Blefes, Trapaças e Magias Invo
Simplesmente Esquecido – Capítulo 11 – Blefes, trapaças e magias involuntárias
Acordou vagarosamente, sentindo-se zonzo. Não tinha a mínima idéia de onde estava ou o que estava acontecendo, e depois de piscar diversas vezes, concluiu que aquela visão embaralhada era devido à falta de seus óculos. Apoiou-se em seu braço direito e com o esquerdo, tateou a procura deles e logo os encontrou, próximo a um pedaço de madeira, provavelmente, de uma antiga caixa de música, ou algo assim. Uma das lentes estava rachada, mas a outra só estava coberta de poeira. Passou a lente suja em um fiapo inteiro de sua camiseta rasgada, sem muito sucesso e levou os óculos ao rosto.
Podendo ver, um pouco melhor do que antes, notou que a embaçada figura na parede oposta era uma mulher, e apertando os olhos viu que era Gina. Estava totalmente encolhida, abraçando seus joelhos e depositando sua cabeça neles, mirando o chão. Parecia indefesa e pelos baixos e descompassados soluços, Harry tinha certeza de que ela estava chorando.
Tomou consciência e todo o seu corpo começou a doer, como se ele estivesse moído, ou tivesse sido atropelado por cinqüenta hipogrifos umas vinte vezes, e isso só o deixou mais confuso.
“Por que Gina está chorando? Por que eu pareço estar morto? Onde eu estou em primeiro lugar?” olhou em volta. Nada estava inteiro e muito menos organizado. Móveis e objetos ao chão, espalhados e quebrados, muitos soltando fumaças coloridas ou flashes de luzes, das partes mais improváveis. A cortina branca estava rasgada, deixando um rastro fino de luz alastrar-se pela sala, que tinha a impressão de ter sido invadida por um furacão ou por alguns diabretes da Cornuália. “Apesar de tudo...essa é minha casa, mas nossa...o que acontec...”
- Cadê ele? – ficou em pé em um segundo, lembrando-se perfeitamente do que acontecera.
Gina apenas lançou-lhe um olhar amargurado por entre as lágrimas e o ignorou.
Harry não se importou e depois de se certificar de que só havia os dois na casa, ele arrumou seus óculos, mas não tinha forças para ajeitar o restante e assim sentou-se preocupado ao lado dela.
- Por que me estuporou? – o moreno perguntou sincera e calmamente.
Gina levantou a cabeça e o fitou, um pouco mais controlada.
- Eu tinha que fazer vocês pararem, certo?
- Eu não queria fazer nada, mas ele que começou! Eu não...
- Esquece... – ela o interrompeu – já passou.
Ela apoiou a cabeça nos joelho, mirando o nada e o silêncio reinou, até que Harry recomeçasse, ainda hesitante.
- O que foi? Por que você está chorando? – o moreno secou suas lágrimas. Ele tinha péssimas lembranças de mulheres chorando em sua frente, e não queria guardar mais aquela. Cho já chorara mais do que o suficiente em seu quinto ano.
- Eu achei que poderia impedir isso, eu achei que esse não era realmente o fim de tudo!
Harry suspirou baixinho e a trouxe para perto de si, deitando a ruiva em seu ombro. Não se sentia mais um estranho perto dela, e ela retribuía o sentimento. Ele a entendia e conhecia aquela dor do fim de um amor, era algo mais forte do que toda a sua força e mais destrutivo do que qualquer outra coisa.
Era triste vê-la daquela maneira, o moreno queria ajudá-la, confortá-la, mas não sabia bem o que lhe dizer. Não sabia o que ela queria ouvir, e ele nunca diria a verdade nua e crua. Nunca poderia lhe dizer que ainda assim a amava, que já tentara esquecê-la e agora fingia não amar mais aquele pequeno ser de cabelos de fogo, mas era impossível, ele a amava cada vez mais.
Gina remexeu-se e soltou-se dos braços dele, virando-se em sua direção. Seus olhos secaram-se por completo, mas havia uma confusa expressão em sua face.
- Por que está me ajudando? – murmurou o fitando cada vez mais profundo.
Abriu a boca para responder, mas engoliu em seco, ele poderia lhe dizer?
- Eu...eu sou seu amigo, Gina.
- Não...não é isso. – ela aproximou-se e seus olhos se encontraram de frente – Você sabe que não é... – e sem pensar duas vezes, o beijou.
