Teimosia em Família
Simplesmente Esquecido – Capítulo 14 – Teimosia em Família
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – Rony gritou ao ver a cena a sua frente.
Se aquela não fosse a casa da sua mãe, se não fosse a sua irmã mais nova, se aquele não fosse o seu
melhor amigo, ele provavelmente acharia aquela cena muito divertida, e até bizarra, mas nas exatas circunstâncias, aquilo não era nada engraçado.
Harry engoliu o ar, junto com aquela palavra iniciada por F, que caberia perfeitamente na situação, e não respirou por longos segundos, os quais, também, não pôde se mover. Percebeu que Gina também não emitia um único som, muito menos um suspiro ou um movimento, ela nem mesmo piscava.
“Faça alguma coisa! Faça alguma coisa! Droga, isso não pode estar acontecendo!” pensou Gina. “Mexa-se, vamos! Ou pelo menos tire a mão do...”
- Achei! – Harry exclamou, assuntando a ruiva ao seu colo – Achei, viu, Gina? Não se preocupe mais! Eu disse que sua lente deveria estar por aqui, olhe. – disse mostrando o dedo indicador.
- Er, ah...minha le-lente? – ela perguntou sem entender, sentindo suas faces se ruborizarem a cada sílaba.
- É! – o moreno respondeu, esperando que aquela cena não ficasse ainda pior – Sua lente de contato, lembra? Você deixou cair.
Harry lançou um olhar significativo para ela. Gina tinha que entender, a vida de Harry dependia disso.
- Ah, claro! – ela sorriu nervosa, finalmente tinha compreendido os planos de Harry – Minha lente! Que bom, dê para mim, Harry. – pediu, lançando um olhar ao irmão, que se se encostara ao batente da porta, divertindo-se com os dois.
Gina fingiu apanhar a tal lente perdida das mãos do moreno e depois de um sopro, ela sorriu e levou o dedo em direção ao olho direito.
- Oh, obrigada, Harry. – ela começou a se afastar, enquanto abotoava a parte de cima de seu vestido.
- Não precisa agradecer. – respondeu ele, levantando-se e ajeitando as roupas amassadas.
- Gina, - Rony perguntou, levantando uma sobrancelha – desde quando você usa lentes de contatos? Achei que seus olhos não precisassem desse objeto trouxa, e esquisito...
- Bom, há uns meses, apenas. Não te contei? – ela cruzou os braços, caminhando em direção da janela.
“Se eu ao menos pudesse apartar dentro dessa casa!” pensou, lembrando das normas de segurança de Moody.
Rony a observou por um momento e depois lançou um olhar a Harry, que se aproximara da parede, com as mãos nos bolsos da calça.
- Vocês acham mesmo que eu sou tão idiota?
- Rony, mas do que é que você está falando? – Gina perguntou, ainda tentando levar aquela bobagem em diante.
- Bom, poderia ter dado certo. – Harry confessou, arrumando os cabelos negros, enquanto a ruiva lhe lançava um olhar de desaprovação – Não custava tentar...
Rony sorriu e fechou a porta, entrando no quarto.
- Escutem aqui, - o ruivo disse em voz baixa e ambos se aproximaram – o que vocês fazem ou deixam de fazer, sozinhos ou não, não é meu problema. Só por favor, não aqui na Toca! – ele terminou com uma cara de nojo.
- Ok. Pode deixar, Rony... – Harry sorriu, ainda admirado com a atitude do amigo. Algo lhe dizia que o ruivo estava escondendo alguma coisa.
- Certo. Vejo vocês lá embaixo, então. Mas, por favor, se forem fazer isso, que não seja na minha cama!
- Desculpe, Rony. – Gina disse, rindo.
- Não, não estou brincando. – ele continuou sério – Quero olhar para essa cama e lembra da Hermione e não de vocês dois!
Gina parou de rir, enquanto Harry olhava divertido para o amigo, que depois de uma piscadela, saiu.
- Eles vinham para cá...nas férias? – Gina perguntou, depois de um longo tempo, ainda vidrada na cama a sua frente.
