Capítulo V



Harry ficou com Hermione no quarto até a garota adormecer. Ela relutou, queria ir embora, mas Harry não permitiu. Prometeu a ela que poderia ir depois que tudo estivesse resolvido. Estava triste por ter brigado com Rony e Gina, mas o fato de que Hermione o deixaria, de alguma forma, doía mais. Só que ele não entendia o porquê.
O garoto ficou pensando nos acontecimentos da noite, enquanto alisava os cabelos de Hermione, sentado ao lado dela, que dormia agora profundamente. Harry levou a outra mão à própria boca, lembrando-se do beijo que Hermione lhe dera na sala. Aquilo foi tão...

- Perfeito, é isso que foi - a velha e conhecida voz voltara a se manifestar. E dessa vez, Harry não retrucou. Foi mesmo um beijo perfeito... Hermione é...
- Perfeita! Rapaz, você está começando a entender... - a vozinha que, como sempre, parecia feliz.
- Não há nada pra entender, só pra resolver... - Harry pensou.
- Claro que há uma coisa pra entender antes de tudo. Você precisa entender que...
- Eu já sei o que você vai dizer. Vai dizer que eu amo Hermione. É, eu amo sim, mas como amiga. AMIGA, que fique bem claro.
- Não acredito... lá vem você com esse papo de amizade. OK, vamos admitir esse seu pensamento. Se vocês são apenas amigos, por que é que você veio até esse mesmo quarto, atrás da sua querida amiga, e a beijou do nada? Só pra se divertir um pouco, suponho? - a voz soava displicente em sua mente.
- Claro que não! Eu jamais faria issocom a Mione! Eu...
- Você a ama, ponto. Você a ama e não é de hoje, Potter, você sabe muito bem disso... quer que eu enumere os motivos? - a vozinha parecia já impaciente.
Harry a deixou de lado. Observava Hermione dormir, já pela segunda vez naquela noite. E ele não cansava de olhar pra ela. Muito pelo contrário. Ele adorava olhar Hermione, estar com ela, conversar com ela... beijá-la. Tinham feito isso duas vezes e ele queria mais. Não, ela era sua amiga, não poderia querer beijá-la...

- Poderia sim, você a AMA! - a voz voltou, pareceu gritar.
- Eu... - Harry olhou para o rosto de Hermione, e finamente admitiu. Murmurou o resto da frase, baixinho - eu amo você...
Hermione se mexeu na cama, e Harry teve a impressão de ver um leve sorriso em seus lábios.


Harry passou a noite em claro, em meio aos seus pensamentos. "O que eu vou dizer a Rony e à Gina agora?", pensou ele. Não poderia esconder de Rony que amava a amiga. Harry sentiu seu estômago remexer bruscamente. Rony falara que gostava de Hermione, e agora ele, Harry, descobrira que amava a amiga. Certamente Rony não ficaria muito feliz... mas Harry já estava decidido a contar. Eles não eram mais crianças, e ainda eram melhores amigos. Quase sete anos de amizade não poderiam acabar assim...
Havia algo mais que incomodava Harry. "Ah, claro, Gina", ele se lembrou. Era namorados, ou melhor, ex-namorados. E Harry agradecia por isso. Gina certamente não iria querer reatar com ele, não depois do que vira a noite passada.

Harry olhou para Hermione, ela ainda dormia. Ele não pôde deixar de sorrir. Era esse o efeito que a imagem de Hermione causava em Harry. Ele pensou se deveria contar o que sentia à ela. "Não posso", concluiu ele, rapidamente. Certo, ela o havia beijado noite passada, mas estava com sono... é, definitivamente não contaria à Hermione. "Mas quando você subiu", a conhecida voz despertara, "quando você subiu ela o beijou. E não estava com sono nenhum...". É, era verdade. Mas não arriscaria, ainda mais com o que Rony dissera à ele.
Harry olhou no relógio que havia sobre o criado-mudo ao lado da cama. Eram quase sete horas, mas ele nào agüentava mais esperar. Levantou-se muito devagar, abriu a gaveta do criado-mudo, pegou um pedaço de pergaminho e escreveu muito rapidamente:

"Mione, eu fui falar com o Rony. NÃO SAIA DESTA CASA ATÉ EU VOLTAR!

Um beijo, Harry"


E deixou o bilhete onde estivera sentado a noite toda. Observou Hermione por mais alguns instantes e não pôde resistir. Muito cuidadosamente, ele beijou o rosto da amiga,e então desceu. Desaparatou da sala da antiga casa dos Black.