Seus cheios lábios o encheram de alegria, de uma tal maneira que ela nunca poderia imaginar que fosse capaz. Harry a puxou para mais perto, e depositou uma das mãos em sua nuca, enquanto a outra parou em sua fina cintura. A ruiva afagava os cabelos dele e com a ponta das unhas, provocou um arrepio por todo o corpo dele, que o paralisou.
Harry a afastou pelos ombro, com um olhar severo. Não acreditava que estava fazendo aquilo com ela, ou que ela estivesse fazendo aquilo com ele. Não era certo!
Gina abriu os olhos, confusa, e o fitou, sem entender, com os lábios ainda entreabertos. Ele estava sério e sua testa franzia-se de modo a esconder a cicatriz em forma de raio.
- Por que está fazendo isso? – a voz do moreno misturava um pouco de angústia com raiva.
A ruiva calou-se e sua expressão tornou-se vaga. Ela não poderia lhe responder. Ela não tinha uma resposta para aquela questão. Ela nem sabia quem ela era; não naquele momento. Gina agira por um impulso, e não conseguia entender se estava arrependida ou não. Caindo em si, ela afastou-se, engatinhando de costas, como se em sua frente, ao invés dele, estivesse o maior trasgo do mundo, prestes a engoli-la. Balançava a cabeça negativamente, balbuciando sons não inteligíveis. Harry tentou impedi-la, agarrando seu pulso e a puxando de volta, mas Gina ainda aturdida, soltou-se num gesto rápido e partiu.
- Gina! – exclamou para o vazio.
Ela se fora e Harry não tinha idéia de onde poderia ter ido, ou se seria para sempre.
***
O Sol que entrava pelas janelas enfeitiçadas do ministério formava pequenos raios de luz em seu cabelo platinado. Ele andava rápido e certeiro, sabia exatamente onde estava indo e daquela forma, parecia ser o homem mais decidido do mundo. Deixou eu sua capa preta esvoaçasse com seu meio giro, parando em frente a porta indicada.
Ainda não sabia o que estava fazendo ali, mas recebera um chamado de urgência e já imaginava um sério problema do Ministro Weasley, o qual teria que resolver, o mais rápido possível.
Porém, ao abrir aquela porta de metal, segurando firme em sua maçaneta fria, sentiu que não era esse o exato motivo da chamada. E que também, não haveria motivo algum para aquelas pessoas o estarem esperando. Aquela situação o deixou nervoso, mas como sendo um Malfoy, ele não demonstrou nada, perfeitamente. Continuou parado a porta, olhando para cada um dos rostos que o fitavam, até que finalmente se cansou e fechou a porta, permanecendo do lado de fora.
Não...não entraria ali. De jeito algum, exporia o seu problema a todos os presentes. Não!
Mas a porta se abrira em seguida, mesmo que as pessoas continuassem sentadas em seus lugares.
- Você vai entrar, ou vamos ter que esperá-lo o dia todo? – Hermione perguntou em tom de desafio, enquanto ainda apontava sua varinha para a porta aberta.
Draco fitou-a. Seus cabelos cacheados estavam hoje em um bonito rabo de cavalo, e ela sorria, sempre exibindo com orgulho o brasão em tons roxo e azul dos, na opinião dele, os seres mais chatos do Ministério, Inomináveis. Tentou não pensar nisso, já que o deixava mais irritado, e injuriado, entrou na sala de investigações, fechando a porta com um baque atrás de si.
Apoiou-se na porta, cruzando os braços, e esperou que alguém lhe dissesse o motivo de estarem ali, mesmo ele já sabendo qual.
- Não vai sentar? – Rony perguntou, apontando uma cadeira.
- Prefiro ficar de pé, Weasley. Sei que não vai demorar.
- Vamos lá, Malfoy. – Harry afastou a cadeira ao seu lado o convidando. Somente ele sabia o quanto estava lutando consigo mesmo para estar ali, ao lado deles.
- Não vou nem lhe dirigir a palavra, Potter. Não quero causar problemas futuros.
- Isso aqui está ridículo! Draco sente logo a sua maldita bunda aí! – Gina levantou-se, apontando, mais uma vez, para a cadeira na ponta da mesa.
O loiro tentou refletir novamente a situação, não acreditando que de fato, estava ali. Harry, Rony, Hermione e Gina o olhavam, apontando para uma cadeira de ferro, esperando para começar, na opinião de Draco, uma longa conversa.
