Vejo que já se recuperou da nossa aventura.
- Sim, eu... estou muito bem. E você? Como está o joelho? – Queria expulsá-lo dali e proibi-lo de olhá-la daquela maneira, como se pudesse vê-la através das roupas. Queria implorar para que ele se mantivesse afastado, porque só assim poderia sobreviver àqueles dias.
- Ainda dói pouco, mas logo estarei recuperado. Precisa de alguma coisa?
- Não, obrigada. Estamos muito bem instalados – Que sacola era aquela na mão dele? O que haveria nela?
- Já contratei uma pessoa para trabalhar com Bryan todos os dias a partir de amanhã. O professor estará com ele das oito às onze da manhã durante todo o período que passarem aqui.
- Obrigada.
- Agora tenho que voltar ao trabalho. Oh, isto é para você. Para tornar sua estadia mais confortável. – Ele entregou a pequena sacola de papel pardo e virou-se. – Vejo vocês na hora do jantar. – E desapareceu além da porta.
Hermione respirou fundo e soltou o ar lentamente. Depois sentou-se na beirada da cama. Havia esperado não ter nenhuma reação quando o encontrasse. Dissera a si mesma que as estranhas emoções que a tomaram de assalto durante os três dias de convivência forçada haviam ido uma anomalia desligada da realidade. Mas tinha de aceitar que algo a atraía para Harry… a mesma coisa que a incomodara durante os anos que passara casada com Rony.
Até o acidente com o avião, eles nunca tinham ficado sozinhos novamente. Então, aqueles loucos sentimentos haviam retornado com força esmagadora. Estava ali por Rony, lembrou. Rony queria a presença e o apoio da família em um momento de grande dificuldade. Não precisava perceber que a ex-esposa queimava de desejo por seu melhor amigo. Tinha certeza de que tal descoberta só acrescentaria um novo dado à tensão que dominava o homem diante de um grande desafio. Além do mais, não era como se amasse Harry. Dizendo a si mesma que os sentimentos desapareceriam, fossem eles quais fossem, abriu a sacola que ele entregara pouco antes.
Os dedos tocaram um objeto frio. Ela o segurou e retirou-o da sacola. Um abajur. Pequeno e delicado, ele possuía o formato de uma flor com um beija-flor provando o néctar em seu centro. Harry comprara um abajur. Com o coração apertado e os olhos cheios de lágrimas, continuou olhando para o presente inesperado e terno. Harry se lembrara do medo que a dominava e saíra para comprar o abajur. Enquanto o instalava ao lado da cama, considerou se, ao aceitar a proposta para passar duas semanas na casa dos Weasley, não havia cometido o maior erro de sua vida.
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