Que fazer?
1 – Que fazer?
28 de julho.
As férias de verão não começaram nada bem. Há alguns dias Dumbledore havia morrido; ele não se conformava, não queria acreditar. Como podia acreditar que o bom e velho professor Dumbledore havia morrido? “Não pode ser verdade. Não pode ser verdade. Mas é verdade, eu vi quando ele caiu. Por que será que o professor me “colou” na parede?” O menino que sobreviveu tinha muitas perguntas, porém nenhuma resposta.
Harry estava desconsolado, sua mente não descansava, lembrava-se da cena a da morte a todo instante. Lutava sem muito sucesso contra as lágrimas que teimavam em cair. Quando isso acontecia, as secava com as costas das mãos num gesto revoltado cheio de angústia.
Como podia!? Dumbledore confiava muito em Snape, e ele havia proferido a pior das maldições imperdoáveis contra o professor. Isso só vinha a contribuir com o pensamento de Harry, de que Snape nunca deixara de verdade aquele-que-você-sabe-quem. Por causa dessa desconfiança Harry e o professor tiveram muitas discussões sobre a lealdade de Snape.
“Harry, eu tenho motivos para confiar no professor Snape”. Era a resposta que vezes sem conta Harry escutara do querido professor.
Hermione sempre dizia que se Dumbledore confiava nele, então era porque ele merecia confiança. Mas a verdade caiu como uma bomba em Hogwarts. Todos ficaram desconsolados. E lutando ainda para acreditar no que de fato havia acontecido.
Não era possível. Snape? – Minerva dizia sem parar.
- Harry, você tem certeza? – perguntava.
- Eu vi, professora. Eu estava lá.
Mas era verdade. Uma dura e fria verdade. Snape havia lançado o Avada Kedavra no professor. Harry, depois de ser libertado do feitiço, correra atrás do professor pelos jardins da escola, mas não conseguiu alcançá-lo.
Deitado em sua cama, pernas e braços afastados do corpo, tentava sentir um pouco da brisa que de vez quando entrava pela janela aberta de seu quarto. O calor era sufocante. Sufocante também eram seus pensamentos.
Perdido em suas lembranças, cansado de tentar achar respostas para suas dúvidas, que não eram poucas, acabou por adormecer de puro cansaço mental.
Sonhara com Dumbledore. Ele o olhava com seu modo calmo e tranqüilo, que dizia – “Confio em você. Seja prudente”.
***
29 de julho.
Harry acordou sobressaltado muito cedo com gritos altos e estridentes que o chamavam para descer e tomar café da manhã. Era sua tia Petúnia, a delicadeza em pessoa. Acordou irritado, desceu vestido de qualquer jeito. Ele não se incomodava como estava vestido... Suas preocupações estavam além da maneira como estava vestido.
Chegando na cozinha, foi recebido como sempre com insultos e palavras de descaso.
O lugar de Duda estava vago, ou já tinha saído, ou ainda dormia. Nas férias ele acordava tarde e vivia fora de casa, e sabe lá Deus a que horas voltaria. No mínimo devia estar com os amiguinhos – a gang, na verdade. Mas os seus tios eram cegos demais para ver o que o filho fazia. Os tios não faziam idéia que tinham dentro de casa um pequeno marginal.
- Quando, moleque infernal, você vai embora? - perguntava seu tio, e continuava – Você já vai fazer 17 anos, está na hora de tomar vergonha nessa sua cara de anormal e se mandar; deixar gente decente com nós em paz, para sempre. Já fizemos muito por você. Dezesseis anos... Dezesseis anos te aturando! Você é rico, deveria repartir sua fortuna conosco, como forma de nos pagar por todos esses anos em que te sustentamos com o melhor de nós.
- Vocês não me deram o melhor de vocês. Vocês me deram os restos, só os restos. Os restos de tudo... E não vou dar um galeão furado para vocês. Esse dinheiro é meu. Entenderam?
- Como você ousa... Seu ingrato, tal pai tal filho, inconseqüente como ele...
Harry não queria revidar. Queria se manter quieto, mas era impossível agüentar calado o que seu tio falava.
