Solstício de Primavera
CAP 10
SOLSTÍCIO DE PRIMAVERA
- Mas hoje?
- Hoje. E sem falta Rony.
Este seria o dia em que Rony, Harry e Hermione finalmente sairiam em busca dos Horcruxes perdidos. A atmosfera de excitação era grande por parte de Harry, que não conseguia ver a hora de Hermione descer do quarto para contar a novidade.
Harry decidira não contar nada aos amigos na noite passada por questões puramente covardes: Não queria se aproximar muito dos amigos enquanto estivessem brigados. Depois de quase sete anos de convivência ele já tinha experiência suficiente para saber que não deveria se meter muito nas brigas de Rony e Hermione.
Mas como de costume, o dia seguinte sempre começa melhor do que o final do anterior, e essa parecia uma conclusão muito verdadeira para Harry, pois Rony parecia uma nova pessoa quando desceu as escadas naquela manhã.
- Mas por que você não me avisou ontem à noite? – Rony perguntou com a cara amarrada por acabar de saber que seus planos de reconquistar a confiança de Hermione seriam adiados.
- Se eu tivesse falado, com certeza eu não teria visto esse sorriso no seu rosto esta manhã, – Rony pareceu murchar – estou certo?
- Talvez. – Ele respondeu e pela primeira vez Harry viu os olhos inchados de Rony. Se ele havia chorado Harry não sabia, o que era um pouco improvável da parte de Rony. Ele bocejou alto.
- Não dormiu direito? – Harry tinha que saber a verdade.
- Passei umas duas horas acordado na cama – ele disse simplesmente, e Harry concluiu que era verdade, pois não havia ouvido o amigo roncar na noite passada, e muito menos havia ouvido qualquer som parecido com choro.
- O que você vai fazer ein? – ele se referiu a Hermione, e Rony percebeu na hora o sentido da pergunta.
- Não vou lhe contar!
- Ah pára com isso, somos amigos, pode me contar!
Rony pensou por uns minutos e então abriu um quase imperceptível sorriso.
- Tudo bem. Mas não ria!
Harry jurou.
- Não vou.
- Bom... tipo assim... ahh... Veja bem, tudo começou quando eu pensei sobre a música e tudo o que ela dizia era verdade... – Harry assentiu para que Rony continuasse – Vou escrever... Shiiiiiiiiiii!!!!
Harry sabia que era boa demais para ser verdade, e pelo jeito a novidade ficaria para mais tarde, pois Hermione acabava de descer as escadas. Estava com um short jeans e uma bata amarela, que fazia sua pele moreninha ainda mais bonita. Tinha os cabelos soltos em cachos com menos volume do que Harry havia a visto usar antes.
- Gostaram? – ela disse mexendo alegre no cabelo, que mexia como molas enquanto ela descia a escada. – Achei um creme trouxa no banheiro lá do quarto. – ela disse alegre se encaminhando para junto dos garotos.
- Bom dia para você também. – Harry disse rindo olhando para o novo cabelo de Hermione. - Está lindo.
- Concordo – Rony complementou para não perder a oportunidade, enquanto observava Hermione com um leve brilho nos olhos azuis.
- Obrigadaaa – ela disse mostrando a língua para Harry em resposta ao seu bom dia, e jogando um pequeno sorriso para Rony.
- De qualquer forma eu tenho uma notícia ótima pra você. – Rony lançou um olhar debochado para Harry. – Saímos depois do meio dia.
Hermione olhou confusa de Rony para Harry.
- Nós vamos embora?
- Só vamos até a antiga casa de meus pais.
- Ahh Harry porque você não me avisou ontem? – ela disse em tom preocupado e Harry já sentia as mãos suarem de preocupação.
- Achei melhor contar só hoje... você sabe... vocês dois... – ele tentou empurrar o problema para os amigos, mas Hermione foi mais esperta.
- Da próxima vez avise antes Harry! – ela disse brava e no mesmo instante se levantou do sofá, olhando para os lados freneticamente. – Temos que arrumar as coisas!
- Só levaremos uma mochila. – Harry disse com a autoridade de um líder.
- Continue. – Hermione disse secamente se sentando no sofá novamente.