- Não sei. – Harry deu de ombros, divertindo-se com a expressão de nojo dela.
- Sirius foi concebido aqui? Por que eu sempre achei que Hermione tinha engravidado muito cedo, mas...
- Olhe, eu não sei... – Harry finalizou, fazendo com que ela se desvencilhasse do assunto – Mas, mudando o rumo da conversa. – ele se aproximou dela, parando a sua frente – O que aconteceu aqui...
- É...bem, é algo que...
- Que estava começando a ficar bom. – ele sorriu com o canto dos lábios, passando os dedos pelas mechas ruivas dela – E acho que não deveríamos parar.
- Harry, o que está dizendo? – ela o olhou incrédula, afastando-se – Alias, não quero mais me aproximar daquilo! – ela apontou para a cama, atrás do moreno.
- Eu também não. – ele concordou sério, enquanto se afastava e seguiu até o chão, onde recolheu sua varinha, que deveria ter caído de seu bolso na hora da empolgação. Ele ajeitou os óculos e voltou-se para ela. – Não quero perder a chance de acabar com tudo isso mais uma vez...
Ela se surpreendeu. Não sabia o que estava fazendo, mas pelo menos Harry compartilhava a mesma opinião. Gina queria dizer não. Dizer que não daria certo, que eles acabariam brigando, como das outras vezes, dizer que ela não estava certa e ele também não deveria estar. E também dizer, principalmente, que ela não sabia o que ainda sentia por Draco.
- E se isso não for exatamente uma chance?
- O que quer dizer? – Harry caminhou lentamente em sua direção.
- Quero dizer, - ela suspirou, olhando firmemente nos olhos verdes dele – quero dizer que talvez não seja para dar certo. Às vezes...não é para ser assim.
- Não. Não! – ele pegou em suas mãos – As vezes as coisas são apenas difíceis, para que no fim, depois de todo o sofrimento, você possa chegar no “felizes para sempre”. Pode dar errado, como também pode dar certo, mas nós nunca saberemos se não tentarmos.
Gina olhou para o Sol brilhando do lado de fora. Talvez ele estivesse certo, mas e se não estivesse? Ela não suportaria sofrer mais.
- Mas e se... – ela não teve tempo de terminar.
E no segundo seguinte, os lábios dele colaram-se aos seus, enquanto a língua dele se escorregava com sofreguidão pela sua, deixando-a incapaz de pensar.
- Harry, não... – ela o afastou, deixando-o com um sorriso irresistível nos lábios – Minha família inteira está aqui.
- O que? – ele riu – Todos eles já sabem! – disse ajeitando uma mexa ruiva que caia sobre os olhos dela.
- Do que está falando?
Harry olhou para ela, divertido.
- Você realmente acha que Rony não contou para ninguém?
- Mas é claro que não! Rony não faria isso... – ela disse, um pouco indecisa.
- Ah, não? – ele pegou na mão dela e a levou até a porta – Está ouvindo essas risadas? – ela assentiu – Rony deve ter acabado de contar aos gêmeos.
Ela lançou um olhar aterrorizado para ele.
- Fique calma, sua mãe não vai ficar sabendo.
Gina suspirou um pouco aliviada. Ainda não conseguia entender os homens! Primeiro, seu irmão entra berrando no quarto e depois sai contanto para todo mundo como se fosse uma grande piada. Ela ia ter uma boa conversa com ele, mais tarde.
- O que está pensando? – Harry perguntou, enquanto a ruiva cruzava os braços e estreitava cada vez mais os olhos amêndoas.
- Nada. – mentiu, parando de se preocupar.
- Então, e sobre nós...?
- Er...o que tem? – ele a encostou na porta, aproximando-se. Seus lábios estavam a poucos milímetros de distância.
- Posso ver você amanhã?
- Hum... – ela fingiu pensar por um momento, não gostaria de ser muito atirada – vou verificar na minha agenda.
Ele sorriu e ela fez o mesmo.
- Diga a sua mãe que o almoço estava maravilhoso.
- Pode deixar, ela ficará contente em saber...
