Livrando-se de um amor
_ Remus, tenho a solução para os nossos problemas!
_ Como assim, Tiago? - perguntou Sirius.
_ Vocês nem acreditam, esta manhã eu estava treinando para a partida contra Sonserina na próxima semana. O treino foi difícil e complicado, pois chovia muito...
_ E...
_ Calma, Pedro! Que saco! Deixa o Tiago falar...
_ É que ele sempre encomprida a conversa...
_ Pois bem, olha só o livro que eu achei embaixo do meu armário no vestiário...
_ “ANIMAGUS - Constâncio Figg”, mas esse livro está na ala proibida da biblioteca... - disse Remus.
_ Esse livro não é da biblioteca de Hogwarts... - Completou Sirius examinando o livro - Alguém esqueceu no vestiário um livro da sua biblioteca particular...
_ Quem faria isso? Esse livro é muito caro! - Remus não acreditava que alguém pudesse perder um livro tão precioso.
_ Eu não sei, só sei que sendo animagos nós poderíamos passar as noites de lua cheia com você...
_ De jeito nenhum, Tiago! Não pediria isso a vocês nunca! É arriscado demais!
_ Quem aceita virar animago levante a mão?
Ele, Sirius e Pedro levantaram as duas mãos.
A cena da descoberta do livro sobre animagos lhe veio a mente de súbito. Fora Selena quem o havia deixado ali.
Ela sabia que Tiago iria trocar de roupa e achar o livro debaixo do armário. Sabia também que os meninos tentariam se transformar em animagos e assim passariam mais tempo juntos.
Como não se davam bem, aos poucos ele teria que escolher com quem ficar. Ela também previu que escolheria os marotos.
Lembrou de como se distanciaram lentamente, ele começou a chegar atrasado nos encontros, passava a maior parte do tempo falando da proeza dos marotos, não dava mais atenção as pequenas surpresas que ela armava, e ela nem sequer reclamava.
Até que chegou o dia em que ele não viu mais sentido para ir encontra-la, preferiu ir com os meninos invadir o laboratório do professor de estudo dos trouxas e trocar todas as etiquetas que eram a sua única referência para identificar uma torradeira de um aspirador de pó.
Uma lágrima rolou quando fechou os olhos e reviu a cara com que Selena foi conversar com ele na manhã seguinte.
_ Não, Tiago, nada justifica... Você quer ser um veado? Amigo meu e querendo ser veado? Me poupa, tá! - riu Pedro.
_ Cervo, Pedro. Eu serei um cervo.
_ Não tenta mudar, Tiago. Agora assume! - falou Sirius fingindo que ia chorar.
_ Gente, o cervo é o rei da floresta das coníferas, ele representa a lealdade, a coragem que mal tem se eu quiser ser um cervo? Remus, você que é um cara estudado, explica para eles...
_ Sei não, Tiago, esse negócio de dentre todos os animais você querer ser um veado não tem explicação... Ou melhor, tem... Mas definitivamente eu não queria que sua opção sexual estivesse envolvida no motivo!
_ Ah! Vocês são um saco mesmo!
_ Remus, eu posso falar com você?
Ela chegou timidamente por trás do grupo que se divertia na porta da sala de transfiguração.
_ Claro! Vamos para os jardins...
_ Não, não precisa... - ela o puxou uns cinco passos de distância - Só quero dizer que acho que a gente não deve mais se encontrar...
_ Por que, Sel? Se foi por causa de ontem, eu...
_ Não, Remus! Não foi por isso... Quer dizer, por isso também... Eu...
_ Mas eu te amo, Sel... Como é que eu vou viver sem você?
_ Remus, a gente já não está como antes, não é mesmo?
_ Vamos conversar em outro lugar?
_ Não! Quero acabar logo com isso - respirou fundo - Estou a fim de outro cara... - mentiu.
Remus sentiu uma pontada no coração como se tivesse sido atingido por uma flecha. O ar lhe faltou nos pulmões e as pernas bambearam.
_ Como assim? Quem? - ele a segurou com força - Quem é essa pessoa que pode ser tão atraente para você me largar no meio do nada... - ele a chacoalhava - Vamos! Quem é? Diz, Selena!
