Não novamente




Harry acordou aquela manhã e para sua grande surpresa, Rony também estava de pé, conversando com Hermione na sala.
Por mais normal que ele dia demonstrava ser, uma angústia escaldante lhe ardia o peito sem sentido. Ainda estava cedo pois apenas os três amigos estavam acordados na silenciosa casa amadeirada. Sim, havia algo errado naquela manhã nublada.

_ Amily ainda está dormindo? _ perguntou Harry, sentindo falta da namorada, talvez uma saudade comum, talvez não.Não soube dizer.

_ ah sim, ultimamente ela tem andado com sono... _ Hermione se servia de um pacote pequeno de biscoitos com Rony e pela leveza e distração que se lambuzava do creme colorido, Harry supôs que a angústia que sentia era algo sem fundamento, talvez uma crise existencial. Não, definitivamente ele não tinha esse tipo de crise. A campainha tocou e Harry,acordando subitamente de seus devaneios matutinos, parou de passar uma das mãos no próprio peito e levantou para atendê-la. Draco Malfoy. Não, aquela não era uma manhã perfeita. Ele encarou Harry e esperou para que o garoto o convidasse para entrar, algo que não aconteceu afinal, havia mais de um mês que o sonserino não dava notícias e isso fez com que Harry duvidasse ainda mais de sua lealdade.

_ Potter! Vença a sua falta de educação e me convide para entrar... _ Draco esperou até que Harry abrisse a porta para dar passagem ao garoto.

_ como se isso fosse um grande prazer... _ disse Harry entre os dentes, caminhando com Draco até a sala, onde estavam os dois amigos curiosos pelo horário da visita.

_ Malfoy? _ Hermione se levantou com urgência e no instante seguinte a menina calma e serena com biscoitos se transformou em uma garota surpresa_ alguma novidade sobre...

_ sim... Granger... _ Draco se sentou sem demonstrar nenhum alarde e encarou o trio, teatralmente.

_ então diga logo... _ Harry não se sentou, apenas encarava Malfoy. A raiva lhe invadia mas o medo do que poderia escutar se fez maior. Estava ali, a razão de sua angústia?

_ Ora, Potter, seja mais comunicativo... e como vai o namoro? _ Harry segurou sua varinha para a direção de Draco,o impulso se tornou mais forte que o raciocínio e ele inspirou o ar, como se o faltasse. Draco sorriu em deboche, não parecera se amedrontar com o gesto do garoto.

_ Amily não irá descer para te defender... Abaffiato! _ disse ele para a porta da sala aberta.

_ não preciso que me defendam, na realidade, Dumbledore precisa de alguém para defendê-la... se vocês ouvissem o que eu ouvi hoje de madrugada, sobre o que meu pai pretende fazer quando pegá-la...

_ como assim Malfoy? _ Hermione colocou as mãos na boca, o desespero novamente lhe invadindo _ eles foram à sua casa?

_ Sim... eu estava dormindo, acordei com um ruído... desci as escadas devagar e ouvi aquele comensal... _ Draco estreitou os olhos para o sofá, como se estivesse vendo a cena ocorrida _ meu pai falava com a minha mãe... parecia fora de si... dizia “matá-la” , “torturá-la” sem nem ao menos continuar a frase...não estava coerente... disse que Severo iria pagar... mas que ele sabia que a mandante era ela... ela era a herdeira de Dumbledore, a última... _ Draco permaneceu alguns instantes analisando o sofá até voltar a si.

_ temos que tomar cuidado... _ disse Rony com um certo medo na voz, tentava parecer firme e Harry pensou se sua atitude era para impressionar Hermione.

_ cuidado, Weasley? Eu se fosse um de vocês, não levaria Dumbledore naquele lugar, definitivamente... _ Draco passou as mãos pelos cabelos, suspirou com a frase do ruivo.

_ e onde é o lugar, Malfoy? _ Harry encarava Draco, um fio de medo lhe cortava o coração ao pensar em Amily. Sua cabeça tentava analisar os fatos com rapidez mas estava sendo uma difícil tarefa, palavras desconexas de Lucio Malfoy sobre Amily no ano anterior o fez perder sua linha de raciocínio.

_ Hogwarts, Potter...

_ mentira... ! _ bradou Harry, feliz por provar que o garoto realmente estava contra eles, que sua angustia e seu medo eram só uma terrível dor de estômago, que Amily estava segura. _ eu tenho um mapa... _ argumentou.

_ e você já o olhou hoje, Potter? _ Draco ficou feliz por perceber que Harry perdeu seu sorriso de vitória e intimamente, talvez Draco não percebera, perdeu novamente seu porto seguro. Harry encarou a mesa no centro da sala, onde estavam os mapas e o mapa do maroto que ele estudava com os amigos e segurou firmemente o pequeno papel, sussurrando “juro solenemente não fazer nada de bom” e observando o mapa revelar-se aos poucos, como em uma tortura lenta e proposital. Para a alegria de Harry, não havia nenhum nome se quer e ele encarou Draco, mostrando o pequeno pergaminho e tentando infinitamente acalmar seu coração.