- Tome um banho e prepare o jantar, porque eu vou lhe fazer uma visitinha amanhã. – ele se afastou.
- Obrigada por aceitar meu convite, por um minuto pensei estar indo rápido demais. – ela disse irônica, fazendo-o rir.
- Vejo você amanhã. – ele abriu a porta e partiu.
- Até amanhã... – ela mordeu o lábio inferior e sorriu.
***
O Sol já começara a sumir, deixando a luz da Lua clarear as janela enfeitiçadas do Ministério da Magia. Harry estava quase indo embora, quando Rony entrou no seu escritório com uma expressão séria em seu semblante.
- O que foi? – o moreno perguntou, preocupando-se.
- Papai quer você no escritório dele. – Rony disse, ainda encostado na porta entreaberta – E não vai ser nada bom...
- Por que você acha isso? – Harry perguntou, guardando a última pasta da gaveta a sua frente.
- Porque o Malfoy está lá dentro. E além dele, só foram escalados eu e você.
Harry bufou contrariado, sentindo que problemas iriam surgir. E ele ainda acabaria se atrasando para o jantar com Gina.
- Você acha que tem algo a ver com Gina? – o moreno já se aproximava da porta, com o casaco nas mãos.
- Acho que não... – Rony deu espaço para o amigo sair e fechou a porta em seguida – Mais provável que seja algo sobre o Ministério ou presidiários de Azkaban. Enfim, não sei com o que exatamente o Malfoy trabalha, então não posso saber qual a área da conversa.
- Também não posso lhe ajudar. – Harry ia dizendo, enquanto percorriam o extenso corredor – Nunca tive a mínima idéia sobre o trabalho de Malfoy. E continuo sem entender o que ele tem a ver com a gente.
- Compartilho da mesma opinião, mas vai entender...papai tem essas idéias estranhas sobre trabalhar em conjunto. – o ruivo fez uma careta desgostosa – Nunca gostei disso...
- Bom, - Harry parou a frente da longa porta de madeira entalhada e lançou um olhar encorajador para o amigo – não se preocupe, ele é seu pai. Não vai lhe dar uma bronca.
- Isso é o que você pensa... – murmurou contrariado, enquanto abria a porta e dirigia-se a ante-sala.
Cumprimentaram a secretária do Ministro, Meg, uma loura baixa e rechonchuda que usava profundos óculos que aumentavam três vezes o tamanho originais de seus olhos. Além, de sempre estar com o batom rosa mais nos dentes que nos lábios. Harry lembrou-se, rindo consigo, que a escolhe de Meg, para secretária do Sr. Weasley fora da própria Sra. Weasley.
Bateram duas vezes na porta de metal, a prova de todos os feitiços possíveis e imagináveis e depois entraram.
O Sr. Weasley encontrava-se sentado em sua esplendida mesa de mogno, enquanto Malfoy sentava em uma das cadeiras à frente.
A sala do ministro era longa e muito iluminada. Diversas e diversas velas foram colocadas em todas as quatro paredes e apesar disso o ministro ainda tinha um pequeno abajur posicionado em sua mesa, algo que muitos de seus secretários tentaram arrancar dali. O chão era coberto por um tapete persa vinho e nas paredes quadros dos antigos ministros. Ao fundo havia uma enorme lareira, que também estava protegida por vários feitiços.
- Boa noite, senhor ministro. – disseram Harry e Rony, que encostou a porta no segundo seguinte.
- Olá, meninos. – Sr. Weasley começou, ainda acostumado com os antigos hábitos - Tenho um assunto sério a tratar com vocês.
- Algum problema, senhor? – Harry perguntou, sentando-se na cadeira indicada pelo ministro.
- Nenhum problema. – ele parou por um segundo, observando o filho sentar-se para depois continuar – Ainda.
- O que quer dizer, pa...quer dizer, ministro?
- Quem sabe se vocês calassem a boca, ele conseguiria dizer. – comentou Draco, que antes, só observava.
- Quem sabe se você ficar na sua não sairá com um dente a menos. – Harry retrucou.
