Capítulo XV
- Um… tumor? – repetiu, segurando as mãos dele sobre a mesa.
- Um tumor no cérebro.
Não podia chorar. Tinha de manter a calma, porque Rony tiraria forças de seu equilíbrio. Havia sido sempre assim. Hermione o mantinha inteiro, e quando ele desmoronava, era sempre ela quem juntava os pedaços.
- Já conversou com Harry?
- Ainda não. Falarei com ele esta noite, assim que chegar em casa.
- Certo… - Ela cruzou os braços e respirou fundo, engolindo a emoção. – Certo, você tem um tumor no cérebro. Qual é o prognóstico?
- Se eu não fizer nada… eventualmente ele vai me matar.
Rony levantou-se e deu alguns passos pela cozinha, incapaz de ficar quieto. Depois parou diante dela e encarou-a, e havia medo em seus olhos. Hermione sentiu o eco daquele temor em seu coração. Apesar do divórcio, gostava dele. Antes de tudo, ele era seu amigo. Rony fazia parte de seu passado e era pai de seu filho, razões mais do que suficientes para que tivesse um lugar garantido em seu coração.
- O médico indicou cirurgia. – ele prosseguiu. – O tumor está localizado em uma área que, ele garante, pode ser alcançada com facilidade.
- Então, o que está esperando?
- É fácil falar! Não é a sua cabeça que vão abrir!
- E você não tem alternativa. – ela respondeu, levantando-se para chegar perto dele e segurar suas mãos. – Rony, vai ter de fazer o que os médicos consideram melhor. Se não por você, então por Bryan. Ele precisa do pai, e ainda terá necessidade de sua presença por muitos anos.
- Oh, sim, que belo pai eu tenho sido!
- Você sempre foi um bom pai.
Ele sorriu, reconhecendo a eterna generosidade da mulher com quem se casara. O sorriso foi um flash de algo confortável, familiar.
- Sou um bom pai quando tenho tempo para lembrar que sou pai.
Ela assentiu, sentindo o nó que se formava em sua garganta.
- E por isso vai ter de submeter-se à cirurgia.
- Eu sei. E não vou fugir dela. Pensei muito desde que ouvi o diagnóstico. – Mais uma vez, o sorriso luminoso mudou sua expressão. – Não há nada como um bom tumor no cérebro para convencer uma pessoa a reavaliar suas prioridades. – O sorriso desapareceu. – Não tenho passado tempo suficiente com Bryan. Não tenho dito a ele as coisas que quero que saiba, coisas importantes que só um pai pode dizer a um filho. De repente, é como se não me restasse muito tempo.
- Você ainda tem muitos anos pela frente.
- Não vou mentir para você, Hermione. Estou apavorado.
Com esforço, ela conteve o impulso de abraçá-lo. Estaria a seu lado para apoiá-lo, mas, no final, Rony teria de encontrar também em si mesmo a força necessária para enfrentar o desafio.
- Você vai se submeter à cirurgia, e os médicos arrancarão o tumor de você. Depois ensinará Bryan a xadrez de bruxo, quadribol, como conquistar mulheres, e ainda estará por aqui quando ele o transformar em avô.
- Talvez. Eu… tenho um favor a lhe pedir. Quero que Bryan passe as duas próximas semanas na Toca comigo e com Harry.
Rony não tinha em quem se apoiar além de seu melhor amigo e companheiro de moradia, e sua família, porque Gina fora do país fazendo sua graduação, Fred e Jorge viajando para a Austrália numa convenção, Carlinhos treinando garotos para sua nova escola, Gui e Fleur morando na Índia numa espécie de intercâmbio, e Percy substituindo o ministro no Ministério da Magia.
- Mas… - ela começou a dizer.
- Quero que você esteja lá conosco. Sei que Bryan tem passado pouco tempo comigo, e por isso não ficará confortável sem a sua presença por tanto tempo. Quero conviver com minha família antes da cirurgia. – ele explicou rapidamente.
- Rony, não sei se essa é uma boa idéia. – ela disse.
- Por favor, Hermione. É importante para mim.
Estava dividida. Queria ficar perto de Rony neste momento difícil. Ele era pai de Bryan e queria apoiá-lo em um momento tão difícil. No entanto... ainda sentia nos lábios o calor deixado pelo beijo de Harry, e pensar em passar duas semanas na casa dos Weasley a deixava tensa e apreensiva.
- Não responda agora. – Rony sugeriu. – Sei que acabou de enfrentar um drama considerável, e acabei de despejar uma tonelada de problemas sobre sua cabeça. Vou voltar para a Toca ainda hoje, e amanhã conversaremos por telefone.
Ela o acompanhou até a porta, confusa com as revelações e emoções dos últimos três dias. Ele se despediu com um beijo carinhoso no rosto delicado. Assim que ficou sozinha, encostou-se na porta fechada e tentou conter as lágrimas que ameaçavam jorrar abundante.
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