Rony acordou vestindo as mesmas roupas do dia anterior. Percebeu que era muito cedo, mas não aguentava mais esperar. Precisava falar com Harry e com Hermione. Ele levantou-se da cama, desceu as escadas e saiu da casa. Desaparatou ali mesmo.

Quase no mesmo instante que Rony desaparatou, Harry aparatou em frente À Toca. Como sabia que só Rony e Gina estavam ali, tocou a campainha sem se importar.

Gina assustou-se com o barulho da campainha, e levantou sonolenta. Parecia ser muito cedo para se fazer uma visita. Era cedo demais até para os vendedores inconvenientes.
Ela foi cambaleante até a porta.
- Quem é? - perguntou, bocejando em seguida.
- Sou eu, Harry - o garoto gostaria que Rony tivesse atendido.
Gina despertou imediatamente ao ouvir a voz de Harry.
- Vá embora! Não tenho nada pra falar com você! - Gina falou, sem muita convicção.
- Por favor Gina, abra. Eu preciso falar com o Rony também. Queria explicar sobre... sobre ontem. Vocês não podem se recusar a me ouvir.
Gina não respondeu. Abriu a porta alguns instantes depois.
- Entre... - deu espaço para Harry passar.
- Obrigado, Gina - ele olhou ao redor, e não viu sinal de Rony. Provavelmente ele estava em seu quarto, mas seria muito indelicado não resolver as coisas com Gina.
- Olhe Gina, eu... me desculpe por ontem. A Mione não teve culpa, eu quero que isso fique bem claro - ele a olhava nos olhos, sério - eu sei que o que fiz foi muito errado, e eu...
- Eu não quero mais nada com você, Harry - Gina o interrompeu - não precisa se explicar, você não me deve satisfações, certo? Vamos parar por aqui...
- O.. o quê você disse? - Harry a olhou surpreso, e sentiu um alívio repentino. Era isso que ele pretendia, mas achou que seria muito mais difícil.
- Que não quero mais nada com você.
- Sem problemas. Mas você entende que a Mione não teve culpa, certo? - disse ele.
Gina pensou que ele ficaria chateado por ter terminado o namoro, mas ela poderia jurar que ele estava mais leve.
- Eu fiquei chateada com a Mione, é verdade... mas ela me pareceu tão triste ontem... é, acho que acredito em você...
Harry sorriu.
- Então você perdoa a Hermione, certo?
- É Harry mas... você não tá mais preocupado se eu te perdoaria?
- Olha Gina... eu vim aqui pra falar com o Rony e com você. E eu iria mesmo terminar tudo com você... fico feliz por você também querer isso. Sabe Gina, eu descobri que amo - ele pensou por um instante - outra pessoa.
- Certo... eu também descobri que eu não gostava de você como pensava que gostava, Harry... desculpe...
- Não se desculpe por isso, Gina... pelo menos está tudo esclarecido, não é?
- É, está... - Gina pareceu pensar, e então prosseguiu - Harry, será que você pode me levar com você pro Grimmald Place, 12? Preciso realmente me desculpar com a Mione...
- Claro, Gina... vamos?
- Vamos sim - Gina sorriu - mas lá fora, papai enfeitiçou a casa, e ninguém aparata ou desaparata daqui sem acontecer um acidente horrível...
- Certo... então, vamos.
Eles seguiram para fora, e Harry aparatou, com Gina segurando em seu braço.


Rony aparatou num beco, perto do número doze, do Grimmald Place. Ele parou em frente à casa, fechou os olhos e pensou no endereço da mesma. Quando abriu os olhos, lá estava a casa. Rapidamente ele caminhou até a entrada e tocou a campainha.
Lá dentro, Hermione despertou. Olhou ao redor, e notou o bilhete ao seu lado. Sorriu ao ler a assinatura. Então, ouviu a campainha de novo. "Deve ser o Harry", e ela desceu rapidamente as escadas e foi abrir a porta. Arregalou os olhos ao ver quem estava ali.

- Bom dia, Hermione - Rony parecia sério.
- Oi Rony... - Hermione respondeu, com a voz fraca.
- Desculpe se te acordei... cadê o Harry? - Rony olhava pra todos os lados esperando Harry aparecer.
- Bom, pensei que ele estaria conversando com você agora... - ela mostrou o bilhete de Harry.
- Acho que a gente teve a mesma idéia...
Hermione não conseguiu se conter, precisava se desculpar com o amigo.
- Olha Rony, sobre ontem, eu...
- Não precisa pedir desculpas, Hermione. É com o Harry que eu quero falar...
- Mas eu... eu lamento, Rony...
- Você não teve culpa, Hermione... - Rony andava impaciente de um lado para o outro.