Delicadamente, mas com muita determinação, sacou a varinha, e apontou para tio Valter.
- Fique quieto – falou baixo e com firmeza – Me deixe em paz, e não volte a pronunciar nenhuma só palavra contra meu pai, se não quiser ficar com as pernas do tamanho do seu pescoço.
- Você não se atreveria. Você não pode fazer essas anormalidades fora da escola.
- Tente, apenas tente, e você me dará um grande prazer. – E continuou – Vou embora assim que puder, e acredite, não ficarei nessa casa nem um minuto a mais do que for necessário.
- E quanto é necessário, seu peste?
- Apenas até eu completar 17 anos, e ainda faltam alguns dias: um dia, 16 horas e 21 minutos, para ser mais exato. Então não me enche mais. E tem mais uma coisa. Assim que eu sair daqui, a proteção da casa acabará, o que significa dizer que tudo pode acontecer comigo e com vocês, estão avisados.
Os Dursley tremeram.
- Seu moleque ingrato. Mande aquele velho caduco e louco fazer alguma coisa para nós e a casa ficarmos protegidos! Depois de todos esses anos, vão nos deixar na mão?
- Aquele velho caduco tem nome, ou melhor, tinha, era Professor Alvo Dumbledore e ele está morto. – Falou com raiva entre dentes – Ninguém mais pode fazer nada por vocês. Se virem! - E dizendo isso, acabou de tomar a xícara de chá e virou-se, com as mãos cheias de torradas, e voltou para seu quarto.
- Venha cá, seu moleque, e limpe essa cozinha. – Mandava sua tia.
Os insultos continuaram. Mas Harry não escutava mais. Bateu com força a porta do quarto.
Interiormente ele tremia de raiva, nervoso, irritado, angustiado, com pensamentos confusos. Mas quem o olhava não conseguia imaginar a extensão do vulcão que teimava em explodir dentro dele. Tentava a todo custo se acalmar e organizar seus pensamentos. Não sabia por onde começar sua busca. Tinha uma tarefa homérica pela frente, achar as Horcruxes.
Só destruindo todas elas é que poderia colocar um fim na arrogância e maldade de Tom Marvolo Riddle – conhecido como Lord Voldemort - e ter paz. A paz que tanto queria, e que nunca tivera.
As Horcruxes eram sete:
O Diário. O Anel de Gaunt. Esses já estavam destruídos.
O Medalhão – que era falso e havia sido roubado pelo R.A.B.. – “Quem raios seria essa pessoa?”
Nagini, a cobra de Voldemort – com certeza era outro.
Talvez o outro fosse a Taça, de Helga Hufflepuff. – Inteirava cinco Horcruxes supostamente conhecidos.
Precisava descobrir quais eram os outros. Ainda faltavam dois.
Os outros poderiam ser tanto um objeto da Rowena Ravenclaw, ou do próprio Grynffindor. Seis
A última era com certeza o próprio Voldemort. Sete.
“Será que Voldemort seria tão audacioso em transformar um objeto de Godric Gryffindor em Horcrux?”.
“Tenho que achar o Medalhão” – pensava.
Com esses pensamentos, foi jogando automaticamente suas coisas dentro do malão. Precisava estar com tudo pronto, não ficaria um minuto a mais do que o necessário naquela casa.
Ainda não sabia se voltaria para Hogwarts. Sentia-se dividido. Será que a escola abriria? Não podia negar que gostava da escola, apesar da carga imensa de deveres que os professores passavam.
Hogwarts foi o primeiro lugar onde se sentiu realmente em casa.
“Tenho que pensar com clareza, se fizer alguma coisa precipitada tudo pode dar errado”.
De repente, lembrou-se do sonho. “Que será que o professor queria dizer?”
Ahhh! Deu um tapa na testa. Mas é claro que sabia o que o professor queria dizer. Ele já fora muito impulsivo. E já botara os pés pelas mãos algumas vezes. E a última vez fora desastrosa.
