Magia?!



Capítulo Três
MAGIA?!
Sofia estava em uma saleta parcialmente iluminada por um lustre de cristal. O ambiente tinha um odor peculiar, de ervas, de incenso. Uma fumacinha rala emanava de um vaso de barro no chão. A garota não gostava daquele cheiro, ele a entontecia, deixava-a fraca.
Os móveis, sofás e poltronas, eram forrados com tecidos leves e de estampas florais. Havia muitos recipientes com água sobre uma estantezinha no canto da parede, e mais nada.
O faxineiro a deixara sozinha ali, para esperar pelo pai. Nem de longe Sofia podia imaginar que a casa do pai fosse assim. Havia um imenso terraço de pedras, com uma fonte rudimentar, de pedras enegrecidas e cheias de limo. A casa era alta, e havia uma imensa estrela de vidro logo acima da longa porta de madeira de lei. Por esta estrela o sol adentrava a saletinha, e batia exatamente onde Sofia estava sentada, fazendo-a enrugar a testa, quando a estrela solar lhe atingia os olhos.
Além disso, o chão da casa era de um assoalho escuro, e a madeira já estava fofa e carcomida por cupins. As paredes eram tão grossas, que Sofia tinha certeza que poderia gritar e ninguém jamais a escutaria no outro cômodo.
Contudo, Sofia se enganara, podia ouvir ao longe as passadas de alguém que atravessava o corredor e seguia pela sala de estar, até a saleta onde a garota estava. Era um homem alto, corpulento, olhos azuis sem vida e cabelos negros muito lisos, cortados estilo militar. Sofia inconscientemente levantou-se, observando-o, era seu pai. E ele sorria e oferecia um abraço. Os dois abraçaram-se brevemente, mas não fora um abraço reconciliador. A garota tinha são consciência que as coisas não se removeriam dessa forma. Entre o pai e ela havia uma muralha que não seria facilmente demolida.
-Você está uma moça... –E apesar de parecer clichê, Sofia observou que o pai estava sendo verdadeiro. –Senti sua falta.
-O Miguel e o Alexander também... –Respondeu a menina, à altura. Era necessário que de pronto algumas dúvidas fossem esclarecidas.
-E como estão? –Questionou ele, parecendo sem ação.
-Não vejo o Ronaldo há vários dias, desde um desentendimento com o meu padrasto. Já o Miguel terminou a escola e agora trabalha em uma livraria...
Seguiu-se um silêncio momentâneo, Rogério não sabia o que acrescentar, Sofia já havia insinuado suas dúvidas. Fizera mal, fora muito precipitada?
-Mamãe quer conhecê-la, venha, me acompanhe.


Enfim conheceria a senhora de quem herdara o primeiro nome, Olga. Soube por alto que a mãe resolvera dar-lhe esse nome por insistência do pai. Mas não soubera muito bem como isso se deu, já que este não havia concordado muito bem em assumi-la, e só o fez depois de muito tempo, após de um exame de paternidade.
Pois bem, Sofia seguiu o pai por um corredor estranho (Porque era todo projetado em ziguezague), até que finalmente atingiu uma escadaria íngreme, cujos degraus eram tão altos e estreitos, que ela teve de tomar muito cuidado para não cair, segurando-se ao corrimão.
Lá, entre as inúmeras portas de madeiras lustradas, havia uma que se destacava, por conter exatamente uma árvore em mosaico. Fora nessa que os dois entraram, antes claro, bateram na porta.
Dona Olga era uma mulher esguia, alta, elegante de postura e de olhar. Possuía uma face serena, cordial e acima de tudo encantadora. Seus cabelos não eram brancos, mas castanho como mel (Os de Sofia eram castanho-escuros, quase pretos).
-Então é você. –Disse ela, e sua voz era suave e tenra. –Esperei-a por muito tempo, Sofia.
A garota queria dizer “Eu também”, mas não conseguiu. Nem ao menos se atrevia a retribuir o olhar, estava fria e tremia.
-Por que está tão nervosa? Não fique assim, querida. Venha, sente-se. –Disse indicando uma cama forrada com uma cocha de rendas e bordados. –Rogério, deixe-me a sós com a garota.
O filho fez que sim com a cabeça, e deixou o cômodo, encostando a porta. Sofia sentou-se sobre a cama com as mãos sobre a coxa e cabisbaixa, não conseguia parar de remexer os pés.
-Isso, isso, sente-se. Como parece com o Rogério... Na verdade, parece-se muito com minha filha, Yolanda. Ela nos deixou quando tinha quase a sua idade... Foi uma morte muito inesperada. Mas, enfim, você não está aqui para falar destas coisas, não é, querida? Temos de acertar algumas coisas, que ficaram sem ser ditas durante todo esse tempo.
-Eu não entendo, eu não entendo muito bem porque só agora vocês resolveram me procurar...
-Esta é uma longa história. –Disse, estalando os lábios e fitando a garota. –Mas, pois sim, acho que tem tempo para ouvir, não é?
-Hum-hum.
-Ótimo. Seu pai conhece a Dora há muito tempo, de lugares pouco familiares que ele já costumou freqüentar... Ficaram juntos algumas vezes, e sua mãe engravidou por duas vezes, mas em nenhuma dessas, o bebê era realmente filho do Rogério...
-Não eram? Como assim? Eu sempre soube que o Miguel e o Alexander eram filhos dele também. –A confusão foi muito grande. Jamais suspeitara que os irmãos também não fossem filhos de seu pai. E mesmo que agora a avó lhe dissesse isso, não acreditava piamente.
-A verdade, meu amor, é que eu acho que ela nem ao menos sabe quem são os pais dele, e talvez até tivesse dúvidas que o Rogério era de fato seu pai até fazerem o exame de paternidade.
-Isso já tem muito tempo... Por que só agora?
-Eu sei, querida. E acredite, mesmo que de longe, seu pai sempre a protegeu.
-E por que não se aproximou antes? –Insistiu.
-Tudo isso leva tempo, Sofia. As relações humanas... Ele já estava casado quando você nasceu, foi difícil para ele também. Mas depois da morte da esposa...
-A mulher dele morreu?
-Sim, perdemos Elisa há poucos meses. Rogério está vivendo aqui comigo e com os dois filhos, seus irmãos. Sentiu necessidade de vê-la, de ajudá-la, ele passou a compreender muito mais a vida depois da morte da esposa...
-Eu compreendo. –Respondeu Sofia, mirando as próprias unhas.
-Então, meu bem, seja bem-vinda a família Wolfe. Somos de origem escocesa, e estamos no Brasil há apenas duas gerações...
-Nossa, eu não fazia idéia.
-E, somos uma das poucas famílias existentes no mundo que ainda pratica os tradicionais rituais bruxos. –A mulher disse isso com especial orgulho.
-Magia?!
De repente todo o ambiente pareceu mais mágico. E fosse ou não a impressão da garota, ela ouvia um som doce de flauta vindo de algum ponto da casa.

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