- Por favor, silêncio. – Sr. Weasley disse, preocupado. – Não vamos discutir agora. O que eu tenho para dizer é que, vocês, Harry e Rony, receberam uma ajuda na busca de Pedro Pettigrew.
- Uma ajuda, senhor? – Harry perguntou insatisfeito – De quem?
Harry sentiu o Sr. Weasley ficar sem ação e rezou para que o que estivesse pensando não fosse realidade.
- Minha. – Draco disse, com um sorriso superior nos lábios.
- Não. – Rony disse, exasperado – Não mesmo, papai, não precisamos da ajuda dele.
- Concordo plenamente, senhor. – Harry continuou – Estamos trabalhando com tudo no caso e não precisamos de...
- Silêncio! – Sr. Weasley levantou-se – Não estou perguntando se precisam de ajuda, mas estou comunicando que eu já tomei uma decisão.
Harry bufou nervoso, enquanto Rony levantou-se como o pai. Não podiam aceitar aquela situação, mas também não podiam discutir com o Ministro da Magia.
- Senhor, - Harry começou, medindo as palavras, e segurando-se para não se alterar – por curiosidade, qual o tipo de ajuda que o Malfoy pode nos oferecer? Ele tem algum treinamento de auror? Ou é um investigador? Ou ainda...
- Potter, - o loiro o interrompeu – você sabe muito bem que eu não tenho nada disso. E também sabe qual o tipo de ajuda que eu posso lhe oferecer...
- Oh, que pena...acho que devo ter algum tipo de amnésia, o que mesmo você pode fazer por nós? – o moreno perguntou, levantando uma sobrancelha.
- Harry, Draco será muito importante para essa missão. Ele ainda contatos essenciais para uma pesquisa de campo, além de amedrontar muitos “daquele lado”, só com a menção de seu nome. – o ministro ia dizendo, com o peito estufado de orgulho, enquanto Draco concordava com a cabeça em cada tópico sitado – Eu sei que será difícil para vocês compreenderem isso, e se adaptarem, mas se queremos capturar Pettigrew, precisaremos de Draco ao nosso lado. Antes que esse rato sujo consiga sair da Europa...
O senhor Weasley se sentou novamente, ofegante, como se tivesse acabado de participar de uma corrida de 500 metros. Draco exibia um largo sorriso de triunfo, porém o mais insatisfeito era Rony.
Não conseguia suportar o orgulho de seu pai por aquele almofadinha acomodado. Nunca havia feito nada de bom em sua vida, atormentara sua família até na hora da separação com Gina, e agora, ele era o especialista em caçar comensais! Aquilo era demais para o ruivo. Seu pai deveria ter orgulho dele e não daquele idiota mimado! Depois de tudo o que ele fez, depois de tudo o que conquistou, a posição que alcançou e seu pai só tinha olhos para o engomadinho soridente ao seu lado? Rony concluiu que era hora dele dar uma surra naquele loiro imprestável.
- Estamos muito próximos de pega-lo,ministro. – Rony disse, com os olhos faiscando para cima de Draco – Aceitar a ajuda de Malfoy talvez só irá nos causar problemas. Dê-nos apenas mais alguns dias e...
- Rony já chega! Dei tempo demais à vocês. Agora quero fazer as coisas ao meu jeito.
O ministro concluiu e não havia mais nada o que discutir, eles sabiam disso. Mas mesmo assim não achavam justo. O senhor Weasley estava tramando alguma coisa e nem Rony, nem Harry estavam gostando disso.
- Está bem, senhor ministro. – Harry disse em tom baixo e sem nenhuma emoção, apenas derrotado – Os planos irão mudar ou seguiremos os antigos padrões?
- Oh, claro. – ele remexeu em algumas pastas encima de sua me e apanhou duas – Draco já tem suas coordenadas e você e Rony têm essas aqui. – disse, entregando as pastas para os dois, que nem tiveram coragem de abrir.
Harry olhou por um instante para o seu nome, timbrado na pasta cinza em suas mãos e desejou não ser ele mesmo naquele momento. Se soubesse que teria tantos problemas com o senhor Weasley no cargo de ministro, Harry provavelmente não teria apoiado tão excessivamente sua campanha, alguns anos atrás. Por fim, suspirou ainda contrariado e lançou um olhar para Rony, que estava prestes a ter um enfarte.