- Usaremos o feitiço para torná-la maior por dentro. Levaremos dinheiro para comprar coisas no povoado, a capa da invisibilidade, um dos bonecos de auror da loja dos gêmeos e mais uma muda de roupas para cada um.
- Mas porque tão pouca coisa? – Rony perguntou.
- Não queremos chamar a atenção de ninguém.
- Faz sentido. – Hermione disse finalmente.
- Se precisarmos de alguma coisa com urgência... aparatamos para cá, o que na verdade evitaremos ao máximo.
- Você esqueceu das vassouras Harry. – Hermione disse.
- Sim claro...
- Por que vassouras? Não podemos simplesmente aparatar pra lá? – Rony perguntou e imediatamente Hermione bufou descontente.
- Nós por acaso viemos aparatando pra cá, Rony?
Ele pensou um pouco e negou ao ver o olhar fulminante de Hermione.
- Até parece que você não fez aulas de aparatação, não é? Bruxos só podem aparatar para lugares visíveis pelos olhos ou para lugares que já tenham estado pelo menos uma vez.
- Eu tinha me esquecido desse detalhe! – ele tentou lançar um sorriso para Hermione, o que foi em vão. – Mas então... – ele mudou de assunto – o que estamos procurando realmente?
Harry puxou um pequeno pedaço de papel do bolso traseiro de sua calça, que estava mais parecendo o caderno de História da Magia de Hermione, de tantas anotações que haviam sido feitas.
- Logicamente dois horcruxes já foram destruídos: o anel e o diário. Não temos inteira certeza sobre o medalhão de Sonserina, mas vamos tomá-lo como destruído, concordam?
- Acho que ninguém seria louco de entrar naquela caverna, tomar aquela poção toda e deixar aquele bilhete se não tivesse realmente feito isso. – Hermione disse e Harry se sentiu mais confiante por ouvir as palavras sábias de Hermione. – São três os destruídos.
- Três! Depois nós temos o corpo do próprio Voldemort e Nagini.
- Sim.
- E por fim nós precisamos achar a taça de Lufa-lufa e algum objeto de Grifinória ou de Corvinal.
Harry mostrou suas anotações:
• Anel - DESTRUIDO
• Diário - DESTRUIDO
• Medalhão - DESTRUIDO
• Taça de Lufa-lufa
• Objeto de Grifinória/Corvinal
• Voldemort
• Nagini
- Acho que nós podemos começar por isso.
Um ponto na cabeça de Harry insistia em dizer que aquilo tudo estava errado. E se estivesse? E se ele passasse a caçar horcruxes que nem existiam? E se ele pensasse ter destruído os horcruxes, mas na verdade fora tudo um engano? Aquilo era pior que tortura. Na noite passada já tinha sofrido com isso, e tinha vontade de jogar um feitiço em si mesmo para que seu cérebro parasse de pensar coisas tão horríveis.
O que mais teria para fazer? Teria que tentar. De um jeito ou de outro ele sabia que esse era o objetivo de sua vida, e que ele não descansaria enquanto não o fizesse.
- Não consigo parar de pensar bobagens – ele abriu os pensamentos para os amigos.
- Ah Harry! – Como sempre Hermione parecia já esperar por aquilo, e foi direto dar um abraço em Harry. – Não se preocupe tanto.
- Não consigo parar de pensar que tudo isso pode ser falso!
- Nós temos a maior vantagem ao nosso lado: nós temos a palavra de Dumbledore.
Era verdade. Aquilo parecia ser a maior prova de que tudo o que estava escrito naquele papel fosse verdade. Até morto – e Harry estremeceu ao pensar na palavra – Dumbledore tinha a força de nos deixar mais seguros.
- Se nós estivermos errados... tentaremos de novo, só isso. - Rony disse e Hermione o olhou com orgulho.
- E de novo. – Ela continuou.
- E mais uma vez se for necessário – Rony completou a frase rindo.
Essa era a certeza de que precisava. Era isso que ele precisava ouvir para ficar mais aliviado. No final das contas, ele teve certeza de que nunca ficaria sozinho nessa luta.
- Tenho outra notícia importante, e acho que essa vai deixar vocês mais bravos comigo do que a primeira. Por isso tentem não gritar comigo, ok?