Por fim, bufou, seguindo em direção a cadeira, e acomodou-se nela. Juntou as mãos, em cima da mesa, e olhou, fixamente, para os rostos de cada um deles, esperando.
- Bom... – Hermione começou, reparando no silêncio que tomou conta de todos – Chamamos vocês aqui, para resolvermos isso. – tentou não olhar para Draco, que parecia mais maldoso do que de costume – Ah...Rony por que você não começa?
- O que? Ah... eu... – o ruivo lançou um severo olhar a ela – Bom. Estamos aqui por causa...disso. – apanhou um envelope pardo, que Draco reconheceu, sendo o mesmo que ele entregara a Gina, uns dias antes.
- Certo...e daí? O que vocês têm haver com isso?
- Draco... – Gina o repreendeu, mas ele continuou a olhar irônico para o irmão dela – Bom. Eles só querem ajudar.
- Ajudar no que? Já está tudo resolvido, já conversamos sobre isso, e é só você assinar que eu irei embora. – apesar do tom frio, sua voz continuava arrastada como sempre – Não vejo o porquê deles meterem o nariz aonde não são chamados.
- Espero um momento. – dessa vez quem disse foi Harry – Não está nada resolvido. Você acha realmente que depois de tudo o que aconteceu, tem alguma coisa resolvida aqui?
- Sim. – respondeu depois de um longo suspiro – E de qualquer forma, não há nada em que você possa participar, Potter. Então o aconselho a ir para...
- Chega! – Hermione levantara-se – Não viemos aqui para brigarmos, mais uma vez, e sim, para resolvermos isso, de forma civilizada.
- Por mim... – Harry murmurou, mas só recebeu um olhar furioso do loiro ao seu lado.
- Ótimo. – ela sentou-se – Olhem aqui, eu sei que essa é uma situação delicada, e um tanto...constrangedora. Mas vamos tentar acabar com isso de uma vez, está bem?
Todos, ou quase todos, assentiram, então ela recomeçou.
- Gina, você quer assinar isso? – levantou o envelope, enquanto dizia de forma calma e lenta, sílaba por sílaba.
- Não. – respondeu friamente, pelo jeito, ela também não queria estar ali.
- Ótimo, então...diga ao Draco por que você não...
- Pára, pára, e pára. – deu um longo suspiro, medindo as palavras – Olha, eu sei que vocês querem ajudar e tal, mas...isso aqui está ridículo.
- Mas você...
- Mione, nós não precisamos de uma terapia para casais! Nós só precisamos conversar...
- O que? – Draco perguntou perplexo – Conversar de novo, para que? Nós já tentamos e não deu certo, ponto final. Acabou. Por que você não encara isso de uma vez!
- Não fala assim com a minha irmã! – Rony levantou-se e Draco o acompanhou, mas com outro propósito.
- Eu não vou perder mais meu tempo aqui.
- Espera. – Harry levantou-se com a varinha em punho, e como Draco não lhe deu importância, ele trancou a porta. O loiro virou-se o fitando ameaçadoramente.
- Abra essa porta, Potter.
- Vocês precisam conversar.
- Abra essa porta.
- Não estou dizendo que...
- Não vou pedir mais uma vez, Potter.
- ...precisem se entender...só...
- Ah então é isso, não é? - Draco cruzou os braços, divertido.
- Isso o quê? – o moreno perguntou confuso.
- Você está torcendo para que dê errado, não é? – ele foi se aproximando.
- Sinceramente, não. – respondeu sem ser sincero.
- Claro, que você está. Você quer que dê errado, para que no fim, você... ROUBE A MINHA MULHER, NÃO É? – Draco o empurrou, e antes que ele pudesse revidar, Rony, os separou, ficando entre eles.
- Chega! Foi uma péssima idéia. – Rony disse, ainda tentando separá-los – Malfoy, pode ir embora, você que tente se entender sozinho. Vai!
- Não! – Gina disse, chamando a atenção de todos – Eu vim aqui para resolvermos isso, e não vou sair daqui sem terminarmos.
Draco afastou-se e dirigiu seu olhar a Gina, que se levantara como os outros.
- Mas...não é dessa forma que iremos conseguir isso, então...obrigada – olhou para os amigos – mas, não será necessário tudo isso. Draco, não estou dizendo que sairemos daqui juntos, mas sairemos com uma resposta definitiva.
- Tudo bem. – ele concordou sentando-se de volta ao seu lugar.
