Harry - Um Pôr do Sol
- Capítulo Cinco -
Harry
Assim que desembarcamos, uma chuva forte começou a cair. Rony e eu nos despedimos. Hermione também passou por nós, mais não vi Sara. Segundo Hermione, que havia passado a viagem toda na cabine dela, Sara estava procurando o pai e nos encontraria mais tarde.
Me despedi de meus amigos e fui atrás de Sara. Ela havia me dito onde deveríamos nos encontrar antes do embarque. Enquanto caminhava na direção do local de encontro, pensava se não havia sido um erro aceitar ir para a casa dela. Lord Voldemort estava à solta e queria me matar. Talvez fosse perigoso ficar na casa dela.
Senti-me estúpido por não pensar nisso antes. Eu havia sido egoísta, só havia pensado no que seria melhor para mim, sem me importar com a segurança dela e de sua família. Só que agora, não via nenhuma maneira educada de recusar o convite.
- Hey Harry! Me procurando? - ela me perguntou, aparecendo no nada e debruçando-se sobre meu carrinho. Eu sorri. Sara sempre agia de uma forma "espontânea".
- Estava. Você está bem? Hermione me contou que os aurores entraram na sua cabine quando você ainda estava --
- Acalme-se, eu estou ótima. Não precisa se preocupar comigo. Olha só, meu pai está nos esperando logo ali... Vamos?
- Vamos.
Nós dois começamos a caminhar na direção de uma das colunas. As pessoas transitavam por ali aflitas. Muitas estavam com as varinhas em punho e haviam guardas-bruxos por toda a parte. Sara, porém, estava completamente calma. Caminhava ao meu lado observando as pessoas, como se não estivéssemos em guerra. Seu "papai" trabalhava no Ministério, no Departamento de Transportes Mágicos. Isso, de certa forma, a deixava mais calma. Sara admirava e confiava plenamente no pai.
Depois de algum tempo, estávamos dentro do carro. Fiquei pensando que se tio Válter estivesse ali, morreria de inveja. O carro dos Connely era um carro de luxo, com direito a DVD e GPS.
Estávamos passando por uma estrada asfaltada repleta de pinheiros verdes nas margens. O pai de Sara, Jonathas, era inglês e havia me tratado muito bem. Assim que o encontrei na Estação, ele me disse para ficar calmo, que nada iria acontecer durante as férias.
Sara havia colocado um DVD de clipes trouxas para assistirmos, enquanto, ao mesmo tempo que cantava as músicas, lia um catálogo de um supermercado.
- Pai, o que é isso? - ela perguntou, debruçando-se sobre o banco do motorista e pegando uns folhetos do colo do pai.
- Ah, você estragou a surpresa, Sara! - ela respondeu, entrando em uma estrada de terra.
- Sítio Finnegan - Um Paraíso Nas Férias. - Sara analisou o nome do sítio. Depois leu "Um Paraíso Nas Férias" mais umas duas vezes - De que imobiliária veio isso?
- De uma imobiliária supostamente "trouxa" que não atrairá nenhum comensal. - ele respondeu. - E está cercada por feitiços anti-trouxas e aurores disfarçados.
- Nós vamos para esse sítio? - ela perguntou de novo.
- É, vamos. Sua mãe e eu o alugamos durante todas as férias. Resolvemos que seria bom passar um tempo longe de toda aquela confusão. Agora, sente-se filha. E coloque o cinto.
- Ai, que legal! E nós podemos pescar? - ela perguntou entusiasmada.
- Claro que sim. Pescar, jogar vôlei, cavalgar, navegar em um pequeno lago... e Harry poderá te acompanhar, não é mesmo Harry? - ele perguntou, olhando para mim pelo retrovisor. Sara sentou-se no banco do passageiro, próxima a janela.
- Ah, claro que sim! Vai ser muito divertido. - respondi.
- Olha que lugar lindo Harry! - ela disse, sentando-se mais próxima de mim e me mostrando as fotos do catálogo. Eu senti minha respiração acelerar quando ela se aproximou e tocou minha perna com a sua - Quando chegarmos lá eu quero ir para esse lugar, e para esse, e para esse... - ela começou, apontando as fotos.
- Sara, acho melhor você deixar o Harry descansar um pouco, não acha? - sugeriu o pai.
- Ah.. Claro. - ela disse, um pouco desapontada - Mais depois que você descansar, nós vamos ir nesse lugar, e nesse, e nesse, e nesse... - continuou empolgada.