- Desembucha Harry! – Rony falou, e Harry preferiu que ele tivesse gritado tal fora o tom de voz do amigo.
- Gina falou comigo ontem...
- Aii Harry, eu não acredito que você mentiu sobre ela!
- Eu não tive escolha, sabia!? O que você queria que eu fizesse depois de ver você chegando em casa com aquela cara, e depois ver o William e o Rony todo ensangüentados entrando pela porta? Me diz? Com certeza eu fiz o que qualquer um faria!
- Mesmo assim você deveria ter contado a verdade.
- Não é nada que eu não possa contar hoje. – Ele disse encerrando o assunto. - Olhem aqui. – Harry pegou um jornal que estava escondido embaixo do sofá. – Lupin mandou por coruja ontem. Vou ler.
NARCISA MALFOY ESNCONTRADA MORTA
Narcisa Malfoy, esposa do conhecido Comensal das Trevas, Lucio Malfoy, foi encontrada esta manhã em um Beco na Rua Fort Millon, onde jazia o seu corpo, visivelmente torturado. Tudo leva a crer que Narcisa tenha sido torturada até a morte e depois jogada no beco abandonado.
Comensais da Morte são famosos por torturar bruxos para depois abandonar seus corpos em lugares que sejam regularmente visitados. No caso, becos, ruelas pouco movimentadas e estradas pouco usadas, tudo para que o corpo seja achado só alguns dias depois do assassinato.
Ainda não há suspeita sobre quem tenha cometido o assassinato, mas a polícia bruxa e os aurores já estão apurando o caso.
- Isso é horrível! – Hermione cobriu a boca com as mãos.
- E não é só isso – Harry dobrou o jornal e tornou a colocá-lo embaixo do sofá – Lupin já sabe quem foi o torturador.
- Quem? – Rony perguntou temendo a resposta.
- Snape.
- Snape? – Hermione tirou as mãos da boca e tornou a arregalar os olhos. – Mas como isso é possível? Snape parecia muito íntimo dos Malfoy!
- Segundo o que Gina me falou, Lupin conseguiu a informação de que Narcisa e Draco tentaram fugir da fortaleza de Voldemort, – Hermione voltou a abrir anormalmente a boca – mas como já era de se esperar, foram pegos, e Snape foi obrigado a torturar Narcisa até a morte.
- Essa história é muito esquisita, Harry. – Hermione sentou-se no sofá ao lado de Rony. – Vocês não acham? – ela perguntou olhando de um para o outro. – Como Lupin saberia de tudo isso? Como?
- Pelo simples motivo de que Draco está em Hogwarts, por exemplo! – Harry disse irônico, e balançando a cabeça de modo afirmativo na direção de Rony, que parecia não acreditar na história.
- Não!
- Sim, Rony. – Ele disse diante a face irada do amigo. – E o pior de tudo é que ele foi levado por Snape até o castelo, afirmando que o seboso não tinha conseguido tortura-lo como fez com a mãe. Está lá desde então de molho da ala hospitalar.
- Desde quando? – Hermione quis saber.
- Deixa eu ver... nós ficamos duas semanas na casa de Rony, bom... faz exatamente duas semanas.
- Mas eles não podem ter acreditado nisso! – Hermione levantou do sofá, contrariada. – Nós temos que ir lá tirar o Malfoy do castelo antes que ele faça mais um plano dar certo!
- Se você levar em conta que ele não consegue levantar da cama... – Harry olhou sério para Hermione. – Você acha que eu também não tive essa mesma reação que você quando a Gina me contou? Quis sair daqui naquela mesma hora e ir atrás do Malfoy. Mas então ela fez eu me acalmar – e Harry fez uma pausa nesta parte e respirou fundo – tudo faz sentido.
- Como assim? – Rony perguntou.
- Narcisa e Draco tentaram fugir, foram pegos e receberam pena de morte. Snape torturou Narcisa, o que deve tê-lo deixado extremamente perturbado, pois levou Draco até Hogwarts correndo o risco de ser pego... e outra, que eu esqueci de mencionar: Snape não é visto desde o ocorrido. Lupin tentou se infiltrar, e do mesmo modo não achou vestígio algum dele. Parece que foi visto só uma vez, perto do litoral por alguns trouxas desatentos que o confundiram com um bêbado.