- Vocês podem nos dar licença? – Gina pediu, e sem pestanejar, todos se retiraram.
***
Harry sentiu a pequena esfera de ferro o empurrar para frente, com a agressividade de Gina ao fechar a porta, trancando-se do outro lado. Ainda sentindo a forte batida da maçaneta latejar em suas costas, Harry fitou Hermione, no outro extremo do corredor, onde ela se encostara na parede, ao lado de Rony, esperando.
A morena sentiu o olhar acusador do moreno e indagou, confusa:
- O que foi?
Harry arqueou as sobrancelhas, sarcasticamente, o que fez Rony mostrar um pequeno sorriso.
- O que foi? O QUE FOI?
- Harry, não comece com mais um de seus “showzinhos”! – ela disse jogando os braços para o alto.
- Mas você ainda tem coragem de perguntar “O que foi?”? – o moreno gritou irritado, enquanto Rony ria sozinho, divertindo-se com os olhares de alguns curiosos que espicharam suas cabeças acima das mesas, para poderem ter uma melhor visão do desentendimento.
- Pelo menos nós tentamos! – ela despejou, sentindo-se triunfante, mas Harry não concordava com essa vitória.
- Do que é que você está falando? Essa foi uma idéia realmente idiota! Sinceramente, Hermione, ultimamente suas idéias não estão mais tão boas como antes.
Hermione soltou um ruído baixo, sentindo-se ofendida, abrira a boca diversas vezes, mas não sabia exatamente por onde começar, passando a oportunidade para Harry.
- Estávamos todos tão bem! Não é verdade? – virou-se para Rony, que por um momento, pareceu muito interessado em um panfleto velho, colado à parede – De qualquer forma, foram dez dias de paz! ...Até você resolver enfiar o dedo em uma história que não é sua!
Ela soltou um curto suspiro, furiosa.
- O quê? Eu estava tentando ajudar! E realmente conseguimos alguma coisa, eles pelo menos estão se falando!
- Ah, Hermione, por favor! – o moreno se engasgou em suas palavras, e depois de um curto silêncio, em que ele pôde acalmar-se, continuou – Só não me coloque no meio dessa confusão, está bem?
- Mas, Harry...
- Foram dias maravilhosos! – ele sabia que estava mentindo, e ela também – Eu não pensei nela, nem sequer por um minuto! – então, resolveu parar, porque já estava exagerando – Eu continuei minha vida, ela seguiu a dela e Malfoy sumiu, simples, estava tudo perfeito! Mas, não... você tinha que cutucar todo mundo!
- Harry, entenda uma coisa – a morena disse depois de um longo suspiro – Gina sumiu durante esses dez dias e eu só fui encontrá-la na casa de uma antiga amiga, que eu nem lembrava mais que existia...enfim, ela não estava nada bem, e parecia arrasada, eu precisava fazer alguma coisa... – Hermione soava o mais sincera possível.
Harry bufou, um pouco mais controlado, e passou as mãos pelos cabelos, desarrumando-os ainda mais. Apoiou as costas na fria parede cinza, e cruzou os braços, fitando o chão por um momento.
- Certo...e o que eu estou fazendo aqui, afinal?
- Você ainda não entendeu? – ela fez uma pausa, esperando que Rony falasse alguma coisa, mas ele só a olhou, pedindo que continuasse – De qualquer forma... – lançando um olhar frio ao marido – Eu precisava colocar todas as cartas na mesa, eu tinha que juntar todo os culpados...
- Ei! Onde eu tenho culpa nisso tudo?
- Ah, céus...foi um modo de dizer! - Hermione disse lenta e obviamente – Mas você participou disso.
- Eu não fiz nada... – Harry murmurou em um tom baixo e mimado, soando como uma criança de quatro anos.
- Sim você fez, Harry. Assim como eu e Rony também. – e antes que um dos dois pudesse retrucar, ela continuou rapidamente – Quando os dois brigaram, Gina foi a NOSSA casa – apontou para Rony – e depois ela foi falar com VOCÊ – indicou o moreno com a cabeça, sem deixar seu olhar de boa professora sumir – Além, claro, de você ter sido um dos grandes motivos para o rompimento deles, eu posso supor.
- Eu não...
- Sim, - ela interrompeu, concluindo – Se todos nós nos metemos nisso, todos nós teríamos que ajudá-los.
Harry calou-se, sem ter mais nada a dizer, e Rony que iria dizer algo em sua defesa, fez o mesmo. Sabia que não conseguiria convencer Hermione de que ele não tinha razão alguma para estar ali, pelo menos, não daquela forma.