Depois de tudo arrumado, pegou pena e pergaminho, ia escrever para os amigos Rony e Hermione, e para Gina, sabia que eles estavam juntos n’A Toca. Queria estar com eles, mas o professor havia dito que ele precisava voltar mais uma vez para a casa dos tios por causa da proteção. E assim ele fizera. Graças a Merlin o tempo que tinha que ficar junto com aqueles trouxas de seus tios estava terminando.
Tinha terminado o rápido namoro com Gina, mas estava com tantas saudades que não agüentava mais ficar longe dela. Na verdade ela era tudo que ele queria. Ela era firme, sem ser rude, amorosa, sem ser melosa, era objetiva, direta. Não costumava dar voltas para falar alguma coisa. Mas ela era muito, mas muito ciumenta, e ai sim, explodia com quem quer que fosse. Ela era a pessoa que o completava. Tudo isso o deixava feliz, mas também com medo de perdê-la para Voldemort.
Não queria ficar sem ela, mas tinham que conversar, aliás, não só com ela, mas com todos sobre tudo. A ameaça dali a um dia, 14 horas e 6 minutos era grande demais e ele não gostaria de colocar nenhum de seus amigos em perigo.
Escreveu:
Rony e Hermione
Oi.
Temos muito o que conversar.
Rony, diga para seu pai que preciso sair daqui, cara! Não estou agüentando mais!
Tenho que ir atrás das Horcruxes. E vou. Mesmo que sozinho.
Harry.
Em outro pergaminho.
Oi, Gina
Logo nos veremos e voltaremos a conversar, ok? Você me entende?
Com amor.
Harry
Dobrou os dois bilhetes. Foi até a janela para ver se Edwiges estava a caminho, ela havia saído já há algum tempo e estava demorando mais do que o costume. Ele conhecia bem os hábitos de sua linda coruja branca.
Ficou olhando pela janela, esperando pela coruja, onde será que tinha ido? Ficou ali, apoiado no parapeito olhando o nada, mas concentrado em seus pensamentos. Foi quando, num passear de olhos pela rua, viu uma pessoa com um longo manto escuro, gola alta, capuz caído na testa, parado na esquina, olhando fixamente para a janela. Quem seria para ele? Pessoa esquisita!
Alarmou-se, estava com suas defesas todas armadas – instintivamente levou a mão até o bolso da bermuda onde guardava a varinha, segurando-a firme. “Quem seria aquele, seguidor de Voldemort? Mas porque não fazia nada, não tinha reação nenhuma?”. A casa estava protegida. Ninguém conseguiria tocá-lo enquanto estivesse ali.
Voltou a rabiscar na carta para Rony:
“Cara, tem um sujeito parado na esquina daqui de casa que acho que está me vigiando, apresse-se”.
Harry.
Edwiges entrou pela janela aberta, assustada e foi pousar em seu ombro. Ela tremia. Tinha as penas com visíveis manchas pretas e trazia amarrada à patinha uma carta preta, com letras vermelhas.
Haviam interceptado sua coruja.
Harry sentiu um frio na barriga, tremeu, sentiu uma pontada forte na cicatriz, sabia de quem era a carta, mas pegou-a mesmo assim.
Harry Potter
Sua hora está chegando, falta pouco tempo para nos encontrarmos.
Lord Voldemort
***
Ele nunca havia recebido cartas de Voldemort. Agora estando perto de completar dezessete anos, recebia uma clara ameaça. Ele precisava estar mais alerta que nunca. Lembrou-se das palavras do professor Moody. – “Vigilância constante”. O professor insistia muito nisso.
Limpou as penas da coruja carinhosamente, esperou que ela comesse e bebesse água e depois pediu:
- Pode fazer uma entrega? É urgente Edwiges, entende? Descanse na casa do Rony hoje, ok?
A ave piou bem baixinho, ele pegou os bilhetes e junto colocou a carta recebida de Voldemort. Edwiges deixou que ele amarrasse o pergaminho em sua perna e sem demora levantou vôo.
Durante esse período de férias não tinha sonhado com o Lord das Trevas nenhum dia.
Enquanto isso...
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!