- Com um bêbado? – Rony não conseguiu esconder o cinismo. – Snape parecendo com um bêbado não é muito improvável?
- Extremamente improvável. – Concluiu Hermione.
- Já é improvável que ele não tenha mais voltado pro lado de Voldemort, e isso me parece verdade, pois Lupin afirmou que o “Lord” – e Harry fez uma careta – está uma fera atrás de Snape. Até Lupin foi encarregado de ir atrás dele.
- Mas Harry, tem uma coisa que eu ainda não entendo em toda essa história. Como eles não sabem sobre Lupin? Ele até lutou ao nosso lado no castelo.
- Lupin está no meio de mais de mil lobisomens. Não há como o reconhecerem naquele meio, levando em conta que na maioria das vezes ele recebe ordens de outros lobisomens, e não de Comensais. É tudo uma questão de disfarce.
- Então você acredita nele? – Hermione perguntou, e agora parecia mais calma.
- No Draco ou no Snape?
- No Lupin!
- Acredito. Por mais maluca que seja essa história... eu acredito. De qualquer forma o Draco está sedo vigiado e não sairá da ala hospitalar por um bom tempo. Temos que continuar a nossa jornada enquanto a Ordem tenta arrancar alguma informação de Malfoy. Enquanto eles não conseguirem nada nós vamos continuar procurando.
- Certo. – Disse Rony.
- Estamos com você, Harry.
- Então arrumem as malas, pois nós estamos indo para Godric’s Hollow!
- E por que você está tão feliz? – Rony perguntou abismado.
- Eu não estou feliz... Isso tudo é nervosismo, não se engane...
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Godric’s Hollow estava estranhamente movimentada quando eles chegaram à pequena cidadezinha depois de 3 horas de vôo. As ruas estavam apinhadas de pessoas felizes e despreocupadas, trouxas, pensou Harry, que afinal, tinham uma vida feliz não estando à parte de todos os acontecimentos que aconteciam no mundo dos bruxos.
- Pessoas de sorte. – Harry disse passando um olhar curioso pelas ruas enfeitadas de flores coloridas e pessoas bem vestidas. – Mas afinal, o que tem de tão bom pra se comemorar hoje?
- Aquilo. – Hermione apontou para uma grande faixa branca que havia sido pendurada no alto da rua mais enfeitada: Festival do Solstício de Primavera.
- O que é solstício? – Rony perguntou tentando pronunciar direito a palavra. Nem mesmo Harry sabia o que queria dizer aquilo, mas para os cidadãos da cidade parecia muito conhecida.
- Aposto que vamos ficar sabendo agora. – Hermione disse ao perceber a aproximação de um homem vestido de preto. O homem tinha as feições alegres e modos extremamente simpáticos, só de olhar para o seu rosto, ele teve a leve impressão de que não teria o que temer daquele pequenino homem careca.
- É um comensal? – Rony perguntou tremendo na base.
- Não seja ridículo Rony... é um padre.
- Ahhh... já ouvi falar. – Hermione tinha absoluta razão. Apurando um pouco o olhar, Harry pode ver que se tratava realmente de um padre.
- Mais que maravilhosa surpresa nos trás esse ano! Visitantes na cidade! – Pela sua alegria parecia que não havia visitas a muitos anos naquela cidade. – Sejam muito bem vindo a humilde Godric’s Hollow!
- Ah obrigado. – Hermione respondeu com ternura.
- Vieram para a festa do Solstício?
- Nã...
- CLARO! – Hermione cortou Rony no mesmo instante, falando alto demais. O padre pareceu desconfiar de alguma coisa. Por algum motivo ele lembrava muito Dumbledore. Nada em aparência claro, o pequeno padre era baixinho e careca, totalmente o contrário de Dumbledore, mas em compensação, tinha uma característica de que Harry lembrava muito bem no antigo diretor: parecia ser um homem extremamente calmo, e acima de tudo, sábio e inteligente. Seu rosto emanava essas características, Harry não sabia como!