***
Gina fechou a porta com um baque forte, e a mirou por uns instantes. Quando, finalmente, sentiu-se pronta para começar; assim que a mão que segurava a maçaneta parara de tremer; ela inspirou profundamente, alcançando um fiozinho de coragem, e virou-se o mais lentamente possível. Seus olhos amêndoas, por fim, fitavam os azuis do moreno, mas antes que ela pudesse abrir a boca, ele despejou, irônico.
- Quem teve essa idéia ridícula? – seus lábios se armaram em um fino sorriso.
- Hermione. – a ruiva disse nada contente com o comentário.
- Tinha que ser!
- Não comece a falar mal da minha amiga, Draco!
- Eu não pensei nisso! – Gina o fitou profundamente, antes de seguir para uma cadeira, e apontar uma para ele a sua frente.
O loiro tirou as mãos dos bolsos da calça adiantou-se para a cadeira indicada. Cruzou as mãos em cima da mesa, esperando que ela, enfim, começasse, e depois de longos instantes, enquanto ela passava as mãos pelos cabelos ou mexia nos nós dos dedos, Gina quebrou o silêncio.
- Eu realmente não queria fazer isso, mas...é necessário, não é? Eu quero dizer, uma hora ou outra, nós teríamos que resolver isso, de uma vez por todas...
- Achei que já tivéssemos resolvido isso. Eu, pelo menos, já disse tudo o que eu tinha para dizer. – o loiro olhou profundamente nos olhos dela, e deslaçando as mãos ele apoiou-se no espaldar da cadeira.
- Draco, - sua voz soava forte e decidida – eu não estou aqui para implorar pelo seu amor, então não me venha com esse seu olhar superior para cima de mim, está bem? – ele desfez o sorriso, e ela continuou triunfante – Eu li isso. – a ruiva puxou o envelope pardo de um canto da mesa, e postou entre os dois.
- Leu mesmo?
- Eu já aprendi a ler, obrigada, Draco.
- Muito bom. – ele soou surpreso, e Gina o olhou furiosa, não gostando do comentário irônico. – Já assinou?
- Você realmente achou que eu assinaria uma separação que não me deixa com nada?
Draco quase se engasgou no instante em que ela tirou da bolsa, apoiada no encosto da cadeira, um outro envelope, dessa vez branco, e depositou a sua frente.
- Aí está. Leia.
Draco lançou a ela um daqueles olhares que só ele mesmo poderia compreender, mas Gina não se sentiu mais tão curiosa como antes. Ele tornou-se mais pálido do que de costume quando apanhou o envelope lacrado das pequenas mãos da ruiva. Draco realmente não podia entender. Não era assim que as coisas teriam que ser. Não fora dessa forma que ele planejara tudo! Por que ela tinha que ser tão teimosa e impertinente?
Gina assistiu a confusão expressa na face de seu quase ex-marido, divertida. Era realmente inesperado que ele tivesse essa reação, provavelmente nem Hermione preveria isso, mas de qualquer forma, não deixava de ser engraçado. Draco surpreso era uma de suas melhores caras! Ela guardaria aquele olhar vidrado nos papéis a sua frente, para sempre.
Gina prometeu a si mesma de que na melhor oportunidade, ela agradeceria Harry por ter-lhe ensinado o melhor jogo do mundo, “truco”. Um antigo e divertido jogo trouxa, onde o ato mais importante é o blefe. E nesse caso, ele estava realmente funcionando.
Flashback
- Não, não e não. Harry, eu não conseguido entender isso!
- Gina, é muito simples, olha aqui... Esse é o curinga – levantou a carta de número 2 de paus, a carta que saíra no corte.
- O que é um curinga? – ela perguntou, arrumando mais uma mecha ruiva que teimava em cair em seus olhos.
Harry a fitou, incrédulo. Ele tinha acabado de explicar-lhe o que era um curinga e a sua exata função no jogo. Mas mesmo assim, ele inspirou profundamente, acalmando-se, e apanhou novamente a carta de número 2.
- O curinga é...
- O curinga não é esse aqui? – ela perguntou confusa, mostrando-lhe uma a carta do curinga, onde um bobo da corte sorria para ela.
- Sim, Gina... – ele falou lentamente, como um professor – Mas no jogo o curinga é qualquer uma das cartas que..