- Bom, - o ministro consultou seu relógio de pulso – acho que já terminamos por aqui. Obrigado pela cooperação dos senhores.
Harry e Rony deixaram a sala ainda aturdidos, mas Draco e o senhor Weasley permaneceram.
“Quem sabe não estavam pensando no próximo passo que darão para transformar a minha vida e a de Rony num inferno.” Pensou Harry, deixando a ante-sala.
- Fique cal... – Harry tentou começar, mas Rony já tinha explodido.
- O QUE ELES PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO? – gritou o ruivo a plenos pulmões. Se Harry não soubesse da proteção ante-som da sala do ministro, com certeza, ele já o teria estuporado. – PAPAI NÃO PODE COLOCAR AQUELE RETARDADO PARA TRABALHAR COM A GENTE! VAMOS ACHÁ-LO NA SEMANA QUE VEM E O CRÉDITO SERÁ TODO DELE!
- Eu sei disso, mas acalme-se!
- Calmo! – Rony deu uma risada nervosa – Não posso ficar calmo com toda essa situação! Não é justo!
- Também sei que não é justo, mas...
- Você não entende? Ele...
- Rony, pára! – Harry o empurrou na parede, batendo suas costas, fortemente, mas o nervosismo impedia o ruivo de sentir dor naquele momento.
Rony parou ofegante. O moreno escolheu as palavras exatas, para não faze-lo perder a cabeça de novo.
- Não se preocupe. Vamos achar Rabicho na semana que vem e sem a ajuda dele. – apontou para a porta suas costas – Ele não receberá crédito nenhum. Agora, acalme-se.
- Está bem... – o ruivo respirou lentamente, retomando o fôlego – Ah, dá pra me largar?
- Er, desculpa... – Harry o soltou imediatamente – Mudando de assunto. Gina não ficou nada contente por você ter contado a todo mundo sobre o nosso, ah, incidente.
- Eu não disse nada a ninguém. – Rony respondeu, rindo.
- Ah, claro! Então, aquele sorrisinho de Jorge seguido por aquela ameaça de morte não teve nada a cer com o que aconteceu no seu quarto? – Harry levantou uma sobrancelha, enquanto cruzava os braços.
- Desculpe, cara. – Rony riu mais ainda e quando se acalmou, continuou – Eu sou irmão dela e tudo o mais, mas se eu tiver que escolher entre você e o Malfoy, então eu ficarei com você.
- Obrigado. – ele sorriu.
- Ei, não fique tão feliz assim. Ou você acha que eu gosto da idéia de que minha irmã mais nova já está saindo com um cara, um mês depois da separação? Eu apenas disse que preferia você e não que apoiava sua causa.
- Está bem, então... – Harry riu baixo, colocando as mãos no bolso. Tinha uma estranha sensação de que estava se esquecendo de alguma coisa. Só então lembrou-se de que deveria estar terrivelmente atrasado. Checou o relógio e constatou que estava realmente atrasado. – Bom, tenho que ir.
- Onde vai com tanta pressa? Ler as suas coordenadas é que não vai.
- Se eu contar, você promete não me bater? – Harry perguntou, há vários passos de distancia do amigo.
- Não. – o moreno riu e Rony continuou – Mas não abuse da minha irmã ou eu mato você!
- Pode deixar! – Harry sorriu e começou a correr.
***
“Não vai dar tempo! Não vai dar tempo! Não vai dar tempo!” ela repetia para si mesma, enquanto movia-se de uma panela à outra, dentro de sua cozinha.
O Sol do lado de fora de sua janela já sumira há tempos, abrindo caminho para uma bonita Lua Minguante.
“Por que eu sempre tenho que ser tão teimosa assim?” disse para os armários e prateleiras ao seu redor, abrindo o forno.