_ Não há ninguém... Malfoy... _ Malfoy encarou o pedaço de pergaminho e depois encarou Harry, com as sobrancelhas pressionadas em um semblante curioso mas, ainda não se dando por vencido.

_ este mapa mostra a floresta proibida? _ Draco perguntou para Harry, fazendo o garoto sentir o estômago dar cambalhotas.

_ não, apenas uma pequena parte... _ agora quem disse foi Hermione, deixando Harry nervoso pela atitude da menina, ela esperava que ele fosse mentir apenas para vencer as palavras de Malfoy?

_ estão perto de Hogsmead... onde? Eu também não faço idéia... só ouvi-o dizer para minha mãe...

_ mas pode ser uma armadilha, até para você, Malfoy... _ disse Hermione, encarando o mapa como se, virando o pergaminho mais um pouco, ele caminharia até a floresta e revelaria os comensais.

_ ou não, Granger ? _ Draco encarou Harry _ Potter, por mim você pode ir ou continuar aqui, não faz diferença nenhuma... se você quer descobrir se é uma armadilha ou algo do tipo, descubra sozinho! Mas não leve Dumbledore com você...Eu não permitirei que...

_ por que você não vai conosco? _ Rony se levantou do sofá, encarando Draco e interrompendo abruptamente o antigo sonserino.

_ Jamais... Weasley... a parte difícil fica com vocês... a minha ajuda está dada... _ Draco novamente passou as mãos pelos cabelos. _ e Potter _ ele caminhou até Harry, encarando-o muito próximo, fazendo o garoto acordar de seus pensamentos _ sei que nós temos nossas desavenças e longe de mim querer mudar isso... mas não leve Dumbledore para morrer... você não ouviu o que eu ouvi... você não viu o que eu vi, com quem traiu você sabe quem... _ Draco caminhou até a porta, deixando pairar na sala da casa o medo e alcançando o hall , deixou seus olhos encontrarem os de Harry, apenas para perceber se o garoto realmente havia ouvido seu recado e deixando assim os três amigos surpresos.

_o que faremos... ? É claro que Amily não vai deixar de ir conosco... _ Hermione ainda olhava o mapa, na esperança fracassada de observar alguém passar pelos corredores de Hogwarts.

_ pode parecer loucura, mas, eu acredito no Malfoy... _ concluiu Rony, parecendo se desculpar pelo que havia dito.

_ eu também... _ disse Harry, encarando as janelas da sala, pensativo. Como dizer a Amily que ele arriscaria sua vida para protegê-la e assim,combater os comensais? Como privá-la de participar, sendo ela a autora de todo ataque? Como sair em busca de algo que talvez lhe traga a morte e não estar próximo dela, para um último adeus? Como caminhar novamente sozinho e tentar esquecê-la, que ele procurou, misteriosamente, por tanto tempo? Como não permitir que alguém que lhe salvou a vida, permaneça em casa, esperando notícias? Quanto tempo demoraria para encontrar e enfim derrotar os comensais? Quanto tempo pediria a Amily para que ele voltasse? E se ele não voltasse? E se ela permanecer em sua espera e ele jamais retornar? Como puni-la de levar uma vida comum enquanto ele, e apenas ele, deveria se sacrificar? Não, ele não permitira que ela se sacrificasse por ele. Não novamente. Não havia o colar da eternidade, tampouco qualquer outro feitiço que a fizesse ressuscitar como uma fênix. E se os comensais conseguirem, enfim, alcançá-la? Não, ele não permitiria que os comensais torturassem Amily. Daria sua vida para que ela não fosse. Sua decisão foi tomada como em um relâmpago no meio do campo, rápido e inconseqüente.


Observou que permanecera praticamente toda manhã pensando ao analisar o relógio. Harry caminhou até as escadas, certificando-se que, apesar do horário avançado, ninguém havia acordado ainda.

_ escutem... _ Harry se aproximou dos amigos _ Amily não vai com a gente... quer ela queira... quer não...

_ e como você vai fazer para ela não nos seguir? Porque ela não vai ficar de fora dessa! Pode ter certeza que assim que ela ficar sabendo da localização dos comensais ela será a primeira a convocar a ordem e algum plano sem fundamento... _ Rony perguntou, como se aquilo fosse impossível. Amily e qualquer palavra relativa a confusão eram sinônimos.

_ vou terminar com ela... _ concluiu Harry, sentindo seu coração acelerar só pela menção de dizer um absurdo como aquele. Não há escolha, pensou de maneira fria. Não era hora para sentimentos.

_ você não pode Harry! Demoraram tanto tempo para ficarem juntos, eu nunca vi aquela menina tão feliz, e você?... Olhe só para você... vocês sempre foram tão orgulhosos e... medrosos... foi tão difícil... _ Hermione já estava com lágrimas nos olhos antes mesmo de falar, deveria ter imaginado a mesma saída para mantê-la em casa.