Eu sorri. - Podemos dar uma volta e explorar um pouco o sítio, eu não estou cansado.
- Viu só, pai? O Harry não está cansado. - respondeu ela, enquanto lançava um olhar sorrateiro para o pai. Sara era brincalhona e o pai partilhava deste mesmo espírito.
- Tenho a leve impressão de que pra você ele nunca está cansado filha.... - respondeu o pai, como quem não quer nada.
Eu corei. Já Sara, ficou vermelha como um pimentão. Será que o Senhor Connely já havia reparado que eu estava me apaixonando por sua filha? Mais tão rápido? Só estávamos há meia hora juntos!
- PAI! QUE HISTÓRIA É ESSA!?!?!?!? ME DESCULPE, MAIS O SENHOR TÁ FICANDO LOUCO? - ela esbravejou, ajoelhando-se do meu lado para colocar a cabeça por cima do banco da frente e olhar melhor o pai.
- Desculpe querida, não pensei que você fosse ficar tão brava. Foi só uma brincadeira. - defendeu-se simpático o Senhor Connely.
- ACHO BOM MESMO, PAI! ESSA BRINCADEIRA NÃO TEVE GRAÇA NENHUMA!!
- Tudo bem, eu já pedi desculpas. Agora, sente-se e coloque o cinto, certo?
Sara olhou furiosa para o pai e caiu no banco ao meu lado. Colocou os fones do DVD e aumentou o volume.
Eu pensei que ela ia ficar com raiva durante um bom tempo. Sara era orgulhosa, odiava ter que dar o braço a torcer. Ainda mais agora, que estava convencida de que o errado era o pai. Mais me surpreendi ao ver que toda aquela cara carrancuda desapareceu ao entrarmos no sítio.
Também, não era para menos: entramos por enormes portões de ferro e caminhamos sobre uma estrada de pedras. O cenário até aí era lindo: árvores frutíferas de todos os tipos estavam dispostas aleatoriamente pelo imenso gramado da colina. Pavões com suas belas e coloridas penas andavam naturalmente por entre as árvores. Andamos uns 3 quilômetros e avistamos uma bela casa de campo, com três andares. Descemos a colina e o Sr. Connely estacionou o carro em frente à varanda da casa. Lá, a Senhora Connely nos esperava com uma garotinha que, supus, deveria ser a irmã mais nova de Sara, Lisa.
Sara desligou o DVD e saltou do carro.
- Mãe!!!! - comprimentou ela, dando um longo abraço da mãe.
Em seguida, ela e a irmã começaram a tagarelar sem parar. Eu não entendia nada do que elas estavam falando. Só depois me dei conta que devia ser em português, pois reconheci algumas palavras que Sara havia me ensinado, como "Oi" e "Você".
A mãe de Sara veio me dar as boas vindas. Em seguida ajudei o Sr. Connely a descarregar nossas malas e colocá-las na varanda.
- Oi Harry. - Lisa cumprimentou em português, meio envergonhada. Sara estava atrás dela e repousava as mãos no ombro da irmã.
Aquela era, na verdade, uma das únicas frases que eu compreendia em português.
Sara disse alguma coisa ainda em português para a irmã. Depois voltou-se para mim: - Eu disse à ela que você só fala em inglês. - me informou, em bom inglês.
- Hi Harry. - se corrigiu Lisa, agora, mais envergonhada que antes.
- Hi! - respondi.
Sara sorriu e, passando o braço nos ombros da irmã, a acompanhou até dentro de casa.
- Onde é que fica a cozinha, Lisa? - Sara perguntou, piscando para mim. Lisa não era muito boa em inglês. Soube que ela havia passado um ano em um curso, agora estava falando com uma pronuncia mais britânica.
- Alí, à... - ela parou e puxou a blusa da irmã, para que ela abaixasse e cochichasse algo em seu ouvido. Depois voltou a falar. - Alí, à direita. Mamãe e eu estávamos fazendo uma torta de maçã para o Harry. Só que só quem comer tudo no jantar vai poder comer a torta. Eu vou lá para ver se papai não come antes da hora! - e dizendo isso, Lisa saiu correndo em direção à cozinha.
- Ela me perguntou como se falava direita em inglês. - confidenciou Sara, quando a irmã entrou na cozinha.
