Desagradável parentesco



_ Quem é você?

_ Você é realmente muito bonita, menina... Puxou a mãe com certeza. A beleza nunca foi uma característica dos Marvolo - tocou no cabelo dela o que a encheu de nojo, a imagem que lhe veio a mente foi a de seus pais no escuro da noite quando ela era ainda muito pequena - Você tem dessas belezas que deixariam qualquer um louco...

_ O que quer de mim?

_ Tão impetuosa... Como deve ser...

_ ... - Selena estava assustada. Quando chegou em casa para as férias, não havia mais nenhum parente, nem mesmo os serviçais mais antigos. Agora um homem que ela nunca vira lhe dava ordens.

_ Foi você quem me procurou, minha pequena. Sei que está com meu diário... - ele gargalhou - Eu nem mais me lembrava dele. Tomei um susto quando você o abriu... Quanto tempo faz que ele estava naquela Câmara? - um sorriso nojento apareceu nos finos lábios de Lorde Voldmort - Eu sempre fui um jovem brilhante, pelo jeito você também é, menina... Não é para qualquer um encontrar a entrada, não é mesmo? Foi você quem tentou abrir a Câmara Secreta, não foi, criança?

Selena assustou-se, como aquele homem poderia saber que ela tentara abrir a Câmara. O castelo devia Ter mais olhos e ouvidos do que ela pensava.

_ Realmente, menina... Existem mais olhos e ouvidos naquele castelo do que qualquer um possa contar...

_ Você leu meus pensamentos...

_ Ora... Mas o que você esperava de mim, criança? Eu sou Lorde Voldmort, o bruxo mais poderoso que já existiu sobre a Terra! E não finja que não sabia que um dia estaria na minha frente... Qualquer um esperto o suficiente para chegar a entrada da Câmara é suficientemente inteligente para saber o que quer, saber o que procura... Poupemos tempo com isso? - Fez uma pausa para depois continuar - Muito embora eu ainda esteja curioso: por que não libertou o monstro? Eu realmente gostaria de saber se você seria capaz de controla-lo... Por que desistiu?

_ Não lhe interessa!

_ Ui! Que medo! Você me diverte horrores, sabia? - ele sorriu novamente - Nunca me senti tão bem na presença de um parente...

Ela franziu a testa sem entender por que ele se referia a ela como parente.
_ Deixe-me que eu me apresente com meu nome de batismo: sou Tom Ridlle, Tom Marvolo Ridlle. Isso esclarece as suas idéias?

Uma enxurrada de lembranças vagas inundaram seus pensamentos, comentários sarcásticos do pai sobre uma tola irmã mais velha que largara tudo por amor a um trouxa.

_ Sim, minha querida, minha mãe sujou o nosso sangue, o sangue da nossa família com o sangue sujo do meu inútil pai trouxa. Mas eu já reparei o erro.... Fiz esse favorzinho para você também, ficas me devendo...

_ Você matou meu pai?

_ Um parente a mais, um parente a menos... ah! Nem ele, nem aquele menino estúpido eram dignos do nome que carregavam...

Não ficou triste, não derramou uma lágrima sequer com a notícia. Não era porque haviam morrido que ela ia esquecer de tudo que a fizeram sofrer com desprezo e humilhação.

_ Criança, você é perfeita! - ele estava cada vez mais fascinado - É com certeza tão digna quanto eu para possuir o sangue Marvolo...

_ O que quer de mim, um cartão de Natal? Presentes de aniversário?

Recebeu um tapa que deixou sua boca dormente.

_ Não seja tola, menina insolente! Mantê-la viva é um mero capricho meu. Não me faça mudar de idéia!

Ele andou pelo aposento até recuperar a calma depois disse:

_ Levante-se veja se reconhece alguma coisa...

Passaram por duas longas salas até chegar na biblioteca, o lugar não era mais somente a biblioteca comum da casa em que crescera, era a biblioteca de magia negra do seu pai. Os livros estavam todos expostos e organizados.

_ O que você acha? Eles não estão melhor aqui do que naquele porão imundo? Vamos, pense grande... Eu não sou nenhum ladrãozinho barato... Isso me pertence tanto quanto a você, lembra? E além do mais, seu pai não vai precisar deles, eu garanto... Bem, quem sabe... Talvez ele queira enfeitiçar o próprio demônio...

Estava tão confusa que nem sabia o que pensar. Lógico que já havia sonhado em encontrar Lorde Voldmort, mostrar seus serviços, provar o quanto era boa. Mas isso foi antes... E agora ele batia na sua porta para dizer que é seu primo.

_ Quero que descanse. Na hora do jantar conversaremos... Ainda tenho muitas coisas para lhe dizer...






Como podia ser? Selena era prima de.... Como ele nunca soube? Talvez por isso fosse tão fiel. Quem era ele para falar sobre laços de sangue...

A vida toda parecia estar dando uma reviravolta. Descobrira que Selena tinha tantos segredos que jamais poderia tê-la compreendido.

Remus estava muito confuso. Muito confuso mesmo.




_ Boa noite, querida prima... - Voldmort fez questão de acompanha-la até a cadeira e senta-la com toda a pompa - Você ficou belíssima neste vestido.

Selena vestia a roupa tradicional da família, um longo vestido verde escuro de veludo, todo bordado em pedraria em estilo vitoriano. Seus cabelos foram presos num coque com uma tiara de diamantes o que deixava seu colo nu, o que foi corrigido com um belo colar de prata com o brasão da família.