- Meu nome é Harry. – O padre fez uma pequena reverencia. Parecia um japonês cumprimentando, o que Harry achou muito curioso.
- Rony.
- Hermione.
- Muito prazer em conhecê-los, Harry, Rony e Hermione – disse olhando para cada um deles enquanto pronunciava os seus nomes. Harry achou que ele não esqueceria mais os nomes depois dessa técnica. - Meu nome é Philip, e suponho que estejam procurando lugar para ficar – ele apontou para a mochila nas costas de Harry.
- O senhor sabe de algum lugar barato onde podemos ficar? – Harry perguntou.
- Temos as velhas cabanas antigas para alugar. São pequenas, mas tenho certeza de que vão gostar. Conseguirei duas delas para vocês.
- Duas? – Rony disse levemente contrariado.
- Ela só tem um sofá pequeno e uma cama de casal. Creio que não vejo como vocês poderiam dormir todos juntos – ele olhou para Hermione e Harry entendeu na hora a indireta.
- Não se preocupe, somos maiores de idade. – Não devia ter falado isso, pois o padre lhe lançou um olhar engraçado depois disso. Hermione ficou púrpura e tentou sorrir, mas só conseguiu fazer uma careta de nojo.
- O Harry dorme no sofá e eu durmo com a minha namorada. – Foi realmente engraçado, pois Rony parecia acreditar na própria mentira.
- Ronyyy! – Hermione disse baixinho para só o garoto ouvir.
- Bom... acho que não tenho como escolher por vocês, não é? – ele tentou conjurar um sorriso amigável. Sigam por aquela rua ali e acharão uma casinha de madeira bem forte. Peçam para falar coma dona Matilde na casa ao lado, ela dará instruções a vocês.
- Muito obrigado. – Hermione disse com toda a simpatia que conseguia reunir, ainda estava envergonhada com a conversa de antes.
- Espero vocês aqui às 3 horas.
- Às 3 horas? Podemos saber pra quê? - Rony perguntou e o padre abriu um sorriso largo no rosto.
- Para a festa, o que mais seria? Não foi para isso que vocês vieram? – e agora Harry teve certeza de ter visto uma ponta de ironia na voz do pequeno homem. Ele falava como se fosse brincadeira, mas Harry teve certeza de que queria ter certeza de que os veria mais uma vez, só para ter certeza de quem eram aqueles visitantes inesperados.
Harry olhou de Hermione para Rony com uma pergunta nos olhos. Foi Rony quem assentiu:
- Claro, por isso que estamos aqui, não é! – Ele disse teatralmente, para o desapontamento de Hermione, mas Harry conseguiu achar graça no jeito mentiroso do falar de Rony.
- Até mais então. – E ele deu as costas deixando a capa preta esvoaçar as suas costas.
- ÓTIMO! Teremos que agüentar esse monte de colonos hoje à tarde! – Rony disse e Hermione concordou com a cabeça.
- Temos mesmo que vir?
Foi Hermione quem responde:
- Claro Harry, não sabemos quanto tempo passaremos aqui...
- E já que o nosso plano de passar despercebido foi por água baixo...
- Vamos ter que mostrar que somos de confiança... – Hermione lançou um olhar significativo para Rony ao completar a frase do garoto, e ele não deixou por menos:
- Nada melhor que a festa...
- Isso mesmo! – Ela disse feliz.
É impressionante como as pessoas podem mudar pelas pessoas que amam. Harry achou que não viveria para ver os amigos concordando um com o outro, e mais ainda, compartilhando idéias e frases...
Seguiram em frente na direção em que Philip havia indicado.
Depois de falar com a rechonchuda dona Matilde, entraram na pequena cabana de madeira. Era um lugar extremamente arejado e com poucos móveis. Apenas uma cama de casal, um sofá de três lugares, uma mesa, pia e bancada; tudo num cômodo só. A única coisa que parecia completa era o banheiro, que tinha até uma banheira enorme no centro.
- Que idéia foi aquela de dizer que dormiríamos juntos? – Hermione reviveu o assunto que parecia ter morrido. Ela tinha vindo muito quieta para o gosto de Harry ao longo do caminho para a cabana, e agora a história continuaria.