- Qualquer uma? Mas você disse que era o 2? Eu posso escolher o curinga da próxima vez? Sabe, eu não gosto muito do número dois...ele é meio depressivo, e...
- Chega! Não, eu não disse que pode ser qualquer número! Presta atenção, essa carta foi a que saiu quando VOCÊ cortou o bolo de cartas, lembra? – Harry disse obviamente, e um pouco mais alto do que o normal, como se isso fosse ajudar a fixar a idéia, na cabeça ruiva dela.
- Ah, agora sim. Certo. Então, o que eu faço com ela? – ela puxou a carta da mão dele.
- Você não faz nada! Dá aqui. – puxou de volta – Você só vai usar a carta igual a dela, SE você tirar ela do bolo, entendeu?
- Tudo bem, mas por que você está me mostrando o curinga, se você nem me disse que jogo você vai me ensinar? Alias, eu ainda não sei por que estou aprendendo um jogo de trouxas! É simplesmente inútil, nós temos jogos muito melhores e...
- Você pode falar o que quiser! Mas você não sai daqui hoje sem aprender isso, é muito legal, você vai gostar! – Harry sorriu convencido a não ceder para a namorada a sua frente.
- Sei...sei... – ela deu um sorriso amarelo, e ouviu mais uma vez, todas as regras do tal jogo.
Fim do Flashback
A batida do lápis ao cair da mesa, e estalando ao chão, a acordou de seus pensamentos. Ela notou que Draco já estava no fim do documento, e querendo mostrar que estava concentrada atenta a ele, quebrou o silêncio.
- Então o que acha?
Bom, aquele era o momento. Apesar de saber que Draco nunca notaria o documento falso, mesmo que ele estivesse embaixo de seu nariz, porém, do mesmo modo, ela se sentiu apreensiva.
Aquele era um pedido de divórcio falso, escrito por um grande amigo dela, que após Hogwarts formara-se em Direito Bruxo. Ele lhe devia um favor e ela precisava por seu plano em prática. Gina sabia que essa idéia de “planos secretos” era uma grande influencia de Hermione, mas às vezes eles podem ser muito úteis.
Depois de um longo silêncio, em que Draco acabava de olhar os papéis a sua frente, ele a olhou por cima das folhas.
- Hum... você ainda fala com ele? – Draco perguntou, mudando de assunto, enquanto apontava para o nome do advogado, na última página.
- Ah, sim. Apesar de tudo, ainda somos muito amigos, você não sabia? Oh, claro, eu me esqueci, você nunca estava em casa quando ele aparecia. – ela sorriu largo, falsamente, e ele retribuiu com um olhar irritado. Tudo bem, ela confessava, era uma grande mentira, mas ainda assim era divertido.
- De qualquer forma, o que você achou, afinal?
- Eu não vou assinar isso, Gina. Tudo o que você está pedindo...é inaceitável!
- O que está dizendo? Eu só quero o que é meu direito! Metade do que você tem!
- E isso já é muito mais dinheiro do que você possa contar! Não, de jeito nenhum.
- Tudo bem... – essa era sua última jogada – eu não quero me separar mesmo, então, eu não assino nenhum dos dois!
- O que? – Draco disse descontrolado – Achei que já tivéssemos resolvido essa parte!
- Não, Draco, não está nada resolvido, e é por isso que estamos aqui...agora.
O loiro bufou, com um sorriso debochado nos lábios. Se Gina queria jogar com ele, então ele jogaria com ela também.
- Ótimo. No fim, não resolvemos nada, não é verdade?
- Mas podemos fazer isso agora, esse é o momento perfeito, Draco. E talvez...o último.
- Certo, então...o que você quer?
Gina o fitou por um tempo, com uma expressão vaga em sua face, e só depois de um longo minuto ela respondeu, deixando sua voz fraca e quase inaudível.
- Eu não queria que acabasse...assim.
Draco sentiu seus olhos se fecharem, sem que ele pudesse contê-los, sabendo que não conseguiria fingir mais. Sem pensar no que dizia continuou.
- Como você queria acabasse...?
- Eu não queria que acabasse... – Gina murmurou, sentindo grossas lágrimas lutando para rolar soltas por toda a sua face.
***
Os minutos se arrastavam com sofreguidão, e Harry chegou até a pensar que seu relógio de pulso havia parado, ou que o relógio da parede à sua frente tivesse sido enfeitiçado para andar mais devagar naquele dia. Mas depois que Rony lhe respondera as horas pela quarta vez, ele decidiu que todo o ministério deveria estar sofrendo do mesmo problema no tempo.