Nunca em sua vida estivera cercada de tanto luxo. Ele não poupara esforços para impressiona-la. A sala de jantar estava ornada como para uma recepção de um monarca com dezenas de velas em seus castiçais antigos e lustradíssimos com as duas cobras de prata enroscadas. A enorme mesa estava posta no auge para duas pessoas, todos os talheres possíveis, guardanapos, pratinhos para isso e para aquilo.

Haviam muitos criados vestidos adequadamente, prontos para servir e atender a qualquer capricho.

E havia Voldmort, ele já era um homem feito, tinha por volta de quarenta anos. Não se pode dizer que não era atraente, mesmo que não fosse assim tão belo. Foi educado e sedutor o tempo inteiro.

Ele fez questão de mostrar que não era o monstro que diziam. Era um homem inteligente, viajado, interessante. Mas ela não conseguia ficar à vontade. Os olhos dele denunciavam que mentia, mais fundo naquele olhar ela percebia que era cruel, e que como ela, seria capaz de tudo para Ter o que queria.

_ Selena, serei claro com você... Honestidade nunca foi o meu forte, mas como você é da família, abrirei uma exceção - Fez uma pausa, ela começou a perceber que ele adorava estas pausas para dar ênfase - Legalmente eu sou seu tutor... Posso fazer o que eu quiser com você - outra pausa - Mas não se desespere, não pretendo tira-la de Hogwarts, ou traze-la contra vontade para cá, nem muito menos sujeita-la a trabalhos forçados... Tenho planos para você...

O criado serviu a sobremesa, uma deliciosa torta de limão.

_ Eu a quero do meu lado! Perceba que nunca pedi isto a ninguém. Por enquanto, financiarei seus estudos e lhe darei pequenos trabalhinhos para desenvolver seu potencial....

_ Por que você acha que eu serei fiel a sua causa? - continuou a comer seu pedaço de torta sem sequer levantar o rosto, manteve a dignidade apesar de toda a repulsa que aquelas palavras provocavam.

Já Voldmort não gostou nada do que ela disse, muito menos da maneira como ela disse, sem lhe dar a menor importância, como ele mesmo faria se estivesse em situação contrária. Respirou fundo e recuperou a calma.

_ Por que não seria? Eu lhe pergunto - sorriu - Afinal, você não tem muitas opções: ou me serve por livre e espontânea vontade, o que me daria imenso prazer; ou terei que lhe lembrar certas hábitos seus interessantes e lhe esclarecer coisas sobre mim, como por exemplo que domino cobras e serpentes melhor do que propriamente ando ou falo...

Aquilo a assustou tanto que levantou o rosto de supetão.

_ Ora, você não acha que eu leio o pensamento de todos, não é? Imagine, ia ser terrível tentar dormir... É por essas e por outras que não duvido da sua fidelidade, minha criança... Mesmo assim, acredito que queira saber até onde vai o meu poder,- outra pausa - pois então, dance para mim!

A música começou a tocar e ela sem fazer nenhum movimento por pura vontade levantou-se e dançou o que sabia de melhor, até sorria. Tentou parar diversas vezes, mas seu corpo simplesmente não obedecia, e o pior, estava consciente.

Só parou quando ele assim o quis. Voldmort ria as gargalhadas, enquanto ela sentou chorando humilhada.

_ Não fique assim, menina. Ser animago tem dessas peças. Tive um conhecido idiota que tanto quis ser peixinho dourado que conseguiu, passou mais de um minuto sendo peixe, esqueceu que era bruxo e deve ser peixinho até hoje... - outra risada - Que foi? Não gostou da piada? Ande, acalme-se, chorar é para fracos... Eu tenho planos mais audaciosos para você. Jamais iria machuca-la, afinal, eu quero um herdeiro de puro sangue Marvolo. O que me diz?

A proposta lhe deu tanto nojo que teve vontade de vomitar.

_ Eu não sou tão feio assim, Selena - ele riu - Muito embora, não espero seu amor também, amor é para idiotas! Aliás, se você acha que vai poder fazer o que quiser porque eu estou apaixonado, esqueça! Seremos estritamente profissionais.

Selena não esperava que o Lorde Voldmort que todos falavam como sendo o ser mais sinistro, cruel, poderoso, malvado e etc, etc e tal... Pudesse Ter tanto senso de humor.

_ Se você for boazinha eu lhe deixarei viva com luxo e poder como você merece... Se não for... Bem, fazer o que... Aí eu te mato!





Quando entrou em seu quarto aquela noite, Selena chorou muito. Nunca pensara em toda sua vida que ser reconhecida como uma legítima Marvolo pudesse lhe trazer tanto sofrimento.

Seu destino acabara de ser traçado, serviria a Lorde Voldmort para sempre. O que ela almejara na sua rebeldia havia acontecido, mas não tinha mais importância.

Ela jogaria tudo para o alto como fez com o projeto da Câmara Secreta. Só queria ficar com ele. E agora era impossível.

Mas como diria isso a Remus? Como protegê-lo dessa maldição? Tinha de afasta-lo. Como? Seus olhos a entregariam se ela tentasse mentir. Chorou desesperada.

Se mantivesse Lupin perto dela ele seria um alvo fácil. Tinha de pensar numa maneira de fazer com que ele se afastasse dela, e não ela dele.
Não dormiu até traçar um plano.

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