- Foi o que me veio à cabeça. – Harry teve absoluta certeza de que era verdade.
- Seria muito melhor dizermos que éramos irmãos, por exemplo!
- Ah sim! – Ele mudou a voz para um tom debochado, de quem explica uma coisa totalmente óbvia. - Eu de cabelos ruivos e olhos azuis, você morena de olhos castanhos, e por fim – ele deu uma pausa e apontou o dedo indicador para cima em sinal de atenção – Harry de cabelos escuros e olhos verdes!
Hermione lançou um olhar de desgosto tão grande para Rony que Harry teve que abafar a risada pressionando a mochila contra a boca. Rony continuou ainda não se dando por vencido:
- Mas tem uma coisa que nós temos que é realmente parecido: o branco de nossos olhos!!!
Hermione caiu na risada antes mesmo de Rony concluir a frase. O garoto ficou primeiramente assustado coma reação de Hermione, mas depois de olhar para Harry e ver que ele também estava rindo, abriu um sorriso orgulhoso no rosto e lançou um olhar apaixonado para Hermione, ao qual só Harry conseguiu ver.
A garota ria encostada na parede, e de vez em quando tentava respirar com dificuldade em meio às risadas. O Rony que contava piadas debochadas em forma de poema era um Rony bem diferente daquele ciumento fervoroso. E a Hermione alegre, que ria e puxava ar para não engasgar, era uma versão mil vezes melhorada daquela que às vezes Harry via chorando pelos cantos. Desejou com todas as forças não ver os amigos brigarem, nunca mais.
Tudo parecia tranqüilo até que Harry ouviu batidas abafadas vindo de algum lugar, olhou para todos os lados em busca do barulho até perceber que elas vinham da porta de trás da casa.
- Tem alguém batendo na porta. – Harry parou de rir imediatamente. – No de trás – ele sussurrou e Hermione gelou de medo.
- Peguem as varinhas. – Rony disse e Hermione correu depressa para ele agarrando seu braço. – Você atende Harry, eu e Hermione ficamos ali.
Harry se dirigiu com as pernas tremulas até a porta. Parou e pegou na maçaneta com as mãos molhadas de suor. Não entendia porque estava tão nervoso. Mas a possibilidade de fracassar tão cedo passou pela sua cabeça e ele entendeu o motivo...
Colocou um sorriso falso no rosto e abriu lentamente a porta. Uma das mãos dentro do bolso segurando firme a varinha. Mas quando a porta se abriu, ele não pode acreditar no que os seus olhos viam. Era simplesmente bom demais para ser verdade. E ao mesmo tempo uma tragédia: Gina.
- Harry! – E ele foi empurrado para trás com a força do abraço dela. Ela desabou totalmente nos seus braços e por um momento Harry sentiu aquele cheirinho característico dela e só conseguiu suspirar entre os cabelos ruivos da namorada:
- Ah Gina!!
Gina se soltou por um momento e deu um beijo desesperado no namorado.
- O que você está fazendo aqui? – Harry conseguiu perguntar finalmente depois de se desprender do beijo dela.
- Boa pergunta, cara... o que você ta fazendo aqui, ein Gina? – Rony saiu de um canto com uma Hermione feliz agarrada ao seu braço.
- GINAAAAA! – e as duas se abraçaram forte como se não se vissem a um ano.
- Morri de saudades de vocês. – Ela disse abraçando um Rony contrariado.
Harry não conseguia assimilar o que estava acontecendo. Aquilo podia ser um sonho, podia. Mas era real e ela estava ali mesmo, e por um momento ele sentiu como se estivesse em paz novamente.
- Isso é muito perigoso pra você Gina. Você jurou que não viria. – Rony falou com um tom mais calmo dessa vez.
Era perigoso mesmo. Mas Gina fazia as coisas serem mais fáceis.
- Eu nunca jurei nada sobre isso – ela respondeu brava.
- Você pode ficar – e tanto Rony quando Hermione olharam incrédulos para Harry. – Mas não vai nem perto da antiga casa dos meus pais – ele impôs.
- O que você quiser. – Gina respondeu dando mais um abraço em Harry, que sentiu o ar sair completamente de seus pulmões ao receber o abraço. Estar com Gina o fazia perder o chão.
