Amor, felino amor.



Bichento espreguiçou as patinhas na poltrona da Sala Comunal da Grifinória, fazendo estremecer sua dona, que estava por baixo dele. “Ai!”, reclamou ela para si mesma, e empurrou o bichano para o chão.

O meio-amasso caiu graciosamente de pé no chão aquecido pela lareira e deu um baixo miado. Depois, empinou o rabo e saiu andando para longe, com uma expressão de desprezo em sua cara amassada.

Parou por um instante e sentiu um instinto felino o guiar para a sala dos troféus. Não sabia por que, mas essas coisas não eram o que ele chamava exatamente de ‘explicáveis’. Bichento apertou o passo, sabendo que algo deveria estar acontecendo por lá.

“Gato idiota!” disse uma quinto-anista sonserina, com ânsia de chutar-lhe o traseiro, ao cruzar seu caminho.

“Minhé”, rosnou o meio-amasso, mostrando seus dentes afiados para a menina. Ela lançou um olhar de espanto e saiu a passos largos, talvez assustada mais do que gostaria com a reação do ‘gato idiota’ que estava em seu caminho.

Bichento deu um sorriso de felino, e sentiu uma urgência arder em seu peito. Deveria correr até a sala dos troféus, ou perderia seja lá o que estivesse por lá.

Ia descer as escadarias quase que voando, quando sentiu que elas se moviam. Ele soltou um miado de desespero – como era possível que mesmo há cinco anos na escola, não detectasse antecipadamente como, quando e quais escadas iam mudar de lugar?!

“Anh, Phillip....”, começou uma jovem menina do primeiro ano a seu irmão mais velho “ os gatos de Hogwarts sabem voar?”

“Não que eu saiba, Clarisse”, respondeu o garoto genuinamente intrigado.

“ Então o que é aquilo?”, perguntou Clarisse apontando para algo laranja berrante que acabava de saltar de uma das escadas em direção a outra.

Fora um golpe arriscado, e Bichento sabia disso quando saltara da parte inferior da escadaria. Mas seja lá o que lhe impelia por dentro, parecia importante demais para admitir atrasos, e suficiente para justificar uma correria e um salto bizarramente perigoso.

A mente felina do meio-amasso girava em torno de um instinto: correr para chegar até a sala dos troféus. Valeria a pena? Talvez sim. Provavelmente sim. Ele tinha certeza.

Faltava muito pouco para ele alcançar a bendita sala. Tão pouco que Bichento duvidava que fosse conseguir chegar até lá vivo: algo explodia no seu peito como fogos de artifício.

“Ah, aqui está você, meu gatinho”, disse um lufano do segundo ano ao pegar Bichento no colo e seguir afastando-se da sala desejada. “ Senti sua falta, sabia, Fildo?”

Ao ouvir o rapaz chamando-o por outro nome, o meio-amasso não acreditou em sua sorte. Como em Hogwarts poderiam haver dois gatos de pelagem laranja?!

“Minhééé, fsssssssssssssssssssssst” fez ele, arranhando um braço do moleque.

“AI,FIL..ei, você não é meu gatinho! Meu gatinho NUNCA faria isso!”, gritou ele, com as lágrimas subindo aos olhos e com sangue no arranhão que levara. “ Gato Feio, Horrível!”

Se pudesse dizer algo para o garoto, Bichento sem dúvida teria dito algo como “Morro de dó, mas nem ligo”. E no momento, mesmo que pudesse falar algo, estava mais preocupado em chegar logo na sala dos troféus.

Estava quase na porta, quando viu Madame Nor-r-ris sair de lá, com cara de satisfeita e com algo como sangue de ratazana no pelo em volta da boca.

O alaranjado ser parou por um instante, e seu coração felino foi a boca. Ele quis miar, mas sua voz não saia, então ele se empertigou o máximo que pode, e alcançou-a.

“ Miah..”, começou ele, de forma galante ao que ela solenemente respondeu algo como um grunhido.

E, assim, ao lado da gata mais detestada de Hogwarts, partiu Bichento, esquecendo-se o seja-lá-o-que-fosse da Sala dos Troféus....

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