Uma outra toca



“Que lugar estranho é esse” – pensou Harry abrindo os olhos lenta e remotamente. Ele não conseguia mexer uma só parte do corpo, e nem tão pouco queria. Estava todo dolorido. Sentia como se tivesse dormido por dias em cima de pedras. E não estava enganado. Quando finalmente criou forças pra levantar, viu que estava amarrado em cima de uma pedra do tamanho de uma cama. O lugar era sujo e escuro. Parecia o porão de uma casa nas montanhas.
- Ah, você acordou – disse uma voz esnobe e conhecida emergindo de um canto escuro. – pensei que estivesse morto, Potter. – era Draco Malfoy.
- O que você quer comigo? – perguntou Harry totalmente confuso.
- Ora, não era você quem sempre resolvia os mistérios na nossa época de alunos? – provocou Draco. – o que aconteceu? A beleza da minha priminha te deixou mais lerdo? – ele acendeu a varinha e a apontou instantaneamente para um outro canto, no qual se encontrava Melissa com Natalie no colo. Ela parecia arrasada.
- Natalie! – exclamou Harry. – o que a Melissa faz aqui com ela?
- Mel, você é realmente incrível. – disse Malfoy ironicamente caminhando na direção da “garota”. – ela não é linda, Potter? – falou ele pegando Mel pelo queixo e inclinando-o na direção de Harry – boa garota. Serviu pra te enganar perfeitamente. E você caiu direitinho.
Harry agora olhava Mel com um nojo, com uma raiva que já não cabia no seu peito. Como ela fora capaz de fazer uma coisa dessas? Era um jogo muito mais imundo do que aquele lugar. E, mesmo que ela olhasse Harry chorando, com cara de quem implora por perdão, ele sentia que nunca mais iria olhar na cara dela.
- Você vai ficar aí por um tempo, Potter – falou Malfoy subindo no que Harry julgou ser uma escada. – e isso fica comigo. Accio! – a varinha de Harry voou do seu bolso e foi parar nas mãos de Draco.
- Harry, me desculpe...por favor – implorou Melissa chorando e se ajoelhando aos pés da pedra em que o “garoto” se encontrava deitado. Ele apenas virou o rosto, ignorando-a por completo. – Harry...por favor...
- Melissa! – chamou Draco – não perca tempo com ele. Vamos. Papai já deve estar chegando. – Draco falava de um jeito estranho, como se lesse tudo aquilo em uma tela invisível bem à sua frente. A “garota” então levantou-se e foi subindo as escadas carregando Natalie, e ainda olhando para Harry.
O “garoto” aproveitou o fato de estar sozinho para reorganizar as idéias. Então a mulher que seqüestrara Natalie não tinha sido Blelatrix Lestrange, e sim Melissa Malfoy. Porque ela fizera isso? Porque ela? E o que Draco tinha a ver com tudo aquilo? Ele, logo ele, queria fazer Voldemort ressurgir...e a mãe de Melissa havia sido morta pelo Lorde das Trevas. Porque então agora ela estava lhe sendo leal? Será que isso também não passava de mais uma mentira?
Ele não conseguiu mais pensar em nada naquela hora, porque a raiva estava impedindo que ele usasse da razão para encontrar as respostas das quais tanto precisava. Adormeceu e só foi acordar quando uma pequena fresta de luz iluminava o seu rosto. Já era dia.
- Bom dia. – falou Melissa descendo as escadas – trouxe alguma coisa pra você comer.
- Eu não estou com fome – respondeu Harry rudemente.
- Pois eu acho que está. Ah, por favor Harry. Eu estou sendo sua amiga, sabia?
- Amiga? É isso que você chama de amizade? – ele não conseguia crer no que estava ouvindo.
- É. O tio Lucio não pode nem sonhar que eu estou te dando comida, senão ele...
- Lucio? Lucio Malfoy? O que ele tem a ver com isso? – perguntou Harry interessado.
- Nada. Eu falei Lucio? Eu quis dizer Draco. É...o Draco. O Draco me mata se me ver lhe dando comida. – respondeu a “garota” tentando desconversar. – vamos, abra a boca.
- Onde está a Nati? – perguntou Harry com a boca cheia de Torta de Abóbora, porque Melissa havia socado uma inteira nela.
- Ela está lá em cima. Sabia que ela nem dá trabalho? É uma ótima criança – disse ela continuando a pôr comida na boca do “garoto”
- Melissa, porque você fez tudo isso? – perguntou Harry engolindo tudo de uma só vez.
- MELISSA!!! – bradou a voz de Lucio Malfoy vinda lá de cima.
- Eu tenho que ir. – disse ela largando o prato no chão e saindo correndo.