- Mas afinal, como você nos achou? – Hermione perguntou e Gina se desprendeu do abraço de Harry.
- Fácil! – Ela disse orgulhosa. – Harry falou comigo ontem pelo espelho, e deixou escapar que ia viajar para Godric’s Hollow – Harry lembrou da mancada da noite passada, mas nunca passou pela sua cabeça que Gina faria alguma coisa a respeito. – Vim voando pra cá... com todo o cuidado! – acrescentou. – Perguntei para umas dez pessoas se haviam visto dois garotos e uma garota novos na cidade, e um deles com os cabelos da cor dos meus – ela olhou com carinho para Rony – depois que falei isso um deles me deu o caminho por onde passaram. E aqui estou eu!
- Foi fácil demais pro meu gosto. – Hermione acrescentou, e Harry, como era de costume, levou muito a sério o que a garota havia falado.
- Você acha que um comensal poderia fazer a mesma coisa?
- Eu não tenho certeza de nada Harry. – Ela disse para a tristeza de Harry. – Mas não se preocupe com isso agora, temos uma festa para ir! – ela disse pegando na mão de Gina e levando-a para se alojar. – Pelo jeito vamos precisar de um colchão aqui para você Harry – ela disse enquanto colocava a mochila de Gina encima da cama e apontava um dedo para o chão ao lado do sofá, onde provavelmente Harry dormiria. – E não Rony... não dormirei com você!
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Se a cidade estava cheia quando eles chegaram, não estava nem comparada aquele momento. Parecia um formigueiro a céu aberto, na opinião de Harry, que começava a se sentir sufocado com toda aquela gente andando pra lá e pra cá.
A primeira brincadeira da festa que celebrava a véspera do solstício de primavera, ao qual ninguém ainda tinha tido coragem de perguntar o que significava o nome, era comer o pão do quantos. Como muitos desses jogos, tinha um travo de superstição que deixava Philip contrafeito, como o padre mesmo dissera ao encontrá-los no meio da multidão, fazendo questão de acompanhar o grupo. No entanto, se tentasse banir todos os rituais derivados das antigas religiões, metade das tradições do povo seria proibida, e, de qualquer forma, todos o desafiariam; assim, tolerava discretamente a maioria das coisas e controlava com firmeza um ou dois excessos.
Os habitantes tinham estalado mesas no gramado situado na extremidade de uma praça muito bonita que Harry ainda não tinha visto. Ajudantes de cozinha já carregavam caldeirões fumegantes de sopa, o que Harry achou muito estranho para uma festa, e logo depois os pães.
Sentaram-se todos juntos em grandes mesas, muito parecidas com as de Hogwarts, mas mais estreita e de pior qualidade.
Philip pediu silêncio e deu graças, depois entregou o pão de quantos para a pessoa a seu lado: Harry. Philip olhou para ele afetuosamente. Harry estava no mínimo diferente do garoto que aparecera há algumas horas atrás na cidadezinha. Naquela manhã ele parecia exausto, perturbado e triste, apesar do sorriso que nunca saia do seu rosto. Desde aquela tarde, parecia renovado. Não havia faíscas saindo de seus olhos, é claro. Mas estava calmo e sorria repetidas vezes para os amigos ao seu lado, e com mais freqüência para a garota ruiva que andava abraçada com ele: Gina. E o desespero em seus olhos já havia sumido por completo.
Philip começou a explicar o que seria feito a seguir, e fez a pergunta que seria respondida pelo pão de quantos:
- Quantos anos vão demorar a haver paz no mundo?
Aquela devia ser uma pergunta muito feita pelo padre, pois todos na mesa murmuraram desaprovações.
Harry deu uma mordida no pão não sabendo o que fazer a seguir. Ele era assado com sementes pequenas e duras, e quando Harry percebeu que não conseguiria engoli-las, cuspiu todas elas em sua mão, se achando a pessoa mais ridícula do mundo, mas em contrapartida, todos os presentes na mesa aplaudiram felizes.
- Solte na mesa para que possamos contar Harry. – Harry obedeceu.