“Eu não sei cozinhar sozinha! Simplesmente não sei! E não a nada que eu possa fazer, a não ser, claro, desistir da idéia de cozinhar!” Gina continuava brigando consigo mesma, quando uma das panelas começou a espumar e todo o seu conteúdo transbordar.
- Ah, não! Droga, droga, droga! – a ruiva xingava, sem saber o que fazer.
A panela ao lado da que transbordava começara a chiar, indicando que seu molho estava queimando, e a próxima, a primeira da frente, lançou sua tampa, rente à cabeça de Gina, que se na tivesse se abaixado no momento exato, já teria morrido.
- Chega! – Gina apanhou sua varinha no bolso do avental e com um giro, tudo havia acabado, restando apenas as panelas vazias.
Ela suspirou, sentindo-se uma incompetente, mas no fundo Gina sabia que não conseguiria acabar aquele jantar, viva. Guardou as panelas no armário embaixo da pia e caminhando até a sala, tirou o avental florido e o deixou em cima da mesa de jantar. Seguiu até o quarto e exausta, largou-se sobre a cama de casal.
Ali, com os cabelos ruivos espalhados pelo travesseiro, o rosto corado e o vestido branco e simples que usava, ela parecia um anjo. Um anjo de asas quebradas. Esse anjo não sabia mais voar, porém, mais cedo ou mais tarde, ele teria que reaprender.
Gina olhava para o teto, sem coragem nem ao menos para pensar, quando por fim, a ficha caiu. Ah, meu deus, o que ela estava fazendo?
Não podia voltar com Harry de novo! Não daquela forma. Não tão rápido! Ela ainda não sabia o que restara de seus sentimentos por Harry, muito menos sobre os sentimentos que tinha por Draco. E se ela estivesse errada? De novo? Não podia deixar que acontecesse de novo.
Flashback
- O que você estava fazendo com ele? – perguntou Harry, um garoto de dezessete anos, de olhos muito verdes e uma cicatriz em forma de raio na testa.
Ele estava sentado na poltrona vermelha mais próxima a lareira, que naquela hora da noite já havia se apagado, esperando por sua namorada que sumira depois do jantar. Mas que agora, entrava sorrateiramente pelo quadro da mulher gorda.
- Harry, que susto! – exclamou Gina, pousando uma das mãos sobre o coração. – O que está fazendo acordado a essa hora?
- Eu estou esperando por você. E não mude de assunto! – ele se levantou.
- Do que é que você está falando, Harry? – Gina perguntou, cansada.
- Do que é que estou falando? Não se faça de tonta, Gina Weasley!
- Não fale assim comigo, Harry Potter!
- Eu sei que você estava com ele! Por que você não pára de mentor para mim?
- Mentir sobre o quê? – ela se sentou na poltrona ao seu lado e começou a desamarrar os sapatos – Harry, pare de gritar comigo e me explique direito. Eu estava com quem mesmo?
Harry cruzou os braços, a fitando por uns segundos.
- Não seja irônica, Gina. Eu sei muito bem que você estava com o Malfoy!
- Harry, não comece com essa história de novo! – Gina revirou os olhos, enfurecida.
- Começar de novo? Essa história nunca acabou.
- Olhe,você sabe que eu não tenho nada com o Draco. Eu nem ao menos vi ele hoje!
- Não minta para mim! – Harry largou-se na poltrona a frente dela. Suspirou longamente, retomando a calma – Então, onde você estava?
- Nenhum lugar. – o moreno fitou seus olhos amêndoas e ela não pôde resistir – Está bem, está bem... – suspirou desanimada – Eu discuti com o Snape na aula dessa tarde e ele me deu uma detenção. Estava limpando todo o chão da masmorra. Pronto, está contente agora?
Harry não respondeu. Continuou observando-a deixar os sapatos ao lado e começar a afrouxar a gravata de seu pescoço.
- Não era muito mais fácil você chegar para mim e perguntar aonde eu estava, ao invés, de me atacar desse jeito?
Harry bufou insatisfeito se levantando da poltrona.
- Por que você não pára de mentir para mim? – e sem olha-la, seguiu para o seu dormitório.