- Harry, se você olhar mais uma vez para esse relógio, eu vou estuporar você. Eu estou falando sério! – Hermione lhe dirigiu irritada, sem olhar para ele, assim que o moreno moveu a mão esquerda, para espiar mais uma vez o relógio em seu pulso.
- Eu não olhei tantas vezes assim! – ele soou ofendido.
- Não...apenas cinco vezes durante esse último minuto. Cara, se acalma, está bem? – Rony disse levantando os olhos de um panfleto que ele arrancara da parede. Hermione já apanhara da bolsa uma série de relatórios e conjurando uma cadeira para si, concentrou-se na leitura deles.
- Harry, mudando de assunto, - Rony disse, colando o panfleto de volta a parede com um leve aceno de sua varinha – você leu aquele relatório que eu deixei na sua mesa ontem?
Harry arqueou as sobrancelhas, e seus lábios se firmaram em um fino sorriso.
- Aquele que você deveria ter me entregado na semana passada?
- Ah – er – eu tive uns problemas, você entender, não é?
- Claro. – disse o moreno calmamente, acenando com a cabeça – Bom, sim, eu li sim. E fiquei realmente preocupado com aquilo. Se não acharmos Avery logo, ele pode...
- Avery...? – Hermione disse lentamente, tentando se lembrar – Ele estudou com a gente, não foi?
- Sim. Mas isso é um assunto con-fi-den-ci-al. – disse Rony, sorrindo e apreciando cada sílaba que proferia lentamente. Quantas e quantas vezes ele não ouviu aquele frase dela, toda às vezes em que ele lhe perguntava sobre seu trabalho! Sempre quisera dizer isso a ela um dia.
- Não parece... – a morena disse, dando de ombros – Vocês estão falando sobre isso, no meio de um corredor, cheio de gente.
Rony, sumiu com seu sorriso, e emitiu sons não inteligíveis, esquecendo-se do que ia dizer.
- Bom... – Harry continuou, antes que uma briga começasse – se você ou Finnigan souberem de algum esconderijo, ou alguma novidade, seja ela qual for, me avisem, imediatamente! Apesar de que, eu acho que já evoluímos bastante essa semana...aqueles depoimentos dos detentos nos ajud...
Harry não pôde continuar, pois um estrondoso ruído veio de dentro da sala, abafando sua voz.
No segundo seguinte, Harry tentava abrir a porta trancada, enquanto Hermione sumira com todas as suas coisas, e alcançara Rony, que se postara em frente à porta, junto a Harry.
O moreno estava preste a chutar aporta, já que sua varinha não ajudara a soltar o trinco, mas isso não foi necessário. Ela se abrira sozinha, e a cena que viram os deixaram atônitos.
***
Por fim, duas lágrimas teimosas rolaram vitoriosas por toda a sua face, morrendo ao fim de seu pescoço, de encontro à blusa fina que usava. Gina enxugou o rastro delas, rapidamente, tentando afastar as próximas que viriam.
- Gina... – a voz dele soava baixa e rouca, ele não sabia muito bem o que dizer, mas sabia também que nada precisava ser dito naquele momento. O olhar de ambos já dizia tudo.
Não há fim para o que acaba de começar. Quando você luta por algo, com todo o seu coração, você não pode simplesmente entregar a vitória para o adversário, assim que um pequeno obstáculo aparece. Você tem que superá-lo e conquistar a liderança novamente. É assim que tem que ser, e é assim que será.
- Talvez não seja hora de acabar... – Draco sussurrou em seu ouvido, a assuntando, já que ela nem o ouvira se levantar.
- Talvez você esteja certo... – Gina disse, levantando-se da cadeira, ficando a frente dele.
Nada disseram. Nada precisava ser dito. E sem pensar duas vezes, ele a tomou em seus braços. Somente ele sabia a falta que sentia daqueles doces lábios, por todos aqueles dias. E, no fim, nada mais importava, a não ser o suave toque das mãos dela por seus cabelos, ou então o perfume de flores do campo, que ele pensou que nunca mais sentiria de novo, ou ainda o tremor que sentia por todo o seu corpo, toda vez que a tocava.
- Eu posso botar fogo em todas essas folhas? – Gina perguntou, com um sorriso maroto nos lábios recém-beijados.