_ É A VIDA DELA HERMIONE! _ Harry gritou para a amiga, não queria gritar mas a menina deveria entender o que se passava pela cabeça do jovem, afinal, ele jamais se perdoaria se acontecesse alguma coisa para ela e ele, principalmente ele, sabia da dificuldade que havia sido conquistar Amily, mas não poderia ser tão egoísta assim, já havia morrido tanta gente. _ me desculpe... _ Harry sentiu a amiga abraçá-lo.

_ não estou brava...Harry.. _ Hermione sentiu as lágrimas de Harry molhar seu ombro. Ele não queria mas não conseguia permanecer firme, aquela atitude doía-lhe mais que uma espada cravada em seu peito, doía fisicamente, muito além de seu coração. Eles ficaram assim por um longo período, até harry se lembrar que a qualquer momento, amily poderia levantar e querer participar da conversa, fazendo ele limpar os olhos e voltar sua atenção aos amigos.

_ não vamos contar para ninguém que Malfoy esteve aqui... _ continuou ele.

_ mas vamos acreditar então no esconderijo que ele propôs... ? _ perguntou hermione.

_ não, não de cara... vamos checar tudo... mas não aqui na casa amadeirada... amanha mesmo nós vamos para a casa de sirius... e de lá... descobriremos um meio de entrar...

_ mas precisamos contar com a ajuda dos aurores... _ disse Rony, parecendo inconformado com a idéia do amigo.

_ se contarmos para alguém, Amily irá atrás deles... _ Harry disse isso mais para si do que para os amigos. _ por favor... Ajudem-me! _ Harry voltou a encarar a janela. Não demorou muito até todos acordarem e Harry sentir que os minutos estavam contra ele, pois enquanto amily dormia, ela não sabia do que estava por vir. Como poderia ser tão injusto assim? Será que ele nunca deveria ficar com Amily? Só de lembrar da pele macia da namorada seus olhos se enchiam de lágrimas dolorosas, que talvez caíssem depois, não hoje.

_ Dia! _ ele observou Amily caminhar até ele mas se virou rápido, evitando ganhar o abraço da menina, seria mais difícil assim. Ele ficou tanto tempo sendo o insensível, saindo com tantas garotas e agora não conseguia fingir que não estava contente em vê-la, que não gostava dela. Seria difícil, mas sempre foi.

_ dia... _ ele respondeu, observando o olhar de Hermione brilhar. _ podemos conversar lá em cima? _ele disse e tentou parecer a pessoa mais fria possível, não obtendo sucesso algum, ele sabia.

_ claro... _ Amily passou as mãos pelo cabelo de Hermione em uma brincadeira, subindo com Harry para o quarto do garoto.



Ele esperou a menina entrar e fechou a porta, fazendo ela sorrir e encará-lo.

_ para que tanto mistério, senhor Potter? _ ela brincou, sentando-se na cama e observando Harry se virar para janela. Ele permaneceu alguns minutos em silêncio e depois se virou, para encará-la melhor, talvez aquela seria a ultima vez que a veria de novo, pelo menos como namorada. _ diz Harry? _ ela perdeu um pouco do sorriso, observando o semblante carregado do garoto.

_ eu... _ ele respirou fundo, as palavras não queriam sair de sua garganta. _ você sabe dos meus planos, não sabe?

_ bom... em derrotar os comensais... ser um auror... _ Amily pressionou as sobrancelhas . _ Quer me dizer alguma coisa, Harry?

_ tenho que assumir uma coisa... _ Harry observou Amily se ajeitar na cama, não sorria.

_ assuma...

_ de todos os meus planos... você não é um deles, Dumbledore... _ Harry se virou para a janela, se voltasse encará-la iria chorar. Ele esperou que Amily dissesse algo, mas ela não disse nada, obrigando o garoto a encará-la. Ela preservava uma feição vazia, encarando o chão com curiosidade.

_ Eu não acredito em você, Harry..._ Harry percebeu na voz da garota que apesar do semblante sereno, ela se esforçava para se manter firme.

_ Deveria... _ Ele fechou o semblante. Tinha certeza de que Amily, sendo tão esperta, não acreditaria em algo assim.

_ Então, vai me contar o que aconteceu? _ Ela permaneceu sentada na cama.

_ Não aconteceu nada...

_não, você acordou esta manhã e pensou “é um bom dia para terminar um namoro...” _ ela sorriu em deboche _ Se você dissesse isso olhando nos meus olhos... _ ela levantou suavemente da cama e caminhou até ele. _ bom... não iria adiantar... eu não acredito! _ Ela manteve-se firme e isso fez Harry odiá-la, eles não poderiam ficar juntos, não mais. Mais um passo e a oportunidade de acabar o namoro em um quarto vazio seria a oportunidade para arrastá-la até a cama próxima.

_ Entenda... que... eu não posso mais... _ ele analisou a menina, agora próxima demais. O perfume dos cabelos hora lisos, hora cacheados fez seu coração bater mais forte. Como explicar? Fechou os olhos nervoso. Respirou fundo e sentiu-se vencido, era fraco demais para abandoná-la, era fraco demais para aceitar a vida vazia de antes. Ouviu um forte estrondo e a observou desmaiar fortemente em seu colo.






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