Harry tornou a pensar em tudo... – “o que você estava fazendo lá embaixo?” – podia ouvir Lucio Malfoy perguntar – então tinha mais uma peça naquele jogo – “eu? Eu...não estava fazendo nada demais, tio” – ouvia Mel improvisar uma resposta – Lucio Malfoy – “como nada?” – perguntava Malfoy pai. – Seria ele o mandante? – “eu estava...estava apenas olhando se o Ha...digo, se o Potter já tinha acordado” – explicava ela.
É. Só podia ser isso. Lucio Malfoy era o mandante. A mulher que seqüestrou a Nati obviamente era a Melissa. Os Malfoy’s eram parentes um pouco mais próximos dos Weasley do que Belatrix. Harry agora já estava à disposição deles. Estava tudo pronto para que Voldemort fosse ressuscitado.
Nos dias que se seguiram, Melissa ia visitar Harry sempre que dava. Geralmente levava comida, e dava na boca do “garoto”, afinal, ele estava amarrado.
- Harry? – ela vinha descendo as escadas com uma bandeja de comida.
- O que é que você quer dessa vez? – perguntou ele sem dar a mínima atenção ao que ela dizia.
- Nada. Só vim te trazer mais comida. – respondeu ela parecendo sentida com a grosseria com que Harry lhe dirigiu a palavra.
- Eu já lhe disse que não precisa. – Harry continuava rude – o seu tio não está, não é?
- É – falou ela tristemente. Pôs a bandeja ao seu lado enquanto sentava-se aos pés da “cama” do “garoto”. – como você está se sentindo hoje? – Harry fingiu não escutar a pergunta. – ora Harry. Não precisa ficar tão mal humorado. – Melissa era mais inocente do que Harry jamais havia pensado que ela pudesse ser.
- Vocês me querem pra fazer o marjorie encantaten, não é? – ele foi direto ao ponto.
- Eu não sei do que você está falando. – Mel agora parecia muito séria. Começou então a enfiar comida na boca de Harry, que mesmo assim continuava a conversar:
- Eu sei que sim. Vocês vão tirar o meu sangue, o do Lucio Malfoy, o da Nati. Depois vão pegar a minha varinha e a de Vodemort e juntar tudo em um caldeirão. Acha que eu não sei?
- Se sabe então porque pergunta? – ela agora estava realmente fria. – deixe-me ver seus pulsos. – ela então pegou o braço do prisioneiro e murmurou apontando a varinha para ele Lumus. Os pulsos dele estavam sangrando – pelo visto andou tentando fugir.
- É, tentei sim. Você não esperava que eu ficasse aqui sem nem ao menos tentar fazer alguma coisa, não é?
- Não. Não esperava. – a “garota” agora conjurava uma tigela de murtisco para passar nos pulsos do “garoto”.
- Ai!
- Ora, não seja fresco.- disse ela segurando o braço de Harry com força.
- Eu acho melhor você ir – falou Harry puxando o braço de volta – seu querido tio não ia gostar de te ver aqui.
- Mas eu ainda não terminei. – protestou Melissa.
- E que importância tem isso? – perguntou Harry encarando-a no fundo dos olhos
- Toda. – ela sustentou o olhar do “garoto”. – eu ... eu quero te ajudar.
- Porque ?
- Porque ...porque eu gosto de você – disse ela tornando a limpar os pulsos do “garoto”.
- Gosta? Você não sabe o significado da palavra gostar – retrucou Harry incrédulo.
- Você não me conhece pra dizer o que eu sinto ou deixo de sentir – ela parecia estar chorando.
- Como é possível você gostar de mim? Você me seqüestrou. Pôs alguma coisa dentro da minha bebida pra tornar mais fácil me trazer até aqui. Seqüestrou a minha afilhada. E tudo isso só pra fazer ressurgir o meu pior inimigo, o assassino dos meus pais. E você ainda quer me convencer que desse jeito você gosta de mim? – a raiva dominava Harry agora.
- Gosto. Eu não achei que fosse gostar de você porque somos totalmente diferentes. Mas...quando você mostrou que se preocupava com o meu conhecido que estava internado no hospital...eu vi que você talvez pudesse me ajudar a ser uma pessoa melhor.
- O que?
- E eu sou diferente. Eu não sou igual à Belatrix, aos Malfoy’s. Eu sou diferente Harry. – ela estava debulhada em lágrimas.
- Você acha que eu ainda vou cair nessa sua historinha de “conhecido internado”? Está mais do que na cara que você inventou essa história toda pra ficar vigiando a Nati mais de perto.
- Não! Não. Existe realmente um conhecido meu internado. – agora ela chorava mais ainda
- E quem é?
- Meu pai.

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