- Não perca tempo com isso. – ele sorriu para ela – Ainda temos muito o que fazer... – ele a envolveu em um longo abraço, enquanto beijava seu pescoço, subindo lentamente por seu queixo até alcançar novamente sua boca, a fazendo rir.
- Ah, espere – Draco disse sorrindo, ainda com os braços ao redor de sua fina cintura, a abraçando – Antes de tudo, me prometa que você nunca mais irá atrás do Potter. E...eu lhe prometo que ficarei mais tempo em casa. O máximo que eu puder!
- Eu não irei atrás do Harry, pode ficar tranqüilo. – Gina concordou com um leve sorriso.
- Promete? – ele a fitou, adentrando em seus olhos amendoados.
- Draco, se eu disse que não irei mais, então eu não irei e pronto! – ela disse perdendo o sorriso que dançava em seus lábios.
- Não precisa ficar nervosa... – o sorriso dele também sumiu, apesar de sua voz continuar calma – eu só queria me certificar!
- Ah, claro! Você só queria se certificar de que sua mulher não é uma qualquer, não é?
- Talvez sim, e daí? Você me deu motivos para isso!
- O quê? – Gina soltou-se, bruscamente, se seus braços – Eu lhe dei motivos? Por acaso, sou eu que passo vários dias fora de casa? Sou eu que estou sempre “viajando a negócios”? – ela enfatizou as duas últimas palavras com desprezo, o que o irritou de uma vez.
- O que você insinua?
- Vamos, Draco, pode me contar. Onde você esconde a sua amante? – ela apoiou as mãos na cintura.
- Ah, que isso! – ele riu descontrolado, enquanto ela não achou nenhuma graça – De onde você tirou isso?
- Como assim? Viagens e viagens, você deve escondê-la em algum lugar!
- Você está confundindo as coisas, Gina. – Draco cruzou os, numa fria imagem que lembrara de Lúcio – Não é só porque você tem um amante que eu tenho que ter uma também!
Gina o fitou por alguns instantes. A fúria dela transbordando de seus olhos. Não, ela realmente não estava ouvindo aquilo dele. Não, não podia ser!
- Eu acho que nós dois nos enganamos aqui hoje, Draco. – Gina disse, tentando manter sua voz em seu tom normal, não adiantaria mais gritar agora.
- Você ainda acha? – ele bufou sarcasticamente.
Naquele instante a ruiva entendeu. Há coisas que não podem ser mudadas. Quando você luta muito por algo, às vezes você não percebe no começo, cega de desejo, mas pode ser que não importe o quanto você lute, o quanto você dê, você não conseguirá ganhar no final. Algumas coisas não são destinadas a acontecer...e nunca acontecerão.
- É isso que você quer, não é? – ela apontou para o envelope dele a mesa.
Chega de farsas, chega de blefes, nada mais iria fazer diferença agora.
Apesar de Draco não ter mexido um único músculo em resposta, ela continuou, decidida.
- Você vai ter, então.
Gina seguiu até a mesa e tirou o documento – verdadeiro – de divórcio, de dentro do envelope pardo. Puxou a varinha e com um aceno curto conjurou uma pena, a qual assinou, sem pensar duas vezes, seu nome de solteira, sentindo não poder conter mais as lágrimas – agora de raiva – rolarem pelo seu rosto.
Draco não conseguiu dizer nada. Por mais que tentasse, as palavras não saiam de sua boca. Ele queria impedi-la, ele queria beijá-la, ele queria amá-la para sempre. Mas no momento seguinte, sem que se desse conta, ele estava recolhendo o envelope das mãos estendidas dela.
- Aí está o que você queria.
Não poderia lutar consigo mesmo. Não pôde dizer o que realmente queria, sabia que se arrependeria muito depois, mas só conseguiu ser o velho e conhecido Draco Malfoy que sempre fora.
- Obrigado. – e guardando o envelope no bolso, partiu, sem dizer mais nenhuma palavra.
N/A : Acabei! Eu sei, demorou. Desculpem por isso. Encaminhando para o fim...já consigo ler os próximos comentários...e muitos desejando a minha morte...mas digo, e repito...ainda não é o fim...(risada maléfica ao fundo)
De qualquer forma, esse cap. já estava escrito há tanto tempo...achei que ele seria postado bem antes, mas realmente não deu. Porem, vou tentar ser mais rápida agora! ;)
É isso...não vou me prolongar...
Beijos...
Mione Malfoy...
PS: Não se esqueçam de comentar! ^^
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