Sara e eu paramos um pouco para olhar o ambiente. A varanda atrás de nós era envolta por corrimões de mógno. Nela, havia um enorme portal com uma porta grossa e pesada de madeira. Assim que entrávamos, dávamos da cara com uma aconchegante e equipada sala de visitas. Ao lado, havia um portal que dava para à sala de estar e uma porta para à cozinha. Atrás da cozinha, havia um espaço onde ficavam a mesinha do telefone e a escada para o andar superior.
- Harry... Vem aqui ver isso! - chamou Sara, que já estava do lado de fora da casa de novo.
Eu caminhei até ela. No momento em que coloquei o pé para fora de casa, percebi que já estava quase anoitecendo. Tudo já estava um pouco escuro. Sara estava parada na varanda, encostada no corrimão. Olhava alguma coisa um pouco distante.
- O que foi? - perguntei delicadamente. Pelo jeito ela estava gostando muito do que estava vendo.
Eu me encostei no corrimão ao lado dela.
- Olhe. - ela falou em tom baixo, olhando para mim rapidamente.
Eu acompanhei seu olhar.
Era incrível: o sol estava se pondo atrás da colina, que havia se transformado em um enorme morro laranja-vivo. Podíamos ver uma linha que variava do vermelho, passava por tons de roxo e rosa e chegava ao laranja por todo o céu.
As nuvens estavam completamente cor-de-rosa. Ar árvores estavam vermelhas como fogo. Naquele instante, milhares de pássaros brancos atravessaram o céu, indo para o oeste.
- É.. Perfeito. - ela comentou, quebrando o silêncio.
- É. - respondi, ainda atordoado com a paisagem.
Silêncio.
Sara desviou o olhar para mim e sorriu. Eu sorri de volta. Por algum tempo ficamos nos encarando. Os cabelos dela estavam dourados por causa do sol. Reparei em como estávamos próximos. Se eu quisesse, bastava me inclinar para beijá-la. Aí eu lembrei de uma coisa: Sara estava apaixonada por um cara e eu ainda não fazia a mínima idéia de quem era.
- Sabe... É tudo tão romântico! - ela comentou, voltando a olhar para frente. Se tinha um estilo que poderia definir a personalidade dela, esse estilo era "romântico".
- É. - pausa - Você adora romance, não é? E escreve belas histórias também, que eu sei. Mais fiquei sabendo que você anda escrevendo uma que eu ainda não li. É sobre um tal de.. Cristian, certo??
Sara deu um sorriso sem jeito.
- É.. É sobre um Cristian sim. - ela respondeu, virando-se para o pôr-do-sol.
Silêncio. Notei que os olhos castanhos dela começaram a adquirir raios esverdeados. Sara era metamorfaga e na maioria das vezes em que ficava nervosa por estar escondendo algo, alguma coisa mudava em seu corpo.
- Sara, você sendo tão romântica não sente saudades daquele cara? Não queria que ele estivesse aqui? - perguntei, como quem não quer nada.
Eu tinha que descobrir quem era esse garoto. E pela reação dos olhos dela, percebi que estava no caminho certo. Sabia da mania que Sara tinha de usar os acontecimentos da vida real em suas histórias.
- O jantar fica pronto em quinze minutos! - anunciou a Sra. Connely, aparecendo na porta e quebrando o clima. Logo agora que eu havia conseguido tocar no assunto com ela!
- Obrigada mãe! - respondeu Sara, vendo a mãe entrar em seguida. - Vou tomar um banho. Nos vemos no jantar. - completou, olhando agora para mim.
Sara deu um sorriso ligeiramente inclinado, deixando um ar malicioso. Eu tinha a impressão de que, no Baile de Inverno do quarto ano, eu a vira sorrir assim para mim. Fiquei um pouco sem jeito. Cheguei até em pensar em falar com ela, pois, na época, fiquei com medo de que ela estivesse se apaixonando por mim. Não nego que eu sempre a achei muito atraente, mais aqueles eram tempos em que eu só tinha olhos para uma garota: Cho-Chang.
Encostei-me no corrimão e olhei para o horizonte, enquanto ela deixava a varanda com aquele sorriso. Vi de esguela quando ela parou na porta e olhou para mim, como se estivesse meio em dúvida. Sara hesitou em falar algo. Também pensei em me virar e falar alguma coisa, mais naquele momento nada me veio à cabeça. Em seguida ela balançou a cabeça negativamente e entrou na casa.
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