A resposta foi trinta. Philip fingiu ficar consternado. Harry por outro lado, sentiu-se preocupado com o resultado.
- Vou ter que viver um bocado de tempo! – disse Harry a sério, e todos na mesa riram, tirando Rony, Hermione e Gina, que ficaram estranhamente calados.
Harry passou então o pão para Gina que estava ao seu lado. “Faça uma pergunta boa, garoto!”, Harry ouviu um homem murmurar atrevidamente ao longe, e todos na mesa pareceram concordar. Pelo jeito, naquele jogo as perguntas tendiam a ser levemente sugestivas. Harry achou que se Philip não estivesse presente eles se comportariam com mais irreverência.
- Quantos homens você ama? – Harry perguntou e alguns soltaram assobios de excitação.
Ela deu uma mordida minúscula no pão, o que fez todo mundo rir de novo.
Gina cuspiu cuidadosamente sete sementes encima da mesa. Harry fingiu estar se sentido ultrajado.
- Eu lhe direi quem são os meus sete amantes – Harry torceu para que ela não dissesse nada ofensivo demais. – O primeiro é Harry, o segundo Rony, o terceiro meu pai, depois Fred, Jorge, Carlinhos e por último Gui. Todos meus irmãos! – ela disse em resposta aos olhares curiosos.
Houve uma salva de palmas pela saída inteligente, e o pão foi passado adiante, sem antes Harry perceber que Gina esquecera de Percy!
Uma garota desconhecida, ao qual sentara as presas ao lado de Gina logo que chegaram a mesa, pegou o pão nas mãos com felicidade nos olhos. O pão predisse que teria três maridos.
A garota passou o pão para Rony ao seu lado, e nessa hora Harry viu um brilho de adoração nos olhos da garota; não havia dúvida de que sentara ali só para estar perto de Rony. Hermione sentara emburrada no outro lado do garoto.
- Quantos anos se passarão até que você esteja com o amor de sua vida? – Perguntou a garota.
Rony deu uma mordida muito pequena também; aparentemente fazia planos, e Harry pensou que o garoto na verdade não queria esperar anos para que isso acontecesse. Para clara decepção dele, sua boca se encheu de sementes, e quando foram contadas, seu rosto se transformou numa máscara de indignação. O total foi trinta e um.
- Estarei com quarenta e oito anos! – Todos acharam muito engraçado, exceto Philip, que pareceu se lembrar de que os visitantes disseram ser de maior.
Rony se acalmou e por uma fração de segundos Harry pode ver um pequeno sorriso em seu rosto. Ele se ajeitou na cadeira e passou o pão com toda a educação que conseguiu para as mãos de Hermione, que ainda parecia contrariada.
- Quantos dias se passarão até que você esteja com o amor da sua vida?
Todos resmungaram, reclamando, pois era muito fácil repetir uma pergunta. O jogo visava ser uma prova de inteligência, dando ênfase a muitas zombarias, mas mal eles sabiam o quão inteligente havia sido a pergunta.
Hermione pegou o pão e atraia vários olhares desejosos ao seu redor, estava muito bonita naquele dia, e o olhar irritado em seu rosto por causa da garota atiradinha ao lado de Rony, fazia a garota ficar ainda mais bonita. “Cospe um!”, um garoto gritou ao longe e Rony ficou visivelmente preocupado, olhando avidamente para os lados a procura do tal garoto.
Para a indignação de Rony, e para a alegria e zombaria de todos, Hermione fez com que todos rissem, dando uma mordida enorme no pão, tão grande que Harry pensou que demorariam a contar tanta semente. Entretanto, seu truque não teve êxito: cuspiu apenas uma semente.
Rony ficou radiante, olhou para a semente como se ela fosse um pequeno diamante e deu um beijo estalado na testa de Hermione, que deu um pulo de surpresa na cadeira.
- Um dia Rony, não vá se adiantando! – Gina gritou, e Rony mostrou a língua infantilmente para a irmã.
- Fique calada ou você vai ter que explicar direitinho quem são as outras seis pessoas que você ama!
- Mas! – ela respondeu contrariada e com diversão na voz. – Se o meu está errado, aposto que o de Hermione também está!
- Espere pra ver então.
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