_ Chant... - foi o primeiro nome que lhe veio a cabeça. Faziam anos que não se viam, ela sabia que o amigo a amava, mas nunca conseguiu corresponde-lo, durante todo esse tempo, trocavam cartas, mas ela não encorajava essa paixão. E agora usava o nome dele para livra-se de Lupin. Se ele soubesse... - Quero uma oportunidade para conhece-lo melhor... Preferi antes Ter essa conversa com você... Não acho legal começar a namorar sem...
_ Chant? E eu?
_ Remus, não torne tudo isso mais difícil... - difícil estava para ela, mentir para a única pessoa que ela amou na vida - Tchau!
Ela saiu segurando as lágrimas, mas forte como uma rocha. E ele ficou lá, sem saber nem o que pensar, lógico que àquela distância seus amigos ouviram tudo e partiram para consola-lo.
_ Melhor assim, cara... - disse Pedro.
_ Cala a boca, Pedro! Não deu para você entender que a menina era importante para Remus - Tiago abraçou o amigo - Isso passa, irmão! Nós estaremos com você!
_ É, mesmo, e mulher é o que não falta nessa escola!
_ Sirius!
_ Que foi, Tiago? Ah, qualé? Esse negócio de sofrer por amor não é para mim... - Sirius era sensível como um javali - E logo por essazinha aí? Isso não vale nada!
Desde então, Selena esteve à serviço de Voldmort. Ela me contou que desobedecer uma ordem dele era mais ou menos como mandar o seu coração parar de bater, ele simplesmente não pára.
Ela fez de tudo para ele. Roubou documentos, torturou gente, iludiu, matou...
Foram anos terríveis, e segundo ela, a pior parte era saber o que fazia e não Ter escolha. Viu muitos traidores de todas as facções se unirem ao lorde das trevas por espontânea vontade, por sede de poder.
Enquanto isso, ela daria qualquer coisa para poder sair daquilo tudo, da imundície em que vivia. Mas ela era a mais fiel, a primeira das comensais da morte, sua lealdade era inquestionável, tanto que foi a primeira a adquirir a marca negra.
Não era para menos, Selena agia discretamente, de maneira rápida e efetiva. Estava sempre em missão, uma seguida da outra e cumpria as ordens constantemente antes dos outros.
Sua competência e a bajulação com que Voldmort a tratava atraiam olhares de inveja. Se eles soubessem quantas vezes quis morrer.
Até que certo dia, Voldmort virou para ela e disse que no ano seguinte não voltaria para Hogwarts, ele mesmo terminaria de ensina-la. Diria a Dumbledore que a transferira para Durmstrag. Precisava dela ali, junto dele.
Sofreu, mas se conformou, pelo menos não teria de ver Remus Lupin dia após dia com uma menina diferente. E finalmente poderia encarar seu destino de uma vez por todas. Olhar para Remus era lembrar de um futuro que ela jamais poderia possuir.
Foi o único tempo em que ela realmente quis que a crueldade e a frieza que demonstrava ao executar as ordens de Voldmort fossem mesmo dela.
_ Remus, você foi um idiota. Como pode Ter vivido a sua vidinha mesquinha sem notar que a mulher que você amou sofria tanto... - falou para si mesmo.
Rodou o quarto sem conseguir dormir. Doía reviver aquilo. Ela nunca o abandonou. E ele não percebeu.
Quebrou tudo que encontrou naquela noite. E era ele mesmo, não o lobo. Fúria como aquela ele só lembra de Ter sentido na vez que atacou Snape. Só ele sabe o que passou depois por causa dos remorsos.
Remorso essa era sua sina.
_ Remus?
_ Selena? O que faz aqui?
_ Vim lhe procurar... Queria conversar com você?
_ Sel, não é hora, nem lugar, e...
_ Vá, Remus - disse Tiago - Nós não vamos fazer nada de tão interessante assim mesmo... Se você não for vai acabar se arrependendo depois...
Selena o pegou pela mão e o levou para uma gruta que nem ele mesmo conhecia, ficava embaixo da parte mais rasa do lago, se podia ouvir o barulho da água batendo nas pedras. E a luz só entrava por uma pequena fresta nos arbustos que cobriam a entrada.
_ Remus, estou me arriscando demais para te encontrar aqui hoje... Mas quer saber, que se dane! - Selena não conseguiu conter as lágrimas.
Lupin ficou sem saber o que fazer. A garota chorava como se fosse uma criança de colo, como se dali a pouco o mundo fosse acabar e ela precisasse dizer tudo que tinha para dizer.