Fim do Flashback
Nunca dera certo com Harry. Ele sempre fora muito inseguro. E não adiantava Roiny afirmar que a pressão da guerra o deixou mais desconfiado, porque ela não acreditava! Harry nunca confiara nela.
E essa noite ela seria sincera com ele. Se Harry não confiava nele, então eles nunca poderiam manter um relacionamento fixo e estável.
“Droga! Que horas são?” perguntou Gina, olhando em seu relógio de pulso e percebendo que estava definitivamente atrasada.
Ela se levantou da cama, correndo até o armário à sua frente. Tinha vários vestidos, mas sabia de um que era perfeito para a ocasião. Procurou e procurou, mas parecia que ele havia sumido. Espalhou várias roupas pela cama e também pelo chão até encontrá-lo. Ali, escondido no fundo do armário, atrás de várias bolsas velhas. O resgatou daquela escuridão, repleta de pó e o esticou, segurando em seu cabide.
Continuava lindo. Azul marino, com um decote V, não deixando tanto a mostra, mas salientando o que havia de bom para se mostrar, terminando na metade de sua coxa. O mesmo vestido que usara no seu último encontro com Harry.
Não sabia que reação o vestido provocaria nele, mas a sua intenção era a de voltar no tempo e tentar fazer tudo de novo, mas dessa fez mudando o desfecho da história.
Gina apoiou o vestido sobre o corpo e se olhou no espelho. Ficaria perfeito!
Ou talvez, não. Dez minutos depois e o bendito vestido ainda não passara por suas coxas, não importava o esforço que fizesse. Há anos Gina não usava aquilo, mas ela não poderia ter engordado tanto, poderia? Dizem que vida de casado engorda, mas ela sempre se controlara perante as guloseimas.
De qualquer forma, mais alguns minutos de luta e, por fim, ela desistiu. Gina não era mais a mesma. Muito menos suas medidas.
Desanimada, ela procurou por alguma coisa descente que pudesse vestir no meio daquele mar de roupas misturadas. Vestiu um tomara que caia vermelho e o achou indecente demais. Experimentou um vestido de gola alta, cinza escuro e se sentiu uma freira. Um verde, “Eu pareço um mar.” . Um amarelo, “Não, eu não quero um Sol” . Um prata, “Muito menos uma Lua.” E muitos minutos mais tarde, ela finalmente achou algo que lhe caia bem. Um pretinho básico.
Alças finas, a saia terminava quatro dedos acima do joelho, com uma pequena abertura lateral, que era um charme a parte. Vestiu-o e ficara linda. Escolheu sapatos de saltos finos e também pretos e finalmente estava pronta.
Caminhou até a sala de estar. Harry estaria ali em questão de minutos. Na cozinha, apanhou a varinha e depois de alguns feitiços, o jantar estava pronto. Como havia calculado, no segundo seguinte, a campainha tocara.
“É agora. Respire fundo.” Ela dissera a si mesma, enquanto ajeitava o vestido e passava as mãos pelos cabelos ruivos.
Com a confusão toda em sua cozinha ela não teve tempo de retocar a maquiagem que fizera, assim procurou um batom em sua bolsa e o primeiro que encontrou, passou em seus lábios rapidamente, alias, não queria deixar Harry plantado do lado de fora. Retirou o que borrara do batom, olhando-se no espelho oval ao lado da porta. Estava linda.
Pôs a mão sobre a maçaneta e depois de respirar profundamente algumas dezenas de vezes, ela abriu a porta.
- Olá, Har... – Gina não pode terminar, pois os lábios dele colaram-se aos seus, num beijo curto.
- Olá, Gina. – ele sorriu, enquanto ela permanecia encabulada – Trouxe isso para você. – entregou-lhe um buquê de margaridas.
- Obrigada. – ela sorriu amplamente e as apanhou – Entre. Vou buscar um vaso para deixar as flores. Fique a vontade.
Harry entrou e encostou a porta, a lacrando em seguida. Mania de aurores. Gina voltou com um vaso de vidro em formado arredondado que acolheu perfeitamente as flores alegres.
- Não lhe trouxe rosas, porque são muito comuns. – Harry disse, desprezando-as – E você é especial.