Hermione ficou em silêncio, não sabia o que dizer a Rony. Ela queria dizer a verdade, mas não sabia por onde começar. Mas qual era a verdade, afinal? Que ela beijara Harry por puro impulso na sala, e ele viera depois ao quarto, e então aconteceu?

- Quase acertou... Incrível, Hermione Granger quase acertar alguma coisa... geralmente você acerta tudo... - era a maldita voz vindo perturbar Hermione novamente.
- Não acredito... acho que eu estou ficando louca... - Hermione pensou.
- Não está não, mas vai ficar se não admitir logo o que está sentindo pelo Harry.
- Eu não sinto nada pelo Harry!
- Uow... bem, essa reação me diz que sente sim! Vamos lá, garota sabe-tudo, você é inteligente o suficiente pra juntar os fatos e chegar à tão esperada conclusão. Vamos, é tão óbvio! - a voz parecia impaciente.
- Não tem conclusão alguma. Harry é quase um irmão pra mim, como Rony.
- Ah não, definitivamente não. Rony sim, pode ser um irmão pra você, mas não Harry. Afinal, os irmãos vivem brigando, como você e o Rony... mas você pode contar nos dedos as vezes que brigou com Harry.
Era verdade. Nas raríssimas vezes aue Harry e ela brigavam, logo faziam as pazes, e ela agradecia por isso, pois era horrível ficar longe de Harry, e saber que ele estava chateado com ela.
- Então é horrível ficar longe de Harry, é? - a voz falou, triunfante.
- Claro, ele é meu melhor amigo e...
- E você o ama, naturalmente. Pontos para a grande Hermione Granger!
- Eu não... - mas Hermione parara de discutir consigo mesma. Ela tinha que admitir, amava Harry sim. Por isso ficava incomodada quando via ele junto com Gina, por isso gostava tanto de ficar com ele, por isso corava quando ele lhe fazia elogios (o que estava acontecendo muito durante o tempo que passaram juntos), por isso que ela adorava olhar pra ele, porque com um simples olhar os dois se entendiam, sem precisar trocar uma palavra sequer. Era por amar tanto Harry que as conversas entre os dois já tinham ultrapassado a linguagem verbal. Eles se entendiam com simples olhares, simples gestos...

- Hermione? - ela ouviu Rony a chamar, bem longe - HERMIONE! - agora ouviu um grito muito alto, bem na sua cara.
- Não precisa gritar, Rony! - ela se assustou.
- Eu tô te chamando faz um tempão e você tava aí, parada, com uma cara muito estranha... parecia que tava hipinotizada!
Hermione não pôde deixar de rir com a cara que Rony fez ao dizer 'hipinotizada'.
- É, de certa forma eu estava... - ela disse baixinho.
- Hein? Mione, fala mais alto!
- Nada Rony, eu pensei alto...

Na hora que Rony abriu a boca pra falar, a campainha tocou.
- Deve ser o Harry - Rony disse, e foi abrir a porta. Harry e Gina estavam parados ali. Harry apenas olhou Rony nos olhos, e entrou, com Gina seguido por Gina.
Hermione surpreendeu-se em ver os dois juntos. Sentiu uma pontada no coração, mas ao mesmo tempo ficou feliz por Harry já não estar mais brigado com Gina.
- Oi Mione... será que podemos conversar? - foi Gina quem falou.
- Cla-claro... - Hermione respondeu, com a voz vacilante. Será que ela ia jogar-lhe na cara que era a pior pessoa que já conhecera? Bem, certamente que sim, mas não podia negar, afinal, agarrara seu namorado duas vezes - vamos lá em cima... - Hermione começou a subir as escadas, após olhar tristemente para Harry. Gina foi atrás dela, deixando os garotos ali, na sala.