_ Calma, Sel... Senta... Vamos conversar... - ele alisou os cabelos dela - Você anda meio sumida por esses dias... O que está acontecendo?
_ Nada, Remus... - ela sorriu - Eu estou muito nervosa, é só isso... - ficou feliz de saber que apesar de Ter agido como um idiota tentando se vingar dela ficando com todas as meninas de Hogwarts como faziam seus melhores amigos, no fundo, ele continuava o mesmo - Me desculpa, tá? Acho que tem umas horas que a gente não agüenta a pressão e explode... Eu precisava de um amigo...
_ Vou ser sempre seu amigo, Sel... Eu ainda gosto muito de você!
_ Não sei se ainda posso me dar o luxo de gostar de alguém, Remus... Meu coração virou uma pedra de gelo... - ela virou para a parede tentando esconder o rosto, tinha vergonha - Meu único desejo agora é esclarecer algumas coisas pois só você me importa nesse mundo...
_ Você está me assustando com essa conversa, Selena... - se aproximou da garota por trás tocando-lhe o ombro e a fazendo virar para frente dele.
_ Não, Remus, eu não estou... Só espero que você entenda que muitas coisas vão acontecer daqui para frente, muita coisa ruim. E embora não pareça... - ela limpou o rosto e o encarou - Eu vou estar do seu lado... Jamais o abandonarei...
_ Pare de falar essas coisas estranhas, Sel... Ou então me conte logo a verdade! - Remus virou indignado, o tempo passava mais ela continuava com seus mistérios - O que é que vai acontecer? Por que você não me conta?
_ Eu não posso, meu amor! Eu não posso!
_ Meu amor? - ele murmurou - Não é você quem tem o coração de gelo?
_ ...
Lupin começou a subir a escadaria de pedras de volta a superfície. Estava cansado desse amor impossível que vinha e lhe mostrava o céu, para depois, sugado por mistérios e proibições que ele nem conhecia, o tragava para o inferno da solidão.
Resolveu desistir de vez, seus amigos lhe mostraram que a frivolidade ás vezes pode ser uma aliada contra a infelicidade. Estava tão próximo deles, como podia lembrar que não ficava completo sem ela? Tinhas tantas a sua disposição... Aquilo só podia ser bom. No fundo, ele sabia que se enganava, mas também não conseguia ver a solução.
Selena ficou lá na gruta. Mais uma vez conseguira o triunfo, matara o amor que Remus sentia por ela. Chorou sentada, sozinha.
Como poderia dizer a quem amava que fora ela, embora não por vontade própria que cometera tantos crimes? Como dizer que era a serva mais querida de Voldmort? Como dizer que era prisioneira das grades do seu próprio corpo?
Sabia que fazia a coisa certa. Ele estava livre, sem ela, estaria protegido. Mas se ela fazia a coisa certa, por que se sentia tão mal?
_ Quem sabe um dia, quando a escuridão que se aproxima passar, e o calor da batalha vencida dissipar o frio que petrifica meu coração, eu possa lhe mostrar que mesmo no gelo é só por você que meu corpo esquenta... - ela pensou alto achando que ele já estava longe.
Mas Remus era meio lobo, lobos têm uma audição incrível. As palavras de Selena bateram fundo na sua alma. Ele repassou cada momento, cada sorriso. Pesou, mediu... Esteve preso no seu egoísmo de garoto o tempo todo, centrado nos seus problemas, ele nem sofrera tanto assim... Pensando bem, Selena só trouxera alegrias e fora ele quem a havia deixado de lado. Ela simplesmente tirou o time de campo. Que tolo fora! Qualquer que fosse o problema, valia à pena supera-lo se pudesse estar com ela.
Quando Lupin voltou a gruta Selena ainda estava sentada de cabeça baixa. Ele chegou perto.
_ Pouco me importa quem você é, Sel... Eu te amo mesmo assim!
Pela primeira vez Remus Lupin conseguiu enxergar por detrás da beleza de Selena e viu naqueles olhos intensos e profundos um sofrimento incomum para quem só tem 15 anos.
Ela tentou segurar uma lágrima, mas foi impossível.
_ Não chore, meu amor! Só quero que você seja feliz! - ela sorriu. Ele a beijou e a colocou em seus braços.
Naquela noite Selena se entregou a Lupin e foi imensamente feliz.
Na manhã seguinte ela partiu para casa sem ao menos se despedir, mas carregava no coração a esperança de dias melhores.
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