Gina sorriu ao elogio, pegando o vaso e o colocando numa mesa auxiliar, ao lado.
- Concordo. Principalmente porque as rosas são caríssimas nessa época do ano.
- Isso também contou bastante. Uma rosa por sete sicles e dez nuques! Isso é uma exploração!
A ruiva riu, seguindo até a cozinha, a fim de apanhar duas taças para o vinho que comprar naquela tarde. Harry olhou ao seu redor e concluiu que o apartamento era incrível. Essa era a vantagem de se casar em comunhão de bens com um Malfoy.
A sala de jantar, logo à frente, era grande e aconchegante, mas a pequena sala de estar em que estava era ainda mais bonita. Com uma elegante mesa de centro, com dois sofás alaranjados e arrojados, o ambiente se tornara prático e propício para uma longa conversa entre amigos. Com lindos quadros abstratos em todas as paredes, um arranjo de flores ao canto e um suntuoso lustre cobrindo grande parte do teto, o ambiente não precisava de mais nada. A sala de jantar já era mais romântica. Um espelho enorme cobria toda a extensão da parede ao lado da mesa redonda, iluminada por duas velas vermelhas. Porém, o que mais chamou a atenção de Harry foi a varanda, nos fundos da sala de jantar. Era do tamanho exato para ser perfeita. A vista dos antigos prédios de Londres e o balanço artesanal, feito para dois era ideal para se ver o pôr-do-sol.
Harry se amaldiçoou por ter chegado tão tarde, mas pensando melhor, não fora sua culpa. Gina tocou levemente em seu ombro, o tirando de sua nuvem de pensamentos e lhe entregou um cálice de vinho.
- Vamos brindar. – Harry disse, levantando sua taça – A nós.
- A nós. – ela brindou, segundos antes de deixar sua taça cair no piso frio.
Uma coruja preta apareceu acima da cabeça de Harry, com um baque ensurdecedor. Ela voava de um lado para o outro, atordoada. Gina a puxou para perto de si e apanhou a carta amarrada em sua pata esquerda. Instantes depois, a coruja já voava para fora da janela.
- De quem é? – Harry perguntou, deixando sua taça sobre a mesa de centro.
- De papai. – ela respondeu, antes mesmo de abrir a carta.
“Gina,
Preciso ver você. Aqui e agora.
Venha o mais depressa que puder.
É urgente!
Papai.”
- Aconteceu alguma coisa? – Harry perguntou ao notar o olhar de preocupação dela.
- Sim, quero dizer, não. Bem, eu não sei ainda. – ela deixou a carta encima do sofá laranja e foi apanhar um casaco. – Harry, eu preciso ir.
- O quê? Por quê?
- Não sei. Mas papai precisa de mim! – ele lhe lançou um olhar triste, enquanto ela vestia o casaco preto – Não olhe assim para mim. Eu prometo que voltarei em um minuto. – ela lhe deu um curto beijo e aparatou.
***
Como o Ministério da Magia era grande! Gina nunca havia notado isso, mas depois de três andares e enormes corredores sem fim, ela estava ofegante. Lembrou-se de nunca mais usar aqueles sapatos em toda a sua vida. Seus pés a estavam matando, tirando o fato dela tropeçar a cada três passos.
Gina correu o mais depressa que pôde e quando finalmente alcançou a ante-sala do ministro, ela já foi entrando, sem nem olhar para a secretária.
- Papai, o que houve? – ela perguntou ao abrir a porta, apressada – Draco? O que você está fazendo aqui?
N/A: Ah, não me matem!!!
Sou uma pessoa confusa demais para escrever uma fic tão grande! Heheh
Eu não tenho tempo!
Mas eu prometo que tudo vai dar certo, confiem em mim!
Já estou na metade do cap. 15 e o postarei até domingo, se tudo der certo. ;)
E depois disso só faltam mais dois caps. E a fic finalmente chega ao fim...
Vou sentir saudades de vocês! ^^
Deixem comentários para mim saber se estão gostando! =)
Beijos....
Mione Malfoy.
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