Capítulo XVI



- Mamãe? Bryan estava parado no corredor.

- Querido, o que faz ainda acordado? – Rápido, afastou-se da porta e conduziu o filho de volta ao quarto. – Já é tare, e você tem aula amanhã cedo.

Ele se deitou e esperou que a mãe o cobrisse.

- Papai me falou sobre o tumor quando você não estava aqui. Ele explicou tudo sobre a cirurgia que terá de fazer, e ouvi quando ele pediu para ficarmos com ele e tio Harry por algum tempo antes da operação. Podemos ir, mamãe?

As palavras soavam ansiosas, e os olhos eram ainda mais eloqüentes. Amendoados como os dela, espelhavam as emoções com clareza impressionante.

- Não sei, Bryan. Você tem a escola, e eu preciso trabalhar. Não podemos simplesmente fazer as malas e deixarmos a cidade por duas semanas.

- Mas, mãe, papai está doente! Ele precisa de nós!

As palavras do menino a tocaram profundamente. Rony estava mesmo doente e, mais que tudo, queria o amor e o suporte da família. Queria tê-los a seu lado. Como negar a ele um pedido tão justo? Como negar ao filho a companhia do pai em um momento como esse?

- Não tomarei nenhuma decisão esta noite, querido. Estou muito cansada, e preciso refletir um pouco.
- Certo, mas ainda acho que devemos ir, mamãe. Temos o dever de apoiar papai.

Hermione beijou-o na testa, despediu-se e foi para seu quarto. Sentia uma estranha e poderosa exaustão. A camisola de cetim cor de rosa era confortável e familiar como o abraço de um velho amigo. Na penumbra, guiada apenas pelo abajur sobre o criado-mudo, deitou-se e decidiu manter a pequena lâmpada acesa. Era estranho. Muitas crianças tinham aparatos como aquele em seus quartos, mas naquela casa era a mãe quem precisava de iluminação para banir as imagens assustadoras que tomavam corpo ao anoitecer. Mas, nesse momento, não era a noite que a preocupava.

Pelo contrário. Estava inquieta com a perspectiva do amanhecer, quando teria de tomar uma decisão. Rony precisava de Bryan... e Bryan precisava dela. Não podia simplesmente mandá-lo para a casa do pai por duas semanas, pois sabia que ele não ficaria confortável sem sua presença. Durante os últimos nove anos, Rony fora apenas uma visita esporádica, alguém que sempre cancelava encontros no último instante.

Bryan lidava com a inconstância do pai de maneira madura para um garoto de sua idade, sempre aproveitando o tempo que passavam juntos, aceitando conformado as mudanças de planos. Se não concordasse com o pedido do ex-marido e algo de terrível ocorresse, Bryan jamais a perdoaria. Nem ela mesma poderia se perdoar. Mas havia questões práticas. Bryan havia começado o período recentemente e, embora fosse um excelente aluno, duas semanas de ausência prejudicariam seu rendimento escolar. Como editora-chefe da redação do Profeta Diário podia solicitar uma licença de duas semanas, mas teria um considerável prejuízo financeiro. Tinha de pensar antes de tomar uma decisão. Pela primeira após a separação, desejou ter alguém a quem pudesse abraçar durante a noite, alguém que a afagasse e dissesse que tudo acabaria bem. A súbita e inexplicável carência a irritava.

Levando a mão aos lábios, lembrou o momento em que os lábios de Harry haviam tocado o dela. Sentira um calor intenso que se espalhara por todo o corpo. Determinada, baniu a recordação para o funda da mente. Não podia pensar naquele beijo. Não podia pensar em Harry. Pensar no encontro entre os lábios, no rosto ou na voz profunda do homem com quem estivera durante três dias, a enchia de culpa. E nem sabia por quê. Fechando os olhos, logo adormeceu, temendo tomar a decisão errada e, de alguma forma, igualmente temerosa de tomar a decisão acertada.

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