- Então... você e minha irmã se entenderam, foi? - Rony olhava para Harry, sério.
- De certa forma, sim - Harry também estava com uma expressão séria - mas não reatamos o namoro - os olhos de Rony se arregalaram - descobrimos o que realmente sentimos...
- É, eu também descobri. Descobri que não gosto da Mione do jeito que eu te disse ontem... acho que só fiquei louco de ciúmes por ela ser quase como uma irmã pra mim... - foi a vez de Harry se surpreender - mas isso não significa que achei bonito o que você fez pra minha irmã!
- Rony, eu não tive a intenção de...
- Tá bom, tá bom. Ela já te perdoou, não é?
- Sim, mas...
- Então pra mim isso já é o suficiente - Rony olhou para cima - você acha que elas estão se entendendo, cara?
- Tenho certeza que sim, Rony... - Harry sorriu. Seu melhor amigo havia lhe perdoado.


No andar de cima, Hermione estava sem saber o que fazer (e com certeza, isso é algo extremamente raro). Estava diante da namorada do seu melhor amigo, que recentemente descobrira que ama há um bom tempo.
- Hermione, eu...
- Gina, me desculpe. Fui eu quem causou tudo isso, o Harry não teve culpa, fui eu que...
- Calma! - Gina sorriu, fazendo Hermione ficar confusa - Harry disse o mesmo que você está dizendo agora...
- Mas tudo aconteceu por minha culpa, e...
- Calma, Hermione! Parece até que vocês querem proteger o outro e... - Gina se calou, havia percebido uma coisa que explicava a atitude dos dois. Claro, era isso! - ... e eu tenho que te fazeruma pergunta. - Gina sorriu, presunçosa. Ela própria estranhava não estar sentindo absolutamente nenhum ciúmes, raiva ou qualquer sentimento negativo em relação à Harry ou Hermione, mas no fundo ela sabia que hora ou outra aquilo aconteceria.
- Pergunta? - Hermione disse, surpresa - mas Gina, eu estou tentando te falar que...
- Não precisa se explicar, Mione, Harry e eu não estamos mais namorando. Decidimos que romper seria melhor para os dois.
- Mas... o quê?! Eu pensei que você o amava, e...
- Eu também pensei isso. Lembra quando você disse pra mim ir levando a vida? Pois é, foi isso que eu fiz. E, acredite, existe um assunto sobre o qual eu sei muito mais que você, Hermione - ela sorriu de leve - e são os relacionamentos. Ou você se esquece que eu namorei o Dean Thomas e mais alguns garotos em Hogwarts?
- Sim, mas...
- Então - Gina interrompeu Hermione - Quando consegui finalmente namorar Harry, percebi que não era como eu imaginava. Era como se além de conversar e rir com Harry, nós nos beijávamos de vez em quando. O 'amor' que eu dizia sentir por Harry não era amor de verdade...
- Mas você disse todos esses anos que...
- É, eu disse, mas eu disse coisas erradas... mas graças à você eu sei o que eu realmente sinto pelo Harry, e ele é um grande amigo meu, não mais que isso.
Hermione ficou em silêncio por alguns instantes. Parecia que estava acontecendo uma grande festa dentro de si. Gina não amava Harry, afinal. Mas ela não sabia se ele a amava...
- Ah, claro, e Harry não me ama como pensava. Somos apenas amigos - Gina disse, como se acabasse de ter lido os pensamentos de Hermione.
- Que bom que você não está mais triste, Gina... - Hermione falava devagar - será que você... pode me perdoar?
- Perdoar? Eu tenho que te agradecer, Mione...! - Gina sorriu e abraçou uma Hermione muito surpresa e feliz.
- Mas e a pergunta que você ia me fazer? - Hermione questionou Gina, quando se soltaram.
- Ah é... - um sorriso maroto formou-se nos lábios de Gina - quando é que você vai contar a ele?
Hermione não entendeu.
- Contar o quê a quem?! - disse a garota, franzindo o cenho.
- Contar a Harry que o ama, claro!
Ao ouvir as palavras de Gina, Hermione corou furiosamente. Como ela poderia saber? Bom, se Gina não sabia, agora tinha certeza, dada a coloração do rosto de Hermione.
- E não adianta negar, Hermione... - Gina riu - seu rosto já te denunciou...
Hermione sorriu sem graça e admitiu para Gina o que sentia por Harry.
- Mas eu não posso dizer a ele! - Hermione disse depressa - e nem você vai fazer isso - Hermione lançou um olhar à lá McGonagall em Gina.
- Depois desse seu olhar pra cima de mim, não vou mesmo...
Ambas deram risada.
- Bem, faça como você quiser, Mione... mas acredite, se você não contar, vai ser muito pior... - Gina saiu do quarto e fechou a porta, deixando uma Hermione pensativa sentada na cama.

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